Saudades ininterruptas de um amanhã,

Saudades ininterruptas de um amanhã,

talvez habite em mim esse mosto que fermenta
esse querer do que ainda não é e se realiza
essa fantasia de viajar por mares nunca d´antes navegados
essa vontade de querer estratosférico [viagem espacial]

há frutas espalhadas e roupas, e cheiros e água no chão…
há coisas e silêncios e gemidos de ontem…
há fome saciada e sede que não acaba…

há sol que se deita e tudo o que nos espanta

o movimento não pára, nada abranda, nada fica…
e vem o depois e a saudade antes de ser, e essa sede e fome de viver…

nas saudades ininterruptas de um amanhã, somos vida…

António Alberto Teixeira de Sousa
24/04//2023
In: Poemas de nada que se perdem na calçada

Saudades ininterruptas de um amanhã,
talvez habite em mim esse mosto que fermenta
esse querer do que ainda não é e se realiza
essa fantasia de viajar por mares nunca d´antes navegados
essa vontade de querer estratosférico [viagem espacial]
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Sob o peso do sol és-me

Sob o peso do sol és-me

… detestava o sol, estar sob o seu peso… hoje não, agradeço-lhe

sob o peso do sol emana a minha pele o sabor da tua
o teu perfume é-me memória, certeza de vida e prova da existência…

arde-me o peito na vontade de ser, e sou em ti cada passo que dou…
cada lembrança das tardes, das noites, das palavras e desejos
da fome de pele, da sede de beijos e movimentos amplos…
sob o peso do sol chuto as pedras, os problemas esses secam…

sob o peso do sol escores-me dos poros como pedaços de ti mesma
como aura flutuante que me cerca.
que me baste do sol a luz da lua, nessa memoria nua, que me lembra de nós…

sob o peso do sol és-me saudade enquanto ainda somos em nós verdade…

António Alberto Teixeira de Sousa
04/05/2023
In: Poemas de nada que se perdem na calçada

Sob o peso do sol és-me

… detestava o sol, estar sob o seu peso… hoje não, agradeço-lhe

sob o peso do sol emana a minha pele o sabor da tua
o teu perfume é-me memória, certeza de vida e prova da existência…

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Entendam que ele hoje…

Entendam que ele hoje…

entendam que ele hoje ressuscitou e fez-se homem
olhou-se no espelho e viu-se pela primeira vez…

saltou do poço onde vivia e viu o céu…
vestiu-se, e partiu pelo mundo, como se o mundo fosse seu
sabia quem era, como era, quem queria, como queria, onde podia chegar…
calçou sapatos novos, e caminhava na direcção oposta,
altivo, consciente…
entendam que ele hoje é diferente, não é poeta, não é homem, não é alma
não é amor, carinho, paixão, carência, tesão… não, não, não…

entendam que ele hoje é…
apenas é, pleno, inteiro, alma…

os seus passos fazem nascer flores, as nuvens tremem à sua passagem
o seu sorriso ilumina, contagia, seduz…

entendam que ele hoje deixou de ser quem era…
e ele foi quem não merecia durante demasiado tempo…
demasiado tempo… demasiado tempo…
até que se havia esquecido de quem efectivamente era…

entendam que ele hoje é…

António Alberto Teixeira de Sousa
24/05//2023
In: Poemas de nada que se perdem na calçada

Ainda há fogo dentro

Ainda há fogo dentro

ainda há fogo dentro
desse coração que bate
ainda gelo fora, no pensamento que nos mata
ainda há quereres salgados, nesse beijo sem demora
na memória sem retorno, enquanto vivos estamos…

onde me salvas desta vida, que não sabe ser vadia
onde me és luz nesta noite sem luar
que o desejo se faça fogo nesta escarpa sem retorno
que a monotonia se faça vida num mergulho bem no fundo
que a alma se concentre noutra alma que me agarre
entre esta vida e uma outra morte, não por azar, mas por sorte
uma palavra que me ilumine, enquanto ainda há fogo dentro
enquanto nos procuramos, nesta floresta humana…

ainda há fogo dentro, ainda há fogo dentro
deste coração que bate… entre outros corações que se perdem
nesta floresta humana… devastada pelo imediato…

