A expiação da culpa e o escarnio da culpa alheia…
“o poder é corrupto, eu? eu não… mas os outros sim…”
eles roubam, eu? eu não, aceito apenas o que é meu por direito…
eles são corruptos e fazem negociatas, eu não sou muito sério
apenas peço a um amigo para me tirar pneus mais em conta
à cunhada do meu primo para dar um jeito na consulta do hospital
eles não têm ética recebem subsídio de residência com casa em lisboa
eu não, recebo deslocação pelo meu posto de trabalho
mesmo morando a quinhentos metros…
eles andam montados em grandes carros pagos pelos nossos impostos
eu não, mesmo tendo carro prefiro deixá-lo no meu posto de trabalho
e andar três dias com o carro da empresa…
eles são uns ladrões… mas nós não, somos gente séria…
um sentimento de algo ilimitado, sem fronteiras —
‘oceânico’, por assim dizer, esse sentimento, acrescenta,
configura um facto puramente subjectivo, e não um artigo de fé;
não traz consigo qualquer garantia de imortalidade pessoal,
mas constitui a fonte da energia religiosa de que se apoderam
os culpados são os políticos e não a sociedade que os formou…
porque eles coitados nasceram assim, ladrões…
acusa, aponta o dedo, antes que eles te acusem a ti…
vai um favorzinho, ou por alguma excepção obtusa eu tenho direito?
que me importa se é ético ou moral, direito é direito…
quase me esquecia, mas os culpados são eles, os políticos…
Alberto Cuddel
24/01/2021 17:00
In: Entre o escárnio e o bem dizer,
Venha deus e escolha XVIII
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