Suspeita…

Suspeita…

[caíram os primeiros pingos…]
e era tudo para gloria da certeza
insuspeito o fogo que lhe queimava o peito
suspeita cardíaca, essa doença que lhe tolhia a alma
(…) -amor, tão somente amor!
desdobrei a primeira colecção de abraços
assim… na pura simplicidade de quem perdeu o medo
confinados, apenas suspeita…

a vida corria vagarosamente por entre os vales
e depois o vento, esse que nos moldava as areias
juntava as folhas velhas, vazias de tinta
desconfinadas palavras pandémicas
despe de máscaras a alma, quero ler-te nos lábios
essa certeza de que é perto
esse beijo desencontrado do olhar

mendigas amor, como suspeita da reciprocidade
essa entrega sem retorno
amar, assim, simplesmente
como Ele nos amou
incondicionalmente… sem suspeita…

Alberto Cuddel
30/09/2020
00:07
Poética da demência assíncrona…

A inutilidade de continuar sentado

A inutilidade de continuar sentado

É inútil prolongar o silêncio de uma conversa solitária, com é inútil continuar sentado a um canto de uma sala vazia…

depois dos primeiros raios de sol
do aquecimento húmido da terra
dos poléns e de todos os ninhos
nessa Primavera onde desponta
toda a vontade e o tesão da procriação,
dessa sofisticação humana a que chamam amor…

e ficas ali, sentado nessa inutilidade de ver
olhar o voo rasante das andorinhas
o movimento cíclico dos mexilhões
batendo nas bordas da água, nas rochas …

esperas o calor do Verão o despir dos corpos…
inutilmente sentado…

despontam os brotos, a paixão esvoaça
nessa naturalidade de ser natural a vida
o prazer e a dor de crescer…
crescer dói…
é inútil ficar sentado…
prolongando o silêncio de uma conversa monogâmica
entre mim e o eu de mim mesmo…

Alberto Cuddel
29/09/2020
03:31
Poética da demência assíncrona…

Li-te

Li-te

Se tu lesses metade do que escrevo
Encontrarias em mim o que descrevo
O que sinto, e o que finjo da tua dor
Escrevo-te como sinto sendo eu actor
Das tuas próprias palavras, perdidas
Eternizadas nas páginas das vidas
Fingidas e ocultas na alma reprimida!

Encontras em mim, o teu eu
Não metade de ti, mas alguém que leu
O sentir oculto do teu gestos
Dureza das lágrimas que te caíram do rosto!

Alberto Cuddel®
In: Tudo o que ainda não escrevi 64

Rasgo folhas do meu caderno,

Rasgo folhas do meu caderno,

Rasgo folhas do meu caderno,
Procuro no seu interior a essência,
O poder de um sentimento terno,
Mas a escrita fica-se pela aparência
Da corrida tinta que te cobre!

Rasgo folhas do meu caderno,
Procuro apagar de mim o passado,
Memória de tudo o que é externo,
Assim definitivamente algemado,
Nas palavras que declamo ao vento!

Rasgo folhas do meu caderno,
Vitórias e derrotas do teu sentir,
Vida de um despiciente inferno,
Mim ainda continuam a coexistir,
Versos que finjo escrever na areia!

Rasgo folhas do meu caderno,
Esqueço de mim a existência,
Sentir em mim amor materno,
Finjo sentir de ti a aparência,
Palavras redondas que escrevo!

Rasgo folhas do meu caderno,
Queimo de ti na luz do olhar,
Romances que em mim alterno,
Encarno em mim o saber amar,
Esqueço abandonado caderno vazio!

Alberto Cuddel®
In: Tudo o que ainda não escrevi 65

Porque o corpo é todo vontade e a alma saudade

Porque o corpo é todo vontade e a alma saudade

Tenho vontade de nós
Saudades de ambos os dois
De mim em ti, de ti toda tu em mim…
Tenho certezas de gestos
Vontade de gosto, despida alma
Corpo fervente, tenho tesão
Alma gemida, amplos movimentos
Vontade de beijos, e de te provar a alma…
Matemos a noite, façamos amor
Sexo louco, contemos orgasmos…
Porque a alma é toda vontade
E o corpo saudade…
Há no fogo que me consome
Um mar que me engole
Uma vontade fálica de te possuir
De te fazer, partir, chegar, vir…
Vir, uma e outra vez, de novo…
No movimento da língua bebo-te
Nos lábios o mel da tua essência
E o gosto almiscarado nas narinas…
Amo-te, disso sou inteiro
Porque metade de mim é o que sou
E a outra metade o que me fazes ser…
Porque o corpo é todo vontade
E a alma saudade…

Tiago Paixão
26/09/2020
03:00

#Afuriadasaudade

Pedra angular!

