Hoje visitei o meu túmulo
Desde que abandonei a vida poucos sentiram a minha ausência, nem mesmo tu Pyxis… nem mesmo tu, sempre soube que ninguém faz falta, mas uma réstia de esperança mantinha-me lúcido, vivo… Achei deveras interessante que a minha ultima morada fosse apenas terra, sem lapide, sem memorial, apenas a essência, como a vida, apenas porque é, apenas porque que se vive, não há jarras ou flores, apenas ervas daninhas e papoilas, elas que tanto alento me deram em vida, que me levaram pelos sonhos…
Confirmo o que sempre soube, ninguém absolutamente ninguém faz falta, o mundo continua, como dizia Alberto Caeiro:
“Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.”
Na realidade a realidade supre a nossa ausência, sim podes dizer-me que sim, sentistes a tristeza, a saudade, mas a vida encarrega-se de ocupar o meu vazio… quis, é verdade que quis, a vida não tinha já significância, na morte vejo com clareza, esse vazio que me habitava, tão cheio de tudo e de supérfluo… o que eu queria? Essa verdade inatingível, foi a morte que ma deu.
Dizia Pessoa na Elegia da Sombra:
Quem nos roubou a alma? Que bruxedo
De que magia incógnita e suprema
Nos enche as almas de dolência e medo
Nesta hora inútil, apagada e extrema?
Os heróis resplandecem a distância
Num passado impossível de se ver
Com os olhos da fé ou os da ânsia;
Lembramos névoas, sonhos a esquecer.
Hoje na hora em que visito o meu túmulo descubro-me como sempre me quis, apenas só, apenas vazio, apenas eu… mais ninguém, e tudo continua… mesmo depois da morte, a vida continua…
Sírio de Andrade
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