Ressurgimento

Ressurgimento

há uma revolta que se anuncia
esse saudosismo torpe de velhos tempos
essas flores murchas que se erguem das campas
sementes que voam pelos caminhos
um joio que infesta as searas… e hás tu!

essa voz que me clama longínqua do deserto árido
que me adoça o palato com mel silvestre
que me veste de si mesma, promessas de prazer e mel…
palavras vis, promessas vãs… e um toque peito
um calor no ventre, uma promessa de leito…
e uma certeza de morte…

no bailado dos lábios, balbuciando mentiras
rejeitamos o que queremos,
dizemos o seu oposto, amamos da boca para fora,
bebemos da mentira que nos condena…

ressurgimento…
essa vontade férrea de ser alma
olhar o mundo decadente e exigir calma
estender a mão ao indigente
juntar-me a ele e sermos gente
subir bem alto, gritar diferente
sem promessas caminhar e fazer…
o caminho é-nos muralha que nos defende…

Alberto Sousa
11/09/2022
In: Poemas de nada que se perdem na calçada

Caneta do poeta

Caneta do poeta

há na ponta da caneta do poeta
uma espada que pende irreverente
uma esperança do ser diferente
a rectidão longínqua da seta.
um pedaço curto de meta…
uma perpetuar-se na história
um orgulho tosco de memória…

há na ponta da caneta do poeta…
palavras diferentes, palavras novas
pedaços de guerra, uma fome de paz…
há uma pequena curva depois da recta
caminho plano cheio de covas…
uma força de vida em ser capaz…

há na ponta da caneta do poeta,
um pedaço curvo de meta…
na distância entre o arco e a seta…

Alberto Sousa
11/07/2022
In: Poemas de nada que se perdem na calçada

Poema chocado…

Poema chocado…

há mansidão nesses poemas que eclodem
que mastigados fermentam no amago
depois do silêncio alguém os pare
por entrem obstetras ausentes, – chegou a hora – e nascem…

totalmente indiferentes aos obuses e metralhadoras que disparam
indiferentes aos homens que se matam e matam os outros…

agita-se o ninho… forra-se a toca… e nascem
alimentando-se dos olhares inconformados
que quem os lê, e quem sabe também os mastiga…

Alberto Sousa
07-07-2022
Poemas de nada que se perdem na calçada

Poesia oculta…

Poesia oculta

pudesse eu fechar-me em mim próprio
construindo paredes perfeitas,
pedras finamente cortadas, empilhadas
que afastasse de mim a luz e o mundo!

pudesse eu ser apenas verso
apenas rima e poesia, enclausurado
nas frias e secas palavras despidas
engavetado no mofo de fechadas gavetas!

pudesse eu ser segredo oculto da branca beleza
em folhas negras escritas a branco,
em folhas brancas escritas a negro,
tinta seca, palavras arrastadas e nunca lidas!

pudesse eu…
mas arrasto-me pela devassidão dos olhares
pela interpretação de humanos ávidos e sedentos
eles que vasculham as letras, os espaços, os silêncios
procuram-me a essência, o âmago, procuram-me
esperam encontrar-me a alma, a calma,
a devassidão prazerosa da vida, a fórmula do amor,
o mapa da felicidade, ou apenas ler-me,
compreender-me no acto altruísta que de mim
dou-me ao escrever-me nos seus pensamentos!
sem nunca me entregar…

pudesse eu ficar fechado numa gaveta,
poder até podia, mas seria eu apenas e só
e a falta da doce luz de ser poesia!

