Joana Vala – Percorro-me

Joana Vala – Percorro-me

percorro-me por caminhos já percorridos
encontros do acaso comigo mesma
doem-me os dias obtusos, esta solidão da existência
procuro-me em ti como raízes na busca de água
como segurança de uma árvore…
eu, plena, inteira, completa
viajo pelas estrelas em busca da lua
sem a consciência de ser sol…

Sei-me tempestade veraneia
Sei-me bonança consciente
Vulcão que me incendeia
Velocidade que me enlouquece…

Percorro-me nas noites em busca de mim
Para que de ti me esqueça
Antes que em mim enlouqueça…

30/08/2121
11:20

Um dia de trabalho

Um dia de trabalho

Saio correndo apressado,
Para que não chegue atrasado,
Entro passo cartão, portas e portinhas,
Já na sala comprimento um-a-um,
Chamando e memorizando o seu nome,
Inteiro-me do serviço pendente,
Das alterações, ocorrências e rotações,
Abro o email, o portal, as aplicações,
Um sinal que avaria,
Uma agulha talonada,
Uma porta avariada,
Um individuo na via,
Uma marcha pedida,
Um passageiro sem bilhete,
Mais umas quantas ocorrências,
Uma alteração há rotação,
Tantas e tantas urgências,
Um sinal fechado, “olha a ponte”,
É Ligeiro? É Pesado?
Comboio danado…

Na pressa do segundo,
Em que nada está parado,
Fica esquecido o sinal,
Que outrora estava fechado…

Mais uma ocorrência,
Um erro danado,
Que para futuro,
No cadastro registado…

No fim do turno,
A calma,
O descomprimir,
O ir para casa e sorrir.

Alberto Cuddel
29/11/2013

Bom dia!

Bom dia!

A vida continua a brindar-nos
todos os dias com milagres
mais uma vez e para espanto
de todos os pessimistas
O Sol, nasceu….

Alberto Cuddel®

Revoluções

Revoluções

“Transponho montanhas já derrubadas
E dunas rasas pelos ventos do tempo
Escorridos sentimentos nos cardos
Erva que chora pisada pelos pés descalços
Prantos de mães coragem, filhos do ontem
Revoluções essencialmente inúteis”

Tudo muda na permanecia das nuvens baixas
O tempo que vaga e um sopro de nada
Um crepitar de madeira e o fumo das armas
Um coração arrancado do peito, um corpo inerte
Uma arte esquecida, um querer permanente
Tudo muda continuando igual, o tempo passa
Mas a gente, a gente não… e as palavras fazem questão
Revolve-me os fígados a liberdade… qual liberdade
Se eu, eu me entrego à prisão… essa que me morre na alma
Residente de um corpo que definha…

E depois tu… essa sede de mudança…
Mas a mudança não existe…
Porque não mudas a pauta
Apenas desejas… mudar a decoração do palco
Não a pauta, a orquestra ou o maestro…
Revolução? Qual revolução?

“Transponho montanhas já derrubadas
E dunas rasas pelos ventos do tempo
Escorridos sentimentos nos cardos
Erva que chora pisada pelos pés descalços
Prantos de mães coragem, filhos do ontem
Revoluções essencialmente inúteis”

Alberto Cuddel
25/08/2021
15:30
Alma nova, poema esquecido – XXVII

Abandonei-me

Abandonei-me

deixei que as asas fossem sonhos e voassem para longe
não me habitam já as folhas douradas e a esperança de doces
a vida segue… entre uma brisa e uma lágrima
as palavras, meras metáforas de uma realidade ilusória…

e depois choveu…
limparam-se os caminhos
e tudo continuou… simplesmente igual…
sem uma esperança de terra nova…

Alberto Cuddel
24/08/2021
16:30
Alma nova, poema esquecido – XXVI

Poema da falsidade das vidas que nos inventam

Poema da falsidade das vidas que nos inventam


joelhos viciados e alma carente
e diziam mentindo – amor –

e escreviam porque sim, porque era normal
as árvores cresciam de pé, as marés subiam e desciam
e tudo era normal, simplesmente acontecia, de noite, de dia
nas matas e esquinas, nos bares, em todo o lado…

(…)
queria banhar-me na beleza das palavras
como se não houvesse amanhã
dizer o que há de mais puro, mais puro,
belo e verdadeiro de um indizível sentimento
fazendo assim florir a vida fingida
queria abraçar o tempo e espaço
conjugando contigo meu cântico arte nova, sentida…

antes do desgosto do acordar – olhas-me, vês-me sonhar
e partimos por entre as dunas da vida, das que são
das que existem, das que nos fingem, nas que nos inventam
e fomentam as certezas na ilusão das sombras…

de pé… e os joelhos viciados…
na carência matutina, inventam-te vidas…
lá dentro,
segredo de uma porta que que não conhecem

