talvez habite em mim esse mosto que fermenta esse querer do que ainda não é e se realiza essa fantasia de viajar por mares nunca d´antes navegados essa vontade de querer estratosférico [viagem espacial]
há frutas espalhadas e roupas, e cheiros e água no chão… há coisas e silêncios e gemidos de ontem… há fome saciada e sede que não acaba…
há sol que se deita e tudo o que nos espanta
o movimento não pára, nada abranda, nada fica… e vem o depois e a saudade antes de ser, e essa sede e fome de viver…
nas saudades ininterruptas de um amanhã, somos vida…
António Alberto Teixeira de Sousa 24/04//2023 In: Poemas de nada que se perdem na calçada
… detestava o sol, estar sob o seu peso… hoje não, agradeço-lhe
sob o peso do sol emana a minha pele o sabor da tua o teu perfume é-me memória, certeza de vida e prova da existência…
arde-me o peito na vontade de ser, e sou em ti cada passo que dou… cada lembrança das tardes, das noites, das palavras e desejos da fome de pele, da sede de beijos e movimentos amplos… sob o peso do sol chuto as pedras, os problemas esses secam…
sob o peso do sol escores-me dos poros como pedaços de ti mesma como aura flutuante que me cerca. que me baste do sol a luz da lua, nessa memoria nua, que me lembra de nós…
sob o peso do sol és-me saudade enquanto ainda somos em nós verdade…
António Alberto Teixeira de Sousa 04/05/2023 In: Poemas de nada que se perdem na calçada
…somos sem nos termos uma guerra solar esse tempo lunar que nos medeia o abismo do desejo essa vontade de areia, esse querer de maré, a fome de beijo…
e fomos e viemos, e estamos e somos, e o tempo… ai, o tempo: sabes: tenho saudades de te despir a alma no beijo o corpo nos dedos, peça a peça, a cada palavras a cada gemido consentido… tenho saudades de ti e de mim, de nós, de mim em ti…
mas na saudade que o tenho e a arte de sermos que nos roubam, viajamos mundo, e somos mesmo distantes, amantes…
não se trocam os nossos olhares não te adentrem no teu corpo mas sem licença, sem contemplações todas as palavras, todo o desejo… todo o querer que trocamos…
provoco-te, deliciosamente provocação de me provocares… fiel ao desejo oculto no querer… não vejo, vendo o movimento das palavras que crescem em ti…
e logo depois há clave do odor que te emana dos dedos… e todo o prazer que te percorre a alma… como se eu… como se nós… estivéssemos ali…
entendam que ele hoje ressuscitou e fez-se homem olhou-se no espelho e viu-se pela primeira vez…
saltou do poço onde vivia e viu o céu… vestiu-se, e partiu pelo mundo, como se o mundo fosse seu sabia quem era, como era, quem queria, como queria, onde podia chegar… calçou sapatos novos, e caminhava na direcção oposta, altivo, consciente… entendam que ele hoje é diferente, não é poeta, não é homem, não é alma não é amor, carinho, paixão, carência, tesão… não, não, não…
entendam que ele hoje é… apenas é, pleno, inteiro, alma…
os seus passos fazem nascer flores, as nuvens tremem à sua passagem o seu sorriso ilumina, contagia, seduz…
entendam que ele hoje deixou de ser quem era… e ele foi quem não merecia durante demasiado tempo… demasiado tempo… demasiado tempo… até que se havia esquecido de quem efectivamente era…
entendam que ele hoje é…
António Alberto Teixeira de Sousa 24/05//2023 In: Poemas de nada que se perdem na calçada
arde-me na pontas dos dedos esse poema não escrito e o ardor do odor do teu sexo…
