Poética VI
rasgam-se os céus santificados pelos orgasmos poéticos
contorcem-se os anjos nas catacumbas a cada metáfora
as ninfas dançam na sedução hirta e máscula do pecado
finge tão completamente o poeta que chega a ser real
o sexo fingido que realmente pratica sentindo que não
e vive o que sente e se assume supremo divino
as deusas pagãs com rimas vermelhas seduzem os santos
que loucos, ardentes, sedentos lhes bebem o mel
num mar que intenso ulula se entregam nas ondas
fazendo até das sereias e ninfas, tocarem-se soltas
livres e audazes aos olhos vidrados de homens cobardes
que apontam os dedos, condenam impunes
e escondem o sexo, castigam com dor a paixão da carne…
rasgam e apartam o mar dos sonhos, azuis e verdes
nos espinhos rosados aplacam a dor de uma alma velha
nos lençóis de linho o odor do pecado, esse prazeroso declamar
imiscuem-se os lábios pelos ósculos irresistíveis do silêncio
fundem-se gozando os poetas e os versos, os dedos
que digitalmente criam prazer, escrevem fontes de vida…
palavras suadas, frenéticos corpos, canetas que gemem
escrevem nos mantos de ouro e púrpura dor
o prazer que alucina e dá fogo à alma, sem fôlego
desenterram-se amores, evocam temores
inventam sabores, exsudam odores, tremores
poetas e musas, elfos e ninfas, deusas e astros
num orgasmo profundo, orgia sonora de rimas…
e eu, e tu, e a escrita que nos cresce nos dedos
e todos os deuses e deusas, e a musas que nos elevam
nobre sadino sem pejo nas palavras, patrono dos orgasmos
inventemos segredos escondidos à vista de todos
e todo o conhecimento que desconsolados desconhecem
boatos, beatos, beatas e línguas de trapos
somos poesia, ditongos e consoantes, livros e folhas em branco
silêncio selado em segredo nos lábios….
Alberto Cuddel
Ruth Collaço
04/03/2021 21:58
In: Entre o escárnio e o bem dizer,
Venha deus e escolha XLI
Gostar disto:
Gosto Carregando...
Comentários Recentes