Ainda há fogo dentro

Ainda há fogo dentro

ainda há fogo dentro
desse coração que bate
ainda gelo fora, no pensamento que nos mata
ainda há quereres salgados, nesse beijo sem demora
na memória sem retorno, enquanto vivos estamos…

onde me salvas desta vida, que não sabe ser vadia
onde me és luz nesta noite sem luar
que o desejo se faça fogo nesta escarpa sem retorno
que a monotonia se faça vida num mergulho bem no fundo
que a alma se concentre noutra alma que me agarre
entre esta vida e uma outra morte, não por azar, mas por sorte
uma palavra que me ilumine, enquanto ainda há fogo dentro
enquanto nos procuramos, nesta floresta humana…

ainda há fogo dentro, ainda há fogo dentro
deste coração que bate… entre outros corações que se perdem
nesta floresta humana… devastada pelo imediato…

António Alberto Teixeira de Sousa
08/04//2023
In: Poemas de nada que se perdem na calçada

Poetica I

Poética I


Tenho em mim essa arte negra
De somar palavras aos versos
Reinventado coisas já feitas
Tenho o desplante de escrever
Neste despir do corpo cadavérico…
Chamo-me poeta, os outros não
Não, não, não me chamam
Apenas me lêem no silêncio
Como se me quisessem vestir a alma
De mil sois e galáxias, queriam que fosse
Meramente o que não sou, pó…
Caminho nos pensamentos errantes
Por entre lagos e lagoas de podridão
Nesses cemitérios cobertos de amor
Ilusão de amantes eternos sendo nada
Espinhos de rosa-sangue ao peito
Máquinas loucas violam a Mater terra
Rabisco palavras falsas de uma dor que sinto
Pelos seios que me alimentam, Maria…
Onde sou e existo além do pó do papel?
Não sei mais quem sou?
De onde vim para onde vou
Poeta sadino escandaloso rimar…
Somos poetas? Por sentir diferente
o que é igual? Escrever igual o que é diferente
E o sexo? Esse orgasmo obtuso da lua nova?
Morrem-me as palavras nas vestes negras
Nesse baptismo descrente da algibeira
E tu Saulo? Porque te invocam?
Que mal te fizeram os Coríntios?
Haverá justos em Sodoma?
Rasguem-se os céus de fogo eterno
Enterrem-me, velem-me
Nessa lápide mármore
Na porta de um hospício.
Abandonem-me junto às estantes
Deixem-me ser apenas vogal
Apenas ponto final…
Mas eu sou… Sou apenas poema
Meramente poeta
Falso é certo, mas verdadeiro
na mentira que professo
Sou a dor fingida
Da dor que foi sentida…

Alberto Cuddel
25/02/2021 23:35
In: Entre o escárnio e o bem dizer,
Venha deus e escolha XXXIV
Enviado por Alberto Cuddel em 27/02/2021
Código do texto: T7194268

No tempo dela…

No tempo dela…

Se a morte viesse hoje
Viria no tempo dela
Há um tempo certo!…

Como as flores que morrem em jarras velhas e campas rasas nas primeiras semanas de Novembro, porque esse é seu tempo…

Ela virá, é certo, como certo é o meu corpo morto no peso que carrego nesta alma dorida, a vida é o meu último inferno, o derradeiro sacrifício para a libertação plena…

Há quem tenha medo, quem se arrepie sob os gritos da coruja em pleno cemitério, com esse ruido das sombras das cruzes e das estrelas de David, eu não, esse silêncio natural do repouso, abraça-me a alma como um colo materno…

Se a morte viesse hoje
Viria no tempo dela
Há um tempo certo!…

Uma virtude nessa quietude que me alimenta, que me dá paz, viver é um tormento que me corrói as entranhas, a voz do ser humano fere-me como ferros em brasa pela goela abaixo, e eles o que sabem eles do sofrimento do nascimento, deste inferno e é viver, e contentam-se com pseudo-amor, com suportes orgasmos fingidos, com inflamações do ego confirmadas por ignorantes…

