Requinte da procura…
Requinte último! Perversão máxima! A mentira absurda tem todo o encanto do perverso com o último e maior encanto de ser inocente, inocente não é quem sente, mas quem não procura. O conhecimento existe, perversão é ignorar a sua existência e manter-se fiel à sua perversa inocência, quiçá ignorância rebuscada pela não leitura, pela não cultura. Se amo, então amo como do novo e diferente a cada dia, seja o corpo ou as palavras, amo-as, nesta escrevência de sentires cultivo-me nas novas formas de o dizer, mesmo que diga sempre a mesma coisa, – di-lo-ei diferente.
Fingimos tantas vezes escrever mentiras, sentimentos passados e outras estórias, mas quando a mentira começar a dar-nos prazer, falemos a verdade para lhe mentirmos. E quando nos causar angústia, paremos, para que o sofrimento nos não signifique, nem se faça em nós perversamente prazer…
A poesia é a estética das palavras, a beleza do som, nobreza da mensagem, filosofia da alma, a elevação suprema do leitor ao estatuto máximo de poeta ma absorção do sentir. E então se isso acontece passaram a ser as palavras em si mesmas poesia.
Por que é bela a arte da escrevência absurda de sentires? Porque ser inútil. Por não servir propósito algum pré-definido. Por que é feia a vida? Porque é toda fins e propósitos e intenções, porque é gestos, predeterminações com horários estabelecidos. Todos os seus caminhos são para ir de um ponto para o outro. Quem nos dera o caminho feito de um lugar donde ninguém parte para um lugar para onde ninguém vai! Esse é o propósito da arte, de espantar, de embebecer, de ficar e admirar, sem ir de um ponto ao outro, sem acrescentar ou retirar. A arte sente-se, mas não se vive…
— eu escrevo este livro para mentir a mim próprio, para trair a minha própria vida, para tornar real a mentira, mesmo que a creia real, como é real o ar que respiro, como é verdadeiro o amor que sinto, como é real a morte que me espera…
Alberto Cuddel
13/09/2020
05:30
Poética da demência assíncrona…
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