Alberto Cuddel

Conjecturas

Conjecturas

selamos o tempo
congeminamos teorias
inquirimos o nosso íntimo
apenas uma pergunta
uma única questão
sem qualquer resposta
sem qualquer razão
porquê?
porque continuam a florir as flores?

rebobinamos passados
procuramos, revemos
nada, sem hipótese
nem uma ínfima teoria
porquê?
continuam as ondas a chegar à praia?

que prepósitos ocultos?
que esperanças?
que ideias, que desejos?
que quebra de algo
que não descortinamos?
porquê?
a vida é um ciclo sem fim?
porque o vidro depois de quebrado não pode ser colado?

nessas conjecturas sem propósito, sem significância cabal
caminhamos parados numa terra que gira,
de um tempo que não pára nem abranda
é tudo é, como tudo será, mesmo que ninguém intervenha…

Alberto Sousa
20/05/2022
Poemas de nada que se perdem na calçada

Tudo é uma corrida do tempo…

E tudo é uma corrida do tempo…

“tudo me interessa e nada me prende.
atendo a tudo sonhando sempre;
fixo os mínimos gestos faciais de com quem falo,
recolho as entoações milimétricas dos seus dizeres expressos”

e tudo porque tenho o tempo que não tens
esse que gastas sem ter a noção que o perdes
sem nunca o ter perdido por não ser teu o tempo

perdes a noção de humanidade, corres para chegar
sem perceber que na corrida a meta se afasta
olhas o teu umbigo, não percebendo que todos tem um mesmo destino
não olhas a paisagem, o lado de dentro das coisas
sentes o beijo, mas não dialogas com a alma que o ofertou…

desejas chegar, partir, nunca amas estar, produzir
desejar ter, mas esqueces de ser…
e tudo é uma corrida contra o tempo
esse que perdes sem viver, sem olhar o caminho
sem apreciar a paisagem, sem sentir o calor da mão
que a tua segura… conduzes depressa,
comes depressa, dormes depressa, cresces depressa
para ter o que perdes… e iras perder o tempo que tentas ganhar
porque depois… depois não terás tempo…
tão pouco esperança…

Alberto Sousa
Poemas de nada que se perdem na calçada
22/12/2021

Reflexão porque eles também pensam e sentem…

Reflexão porque eles também pensam e sentem…

Incomoda-me o silêncio dos Homens

Não o nego ou negarei, sou poeta ou escrevente de sonhos, de sentires, de paixões vontades e desejos, incomoda-me o silêncio dos homens, muitos(as) se levantarão agora, “mas os homens comentam poesia”, verdade, cobertos de razão os homens comentam poesia produzida ou ficcionada pelo feminino, quando a imagem da autora é atraente, principalmente se escreve sobre: amor, paixão, carência, sexo, sedução. Experimentem falar de: pobreza, assedio, violência domestica, guerra, descriminação, escrever no masculino… não é mais uma cronica avulsa, como sabem, tenho vários heterónimos, o que me permite ter e ver o mundo com um olhar mais vasto, Joana Vala é um desses heterónimos, deu para compreender esse mundo dos caçadores e predadores silenciosos que se movimentam no silêncio. A cada poema, choviam mensagens privadas dos vários tipos, raros eram os que se mostravam na página, a maioria caçadores incultos e mal-formados, poucos são os que teriam a mínima hipótese de uma relação mesmo que experimental. Mas não lancem já os foguetes, se existem homens, existe o reverso, mulheres que fazem de tudo para caçar um homem, para isso existiu o Tiago Paixão, e enquanto a página esteve aberta a mensagens existiu de tudo até nudez integrais, sem que nada tenha sido exigido ou solicitado.
Depois de tudo isto porque digo quê, me incomoda o silêncio dos homens?
Simples, quando falo em: Amor, fidelidade, certezas, assédio, violência, apenas as mulheres se manifestam, os homens esses, mesmo os poucos poetas “honestos” remetem-se ao silêncio conveniente de não serem catalogados como, tradicionalistas, retrógrados, mentirosos, convictos, extremistas… sempre muito politicamente correctos e de bem com todos, como se pudessem agradar a Deus e ao demónio… se repararem sejam Homens ou Mulheres, existem meia dúzia deles com o estado civil declarado, dirão, mas isso cabe a cada um, no seu direito constitucional da privacidade, e tem toda a razão, mas é revelador do que procuram… um reconhecimento ilusório e enganador… não me incomoda que partam, que vão, que falem na surdina…

“O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons.”
Martin Luther King
Alberto Cuddel
11/05/2018
13:45