e sofro, e sonho, e desejo, e no tesão que me basta amo, como se o amanhã fosse ontem como se todos os orgasmos já tivessem sido sentidos bem antes dos sonhos, bem antes da manipulação dos lábios, da língua, dos dedos… bem antes de todas as marés e de todos os pores-do-sol, bem antes das chuvas, e de todas as espigas que secam nas eiras…
que a cada metáfora fechemos os olhos nesse movimento louco das águas sejamos perpetuação das marés cadencia, liberdade, eternidade feminina libertemo-nos da opressão contida pelos trapos soltemos os corpos ao prazer, sejamos alma… liberta comigo a libido em laivos de poesia empresta-me os teus lábios, abraça-me os versos sejamos poetas do prazer, gemidos loucos que se firmem as hipérboles e as antíteses movimentos opostos em prefeito sincronismo…
e quero-te bem antes de te querer, bem antes de te saber e depois de te amar, porque amo, bem antes de te ter…
cavalga em mim tarde inteira como numa corrida de longa distância… em trote firme, mas sem que se perca o folego… desprende-me, desvenda-me…deixa que te possua… que me possuas porque a alma essa já é inteiramente tua… plenamente minha… vem-te… vem-te comigo… em mim… por mim, e no fim… bem no fim… sejamos princípio e arte de um fim que se anuncia eterno…
ainda há fogo dentro desse coração que bate ainda gelo fora, no pensamento que nos mata ainda há quereres salgados, nesse beijo sem demora na memória sem retorno, enquanto vivos estamos…
onde me salvas desta vida, que não sabe ser vadia onde me és luz nesta noite sem luar que o desejo se faça fogo nesta escarpa sem retorno que a monotonia se faça vida num mergulho bem no fundo que a alma se concentre noutra alma que me agarre entre esta vida e uma outra morte, não por azar, mas por sorte uma palavra que me ilumine, enquanto ainda há fogo dentro enquanto nos procuramos, nesta floresta humana…
ainda há fogo dentro, ainda há fogo dentro deste coração que bate… entre outros corações que se perdem nesta floresta humana… devastada pelo imediato…
António Alberto Teixeira de Sousa 08/04//2023 In: Poemas de nada que se perdem na calçada
Há cinco anos atrás reescrevi um poema de António Gedeão, continua a fazer sentido ser partilhado, seja na divulgação dele, seja na chamada de atenção!
Poema do Homem Só
Sós, Irremediavelmente sós, Como um astro perdido que arrefece. Todos passam por nós E ninguém nos conhece.
Os que passam e os que ficam. Todos se desconhecem. Os astros nada explicam: Arrefecem
Nesta envolvente solidão compacta, Quer se grite ou não se grite, Nenhum dar-se de outro se refracta, Nenhum ser nós se transmite.
Quem sente o meu sentimento Sou eu só, e mais ninguém. Quem sofre o meu sofrimento Sou eu só, e mais ninguém. Quem estremece este meu estremecimento Sou eu só, e mais ninguém.
Dão-se os lábios, dão-se os braços Dão-se os olhos, dão-se os dedos, Bocetas de mil segredos Dão-se em pasmados compassos; Dão-se as noites, e dão-se os dias, Dão-se aflitivas esmolas, Abrem-se e dão-se as corolas Breves das carnes macias; Dão-se os nervos, dá-se a vida, Dá-se o sangue gota a gota, Como uma braçada rota Dá-se tudo e nada fica.
Mas este íntimo secreto Que no silêncio concreto, Este oferecer-se de dentro Num esgotamento completo, Este ser-se sem disfarce, Virgem de mal e de bem, Este dar-se, este entregar-se, Descobrir-se, e desflorar-se, É nosso de mais ninguém.
António Gedeão
Não sendo este um dos poemas mais conhecidos do autor, foi o escolhido por mim a reescrever no hoje, não sendo eu sozinho, reescrevo-o contigo…
Poema a um Homem Sozinho
Só, Irremediavelmente só, Como um astro perdido que arrefece. Todos passam por ti E ninguém te conhece.