Alberto Cuddel
23/08/2021
16:30
Alma nova, poema esquecido – XXV

Eternidades…

Eternidades…

gemiam baixinho as finas estantes que me aprisionavam o teu nome
ali diante dos dedos hirtos que te procuravam no seio da existência
ou quando – ele próprio – subiu versos tão altos
para reconhecer menos do que a sua omnipotência – como apenas som
essa abolição mortal que se extingue no sopro, mas tão rara – mas tão bela
faria da palavra fé, essa premonição de crença, que se faz presença
essa gigantesca substância da imortalidade proferindo do seu nome – Poeta!

assim se faz a morte, essa perda absoluta da memória da dor da ausência
o amor faz-se vivo, pelas dores do parto da mãe, pela memória do grito
sucesso não se conquista pelo ter, mas pelo ser, por tudo o dinheiro não compra
estarás aqui amanhã, não pelo medo, não pela vitoria, mas pela memória do que és
pela dor de viver, pela força do amanhecer, pela grandeza dos gestos
pela firmeza das palavras, pelo que deixas edificado nos homens…

haverá eternidade, quando o teu nome for lembrado
quando os teus descendentes falarem aos descendentes deles quem foste
haverá eternidade quando as árvores crescerem em tua memória
e assim diria o Poeta – memória é apenas a repetição do gesto de dizer
enquanto ainda existimos para alguém…

Porque a vida é… e nada tem…

Olho as estantes, os livros, e converso com os meus amigos
Não são imaginários, mas são eternos… enquanto eu conversar com eles…

Alberto Cuddel
21/08/2021
17:41
Alma nova, poema esquecido – XXIV

Aleatoriamente versos

Aleatoriamente versos

nessa alarvidade de se fazer noite, suicida-se o dia
o vento quente do deserto curva as canas, mas não as quebra
a vida escorre pela goela como um copo de absinto gélido…
onde te perdi? nesse azul esquecido dos gestos?
nessa inconstância dos orgasmos pelo corpo empobrecido
nessa liquidificação das horas que não existem?
não há impressibilidades que me arranque do chão,
mas rasteiram-me tantas vezes contra ele…
o destino morre-me nas intenções,
nessa vontade de correr, mas chorar na dor da vontade…

(…)
fugia-me a cidade dos pés… os leitos que me chamavam
jazem hoje desfeitos e amarelecidos pela saudade…
a rua esta cheia… cheia de gente que fala, fala… mas não escuta
o “outro”, aquele que esta ali, um mero desconhecido… alguém que veio
que vai, que estará, mas depois parte pela manhã, sem um nome…

eu? eu já não tenho medo, a esperança?
via passar o dia, no passeio contrário
de óculos escuros e cabeça baixa… já não me iludo…
espera-me esse destino que faço…
sento-me, deito-me, espero que passe…

(…)
a minha vida haveria de ser só isso: a interrogação do depois…
depois do vento, depois da chuva, depois do sol
depois da morte, depois do adormecer, depois do viver
depois do casar, depois da separação, depois de escrever porque não?
mas infelizmente faço, não sei porque o faço, mas faço-o sem pensar
porque tem de ser, e assim é, uma vida sem significado da ação…

se as coisas fossem e o sol nascesse
eu esperaria o despontar da erva
o nascimento dos malmequeres
depois, depois pensava as nuvens e os sonhos
e talvez, nessa mera consequência do pensamento
pensasse a existência, e encontrasse o amor…
porque ele é, assim indefinido, apenas sentido e visto…

Alberto Cuddel
07/08/2021
20:30
Alma nova, poema esquecido – XIX

Esta dor de já não saber quem sou…

Porque vale a pena reler…

O poeta e os outros poemas

Esta dor de já não saber quem sou…

doí-me saber que amas, mas és doente…
doí-me saber que me queres, mas eu sou…

que me importa saber que me amas, se não me deixas viver
esse ciúme, esse medo inseguro de não me deixares voar…
eu tenho vontades e quereres, tenho personalidade
porque não posso ter amigas? diz-me, se a ti escolhi…
diz-me porque não posso ter conversas privadas?
porque me segues e controlas? diz-me qual é o teu medo?
que te troque? que não te ame? se tudo o que fazes me dói…

não, disse tantas vezes não…
e tu? achas que são as tuas tolas ameaças que me impedem de te trair?
o medo de que cumpras com o teu suicídio? o medo de que me deixes?
não, nada disso, apenas quero ser eu… apenas eu, a mulher por quem te apaixonaste…

esta dor de já não saber…

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O que vale a pena na vida?