Se a morte viesse hoje
Viria no tempo dela
Há um tempo certo!…
E esse tempo é hoje…

Sírio de Andrade
28/11/2018
21:30

Olho e não vejo o que queria…

Olho e não vejo o que queria…

sabes quantas horas tem um dia pequeno?
ou quanto mede a saudade de quem ficou?
ou porque é mais verde a erva da montanha?

já não morremos hoje,
mas ontem não estávamos aqui…
entre as clareiras da memória
existem histórias que não vivemos
mas fazem parte de quem somos…

no bailado dos lábios balbuciando mentiras
rejeitamos o que queremos,
dizemos o seu oposto, amamos da boca para fora
e apostamos em gestos de braços caídos
anunciamos ao mundo bondade…
mas sorrimos na alma adulando o umbigo…

Alberto Sousa
08-07-2022
In: Poemas de nada que se perdem na calçada

Essa infelicidade de ser feliz

Essa infelicidade de ser feliz

“Esse ter uma flor ali ao pé da mão e não a colher
Para que não viole a beleza da planta indefesa…”

há no espírito concreto de ser uma impossibilidade do ter
esse desejo tão pecaminosamente humano
essa vontade férrea de ser vento,
de ser ribeiro serpenteando as pedras,
de estar parado e ainda assim ter tempo,
e procuramos esse desejo férreo nas cátedras,
e sentamo-nos na beira da estrada com uma arma ao lado
choramos a má sorte, o desejo que morre entre a vida e a morte
escrevemos longas despedidas num perdão pessoal em papel pardo
de olhar lavado e rosto molhado
erguemos a mão aos céus…

tínhamos tudo, temos tudo, e mesmo assim não somos absolutamente nada…
e nessa infelicidade de sermos felizes arrastamo-nos pela vida
entre copos de uma qualquer bebida
matando-nos aos poucos, na busca do esquecimento…

procuro nos rostos a simpatia da minha confirmação
uma fé que perdi, um rumo que esqueci
vivendo já sonhos que nunca sonhei
por a vida em mim ser já um duríssimo pesadelo insuportável…

essa infelicidade de ser feliz
para que não tenhas pena de quem já viveu…

Alberto Sousa
02-06-2022
Poemas de nada que se perdem na calçada

Nunca me disseste que ia doer tanto, pagar pela liberdade

Nunca me disseste que ia doer tanto, pagar pela liberdade

…quando as bombas caíram pela primeira vez na Geórgia, eu não me importei, era longe, na Crimeia, era longe, eram Russos… quando fomentaram os movimentos separatistas em Donbass e Donetsk, paciência tinham muitos Russos por lá. Quando compravam gás, petróleo, cereais, e outros bem mais baratos a um regime totalitário, que bom, nós vivíamos melhor…

Mas depois vieram os exercícios militares, depois vieram as ameaças, depois os tiros, os misseis, e as bombas caíram, depois vieram as mortes, os refugiados, depois os preços aumentaram, e a liberdade, deixou de ser garantia… hoje tudo o que existia, tudo o que existe está sob ameaça, hoje vemos os nossos soldados em exercícios, vemos os nossos amigos a partir, vemos o mundo preocupado, vemos as falsas notícias, a retorica da mentira, hoje não sabemos o que é verdade, hoje não sabemos, não conhecemos, não sonhamos o amanhã…

Amanhã não sabemos se existirá essa coisa chamada “liberdade”, essa ilusão de pensar livremente, numa língua qualquer, num qualquer lugar, num sistema qualquer, amanhã não sabemos sob que leis ou vontades iremos acordar… mas assobiamos para o lado, preocupados com o nosso mundinho, preocupados com as nossas vidinhas medíocres, que futuro iremos deixar para os humanos de amanhã? Para os nossos netos, bisnetos, descendentes… irão viver nesse mundo totalitário de vontades individuais?

A.Alberto Sousa

In: Nunca me disseste que ia doer tanto

Essa mentira tão verdadeira… Amor!