Os que passam, Os que te olham de lado, Os que ainda falam: Sai daqui…
Essa solidão desnuda, Quer se veja, ou se tape, Quer se peça, se despeça, Ninguém para, a conversar…
Quem te sente, homem doente? Ninguém nem mesmo eu, Quem te escuta, homem que fala? Ninguém nem mesmo eu, Quem te ajuda, quem te mente? Ninguém nem mesmo eu…
Dão-se esmolas, são tesouros, Dão-se sopas e cobertores, Dão-se roupas, e comprimidos Mas ninguém te tira as dores, Dão-se gritos, envergonhados, Sem abrigo, desabrigados, Dá-se tudo e nada tens!
Mas esse teu íntimo secreto Que no silêncio desesperas, Sentado enquanto esperas Num esgotamento completo, Este ser-se sem disfarce, Um homem sozinho desenlace, É teu, só teu de mais ninguém.
Alberto Cuddel
Declamação na voz do enorme e grande poeta e amigo Vitor Costeira
Certamente não o reflexo de mim próprio, mas o reflexo do desejo que em ti induzo, na certeza de te cativar toda a atenção, plenamente consciente de que sou em ti, fonte de desejo, sede, e alimento pleno ao teu ímpeto… Ama-me ainda que me veja em ti…
…nesses passos perdidos de um destino incerto sorrio-me quando no espelho sou belo, e belo sou olhando o mundo!
essa lamuria longínqua que me clama, (amor)… essa existência concisa esse triunfo sonolento do orgasmo do acordar, e a vida acontece entre um espreguiçar e um erguer, um sonho ou o viver… perdido fico no tempo como um momento em que se não penso [e se pensasse quem seria eu? lavrador de sonhos!]
há um excedo que acontece, esse revolver das borboletas, um corpo que ressuscita e desce da cruz, uma alma que acorda… rolou a porta do sepulcro, tombou, partiu-se… o mundo abriu-se aos prazeres da carne, e eu vi-me ali, no reflexo dos teus olhos, entre um abraço e um beijo entre um caminho largo e um estreito… e esperas-me no cima das escadas, ajoelhado apresentei-te o olimpo enquanto me chovia… entres essas tuas teorias de tudo e do nada, e sou feliz… quando no espelho sou belo, e belo sou olhando o mundo! entre um grito e o outro antes de adormecermos em nós…
António Alberto Teixeira de Sousa 23/03/2023 In: Poemas de nada que se perdem na calçada
Porque não percorrer-te o teu corpo apenas nas mãos? Desenha-lo no toque, incendiar-te… Porque não beijar-te, como se te penetrasse a alma, aspirando todo o teu desejo? La fora chove, mas aqui, agora, quero-te húmida, quente, divinamente ansiosa… Porque não livramo-nos de todas as vestes do pecado que nos amedrontam, dispamos todos os pudores, entreguemo-nos aos lábios, às línguas sedentas, as bocas ansiosas… Misturemos suores, friccionando a pele, sincronizemo-nos, um movimento… Lá fora chove, aqui não… iluminemos o desejo, possuamo-nos violentamente, como se o diluvio acontecesse… Usemos o leito, o chão, as paredes, o mundo, sejamos um, sejamos um no outro, um pelo outro, gemamos juntos, gritemos juntos, deliremos juntos no orgasmo que nos trespassa… Lá fora chove, em nossos corpos também…
“amo como quem chora porque as lágrimas lavam-me a alma e a alma é tudo o que possuo não o sexo nada é, que não seja a confirmação do estar vivo e eu, eu há muito morri…” Alberto Cuddel