António Alberto Teixeira de Sousa
08/04//2023
In: Poemas de nada que se perdem na calçada

As teorias de tudo e do nada, e sou feliz…

As teorias de tudo e do nada, e sou feliz…

…nesses passos perdidos de um destino incerto
sorrio-me quando no espelho sou belo, e belo sou olhando o mundo!

essa lamuria longínqua que me clama, (amor)… essa existência concisa
esse triunfo sonolento do orgasmo do acordar, e a vida acontece
entre um espreguiçar e um erguer, um sonho ou o viver…
perdido fico no tempo como um momento em que se não penso
[e se pensasse quem seria eu? lavrador de sonhos!]

há um excedo que acontece, esse revolver das borboletas,
um corpo que ressuscita e desce da cruz, uma alma que acorda…
rolou a porta do sepulcro, tombou, partiu-se…
o mundo abriu-se aos prazeres da carne, e eu vi-me ali,
no reflexo dos teus olhos, entre um abraço e um beijo
entre um caminho largo e um estreito…
e esperas-me no cima das escadas, ajoelhado apresentei-te o olimpo
enquanto me chovia… entres essas tuas teorias de tudo e do nada, e sou feliz… quando no espelho sou belo, e belo sou olhando o mundo! entre um grito e o outro antes de adormecermos em nós…

António Alberto Teixeira de Sousa
23/03/2023
In: Poemas de nada que se perdem na calçada

EL DESPERTAR (2003)
Pintura por Dunam

Perfeito poema imperfeito

Perfeito poema imperfeito

“amo como quem chora
porque as lágrimas lavam-me a alma
e a alma é tudo o que possuo
não o sexo nada é, que não seja a confirmação do estar vivo
e eu, eu há muito morri…”
Alberto Cuddel

eram parcas as palavras pardas que me vestiam a alma
no sossego do tempo eu desassossegado vivia
entre uma caminhada sombria e um café apinhado
olhava a porta que fechava e abria, ninguém entrava, nem eu saia
preso na concomitância do tempo do já e no depois
entre essa pressa do querer e a verdade do poder
tudo em nós é, tão naturalmente existencial
nessa apneia desejada nas águas quentes que borbulham
somos verdadeiramente nós… almas despidas do mundo…
“amo como quem chora, porque as lágrimas lavam-me a alma
e a alma é tudo o que possuo”
nada há em mim que te oferte, mesmo que eu me doe por inteiro
alma despida à sorte do mundo, enquanto o mundo ignora quem sou…
“não o sexo nada é, que não seja a confirmação do estar vivo
e eu, eu há muito morri…”
morri na entrega plena ressuscitando homem novo, ergo-me ao mundo
palavras sãs, novos desejos… versos rubros e borbulhas azuis…
fiz-me crente da verdade universal, o sangue flui, o coração bombeia…
gemem rimas orgásticas de um prazer animalesco…
a mente acordou, a máquina parou na entrada do inferno
e o céu abriu as portas ao conhecimento intrínseco da alma…
no bailado dos lábios balbuciando mentiras
rejeitamos o que queremos,
dizemos o seu oposto, amamos da boca para fora
e apostamos em gestos de braços caídos
anunciamos ao mundo bondade…
mas sorrimos na alma adulando o umbigo…

senta-te aqui comigo falemos do amanhã
toma um café, afaguemos as palavas…

António Alberto Teixeira de Sousa
16/03/2023
In: Poemas de nada que se perdem na calçada

