Chagas da idade que acabaram com a validade…

Chagas da idade que acabaram com a validade…

não sei que branda carícia,
na brisa incerta da tarde
me ressuscita a dor
como uma veste a roçar numa chaga
mói, lentamente,
um banho incomodo que infecciona…
rasgam-se as dermes como túnicas podres
de um branco pardo,
caricias mecânicas sem sentir
uma pele seca, sem tónico
um corpo hirto, imobilizado…
uma alma velha e incómoda
chamam-lhe cama, mas é uma vala
chamam-lhe lar, mas é uma morgue
chamam-me utente, mas apenas sou número
que alimenta o monstro e as chagas de quem me quer apagar…
e vem a tarde e a noite, os gemidos os prantos e a dor
e vem a manhã, e as voltas do dia
o almoço o lanche e a tarde, não sei se comi,
não sei se vivi, mas doí…
uma palavra de alento…
Não sei que branda carícia,
na a brisa incerta da tarde
me ressuscita a dor
como uma veste a roçar numa chaga
mói, lentamente…

Alberto Cuddel