Poética I
Tenho em mim essa arte negra
De somar palavras aos versos
Reinventado coisas já feitas
Tenho o desplante de escrever
Neste despir do corpo cadavérico…
Chamo-me poeta, os outros não
Não, não, não me chamam
Apenas me lêem no silêncio
Como se me quisessem vestir a alma
De mil sois e galáxias, queriam que fosse
Meramente o que não sou, pó…
Caminho nos pensamentos errantes
Por entre lagos e lagoas de podridão
Nesses cemitérios cobertos de amor
Ilusão de amantes eternos sendo nada
Espinhos de rosa-sangue ao peito
Máquinas loucas violam a Mater terra
Rabisco palavras falsas de uma dor que sinto
Pelos seios que me alimentam, Maria…
Onde sou e existo além do pó do papel?
Não sei mais quem sou?
De onde vim para onde vou
Poeta sadino escandaloso rimar…
Somos poetas? Por sentir diferente
o que é igual? Escrever igual o que é diferente
E o sexo? Esse orgasmo obtuso da lua nova?
Morrem-me as palavras nas vestes negras
Nesse baptismo descrente da algibeira
E tu Saulo? Porque te invocam?
Que mal te fizeram os Coríntios?
Haverá justos em Sodoma?
Rasguem-se os céus de fogo eterno
Enterrem-me, velem-me
Nessa lápide mármore
Na porta de um hospício.
Abandonem-me junto às estantes
Deixem-me ser apenas vogal
Apenas ponto final…
Mas eu sou… Sou apenas poema
Meramente poeta
Falso é certo, mas verdadeiro
na mentira que professo
Sou a dor fingida
Da dor que foi sentida…
Alberto Cuddel
25/02/2021 23:35
In: Entre o escárnio e o bem dizer,
Venha deus e escolha XXXIV
Enviado por Alberto Cuddel em 27/02/2021
Código do texto: T7194268

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