Havia uma estrela a caminho…

Havia uma estrela a caminho…

em frias palhas deitado,
um ideal, sonho humano
messias anunciado…
comunista… comunista…
fariseus de mãos erguidas colectam…
colectam o soldo do dia…
pelo seu nome tudo é curado
acaba a inveja, seu bolso é esvaziado…
e os camelos passam… pelas ruas, pelas portas
por buracos de agulhas, e bolsos ficam recheados…

que de Belém não escape ninguém…
que em Canã se taxe a água que foi vinho
a César o que é de César… há soldo a ser roubado…
que se condene quem cura sem cobrar
Barrabás, Barrabás, condene-se o justo…
não pela justiça, mas pelo povo
a justiça o justificou, o ilibou
mas o povo na praça o condenou
e aos militares ordenou, faça-se a nossa justiça

crucificai-o… crucificai-o…

o povo acampado na rua, sob o sol e sob a chuva
assim o demandou… povo sábio, ignorante
instrumentalizado pelo sacerdócio
fazem santo o criminoso, e condenam o salvador do povo…
mas o bolso, fica cheio, não o de césar sem dinheiro…
mas do Levita, do Fariseu, o Sacerdote, e de todos os que os rodeiam
os Senadores do Senado, e os homens de branco…
os juízes que lavam as mãos, e outros que os olhos fecharam…

crucificai-o, crucificai-o…

(eu mantenho o meu… status, serei salvo, pago a minha salvação)
que morram os que pedem, os que tem fome não me servem,
que morra o doente, o milagre não é de gente,
por Deus toda a nossa vontade seja imposta na terra pela força das armas
porque o povo é “JUSTO… inocente, mas muito justo”

Amém…

António Alberto Teixeira Sousa
In: Sonho perigoso de um futuro que pode acabar
00:50 02/12/2022

A Grande Mentira e a Ascenção do Nazismo(qualquer associação com a atual realidade não é pura coincidência)

A Grande Mentira e a Ascenção do Nazismo
(qualquer associação com a atual realidade não é pura coincidência)

A grande mentira (do alemão, große Lüge) é uma distorção grosseira ou deturpação da verdade, usada especialmente como técnica de propaganda. A expressão alemã foi cunhada por Adolf Hitler, em seu livro Mein Kampf, de 1925, para descrever o uso de uma mentira tão colossal que ninguém acreditaria que alguém “pudesse ter o atrevimento de distorcer a verdade de forma tão infame”. Hitler afirmou que a técnica foi usada por judeus para culpar o general alemão Erich Ludendorff, que foi um proeminente líder político nacionalista na República de Weimar, pela perda da Alemanha na Primeira Guerra Mundial. O historiador Jeffrey Herf diz que os nazistas usaram a ideia da grande mentira original para virar o sentimento contra os judeus e provocar o Holocausto.

Herf afirma que Joseph Goebbels e o Partido Nazista realmente usaram a técnica de propaganda da grande mentira que descreveram – e que a usaram para transformar o antissemitismo de longa data na Europa em assassinato em massa. Herf argumenta ainda que a grande mentira dos nazistas foi sua descrição da Alemanha como uma terra inocente sitiada contra os judeus internacionais, que os nazistas acusaram de ter iniciado a Primeira Guerra Mundial. A propaganda nazista alegou repetidamente que os judeus detinham o poder nos bastidores na Grã-Bretanha, Rússia e Estados Unidos. Espalhou alegações de que os judeus haviam começado uma guerra de extermínio contra a Alemanha e usou essas alegações para afirmar que a Alemanha tinha o direito de aniquilar os judeus como autodefesa.

No século XXI, o termo foi aplicado às tentativas de Donald Trump de contestar os resultados da eleição presidencial de 2020 nos Estados Unidos. A grande mentira neste caso é a falsa alegação de que a eleição foi roubada dele por meio de fraude eleitoral, e a escala dos proponentes da reivindicação culminou com a invação de apoiadores de Trump ao Capitólio dos Estados Unidos.

