O Casario
As paredes nuas que vislumbro
Sujas sem portas ou janelas
Casa forte onde habitaram sentimentos
Amor? Alegria? Saúde? Já nem memória existe,
Hoje apenas um corpo decrepito
Arrastado pela depressão dos dias
Que faz desse chão, poesia
Escrita e reescrita nas noites
Enclausurada nas paredes,
Reflectida nos vidros partidos
Suspensos por caixilhos de madeira,
Esperando decepar a cada desilusão
Mais pouco do meu ferido coração,
O carpinteiro dos dias partiu
O que consertava o corpo,
Que me aquecia a alma,
Uma desilusão mais, do tempo em que me iludia…
Nem os braços da árvore genealógica me confortam
Lá já não fazem ninhos os pássaros,
Tao pouco os seus ramos secos
Me aquecem na lareira dos tempos
Podres, apenas podres…
O triste casarão onde nem as escadas
Que o trepam tem varão, arruína-se
Cai, nada já o sustem, nem a vida, nem o amor,
Ninguém trespassa as portas da alma
Armado de boa vontade,
Ferramentas que o ergam,
Que deixem penetrar o sol,
Pelas janelas dos escuros quartos por onde vagueiam
Ideias e pensares que não o deixam adormecer…
Apenas uma pequena arvore mesmo ali, – a entrada
Verde, viçosa, ainda sem florir, sem ter dado fruto
Nessa pequena árvore, deposita o casarão decrepito
Toda a esperança, toda a fé, toda a crença
Impedindo-mo de ruir…
Alberto Cuddel
11/03/2017
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