«A solidão não tem hora de chegada – aconchega-se num regaço intemporal.”

«A solidão não tem hora de chegada – aconchega-se num regaço intemporal.”

O caminho segue amaldiçoado,
Por uma dourada ceara ceifada,
Toque da brisa Outubro na cara,
A manhã de Outono orvalhada!

Segue o destino da vida, o ciclo,
Do nascimento e morte, o vício,
De que no final tudo recomeça,
Temperada tarde de Primavera!
Cansado da solidão do pensamento,
Vive desgastando-se por dentro,
Na corrida perdida contra o tempo,
Desfilando palavras soltas no engodo,
Do engano sofredor do eterno perdão,
Lançado da busca da perfeição,
Buscando e redescobrindo o eterno modo,
Macabra e entediante dificuldade,
Na solidão encontrar uma saudade,
Conjunto dos tempos de felicidade!

Eterna contradição perdida da memória,
Num conflito interior de um pensamento,
Numa desfasada e nefasta ideia premonitória,
Que nos leva a este inevitável momento!

Noite esta que não desejei, ausente de mim,
Distante, na obscura luta da sobrevivência,
Noite de lúcidos pensamentos, divergentes,
Revoltantemente confusos, difusos no ser,
Entre o partir e o ficar, o sair a encontrar,
Entre a espada e a parede, desejos sem rede,
Noites estas de incúria, desmedido sentir,
Vivendo o feitiço da lua, nula sorte a tua,
Eu na noite, tu no dia, apenas um olhar,
Um sentir a amarga saudade, que noite,
Noite da saudosa aurora, do dia, encontro,
O doce toque do beijo, o calor de tua pele,
O parar o tempo e ficar, entre a despedida,
O doce e terno movimento do verbo amar!

Revolvo passados agindo pelo futuro,
Conforto de pensamento limpo e puro,
Por um presente em tudo diferente,
Vivido rodeado por muita outra gente!

Detém-nos a longínqua e ténue visão,
De alguém que recusa e diz não,
Que vencendo a morte se faz nascer,
Uma pequena flor em liberdade,
Na longa solidão da planície a crescer,
No aconchego deixando Saudade!..

Alberto Cuddel ®
01/12/2015

Jardim de ontem!

Jardim de ontem!

Colhi em mim as flores abandonadas
Num qualquer outro jardim plantadas
Numa qualquer esperança, ali regada
Encantamento, fonte das aves amada!

Caminhos, passeios, não levam a lugar algum,
Rodopiam, contornam, ladeiam, circundam,
Caminhos, correm, pulam, dançam, choram,
Ficam, partem, caem sozinhos na triste solidão
Sozinho assim fica sentado no único banco
Que o jardim moribundo não viu partir!
Aves que ontem se abrigavam, partiram
Os jogos de tabuleiro, acabaram
As crianças que brincavam, cresceram
Hoje passam apressadas, não param
Pobre cantoneiro saudoso, sentado
Deixado só, na saudade, tempo passado!

Alberto Cuddel®
08/12/2015

Na solidão do meu quarto

N Na solidão do meu quarto
A Angustia de esta só em mim!

S Sonho em ti rios de prazer
O ordinariamente lascivo,
L leigamente petulante
I imoralidade do desejo
D de te encontrar em mim
A ancorado no teu doce
O ondulante e desejável corpo!

D dento do meu despido quarto,
O onde rebusco a saudade, sonho!

M mascarado de gente, rebusco nas sombras
E encontrar o teu abraço, entregar-me
U unicamente ao desespero da ausência!

Q querubim alado que me habita
U unge de mel o amargo fel
A agre e amargo deixado nos lábios
R regressa a mim, na perfeição dos tempos
T tolhe em mim a memória deixada
O obvio acaso que de mim te levou!

Na solidão do meu quarto!