Hoje a “grande mentira” ataca às minorias étnicas, religiosas, emigração, e de género… Baseada na ideologia que o estado é corrupto, que as polícias não tem poder, potenciam a violência e ódio social para descontentamento geral das populações e assim reforçarem poderes, hoje baseada nessa mentira populista, grande parte da população aceita que o poder das autoridades seja aumentado, que a sua autoridade não seja questionada, que sejam cortados todos os apoios sociais, potênciando o aumento da criminalidade, introdução do discurso religioso na política, exaltação de um nacionalismo bacoco e totalmente esgotado.

“Deus, Pátria, Família”

Exultação de uma maior “liberdade” laborar, iludindo a massa trabalhadora com menos impostos e segurança sócial, com a ilusão de maiores ganhos, podendo “saltar” dê empresa em empresa com contratação individual, um mesmo trabalho, salários diferentes dependendo da amizade ou do que ofereces ao empregador…

Um Retrocesso dos direitos das mulheres, regresso aos “valores” morais do século passado, onde nomeadamente o divórcio só era concedido com motivo válido. Mas em que a mulher tem direito a ficar em casa alimentada pelo Marido…

Uma estupidificação em massa da população com a liberdade de escolha do ensino, público ou privado, em que cada escola escolhe os seus programas… Escola para as massas e para as elites diferenciadas…

Um ataque deliberado à veracidade do jornalismo, a repetição de ideias populistas sem concretização factual, ou sem mostrar as consequências. Nunca enumeraram valores, nunca mostram que direitos serão retirados, que cortes serão feitos e que tipo de política querem concretizar…

Assim começou o nazismo… E para muitos desses senhores desses movimentos o holocausto é uma invenção dos livros de história ou um mal extremamente necessário para acabar com um cancro financeiro dê uma sociedade em decadência…

Vale a pena pensar nisto…

Graças a alá, isso hoje não acontece porque Jeová está no comando…

Sonho perigoso de um futuro que pode acabar…

Leva-me para casa, abraça-me esta noite

Leva-me para casa, abraça-me esta noite
não me deixe só, com os meus silêncios…

arranca-me da estrada, faz-me acreditar
dá-me a tua mão, relembra-me de amar…
beija-me no olhar, para que te possa ver
para me lembrar, que não vale ainda morrer…

leva-me para casa, abraça-me esta noite
não me deixe só, com os meus silêncios…

ilumina-me os sonhos, tristes e enfadonhos
arranca-me as palavras, que me mordem o peito
levanta-te comigo, leva-me contigo
mostra-me outra vida, sem ser triste e ferida…

leva-me para casa, abraça-me esta noite
não me deixe só, com os meus silêncios…

leva-me para casa, abraça-me esta noite
deita-te comigo, sonhemos o amanhã
antes que seja tarde… leva-me para casa…

António Alberto Teixeira Sousa
In: Sonho perigoso de um futuro que pode acabar…
20:54 07/08/2022

Sonho perigoso de um futuro que pode acabar…

Eu não sonho possuir-te. Para quê?

“E já que queremos ser estéreis, sejamos também castos, porque nada pode haver de mais ignóbil e baixo do que, renegando da Natureza o que nela é fecundado, guardar vilãmente dela o que nos praz no que renegámos. Não há nobrezas aos bocados.
Sejamos castos como eremitas, puros como corpos sonhados, resignados a ser tudo isto, como freirinhas doidas…”
Bernardo Soares

Que o nosso amor seja uma prece, genuflectidos diante um do outro por entre gemidos e bocas cheias de fecundo saber. Que todos os nossos momentos sejam rosários cadenciados no estudo da décima, que a Salve-Rainha advenha dos teus lábios, que Avé maria te leve á loucura, que o Pai-nosso venha apenas no fim, antes da nossa glória… sejamos castos um no outro, sejamos estéreis os dois.