Reflexões do amanhecer

Reflexões do amanhecer

“sabes em quantos dias divido o mundo?
ou qual é a distância entre a madrugada e o crepúsculo?
quantas as vértebras que arranquei para expor a alma,
ou a roupa que vesti para esconder a lágrima?”

despertam as pernas no orvalho,
e os pés que caminham em direcção ao trabalho,
correm as pedras soltas, e as linhas do caminho
o sol que timidamente aquece, esmorece ao dourado da cor…

vesti-me de túnica purpura… era comum o verde
na expiação da alma, penitência imposta
caminho descanso sob espinhos, as mãos estendidas vazias…
cingi os rins…

invento sonhos que nunca sonhei,
em dias que nunca dormi,
poemas que nunca escrevi,
mesmo que sinta em mim que o fiz,
que o quis, nesta poética macabra de pensar o nada e o tudo,
o tempo que foi e o mundo, uma ausência temporária,
uma outra imposta, neste tempo que avança sem retrocesso,
neste novelo que desenrolamos!

passeamos pela alvorada de mão dada,
em jardins que nunca floriram,
embalados pela brisa do fim do Verão,
sem nunca lá termos estado, beijei-te,
como quem beija intensamente e sem pecado,
ali, diante de todos, de nós e do mundo,
fomos sonho, e carne, e sentir, e desejo, fomos tudo… e os dias?

os que não fazemos, apenas existem,
esperamos o depois de amanhã,
ou um futuro que chegue, ou um sonho, um poema,
ou apenas um acordar juntos com o sol batendo no rosto,
enquanto caminhamos…

Alberto Cuddel
01/10/2021
09:00
Alma nova, poema esquecido – XXXVI

Os anjos existem…

Os anjos existem…

Podemos não acreditar, podemos não os ver… mas os anjos existem, vivem entre nós no anonimato, e sempre que a identidade de um deles é revelada, ele deixa de o ser, abandona por completo a sua forma de agir na sombra, para ser apenas um entre os milhões de mortais…
Não, os anjos não tem asas, não fazem milagres, não nos livram do mal, apenas ajudam, não por pedido expresso, mas porque sentem a necessidade de ajudar sem receber nada em troca… os anjos alegram-se com o sucesso dos outros, mas não ficam para tirar fotos, os anjos são capazes dos gestos mais altruístas sem revelar a sua origem ou ajuda… os anjos existem… conheço alguns dos meus… sou-lhes eternamente grato… mas sei que pouco mais posso fazer… porque eles são… sem se mostrarem…

António Alberto T. Sousa

Diário Branco

Diário branco

Definem-me pelo tudo que tenho, sendo o eu o nada que possuo
Nem os meus pensamentos gritados ao vento são posse minha,
Perdem-se na chuva de gritos perdidos nos ouvidos do mundo,
Espero apenas que a lua se deite, para que amanheça em mim,
E por fim, descanso, do cansaço que o pensamento me causa,
Noite branca, dormente na inquietude pensante total e vazia,
Fustigam-me ideias suicidas de novos versos e reversos poéticos,
Poema inacabado, borboletas que esvoaçam perdidas no mar,
Doce imagem do teu corpo nu, vestido com a alma apavorada
Triste solidão que te conforta, no vazio silêncio que a noite dita!

Ai de ti poeta das rimas feitas e frases vazias,
Onde te deitas? Tabuas negras e frias!

Tenho mais certezas que duvidas, pois duvido de todas a certezas,
As dúvidas que me assaltam, espreme-me, esvaziam-me
Deixam-me nu, nunca me acostumo a despir-me das palavras,
Nem à ideia de que as gaivotas fogem do mar,
Ou que sejam as andorinhas a comandar a Primavera,
A casa essa está fechada, nada aberto, nem porta nem janela,
-mesmo assim duvido, que mesmo fechada vivas nela.

Nunca esperei um fim, um principio,
Tudo segue um rumo, um destino,
Um sussurro, um abafado grito,
Desdigo-me, minto, finjo
Nem de ti, nem de mim, nada dela,
Que me contas, do tempo do nada?
Porque te finges ser um tudo,
Se no tudo que do alfabeto se pesca
És meramente actor, um mero poeta!