eram parcas as palavras pardas que me vestiam a alma no sossego do tempo eu desassossegado vivia entre uma caminhada sombria e um café apinhado olhava a porta que fechava e abria, ninguém entrava, nem eu saia preso na concomitância do tempo do já e no depois entre essa pressa do querer e a verdade do poder tudo em nós é, tão naturalmente existencial nessa apneia desejada nas águas quentes que borbulham somos verdadeiramente nós… almas despidas do mundo… “amo como quem chora, porque as lágrimas lavam-me a alma e a alma é tudo o que possuo” nada há em mim que te oferte, mesmo que eu me doe por inteiro alma despida à sorte do mundo, enquanto o mundo ignora quem sou… “não o sexo nada é, que não seja a confirmação do estar vivo e eu, eu há muito morri…” morri na entrega plena ressuscitando homem novo, ergo-me ao mundo palavras sãs, novos desejos… versos rubros e borbulhas azuis… fiz-me crente da verdade universal, o sangue flui, o coração bombeia… gemem rimas orgásticas de um prazer animalesco… a mente acordou, a máquina parou na entrada do inferno e o céu abriu as portas ao conhecimento intrínseco da alma… no bailado dos lábios balbuciando mentiras rejeitamos o que queremos, dizemos o seu oposto, amamos da boca para fora e apostamos em gestos de braços caídos anunciamos ao mundo bondade… mas sorrimos na alma adulando o umbigo…
senta-te aqui comigo falemos do amanhã toma um café, afaguemos as palavas…
António Alberto Teixeira de Sousa 16/03/2023 In: Poemas de nada que se perdem na calçada
fossem nas memórias sentidas como reais esse louco tesão do pensamento entre odores e desejos todas as imagens loucamente imaginadas sentida nas palavras partilhadas, no toque dos dedos quero-te aqui, apenas aqui, sem esperança vã sem pensar o amanhã ou o depois quero-te amar, na loucura do sexo quero foder-te, oferecer-te todo o prazer esse que sentiste e todo o outro que desejaste…
quero arrancar-te do pensamento quero o teu cheiro no corpo, o teu sabor nos meus lábios o teu gozo na minha boca quero-te minha, apenas minha e arrancar do meu corpo da minha alma, dos meus dedos esta saudade que doi, que magoa e chama…
quero que o mundo se cure que a nossa paixão perdure que o corpo se rejuvenesça que eu ame e peça quero-te toda, de alma e vida quero-te minha dono e senhor de todos os teus orgasmos…
entre promessas e desejos de uma paixão crente há essa impossibilidade de distância a percorrer não daqui a aí… mas a distância do sonho à realidade…
há esse movimento circular de rodar, de contornar o corpo esse querer consciente de beijo, de te desnudar a alma como viagem persecutória ao combustível do desejo… será a viagem da vida essa loucura de sonhar o orgasmo?
entre chaves e portas, entre promessas e desejos sonho-te liquidamente em mim, como a viagem em que ao plano físico atrelamos os sonhos desejo e saudade, do que será, depois de ter sido…
Todas as minhas horas são feitas das horas do Sul, e dos sonhos Onde todos os sonhos morrem Aquela angústia de sonhar mais Nos jardins onde impera o silêncio Caído no chão em negro mármore Esse silêncio que te queima o ser…
O teu corpo? Recolhe-o e guarda-o Encerra-o na dor que te acomoda Cinzas que o vento norte espalha…
Continuará o mesmo mundo amanhã O teu sorriso, teu tédio, apenas memória!
O que me tortura? O silêncio das paredes, ao escutar o sonho E um ódio que se estranha na alma Por não estares aqui… Mesmo ciente da tua terrena existência…
Liberta-me da opressão do desejo Das vontades inscritas no corpo Da fúria constante calada no beijo Na língua, no calor e no sopro…
Liberta-me de mim mesma na alma Profana-me as carnes, eleva-me ao prazer Sê em mim toda a tua máscula vontade Adentra-me no movimento que me desejas Faz-me tua, agora, já, hoje, Que se calem os céus e os infernos Quero o prazer mundano da paixão Dessa que me formiga nos dedos Que me dá calores, fogo, tesão… Cala-te… bebe em mim tudo Para que a eterna fome se sacie…
Ama-me na plenitude de sermos Apenas e só amantes eternos do prazer… Caminhantes do amor eterno Desenhado em corpos forjados Pela abstinência do tempo…
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