Tudo findará, mas nos iremos prevalecer à fé dos homens, homem e mulher, e fecundaremos de novo a terra, inventando novos deuses, novas fés, sendo deuses, de pedra e de pé…

Escrever é lembrar-me das coisas, de ti e de mim, possuo-te aqui na memória em que nos escrevo, creio tantas vezes que caminhamos num abismo vazio de vida, porque tudo apenas parece, chegamos mesmo a dar saltos temporais entre um momento de lucidez e outro, no pleno tempo que, entretanto, passa, somos marionetas programadas por uma vida civil e uma sociedade militarizada pelas regras e leis… esquecemos de orar, de meditarmos um no outro em posições impossíveis de Yoga… sejamos francos, sinceros, às vezes queremo-nos, outras esquecemo-nos…

Sabes já ontem escrevia versos, e achava-os bons de verdade, mas hoje sei que não, são apenas versos como tantos outros versos escritos por outros tantos que escrevem versos bons. Lembrei-me disto como de outra coisa qualquer de um livro qualquer que poderia estar a ler como “Depois do Fim”. Tenho que te pedir perdão, não é fácil, mas há verdades e segredos que devem ser ditos, antes que me consumam por dentro e me corroam as entranhas. – Ontem traí-te…

(silencio)

Sei que não é fácil ler, acredita muito mais custoso é para mim escrever-te, mas é a verdade, ontem sonhei que te fodia, e tu não estavas ali comigo, estavas a trabalhar como de costume, mas cometi em sonho o terrível pecado da fornicação com mulher casada, sem que estivesses comigo… não sei se me poderás perdoar ou até se cresce em ti o desejo de vingança e o cometas também, comigo sem que esteja contigo…

Este tempo intermitente mata-me… e eu adormeço, como um morto-vivo… ando por aí… até que te possua em mim…

António Alberto Teixeira Sousa
In: Sonho perigoso de um futuro que pode acabar…
04/08/2022 

Sonho perigoso de um futuro que pode acabar…

Solidão do léxico que me acompanha…

Não sei o que mais virá em mim revolver a conjugação verbal que calo… essa concomitância do sentir tão irritantemente absurdo na busca pelo novo, quando o velho nada tem a oferecer, e fico… já não me apetece dar os passos que devo dar, não me apetece mudar, mudar dói, crescer dói, aprender dói… para que ser, se tudo aos teus olhos se resume a esse absurdo tão familiar e natural do ter… e eu tenho, e posso ter tudo…

Ergo-me atónico da mesa do café, como se nunca me houvesse ali sentado cansado de olhar o mundo, e tu passas por ali como um desafio ou a tentações de Cristo, e eu? Finjo em mim que te resisto, não pelas formas do corpo, mas pelo desafio do espírito, tu fêmea, dona e senhora do mundo, na tua certeza multitarefas sabes, como sempre soubeste que podes por tu criar toda a humanidade. Isso revolta-me, o facto de me saber apenas escolhido, sem a mínima hipótese de ser eu dono do meu destino…

Em mim foi sempre menor a intensidade das sensações que a intensidade da consciência delas. Sofri sempre mais com a consciência de estar sofrendo que com o sofrimento de que tinha consciência. A vida das minhas emoções mudou-se, de origem, para as saias do pensamento, e vivi sempre mais amplamente o conhecimento emotivo da vida, como se procurasse nesse corpo e na descoberta do prazer nas sinapses neuróticas a razão humana do sofrimento da criação. E Deus criou-te, eu nasci de ti Mulher, solidão do universo que me acompanha… quero-te porque de ti descendo, para te absorver em mim nesse sentir complexo de tudo sentir…