Alberto Cuddel®

Essa insanidade que é morrer vivo…

Essa insanidade que é morrer vivo…

procuras o apogeu do nirvana no silêncio que cultivas
calas em ti esse turbilhão das palavras e ficas
ali na solidão acompanhada de um albatroz que plana
ao teu lado, como se na vida tudo fosse…
e ficas parado no movimento que te leva.

sopro de vento que se anuncia, silvo e a brisa no rosto
copa das árvores, abrigo, bando de asas fechadas
ardes por dentro ferrando os lábios, essa vontade de grito
e calas… tantas vezes calas o que dentro te revolta
até esse insuportável gemido de dor que te trespassa a espinha
mas aguentas, tu aguantas… enquanto isso ficas
na esperança da paz, enquanto no teu íntimo
geres uma guerra silenciosa que te levará…

há em nós essa insanidade de ir morrendo vivo
na esperança de ressurreição, de reencarnação longe
de um acordar em outro tempo, outro mundo
não tenho hoje memória, deste sonho?
quem sou de mim, de quanto quis ser eu.
nada de nada surge como memória do tempo que não foi vivido
podia nevar hoje, não deixaria de ser Primavera
por ser esse o tempo dela, podia ser Verão
mas nem os vivos lhe escaparão…

vivo o esforço inútil de adormecer, como se isso me aliviasse a dor
essa consciência de me saber, tempo em que me dou em penhor
roubando a vida, o que a morte reclama, dia após dia…
noite após noite…
essa insanidade de me saber a morrer ainda vivo…

Alberto Cuddel
22/11/2020
10:30
Poética da demência assíncrona…

Junto a este tronco de carvalho…

Junto a este tronco de carvalho…

Já não chove, e se chovesse quem seriamos nós de diferentes
Eu chamei-te, tu chamaste-me, viemos os dois
E olhamos a vida sem máscaras, sem distanciamentos
Apreciamos os pássaros, sozinhos, em bando
E as nuvens que correm ao vento, e falamos em silêncio
Desta vida que nos corrói por dentro
Que nos separa em dois lados, tudo tem dois lados
O lado de dentro, o de fora, o de cima e o de baixo
O lado certo e o errado, o lado da vida e o da morte
O meu lado e o teu…

Não gosto de poesia, disseste-me tu noutro dia
Não te convenço, tão pouco te confronto com a vida
Com essa que corre nos corredores dos hospitais,
Nas bibliotecas vazias, nas salas do parlamento…
Vergonha senhores, vergonha…
Tudo é porque assim é, assim é decidido, e tu discordas

Fazes bem em discordar, mas o que fazes para mudar?

Depois sentamo-nos, estamos bem aqui…

Façamos três tendas…
Fluem as palavras, rimas imperfeitas no movimento das folhas
Não há folhas no chão, o carvalho, nem caduca nem persistente
O carvalho não tem lado, perde e ganha, aprende…
Onde nos mora o sentido da conversa?
Nesta véspera de amanhã que há-de chegar
Entre o fumo da cera e do cigarro, fluem as palavras certas
Esse louvor da memória da nossa herança linguística
E Diniz? Será que dissertava para Isabel, ou outras o escutavam?

Falemos de tudo? Do néctar de baco, esse que nos aquece as orelhas e a mente
Ou dos prazeres do Eça, do exilio, desses opiáceos que no aliviam a imaginação
Aqui bem aqui debaixo deste carvalho, existimos os dois, e lá?
Para la dos limites circulares deste jardim, quem somos?
Quem sou? Quem és?

Esperemos a noite, e depois vamos, cada um para seu lado,
Porque tudo na vida tem um lado, e este é aqui, debaixo do carvalho…

Alberto Cuddel
30/10/2020
19:00
Poética da demência assíncrona…

Liberdade de escrever longamente…

Liberdade de escrever longamente…

“No dia brancamente nublado entristeço quase a medo
E ponho-me a meditar nos problemas que finjo…
(…)
Assim como falham as palavras quando queremos exprimir qualquer pensamento,
Assim falham os pensamentos quando queremos pensar qualquer realidade.”