Essa mentira tão verdadeira… Amor!

e morreu-me ali diante dos olhos…
sabia-o no meu íntimo… conhecia as consequências
mas morreu-me ali diante da esperança que não perdi…

fica esse vazio que me abriste no útero
essa fome de vida que criei em mim
essa saudade sem retorno, esse abraço sem força
esse medo do que já não podemos ser…

fica esse amor sem resposta, essa memória do cheiro
da voz, do chamamento, do beijo, do crescimento…
fica a dor da alegria, do tempo em que existimos
e essa verdade da mentira, do perder no sofrimento…

não existe um adeus, nem um até sempre… apenas estás
deixando de estar… tornaste-te eterno…

Alberto Cuddel
07/09/2021
18:00
Alma nova, poema esquecido – XXXI

Eternidades…

Eternidades…

gemiam baixinho as finas estantes que me aprisionavam o teu nome
ali diante dos dedos hirtos que te procuravam no seio da existência
ou quando – ele próprio – subiu versos tão altos
para reconhecer menos do que a sua omnipotência – como apenas som
essa abolição mortal que se extingue no sopro, mas tão rara – mas tão bela
faria da palavra fé, essa premonição de crença, que se faz presença
essa gigantesca substância da imortalidade proferindo do seu nome – Poeta!

assim se faz a morte, essa perda absoluta da memória da dor da ausência
o amor faz-se vivo, pelas dores do parto da mãe, pela memória do grito
sucesso não se conquista pelo ter, mas pelo ser, por tudo o dinheiro não compra
estarás aqui amanhã, não pelo medo, não pela vitoria, mas pela memória do que és
pela dor de viver, pela força do amanhecer, pela grandeza dos gestos
pela firmeza das palavras, pelo que deixas edificado nos homens…

haverá eternidade, quando o teu nome for lembrado
quando os teus descendentes falarem aos descendentes deles quem foste
haverá eternidade quando as árvores crescerem em tua memória
e assim diria o Poeta – memória é apenas a repetição do gesto de dizer
enquanto ainda existimos para alguém…

Porque a vida é… e nada tem…

Olho as estantes, os livros, e converso com os meus amigos
Não são imaginários, mas são eternos… enquanto eu conversar com eles…

Alberto Cuddel
21/08/2021
17:41
Alma nova, poema esquecido – XXIV

Viagem pelo pensamento bígamo da consciência…

Viagem pelo pensamento bígamo da consciência…

eu procurei primeiro o pensamento,
li, reli, apreciei a textura das letras
eu quis, depois, a imortalidade…
esse tempo sem tempo onde nada se esquece…

um como o outro só deram ao meu ser
a sombra fria dos seus vultos negros
como se o caixão que envolve as folhas
forre amarado pela tinta das letras
encimado por laços de vírgulas…

na noite eterna longe dos meus braços…
eu procurei depois o amor e a vida
para ver se ali, diante dos abraços prometidos
esqueceria a dor deste social afastamento animal…

do pensamento e da ciência firme
da certeza da morte, essa eternidade do esquecimento
nova salvação na promessa da alma, o amor.
mas o amor, esse sentir de quem guardou a alma inteira,
e não podia haver amor para mim, eu já o consumia ávido…

depois na acção cega e violenta, onde eu
afogasse de vez toda a consciência
da vida, quis lançar meu frio ser em mares visigodos
nessa herança régia de quem luta pela independência da sobrevivência
sem amarras declaradas a ideias formatadas,
nesse tudo que sou e do seu oposto…
mora em mim um bígamo pensamento
entre o prazer e a dor de me dar
entre a saudade e a vontade de debitar
palavras e letras
versos e estrofes,
poemas e textos onde pairam as nuvens
espreitando o sol por de trás do luar…
ergam-se as lendas celtas das ruínas dos mouros castelos…
que meus versos sejam quadros dependurados numa floresta cinzenta
árvores de betão que ontem arderam
lidas por mascarados sem rosto com medo da morte…