António Alberto Teixeira Sousa
In: Sonho perigoso de um futuro que pode acabar…

Sonho perigoso de um futuro que pode acabar…

Ontem a véspera de hoje…

Não esperei o amanhã, nem tão pouco a saudade dos beijos que se perderam na vontade sem nuca terem sido saboreados pelos meus lábios, não, não esperei, sentei-me e parti dali sem rumo certo. Olhei-te ainda como numa despedida acenando lenços brancos enquanto o barco zarpava rumo a um planeta distante… tudo era tão certo e tão real, a vida era essa certeza inquieta de ser uma existência virtual da perseguição da vontade…
Olhei inquieto o espaço vazio entre mim e o querer sair dali as paredes de um âmbar fosco aprisionavam-me os sonhos, mas eu voava entre as ervas daninhas e o pouco milho que imaginava, não havia água, mas chovia no meu olhar… entre os girassóis atordoados por uma luminescência plena, sem vontade própria de seguir um rumo inexistente, apenas as caturras quebravam o silencio dos campos, não havia corujas, nem ratos, nem noite… tudo era cientificamente aborrecido…
Tive ideias de levantar-me e partir, mas o destino era em mim incógnita… para onde se nem na morte a certeza existe… saia dali, e ia… sem destino, sem rumo, sem futuro, sem metas ou objectivos, tudo estava ali pronto, bastava um pensamento, comia, na ilusão de ficar saciado, bebia… dormia, beijava-te até… nem tinha a possibilidade de sentir saudade, tudo era tecnologicamente satisfeito, todas as vontades, todos os desejos… como sentia falta de ontem, desse tempo em que corria atras de tudo, que tinha sonhos reais, desses que nunca são realizados…
E ontem era tão somente a véspera de hoje, de um tempo sem futuro e sem desejo… resta-me um, morrer… e o hoje que nos proporciona a vida não permite…


António Alberto Teixeira Sousa
In: Sonho perigoso de um futuro que pode acabar…

Reedificação – A reconstrução do eu

Reedificação – A reconstrução do eu

Quando a determinado ponto da nossa vida encetamos o projecto de reconstruir uma casa em ruínas, o primeiro passo a dar e libertar a construção de todas as portas e janelas, abrir o seu interior à luz. Depois retirar do seu interior todos os escombros, todo o lixo acumulado, limpar as paredes, o chão, retirar o telhado, verificar a firmeza e solidez das paredes. Se por acaso lhe quisermos acrescentar um piso, ou mesmo apenas aumentar a altura, ou colocar apenas uma placa de betão, devemos também fortalecer as fundações, refirmar e fortalecer as paredes. Só depois de tudo isto iniciamos com segurança a reedificação, o restauro e tronamos aquelas ruinas num lar…

O mesmo acontece nas relações humanas, não devemos reconstruir, reedificar, restaurar, ou mesmo mudar uma relação, sem antes limparmos, removermos o lixo anterior, não devemos iniciar uma nova relação, sem abrir o interior à luz, sem fortalecermos as fundações, sem confirmar que não há falhas nas paredes, se a nossa estrutura está apta a receber um “novo piso”, caso contrario mais dias menos dia tudo irá voltar a ruir, deque vale uma pequena limpeza às paredes exteriores, um remendar e uma repintura? Se o que importa verdadeiramente é o seu interior, pois é lá que passarão a maior parte do tempo.

Lembram-se daquela frase “ o que importa é a beleza interior!”, porque será que ela tem tanto valor? No final da sua vida, não importa o quão as paredes estão gastas, com o desgaste da tinta, com as ervas do jardim, com a piscina onde tantas vezes foi feliz, no final da sua vida o que importa é o conforto do seu interior, a sua comodidade, a sua facilidade de movimentação, no final da sua vida o que importa é uma boa conversa, as recordações, as memórias, o poder calmante ver um filme lado a lado…

Reconstrua-se para o resto da sua vida, e não apenas porque não tem onde morar, não apenas porque esta sozinho, não apenas porque quer “esquecer” o lar anterior, reconstrua-se a si primeiro, tire tudo o que o impede de ter paz, de oferecer paz, tudo o que o impede de iniciar um novo projecto com segurança, ofereça segurança e não um “vamos der se dá”…

“Eu só posso oferecer o que sou, nada mais do que o que sou, se sou ruinas, oferecerei ruinas, se pelo contrário me reedifiquei, se restaurei as minhas paredes, oferece-me totalmente apto a ser novo, apto a receber no interior e a partilhar!”