“Poemas Inconjuntos”. Poemas Completos de Alberto Caeiro.

há no fingimento da realidade uma chuva miudinha que me turba o olhar
e penso, penso longamente do riso em riste, no punho erguido e na intolerância
não serão apenas humanos, sem catalogação de cor, raça, religião?
ou graça nessa humanidade perdida uma ignorância de lesa-a-pátria?
amaldiçoado o povo que não ri dos seus próprios defeitos, erguendo as mãos
defendendo uma fé cega da qual desconhece o fundamento…

a ideia de humanidade é minha, tão somente minha que não a evangelizo
creio que a realidade me consome as entranhas, pelo não questionamento
nua é a facilidade com que se crê, sem criticismos do que se escuta
tudo se toma pela verdade, mesmo que a mentira se escancare diante dos olhos…

já fui do tempo em que existia ciência,
em que as hipóteses de tese careciam de comprovação
hoje é uma mera questão de opinião crente…

as verdades não são perfeitas por serem escritas
mas antes por o ter sido questionadas, comprovadamente…
penso que a verdade é uma mera conclusão da irrealidade do sonho
e o mundo avança de mentira em mentira
perigosamente rumo a um passado que haviam esquecido…
reactivam-se as cameras de gás… há milhões em fila, rumo ao extermínio…
não dos corpos, mas dos ideais libertários de uma vida de pensamento livre
de uma vida com futuro…

ontem viajei o mundo mais rápido que o som, hoje não…
e calamos as vozes livres, porque elas condenam-nos…
por um bando de peçonhas que se acham donos da palavra…

“Assim como falham as palavras quando queremos exprimir qualquer pensamento,
Assim falham os pensamentos quando queremos pensar qualquer realidade.”

Alberto Cuddel
10/11/2020 1:37
In: Entre o escárnio e o bem dizer,
venha deus e escolha II

Hoje não me apetece falar

Hoje não me apetece falar

Hoje não me apetece falar, depois de mais uma mulher ter sido vítima da uma masculinidade que não aceito, de um sentimento doentio de posse que nem na escravidão admitia. Não consigo falar de amor, da vida, de beleza, quando mais alguém perde a vida, às mãos de uma sentimento e tipo de relação ignóbil.

Ainda há pouco escrevia que amar é fácil, difícil é foder, afinal, o difícil é aceitar a decisão do outro, aceitar que quando alguém está connosco esse alguém esta porque quer, e não porque nos pertence. E sobre isso recebi alguns comentários que infelizmente demosntam bem que existem homens com grandes dúvidas sobre a sua forma de agir. Que não sabem nem respeitam os desejos das mulheres, que não sabem nem aceitam o que a mulher quer na vida e ao seu lado.

Será assim tão difícil ao homem, ao ser humano aceitar que nem sempre as coisas resultam? Que ninguém é de ninguém? Para quê tanta violência?

Mas o meu pensamento hoje vai para as crianças que sem culpa de nada, por um sentimento inqualificável de homens que nem homens sabem ser deixam milhares de crianças órfãos de mãe e pai.

A. De Alberto Sousa

Violem todas as probabilidades

Violem todas as probabilidades

“É-lhe lícito escrever um poema onde se violem todas as probabilidades — logo que, é claro, a violação dessas probabilidades não implique directamente uma falha na natureza do poema, como seria, por exemplo, o anacronismo num poema histórico, o erro psicológico num drama, etc. A verdade pertence à ciência, a moral à vida prática.”

Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação. Fernando Pessoa.

esvaziemos o mar…
pesquemos licitamente todas as aves do céu
ceifemos flores
cultivemos amores em canteiros de prata
reguemos tudo com natas…
não há na probabilidade matemática
nenhuma estatística que me confirme
nasci do amor pela certeza crente
não pela ciência humana…

tenho rasgado páginas de romances
escritos a carvão em folhas de milho
escorrem as águas no regato, nuances
de um convívio que se fez filho…

é lícito, todo o prazer humano é lícito
consentido pelos deuses em nós…

Alberto Cuddel
13/10/2020
12:55
Poética da demência assíncrona…

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