Alberto Cuddel
13/08/2020
17:17

Poética da demência assíncrona…

Sinto-me às vezes tocado, como um pronuncio de morte…

Sinto-me às vezes tocado, como um pronuncio de morte…

sinto-me às vezes tocado, como um pronuncio de morte…
como se a vida acabasse ali, debaixo do chão
depois de tudo e antes do amanhã,
e como se tudo o que tenho feito, pensado,
sonhado, imaginado, querido, não valesse nada…

talvez seja uma doença amar assim tão desconcertadamente
amar como homem, com os genitais…
talvez seja quente ou frio, mas não si o sabor da morte ou do seu beijo
não sei se ela me abraçará, sei que virá o silêncio…

é difícil descrever o que se sente, quando realmente se sente
é tão mais fácil e cómodo descrever o que se finge
não sei quais serão as palavras humanas as que usarei
sê é que usarei algumas para dar voz ao que sinto…
não sei se estou ou sou doente, mas habita-me um sarcasmo na vida
um desalento que ultrapassa os limites da minha individualidade
impondo limites colectivos a coisas que apenas são minhas
que morrerão em mim sem que as grite…

porém sou um homem normal, com normais doenças
– será à morte apenas um sono do qual não se acorde?
[será que sonhamos mortos?]
Há momentos em que cada pormenor vulgar tem toda a importância
Apenas pela sua vulgaridade, e pela singularidade da sua ocorrência
(como um beijo antes de ser dado, na desistência de o dar)
Fica a penas o desejo de o receber…

sinto-me às vezes tocado, como um pronuncio de morte…
como se a vida acabasse ali, debaixo do chão
depois de tudo e antes do amanhã,
e como se tudo o que tenho feito, pensado,
sonhado, imaginado, querido, não valesse nada…
em que as paredes do meu reles quarto se fechassem sobre mim
e me absorvessem como matéria, e eu fosse apenas pó…
sem memória da existência do abraço que ficou por dar…

Alberto Cuddel
30/07/2020
00:50

Poética da demência assíncrona…

O beijo seco que ficou por dar

O beijo seco que ficou por dar

“há nesta forma de luta uma fome
essa que me agarra ao degrau da escada
essa que me impede de levantar e ir ali
apenas ali, para morrer…”
Sírio de Andrade

na sensação do beijo seco
está o provir da derrota
na consumação da cúpula
o fétido e triste enterro
semente de flor desidratada
que germina ao primeiro pensamento
sepulta-me no peito essa promessa de beijo
que os anjos e demónios do corpo me possuam
que me rasguem as carnes nesse pecado de pensamento
entre a traição à vontade humana
consumação do sentir da alma…
e morro sem que tu, sem que eu
saiba a incerteza da verdade do que poderia ter sido…
e nunca existiu a coragem de tornar real…

Alberto Cuddel
13/06/2020
00:05
In: Nova poesia de um poeta velho
(tributo póstumo à vida e obra de Sírio de Andrade)

Rasgados os céus e os caminhos descalços…

Rasgados os céus e os caminhos descalços…

“Ó vergonha escondida pelo sentir
Homem fugaz se eleva diante dos outros
Mas tristemente arrasta na alma
A perversidade de um desejo”
Sírio de Andrade

bandeiras desfraldadas em mastros hirtos
espinhos cravados nos pés, caminho de pó
há uma assassina da alma à solta
despe-se de negro, palavras mansas
ama, se ama, ama o conforto que possui
e ele? Morre a cada hora apenas um pouco
como se o amor o matasse por dentro…

Morreu a cada entardecer
Ave-marias rasgavam-lhe o silêncio
A morte advém-lhe da alma
Essa que o matou a cada ausência…

Onde estavas?
De onde o esqueceste?
O tempo, passa, passa…
( o tempo, apagou-o)
– ele, ele esqueceu-se de quem era, e de ti dependia…

Alberto Cuddel
12/06/2020
02:50
In: Nova poesia de um poeta velho
(tributo póstumo à vida e obra de Sírio de Andrade)