António Alberto Teixeira de Sousa
01/11/2022

Leva-me para casa, abraça-me esta noite

Leva-me para casa, abraça-me esta noite
não me deixe só, com os meus silêncios…


arranca-me da estrada, faz-me acreditar
dá-me a tua mão, relembra-me de amar…
beija-me no olhar, para que te possa ver
para me lembrar, que não vale ainda morrer…


leva-me para casa, abraça-me esta noite
não me deixe só, com os meus silêncios…


ilumina-me os sonhos, tristes e enfadonhos
arranca-me as palavras, que me mordem o peito
levanta-te comigo, leva-me contigo
mostra-me outra vida, sem ser triste e ferida…


leva-me para casa, abraça-me esta noite
não me deixe só, com os meus silêncios…


leva-me para casa, abraça-me esta noite
deita-te comigo, sonhemos o amanhã
antes que seja tarde… leva-me para casa…


António Alberto Teixeira Sousa
In: Sonho perigoso de um futuro que pode acabar…
20:54 07/08/2022


https://youtu.be/LJTryxPS9DY

Não sonho possuir-te. Para quê?

Eu não sonho possuir-te. Para quê?

“E já que queremos ser estéreis, sejamos também castos, porque nada pode haver de mais ignóbil e baixo do que, renegando da Natureza o que nela é fecundado, guardar vilãmente dela o que nos praz no que renegámos. Não há nobrezas aos bocados.
Sejamos castos como eremitas, puros como corpos sonhados, resignados a ser tudo isto, como freirinhas doidas…”
Bernardo Soares

Que o nosso amor seja uma prece, genuflectidos diante um do outro por entre gemidos e bocas cheias de fecundo saber. Que todos os nossos momentos sejam rosários cadenciados no estudo da décima, que a Salve-Rainha advenha dos teus lábios, que Avé maria te leve á loucura, que o Pai-nosso venha apenas no fim, antes da nossa glória… sejamos castos um no outro, sejamos estéreis os dois.

Tudo findará, mas nos iremos prevalecer à fé dos homens, homem e mulher, e fecundaremos de novo a terra, inventando novos deuses, novas fés, sendo deuses, de pedra e de pé…

Escrever é lembrar-me das coisas, de ti e de mim, possuo-te aqui na memória em que nos escrevo, creio tantas vezes que caminhamos num abismo vazio de vida, porque tudo apenas parece, chegamos mesmo a dar saltos temporais entre um momento de lucidez e outro, no pleno tempo que, entretanto, passa, somos marionetas programadas por uma vida civil e uma sociedade militarizada pelas regras e leis… esquecemos de orar, de meditarmos um no outro em posições impossíveis de Yoga… sejamos francos, sinceros, às vezes queremo-nos, outras esquecemo-nos…

Sabes já ontem escrevia versos, e achava-os bons de verdade, mas hoje sei que não, são apenas versos como tantos outros versos escritos por outros tantos que escrevem versos bons. Lembrei-me disto como de outra coisa qualquer de um livro qualquer que poderia estar a ler como “Depois do Fim”. Tenho que te pedir perdão, não é fácil, mas há verdades e segredos que devem ser ditos, antes que me consumam por dentro e me corroam as entranhas. – Ontem trai-te…
(silencio)

Sei que não é fácil ler, acredita muito mais custoso é para mim escrever-te, mas é a verdade, ontem sonhei que te fodia, e tu não estavas ali comigo, estavas a trabalhar como de costume, mas cometi em sonho o terrível pecado da fornicação com mulher casada, sem que estivesses comigo… não sei se me poderás perdoar ou até se cresce em ti o desejo de vingança e, o cometas também, comigo sem que esteja contigo…

Este tempo intermitente mata-me… e eu adormeço, como um morto-vivo… ando por aí… até que te possua em mim…

António Alberto Teixeira Sousa
In: Sonho perigoso de um futuro que pode acabar…
04/08/2022

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