Conjecturas

Conjecturas

selamos o tempo
congeminamos teorias
inquirimos o nosso íntimo
apenas uma pergunta
uma única questão
sem qualquer resposta
sem qualquer razão
porquê?
porque continuam a florir as flores?

rebobinamos passados
procuramos, revemos
nada, sem hipótese
nem uma ínfima teoria
porquê?
continuam as ondas a chegar à praia?

que prepósitos ocultos?
que esperanças?
que ideias, que desejos?
que quebra de algo
que não descortinamos?
porquê?
a vida é um ciclo sem fim?
porque o vidro depois de quebrado não pode ser colado?

nessas conjecturas sem propósito, sem significância cabal
caminhamos parados numa terra que gira,
de um tempo que não pára nem abranda
é tudo é, como tudo será, mesmo que ninguém intervenha…

Alberto Sousa
20/05/2022
Poemas de nada que se perdem na calçada

Esperança…

Esperança…

nessa esperança que espera, ante o tempo que passa
os dias que desconta do sonho por cumprir
e os passos dados em calçada gasta… há essa virtude…
esperança…

não há muito que mais faça, além de uma inglória espera conformada
aparte isso… passa o tempo que corre, com pressa de um depois
mesmo que o depois apenas seja a morte do sonho
num fim anunciado que não foi aceite no tempo que me restava…

e morre a esperança sem se cumprir…

Alberto Sousa
01/05/2022
Poemas de nada que se perdem na calçada

Tudo é uma corrida do tempo…

E tudo é uma corrida do tempo…

“tudo me interessa e nada me prende.
atendo a tudo sonhando sempre;
fixo os mínimos gestos faciais de com quem falo,
recolho as entoações milimétricas dos seus dizeres expressos”

e tudo porque tenho o tempo que não tens
esse que gastas sem ter a noção que o perdes
sem nunca o ter perdido por não ser teu o tempo

perdes a noção de humanidade, corres para chegar
sem perceber que na corrida a meta se afasta
olhas o teu umbigo, não percebendo que todos tem um mesmo destino
não olhas a paisagem, o lado de dentro das coisas
sentes o beijo, mas não dialogas com a alma que o ofertou…

desejas chegar, partir, nunca amas estar, produzir
desejar ter, mas esqueces de ser…
e tudo é uma corrida contra o tempo
esse que perdes sem viver, sem olhar o caminho
sem apreciar a paisagem, sem sentir o calor da mão
que a tua segura… conduzes depressa,
comes depressa, dormes depressa, cresces depressa
para ter o que perdes… e iras perder o tempo que tentas ganhar
porque depois… depois não terás tempo…
tão pouco esperança…

Alberto Sousa
Poemas de nada que se perdem na calçada
22/12/2021

Chove-me longamente em dias de Sol

Chove-me longamente em dias de Sol

já não me resta muito tempo depois disto
não que antes houvesse, mas antes os peixes voavam
na minha varanda em que olho de longe o sol
morrem-me os perfumes da lavanda
enquanto exalo um fumo azul sob os malmequeres…
espero uma chuva que me lave, que me baptize…

Tudo se gasta e se consome, a roupa gasta-se
O dinheiro gasta-se, o tempo gasta-se
O amor consome-me por dentro, e amo
Acho que está tudo perdido enquanto não me levanto
Enquanto não me ergo e não dou um passo em frente
A vida escorre gota a gota como resto de água sobrante
Há fome de viver ali, na janela de fronte a mim
Talvez espelho baço do que foi, do que ainda é…

Dou por mim a chamar pessoas que nada significam
E também as outras, os amigos, ou os que pensam ser
E todos os que me orbitam e que acham que me devem
A mim? A mim ninguém me deve, nunca emprestei a eles as mãos
E chamo as outras… as que me são nada, por saberem quem são…

Chove-me longamente em dias de sol
Enquanto espero uma doce alvorada
Enquanto acordam depois de terem dormido
Depois de um enorme sonho
Depois de um grande nada, que nos ira acontecer depois…

Alberto Cuddel
25/09/2021
05:10
Alma nova, poema esquecido – XXXIV

«Tudo é um momento – nada é verdadeiramente real!”

«Tudo é um momento – nada é verdadeiramente real!”

Tudo na vida são momentos,
Estórias e apenas alguns reais,
Momentos que ficam na memória!

Gota de orvalho, no lapso temporal,
Reflexo de teu alvo rosto espelhado,
Brisa que te agita, movimento liberal,
Terra molhada, brota envergonhado,
Horizonte longínquo, no sol nascido,
Acordam, revivem, da noite erguida,
Brotam flores em botão, amanhecido,
Força natural que renova toda a vida!

Tudo é instante, momento, inconstante,
Tudo é igual, diferente, ilusão, realidade,
Tudo é sentido, pressentido, excitante,
Tudo é uma mentira, engano, verdade!