Dessa raiva de partir

Dessa raiva de partir
“Sentei-me como se sentam os que esperam
Esses que no leito negro esperam que os levem…”
Sírio de Andrade
sob a campa rasa, nem a memória dos sonhos tidos
nem uma lágrima vertida
esquecido leito, a morte, premeia-te o silêncio
das noites amantes em palavras frescas
nem a constelação mais brilhante te pronuncia o nome
o amor abandonou-lhe os seios, e o tesão da carne definha
sob as laminas que te pedem sob a alma
gravo a sangue nas entranhas a dor que a fogo se forma
nobre sofredor do amor que se dá
seco, sem vida, esvaziaste-te de alma
que secos sejam os espinhos sob os meus pés
de veludo negro as pétalas secas das rosas sem rosto
e esse perfume que me fica gravado nas mãos…
o teu perfume, e a vontade de chorar…
que a chuva e as marés te lavem do esquecimento
que do homem viva a alma das palavras cantadas
pela vontade mórbida de entregar à morte
a vida de sorte que o amor lhe talhou…
Alberto Cuddel
11/06/2020
00:05
In: Nova poesia de um poeta velho
(tributo póstumo à vida e obra de Sírio de Andrade)

Afoito da alma no vale dos esquecidos

Afoito da alma no vale dos esquecidos

desta alma baça de régio nascimento, não reza Hades
porta cerrada, sentinela morta, apelo do barqueiro
custo pago com vida, nome inscrito no esquecimento!

há tempo que passa na gente que vive
humana raça uniforme dos cegos
mudos que não contam segredos
surdos que não escarnecem das palavras malformadas
gritadas e gemidas no céu da boca aberto à vida

é tarde, muito tarde,
finalmente…
já não devo passar no regresso
caio e não me ergo de alma lavada
na margem da porta do tempo
de joelhos levados ao chão
caio…
a chorar o esquecimento lembrado
do tempo que de mim esqueci…

barqueiro… ó barqueiro…
de que cor é a raça da minha alma?
eu afoito lembro-me…
de todos os que de mim se esqueceram…

Alberto Cuddel
10/06/2020
00:07
In: Nova poesia de um poeta velho

Hoje visitei o meu túmulo

Hoje visitei o meu túmulo

Desde que abandonei a vida poucos sentiram a minha ausência, nem mesmo tu Pyxis… nem mesmo tu, sempre soube que ninguém faz falta, mas uma réstia de esperança mantinha-me lúcido, vivo… Achei deveras interessante que a minha ultima morada fosse apenas terra, sem lapide, sem memorial, apenas a essência, como a vida, apenas porque é, apenas porque que se vive, não há jarras ou flores, apenas ervas daninhas e papoilas, elas que tanto alento me deram em vida, que me levaram pelos sonhos…

Confirmo o que sempre soube, ninguém absolutamente ninguém faz falta, o mundo continua, como dizia Alberto Caeiro:

“Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.”

Na realidade a realidade supre a nossa ausência, sim podes dizer-me que sim, sentistes a tristeza, a saudade, mas a vida encarrega-se de ocupar o meu vazio… quis, é verdade que quis, a vida não tinha já significância, na morte vejo com clareza, esse vazio que me habitava, tão cheio de tudo e de supérfluo… o que eu queria? Essa verdade inatingível, foi a morte que ma deu.

Dizia Pessoa na Elegia da Sombra:

Quem nos roubou a alma? Que bruxedo
De que magia incógnita e suprema
Nos enche as almas de dolência e medo
Nesta hora inútil, apagada e extrema?

Os heróis resplandecem a distância
Num passado impossível de se ver
Com os olhos da fé ou os da ânsia;
Lembramos névoas, sonhos a esquecer.

Hoje na hora em que visito o meu túmulo descubro-me como sempre me quis, apenas só, apenas vazio, apenas eu… mais ninguém, e tudo continua… mesmo depois da morte, a vida continua…

Sírio de Andrade

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