Alberto Cuddel®

18/01/2016

Sem Mim

Sem Mim

A noite caí, 
Fria, solitária,
Aqui neste posto,
Penso, medito, oro,
Sim porque sei pensar, 
Ser falante, racional…
E penso, abandonar-me ao delírio,
Errante na queda das trevas,
Que nos guia e conduz,
Arrebatando o sentir!
Entre um ou dois pensamentos,
Fazes-te presente no ambíguo luar,
A saudade, da luz, do calor, 
Do apenas longo abraçar,
Que deixou a tua partida,
Assim me entrego a tortura da dor,
De sentir perdida a vida…
Assim arrancada no triste penar…
Na solidão a noite passar!…

Alberto Cuddel
22/11/2014
Palavras Desconexas – 14

Solidão

Solidão

Porquê?
Outra vez sozinho,
Não, não vás,
Não me deixes
Neste desencanto,
Então foi só mais uma noite?
-Não, logo volto!
Que vida esta de encontros
E desencontros,
A coberto da noite,
Escondidos no dia,
Não, não vás,
Fica comigo ate o sol nascer,
-sabes que não, ele me espera!

Por ele, tudo por ele,
Maldito trabalho!

Albert Cuddel
04/12/2014
Palavras Desconexas – 34

Solidão!

Solidão!

Fora a lua,

Sua companhia,

Perdida na solidão,

Do seu reflexo,

Espera,

Na noite escura,

A doce e arrebatadora,

Força da paixão,

Que a liberte desta negra prisão,

Que bate em seu coração!

Imóvel,

Lua que preenche o vazio,

Deixado pelo calor do teu rosto,

Que no reflexo da agua,

Sinto teu sopro de vida,

Que inflama meu corpo,

Do desejo ardente do teu beijo…

Memoria da saudade,

Que teu cheiro desenhou no meu corpo!

Alberto Cuddel

21/11/2014

Desde ontem

Desde ontem

Aqui, precisamente aqui
Desde ontem, ou já
Cansaço ladeado de flores
Separados pela distância do ponteiro
Um acordar
Manta que deslaça de quente
Sentir que se governa
Decide e impera
Dormindo na traseira do dia
Na esperança da noite fechada
Calado, olho, reparo, concentro
Cuidado,
Voltas e reviravolta de uma vida
Estupidamente fingida
Viagem vertiginosa dos minutos…
Espero,
Esperas,
Dormes,
Acordas,
Sob uma manta quente
Que te separa de mim
Assim,
A vida nos encobre
Sob o olhar desconfiado dos dias!

Alberto Cuddel
19/05/2017
05:46

À janela…

À janela…

Havia uma rua estreita cheia de janelas fechadas, era uma vila pequena, de gente simples, destacava-se uma janela, branca, alta, com um pequeno gradeamento e um sorriso, sempre meia aberta, paredes gastas quase sem tinta a notar-se ainda um tom ocre, gasto do tempo e das intempéries, uma janela onde acorriam os pombos, os pássaros, a única companhia de Dona Felismina, uma resistente da solidão, um “bom dia”, rasgava o silêncio da rua a quem passava, sempre com uma palavra amiga, um gesto de apreço, dois dedos de conversa…
Hoje a janela não se abre, na rua estreita que subia, já não mora ninguém, não há pombos nem pássaros, apenas andorinhas sobem e descem a rua, e nos beirais chilreiam as ninhadas, na rua estreita apenas mora a Primavera, no resto do ano, ninguém.
A Dona Felismina, morreu o ano passado e na rua estreita apenas mora o silêncio, quebrado pelos passos de quem a cruza, há como nesta vila muitas ruas cheias de janelas fechadas, e outras cheias de gente sozinha…

Alberto Cuddel
10/04/2019
In: Dor da salinidade do olhar

Imensidão da noite

Imensidão da noite

“É tamanha a noite que me sobra nos braços”
Florbela Lourenço

sobra-me a esperança da solidão que engulo
essa que se crava nos dedos como memória
esse orgulho falacioso e desprezivelmente vil
ser… sem estar… mas ser, tristemente é…

as noites desenrolam-se
como sombras desordenadas no tecto frio,
os lençóis dormem amarrotados e gélidos,
vazios de corpo, de gente, de nós…
os minutos desfilam como cordeiros
compassados, ordenados, mecânicos
o tempo é o que sempre foi…
uma tortura medível pela ausência
a solidão vem-me trazida pelo som
esse som do mundo em ranger de madeira
sobram-me os braços vazios
sobram-me as noites,
sobra-me a vida
sobra-me o dia e o sol…
sobro-me a mim por não me bastar…