O que vale a pena na vida?

a vida só vale a pena se a minha solidão não depender do outro, mas de mim…

brinda-me o sol na alma com o sorriso do teu sucesso
alegra-me o espírito a tua vida, e a saudade que sentes
amo que ainda te lembres do meu nome, não pela doença
mas por um verso escutado numa conversa…
revivo na resplandecência da luz, por me ligares
mesmo quando não te faço falta alguma… mas eu existo, apenas isso

valorizo todos os que caminham comigo no sucesso
é nele que mora a solidão, na derrota, todos estão lá
mantendo-me junto deles, no piso térreo… no sucesso?
no sucesso é necessário subir, correr, aprender, trabalhar…
ali estão os amigos… os que não precisando te acompanham
os que sobem junto contigo a montanha, mesmo que disso não precisem
os que sabem que tu não lhes fazes falta para nada… mas estão ali…

o que vale a pena na vida é não estar sozinho… acompanhar
amar sem pedir, crescer com quem te acompanha,
discordar dos que te seguem, crescer na critica…
os que te criticam apontam o caminho a seguir…

o que vale a pena na vida não é uma frase numa lapide
mas uma frase inscrita na alma dos que em vida te amaram…

pois eu não sou mais… mas em vida fui luz… um farol de brilho único…
enquanto o caminho existiu diante dos pés… tu não me apoiaste
mas sim… sim… tantas vezes gritaste… tu consegues, dói, mas consegues…
e aí… aí amigo, amor… aí a vida valeu a pena… na chegada…

Alberto Cuddel
02/08/2021
01:30
Alma nova, poema esquecido – XVIII

Dádiva oculta!

Dádiva oculta!

resguardo-te dos espinhos,
que a minha plenitude contém,
dolorosa ocultação em mim,
ferozes desejos carnais,
ânsias, pecados mortais,
em parte, ofereço,
em parte, oculto,
sem ser tudo,
sou um nada,
no nada que posso
de mim entregar…
sombra, na sedução nocturna
em que me movo,
oculto,
margem das ocas palavras,
recebes-me como um todo,
entregas-te a um desígnio
desconheces a violência,
a complexidade do que quero,
não conheço o que não quero,
quero tudo, sem poder ter nada!…

Sírio de Andrade
In: Antologia depressiva (2013)

Noite inquieta…

Noite inquieta…

revolvo em voltas infinitas,
roucos lençóis clamando teu corpo,
sono moribundo que me abandona,
solidão profusa, decidida por mente,
no corpo cansado brado teu nome,
ardo em desejo, crente e suicida,
masoquista sofrimento de abandono,
sofro, cão abandonado sem dono,
por não querer suportar o conforto,
a privação de uma trela!

Sírio de Andrade
In: Antologia depressiva (2013)

Ruínas

Ruínas


todo eu em ruínas,
sim, vagas e vagas de réplicas,
alma desfeita,
não ficou um sentido,
uma vontade,
que não caísse por terra…
não ficou pedra sobre pedra…
sofrimento atroz que me devora,
que me consome…
não há vontade de me erguer
levantar, mover…
nada de nada…
raiva…
a fúria…
que me faz estar…
apenas estar,
sem movimento
pele dilacerada
carne que se desprega dos ossos
não, não me moverei…
as ideias rodopiam
já fora de mim…
onde, onde caí
sim, ficarei aqui
para onde havia de ir…
se ninguém me procura…

Sírio de Andrade
In: Antologia depressiva (2013)

Um quase poema

Um quase poema

Um quase poema desinspirado,
Nasce da aspiração inglória e vã,
Da mão tremula e teimosa do poeta,
Pela incauta vontade de escrever,
Na lembrança escritos passados,
Na busca constante,
Num horizonte distante,
Procura incerta,
Espera desconcertante,
Uma saudosa saudade,
Uma culposa vaidade,
Uma confissão prometida,
Um outro nome,
Uma outra vida,
Um querer absoluto,
Um desejo absurdo,
Um poema de amor,
O choro, prantos de dor,
Um peito aberto,
Um coração concreto,
Uma alma exposta,
Esperando em ti,
Ler uma mera resposta,
Questiono-te em mim,
Onde encontrarei em ti,
A minha morada, o meu fim….

Alberto Cuddel
02/10/2015

Coisas

Coisas

as coisas da vida, não a vida das coisas
as coisas que parecem,
as que perecem ser coisas,
o tempo da coisas,
as coisa do tempo,
as coisas sem tempo,
o tempo sem coisas
as coisas que acontecem,
o que acontece as coisas,
coisas para todos os gostos,
os gostos das coisas,
a simplicidade das coisas,
as coisas simples,
as coisas complexas,
a complexidade das coisas,
as coisas, essas mesmas coisas, supérfluas,
mas que seria da vida sem as coisas,
mesmo quando a vida para
por uma simples coisa,
pela simplicidade da coisa,
por uma coisa simples,
pelo local onde a coisa
apresenta inusitadamente,
a beleza de uma coisa simples!

Alberto Cuddel®
11/11/2015

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