Pedra angular!

Pedras soltas, que te fazem tropeçar,
Passeios disformes ladeiam a vida,
Atalhos asfaltados chamam-te à ilusão,
Segues tropeçando acompanhado,
Verdes prados, frutos proibidos,
Ilusões floridas, prazer e sedução,
Meros atalhos desesperantemente
Atrativos e momentâneos…
Luzes de néon, atração, o jogo,
E o teu caminho este que escolheste?

E segues teu caminho tropeçando,
Pedras soltas, que te confundem,
Faróis disformes, luzes que te cegam,
Cores, brilhos do cristal, reflexos,
A teu lado, sem veres metade de ti,
Pacientemente vai-te amparando,
Projecto que és, vida que és, decidida está,
Acompanhar-te toda a sua vida!

Alberto Cuddel
16/12/2014

Movimento perpétuo das areias, cansaço…

Movimento perpétuo das areias, cansaço…

constitui-te uma alma imóvel,
na imortalidade da morte eterna
nesse esforço teu de querer sentir coisas
perdes a brisa no rosto e a água nos pés
como se o tempo se esgotasse
como areia por entre os dedos…

e depois? nessa escura e negra vivência
morrem os sonhos na abstinência
nesse sono cansado, na solidão do corpo
não há resposta nas palavras, nem desejo, nada…
apenas um cansaço nas pernas,
um corpo cansado pelo peso da alma…

falta-me o desejo no teu corpo de mulher

falta-me do desejo de te possuir a alma…

constitui-te alma imóvel…
sem vontade de existência
como se a vida em ti
já não morasse ali!…

Alberto Cuddel
24/09/2020
10:17
Poética da demência assíncrona…

Sem Mim

Sem Mim

A noite caí, 
Fria, solitária,
Aqui neste posto,
Penso, medito, oro,
Sim porque sei pensar, 
Ser falante, racional…
E penso, abandonar-me ao delírio,
Errante na queda das trevas,
Que nos guia e conduz,
Arrebatando o sentir!
Entre um ou dois pensamentos,
Fazes-te presente no ambíguo luar,
A saudade, da luz, do calor, 
Do apenas longo abraçar,
Que deixou a tua partida,
Assim me entrego a tortura da dor,
De sentir perdida a vida…
Assim arrancada no triste penar…
Na solidão a noite passar!…

Alberto Cuddel
22/11/2014
Palavras Desconexas – 14

Solidão

Solidão

Porquê?
Outra vez sozinho,
Não, não vás,
Não me deixes
Neste desencanto,
Então foi só mais uma noite?
-Não, logo volto!
Que vida esta de encontros
E desencontros,
A coberto da noite,
Escondidos no dia,
Não, não vás,
Fica comigo ate o sol nascer,
-sabes que não, ele me espera!

Por ele, tudo por ele,
Maldito trabalho!

Albert Cuddel
04/12/2014
Palavras Desconexas – 34

Fechei os olhos e sonhei…

Fechei os olhos e sonhei…

Sonhei declamar rimas perfeitas no teu corpo
Descer nos teus lábios de mel, beijados
Construir versos na tua língua, exploração dos silêncios
Sonhei explorar escrevendo em todas as linhas do corpo
Explorei, recantos na mão que me segura a pena
Nos lábios, beijei as linhas que te elevam o pensamento
As curvas linhas dos seios, o ventre, a virtude,
Bebi na língua todo o teu prazer, longa declamação
Contruindo estrofes longas, ritmadas…
Sonhei que fosses minha, exclusivamente minha
Nos movimentos perfeitos onde te deleitas
Sincronizados quereres desejos de corpo
De alma, vontades, dentro, fora
Dentro, fora, mescla libidinosa
Vagarosamente arrastados
Na fúria permanente do querer
Fundo, dentro, fora
Insultada alma que me inquieta
No prazer que nos jorra da alma…

Tiago Paixão

O teu riso

Republicando, às vezes a memória necessita ser trazida à luz do dia!