Alberto Cuddel
05-03-2020
16:30
In: Nova poesia de um poeta velho

Joana Vala

Joana Vala

Rasga-me as horas da solidão que me cortam os dias
Abarca-me na tua alma, entrega-me as chaves do existir
Concede-me o desejo de que se faça em mim a fome de beijo
Chega, está, permanece em mim…
Faz-te gesto em palavras de silêncio
Amame*, para que te ame no corpo
Faz-te amado, apaixonado carente da minha existência
Que me ajoelhe perante ti, despido das vestes que te cobrem a alma,
Despido dos bens materiais que te apoquentam…
Chega, está e ama-me como ontem…

Permite-me amarte*, na plenitude de sermos unos…
Chega amor, amame* sem pudor…
E descansa…

13-10-2019
*referencia a “Amar sem hífen” de C Maria Magueijo

Em troca de quase nada

Em troca de quase nada

Solta-se o nocturno ser,
Que nas sombras se move,

Que nos vultos se envolve,
Peregrina na solidão,
Reprime sentimentos,
Gestos de paixão,
Movimentos ritmados,
Repetidos e amargos,
Pois não são recebidos,
Pela distancia dos sentimentos,
Que nos desentendimentos,
Sempre são balbuciados!
Se dá, se troca,
Mas que importa,
Se o que recebe,
Distorce o que de belo,
Era transportado,
Por tudo o que era dado,
Em troca de quase nada,
De um gesto,
De uma palavra!…

Alberto Cuddel
12/10/2013

Não te isoles…

Não te isoles…

E se um dia o cansaço nos abraçasse?
Se o mundo se virasse contra nós?
Se há noite o sono nos abandonasse?
Se o meros sons das palavras nos incomodasse?

Como ouvir, falar, pensar…
Como viver, compreender, amar…
Como sentir, dormir, acordar…

E nossos amigos?
Que esperar?
Oração,
Compreensão,
Sem nunca nos abandonar,
Movimentando-se na sombra,
Sem nunca incomodar…

Volta…

Alberto Cuddel
03/10/2013

Só na multidão

Só na multidão

Só na multidão…
Só, pensa e medita,
Só, analisa a vida maldita,
Só, olha o coração…

Só na multidão…
Sentimo-nos perdidos,
Confiamos nos sentidos,
Entramos em contradição…

Só na multidão…
Sentimos que o tempo,
Nos tolhe e enrola,
Nos falta compreensão…

Só na multidão…
Procuramos uma bóia,
Uma tábua de salvação…

Alberto Cuddel
17/09/2013

As noites em que não queria ver nascer o dia

As noites em que não queria ver nascer o dia

Há noites em que não queria ver nascer o dia, em que não queria acordar, em que não desejo nada além dos pesadelos que me habitam, há noites que não quero ver nascer o sol, entre a escolha do ficar por obrigação e o partir por devoção, há momentos que a escolha dói-me…
Há noites em que não sonho, não desejo e não morro, há noites em que não existo, nem desejo existir, não quero acordar…
Não quero escolher entre o sangue e a alma, não quero escolher entre a vida e a morte, não quero, já disse que não…
Há noites em que não queria ver nascer o dia, entre ter que partir querendo ficar, entre ficar lá querendo estar aqui, entre estar aqui querendo estar lá, não quero escolher entre o silêncio das palavras e o grito mudo dos silêncios, não quero ver nascer sementes onde não há terra, não quero árvores nascidas em pleno mar, não quero nuvens no deserto, e calor nas calotas polares, simplesmente não quero fumo sem fogo, e fogo gelado que queima…
Há noites em que não queria ver nascer o dia, porque os dias são a repetição interminável da pressão das escolhas que conduzem ao mesmo inferno…

Alberto Cuddel

Partiste

Partiste

Mais uma vez acordas-me,
Para um beijo,
Em jeito de oração,
Despedes-te, e vais,

Fica o aperto no peito,
Só, perdido no nosso leito,

Sinto-o vazio de ti!
Na falta de teu calor,
No sentir da tua pele,
Fica saudade, fica amor!
Volta,
Não vás…
Aconchega-te no meu abraço,
Preenche todo este vazio espaço,
Que agora aqui sem ti, ficou!
Alberto Cuddel®
07:15 17/06/2013

Website Powered by WordPress.com.

EM CIMA ↑