Tudo é etéreo permanente, como a rosa,
Tudo é belo, completo, apenas instante,
Brisa do bater de asas de uma borboleta,
Peixe em poça de água na baixa maré,
Nada parece que é, e o tudo que parece,
Na nossa realidade nada foi, nada é!…

Tudo é sentido no momento,
Tudo nos parece ser natural,
No parco nosso entendimento,
Nada é verdadeiramente real!

Alberto Cuddel®
30/11/2015

Cúpula do tempo

Cúpula do tempo

É nessa cúpula do tempo
Na dualidade de ser palavra
Que me divido, entre a loira e a morena
Tempo enraivecido pela pasmaceira das horas
Há um verde de esperança que me brota do silencio
E flui a conversa e o trago, entre um cigarro e o outro
Discutimos, discutimos longamente
Como um casal velho…
Eu e tu, maldita caneta que teimosamente não escreves…

(…)
Nesse vento distante que te agita os braços
Um sussurro veraneio, um chamamento
Um pedaço de vida que se agita, um cigarro cortado
Uma palavra fresca, solta assim na mesa
Como uma conversa distante sem nexo, sem sexo, apenas poema
E a vida acontece à mesa, ali à distância dos dedos
Palavra a palavra…
Enquanto se saboreia o tempo
Pleno de companhia…

Alberto Cuddel
11/06/2021
00:30
Alma nova, poema esquecido – II

Desafio de Ruth Collaço, Foto de João Gomez photography

Poema sem tempo…

Poema sem tempo…

Nos tempos em que me encontro
Perco-me nas rochas esbatidas pela maresia,
-ouço o mar, distante de mim, de ti
Dias infinitos nos grãos de areia sob o andar
Nuvens de algodão transportam sonhos
Sorrisos e juras de jovens risonhos
Silencio do olhar, jovial certeza –(a)mar!
Caminhos, paredes esbatidas, solidão
Horizonte onde correm lágrimas, -Saudade
-tive-te aqui, mas partiste
Há verdade que se escondem nos papéis
Nas folhas soltas que esvoaçam ao vento
Tempos passados e esquecidos na memória
-queimam-se as ideias e sonhos
Corro por ruas estreitas, procurando janelas
Portas, vidas por detrás delas – procuro-te
Jardins onde ontem fui feliz em nós, quis-me
-jura-me, ainda voltas no meu tempo
Certa certeza de que o tempo não se esgota
Que é eterno ainda num novo nascer do sol!

Alberto Cuddel
10 de abril de 2016

Minuto

Minuto

nunca pedi o tudo,
nem que fosse meu, cada segundo,
apenas a serenidade
a liberdade da entrega
a cada lugar deserto
distante de mim, tão perto
se amo, aplaca em mim as dores
caídas na saudade vertida no olhar!
amo, se amo!
mas doem-me as noites distantes
a cada minuto que passa…

Alberto Cuddel®
18/06/2016

Poética IV

Poética IV

tínhamo-nos esquecido do tempo,
desse que passa por nós na berma da estrada
mesmo assim havemo-nos de casar um dia
mesmo nesse tempo bacoco sem memória, somos…

não, eu não sou o tal, não professo esse amor lamechas cheio de moscas
nem como o outro anseio “fornicar amor” contigo…
tão pouco irei sacudir-te a libido em busca de preliminares exíguos
mas casar-me-ei contigo várias vezes, noutras talvez mesmo acasale…

mas o tempo morre-nos a cada dia que nos ultrapassa fora de mão…
– esquece os morangos e o chantilly, até as bananas
que me importa a fruta? eu caso-me contigo porra…

sejamos pedreiros e trolhas, picheleiros até, na construção de momentos perfeitos
mesmo que os construas de joelhos enquanto te olho nos olhos
e se seguro os cabelos… mas sejamos com classe…
dessa que não se compra mas que existe em nós,
por sermos quem somos, não tenhamos vergonha de o ser…

tínhamo-nos esquecido do tempo,
desse que passa por nós na berma da estrada
e depois acordamos, olhamos o céu encoberto
desenhamos nuvens no chão… olhaste-me
deste-me um beijo! vamos?
rodei a chave e partimos rumo a esse destino desconhecido
esse mistério estudado pela ciência chamado amanhã…
e sim havemo-nos de casar lá também…

Alberto Cuddel
01/03/2021 03:40
In: Entre o escárnio e o bem dizer,
Venha deus e escolha XXXVIII