O poeta e os outros poemas

O teu riso

Custa-me desfolhar o teu riso
Entre as parvoíces que dito
Os prazeres que invento…
Desfolho o teu riso, esse de criança
Por entre laços azuis e pensamentos nus,
Sadiamente a mente inventa palavras sãs
O riso nasce, vergonhosamente de o sonhar
Nos sonhos que gargalham em vida…

No teu riso encontra a felicidade de ser
Não uma felicidade vã ou pagã
Não uma felicidade de estar…
Mas o ser, doada e aceite em ti…

No teu riso invento mundos e historias
Amores concordados e ancorados em vidas
Desejos de corpos vestidos,
(quentes que se roçam)
Um sorriso matreiro de menina mulher
Sentada no colo, matreiramente sorrindo…
No teu riso, perco-me, para que te encontre…

Alberto Cuddel
05/02/2018
04:43

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Nos passeios da vida

Nos passeios da vida

caminhando nas horas incógnitas,
encontros sucessivos e sem relação,
no passeio em que fui, o mesmo pelo que vim
na noite, no dia à beira ou distante do mar.
ali sob o céu, calcando a terra
e todos os pensamentos, os que fazem os homens
os que procuram, os que encontram
os que sonham mulher…
e todos os outros que têm feito viver os homens,
depois de todas as emoções, de todas as desilusões
de todos os sentimentos e todos os gestos
parar é sem dúvida o acto, o derradeiro acto
pelo qual os homens têm deixado de viver…

Alberto Cuddel
21/09/2020
11:17
Poética da demência assíncrona…

Das mãos de um anjo

Das mãos de um anjo

Das mãos do anjo, a luz,
Pureza da inocência,
Nas mãos de uma criança,
Fruto desejado do amor,
Pelo desejo consumado!

Luz criada,
Luz desejada,
Luz que é vida!
Assim ilumina-nos,
Na bênção derramada,
Pedida, solicitada, jurada,
Por mim, por ti, por dois!

Luz que nos guias,
Noite escura sem luar,
Onde a luz nasce do ato de amar,
Brilho em seus cabelos de oiro!

Alberto Cuddel
23-04-2016

Não há palavras novas

Não há palavras novas

Velhas são as palavras
Essas que se gastam presas nos silêncios
Entre iras emanadas pelos ventos
Florestas secas e árvores altas
Há rastos de pobreza na cidade
Egos viris engalanados de vaidade
Políticos solitários e gigolos com amizades
Não há palavras novas
Nem certezas, nem factos, nem histórias…

Alberto Cuddel
16/09/2020
00:49
Poética da demência assíncrona…

Requinte da procura…

Requinte da procura…

Requinte último! Perversão máxima! A mentira absurda tem todo o encanto do perverso com o último e maior encanto de ser inocente, inocente não é quem sente, mas quem não procura. O conhecimento existe, perversão é ignorar a sua existência e manter-se fiel à sua perversa inocência, quiçá ignorância rebuscada pela não leitura, pela não cultura. Se amo, então amo como do novo e diferente a cada dia, seja o corpo ou as palavras, amo-as, nesta escrevência de sentires cultivo-me nas novas formas de o dizer, mesmo que diga sempre a mesma coisa, – di-lo-ei diferente.

Fingimos tantas vezes escrever mentiras, sentimentos passados e outras estórias, mas quando a mentira começar a dar-nos prazer, falemos a verdade para lhe mentirmos. E quando nos causar angústia, paremos, para que o sofrimento nos não signifique, nem se faça em nós perversamente prazer…

A poesia é a estética das palavras, a beleza do som, nobreza da mensagem, filosofia da alma, a elevação suprema do leitor ao estatuto máximo de poeta ma absorção do sentir. E então se isso acontece passaram a ser as palavras em si mesmas poesia.

Por que é bela a arte da escrevência absurda de sentires? Porque ser inútil. Por não servir propósito algum pré-definido. Por que é feia a vida? Porque é toda fins e propósitos e intenções, porque é gestos, predeterminações com horários estabelecidos. Todos os seus caminhos são para ir de um ponto para o outro. Quem nos dera o caminho feito de um lugar donde ninguém parte para um lugar para onde ninguém vai! Esse é o propósito da arte, de espantar, de embebecer, de ficar e admirar, sem ir de um ponto ao outro, sem acrescentar ou retirar. A arte sente-se, mas não se vive…

— eu escrevo este livro para mentir a mim próprio, para trair a minha própria vida, para tornar real a mentira, mesmo que a creia real, como é real o ar que respiro, como é verdadeiro o amor que sinto, como é real a morte que me espera…

Alberto Cuddel
13/09/2020
05:30
Poética da demência assíncrona…

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