Vestes que despes contra a parede do tempo…

Vestes que despes contra a parede do tempo…

nas paredes amarelecidas pelo tempo
as vestes que despes de uma alma nua
estendes marcos aos olhares do mundo
condenam-te as vistas que passam
pelas molas podres e o gasto da roupa…

corres pela rua acima, em portas e janelas fechadas
rotos que espreitam por detrás das cortinas
gente com medo da rua, com medo da vida
e estendes ao mundo as línguas de trapos
a bocas imundas de palavras porcas…

estendes ao sol
as vestes que despes contra a parede do tempo
em alma lavada corada ao tempo…
e esperas… que o tempo te seque…
calcorreando o empedrado da rua…
aprisionado entre paredes gastas…

Alberto Cuddel
21/01/2021 15:10
In: Entre o escárnio e o bem dizer,
Venha deus e escolha XVI

Lá fora depois do sol um dia do tempo…

Lá fora depois do sol um dia do tempo…

Lá fora vai um redemoinho de sol cavalgam as ondas sob a maresia …
Árvores, pedras, montes, bailam sob as nuvens que correm
Noite absoluta chuva de estrelas, luar sob a areia molhada…
Caídos no abraço sem pressa, amando a humidade salgada do mar…

Andam por cima das copas das árvores cheias de sol,
Andam visivelmente por baixo dos penedos que luzem ao sol,
Aparecem do outro lado do mundo, onde a saudade se põe
E toda esta paisagem de Primavera é a lua sobre a lagoa
E toda a feira com ruídos e luzes é o chão deste dia de sol…
Sob o luar a roda gigante, subimos os dias, caíram as noites

De repente alguém sacode esta hora dupla como numa peneira
E, misturado, o pó das duas realidades caiem as estrelas
Sobre as minhas mãos cheias de desenhos de portos
Com grandes naus que se vão e não pensam em voltar…
Abraço o amor como agarro a vida, escorre o tempo como areia

Pó de oiro branco e negro sobre os meus dedos…
As minhas mãos são os passos daquela mulher que abandona a feira,

Sozinha e contente como o dia de hoje…
Na esperança que a noite caia…
E no abraço se morra o dia…

Alberto Cuddel
13/12/2020
04:50
Poética da demência assíncrona…

Nua solidão

Nua solidão

Corria contra o tempo de mão dada
Sozinho, neste deserto rude e agreste
-saudades da vida que deste, do tempo
Areia entranhava-se nos pés, corria
Contra o tempo, sozinho, de mão dada!
Fatiguei o sono, mantive-me acordado
Cheio de um amor abstracto, desejo
Sonho livremente o ar, o mar, o beijo
Na brisa descomprometida da saliva
Nas dunas que se erguem do teu peito!
Se as nossas saudades fossem uma,
Se o gemido do eco segredo,
No desejo escuro, verdade degredo?
Movimentos profundos e calmos,
Amplos, mudos e surdos,
Cabelos desalinhados
E rostos rosados!
A solidão de mim,
De ti, não teria pena!

Alberto Cuddel®
In: Tudo o que ainda não escrevi – 54

Movimento perpétuo das areias, cansaço…

Movimento perpétuo das areias, cansaço…

constitui-te uma alma imóvel,
na imortalidade da morte eterna
nesse esforço teu de querer sentir coisas
perdes a brisa no rosto e a água nos pés
como se o tempo se esgotasse
como areia por entre os dedos…

e depois? nessa escura e negra vivência
morrem os sonhos na abstinência
nesse sono cansado, na solidão do corpo
não há resposta nas palavras, nem desejo, nada…
apenas um cansaço nas pernas,
um corpo cansado pelo peso da alma…

falta-me o desejo no teu corpo de mulher

falta-me do desejo de te possuir a alma…

constitui-te alma imóvel…
sem vontade de existência
como se a vida em ti
já não morasse ali!…

Alberto Cuddel
24/09/2020
10:17
Poética da demência assíncrona…

Dizer “Amo-te” não é um mero dever,

Dizer “Amo-te” não é um mero dever,

Eu sei, sei, mas ainda assim quero,
Reconhecer tacteado o teu mundo,
Não sei por quanto tempo te ausentas,
Ou as historias que nunca vivi
Nunca foi um sonho – ou se meramente sonhei?
Oh! Que enfadonho é este partir…
Que me obrigam, aí de mim! Quero recuar?

Só me lembra que não irei, fico
Eu decidi… tornou-se luz dentro de mim,
E os meus olhos, que enxergaram além,
Em leituras do teu corpo, clamam firmes
Que faço ao saber? Fico, vou, deixo-me?
-só sei que nada sei!
Mas nessa hora nem sequer comecei!

Alberto Cuddel®
27/07/2016

Tempo

Tempo

A volatilidade do tempo
Tanto o tempo passa
Como tanto passa o tempo
Sendo aproveitado o tempo
Tempo de bom proveito
Mesmo que passe o tempo
Não é perdido o tempo que passa
Sendo nosso todo o tempo…

Alberto Cuddel
In: Palavras que circulam – XIII
14/09/2016

Website Powered by WordPress.com.

EM CIMA ↑