Desespero…

Desespero…

Foge a luz que o tempo corre,
Cai a escuridão que tudo envolve…
Nuvens negras me encobrem…
O negro carvão me devora,
Não há luz que ilumine,
O meu já tão negro pesar…

Assim te espero…
Candeia que vigia…
Que ao meu encontro venhas…
Que um dia me venhas salvar…

Alberto Cuddel®

Gaiola, Liberdade Imposta!

Gaiola, Liberdade Imposta!

Acordas de manhã,
Em sobressalto, algo mudou,
As grades que te prendiam desapareceram,

O tecto, a porta, tudo desapareceu,
A medo abres as asas, ensaias um voo…
Te retrais, tens medo…
Num rasgo de coragem,
Te lanças,
No espaço rumo ao desconhecido…

Rumar a onde?
Depois de tanto tempo ali viver,
Que fazer?
Voa sem sentido,
Sem rumo,
Tentando absorver o mais possível,
De essa visão, de essa sensação…

É tarde…
A luz que a liberdade iluminava esbate-se no horizonte…
Descansas no topo de uma qualquer árvore,
Olhas em volta,
Tanta carne se junta na ocultação da noite…
E tu agora sem fome…

Sentes um vazio…
Um calafrio…
Pensas no conforto da gaiola…
No carinho, nas palavras,
Na comida, no conforto…
Na felicidade que ali sentias…
Porquê?
Fui eu que escolhi entrar na gaiola…
Porquê?
Dar-me algo que eu não queria…

Acordas só…
Isolado,
Sem vontade de voar…
E sim!
Posso sempre voltar…
Mas a gaiola se encontra fechada,
Sem portas ou janelas,
Definhas…
Não acreditas…
Te isolas a um canto,
Porquê? Me quiseram fora?
Quão feliz fora eu na gaiola…

Alberto Cuddel®

13/09/2013

A queda!

A queda!

Uma imagem,
Um sussurro,
Uma palavra,
Um sopro…
E o castelo de cartas se desmorona…
Construído e edificado na fragilidade humana…
Recomeço,
Do nada,
Mãos frágeis e tremulas,
Novamente o levantam…
Carta a carta…
Palavra a palavra….

Alberto Cuddel®
29/04/2015

Ausência, partida….

Ausência, partida….

O silêncio gritante que ficou,
Depois de tua partida,
Impotência, foi o que sentimos,
Os projectos por realizar,
Os sonhos,
Os conselhos que ficaram por dar,
Sentimo-nos sós…
Vazios de ti…
Agora preenches o nosso imaginário,
Falamos e questionamos-te em silêncio,
Sabemos que estas presente,
Talvez muito mais…
Do que alguma vez estiveste…

Neste vazio que deixaste,
Que o nosso amor preenche,
E nos impulsiona – “segui em frente”,
Deixaste-te a ti, viva entre a gente,
Na face e no sentir de cada um de nós,
Podemos ouvir tua voz, saber o que pensas,
Pois moldaste-nos como o barro,
Ficou Amor,
Ficou verdade,
Ficou saudade!

Alberto Cuddel®
2015

Último tributo a ti

Último tributo a ti

 

“Nas rosas negras que me repousam na alma

Descobri o amor, o meu, por mim mesmo

Nas lâminas que se escondem no leito

Decidi retalhar o passado, recortar cada dia”

Sírio de Andrade

Retalham-te o corpo na banalidade dessa carência de afecto que te atormentam as noites, um abraço que nunca foi sentido, uma abstinência de beijos, palavras, meras palavras, entre um trago e um bafo, entre um cigarro e uma lágrima, entre um tecto baixo aninhado no negro cadeirão…

Nesse falso amor a ti que proclamavas, nunca o sentiste, retalhavas o corpo vagueando pelo pensamento, nesse abandono supremo do esqueleto, coleccionavas pedaços de nada e esperança, sentias, mas nada mais que isso, sentir, apenas um gargalo bafiento por companhia e um cinzeiro cheio…

Nunca as conversas dos homens banais te entusiasmaram, nunca as palavras de circunstância das mulheres te fizeram vibrar, um inadaptado social, alguém longe do tempo e do mundo…

Percorrias ruas e vielas olhando os beirais, as estrelas, clamando silenciosamente o seu nome, e ela, ela escutava-te, mas nunca deixou a vida dela, pela tua vida simples, sem nada, sem pretensões, sem ambições, apenas sentir, apenas desejo, apenas viver… e viveste a ilusão de uma vida, durante a vida toda…

Alberto Cuddel

20/06/2020

16:06

In: Nova poesia de um poeta velho

(tributo póstumo à vida e obra de Sírio de Andrade)

A carta

A carta

Era um adeus simples, um até depois, depois do nada, depois que a esperança morreu… foram palavras simples aquelas que o poeta escreveu, um mar calmo sem vento, uma floresta negra e morta pelo fogo que se extinguiu… foi um quase tudo que apenas foi nada, um fogo em cabeça de fosforo, que a brisa da mesmice dos dias logo apagou… De que te vale tentar incendiar lenha verde? De que te vale a procura de palavras sadias, se no final tudo se resume à loucura da embriagues de mais um copo de vinho… de que te vale esse prazer temporário de que “tudo esta bem” se continuas a morrer devagarinho, se deixas de acreditar no amanhã? Esse que tens certo como um dia igual a ontem, sem mudança, apenas depois de hoje… e colecciono esperanças e memória dos abraços, e Maio… foi em Maio… Perdi-me de todas as cartas que escrevi cheio de sonhos, hoje apenas lembranças desses tempos, onde ia ali a correr, gemer a felicidade… hoje já nem as palavras me fazem sorrir… Visto a tua mascara, essa que tantas vezes passeaste na rua, essa mascara do sorriso, por entre piadas e anedotas… mas na verdade, nem tão pouco te concedem a liberdade de estar triste, de ser triste, de ter a certeza de que a vida é um mero castigo, um mero sacrifício ser vivida… e o amor, a pouca esperança que te mantem vivo… ele é a derradeira chantagem enviada por Deus…E Deus espera-te, sem te conceder o acto de desespero que te leva directamente a ele…


Alberto Cuddel
22/06/2020
19:34
In: Nova poesia de um poeta velho

Ciclicamente

Ciclicamente

Nefasto tempo
Equinócio que me desbrava
Uma folha esvoaça
Nos ventos da memória
Dourada, gasta pela vida
No chão morre sob o peso
Dos duros passos da humanidade
Alimento amorfo de nova vida…

Alberto Cuddel®
23/09/2016
In: Palavras que circulam – XVII

Soneto de Amor!

Soneto de Amor!

No todo amor que de mim intento
No antes propósito, assim o tanto
No olhar, alma todo o teu encanto
Confirmado fiel, todo o pensamento.

Sopro certeiro, sempre louva o momento
No amor divino que se espalha no canto
Na saudade, rezo ao Deuses o meu pranto
Meu pesar, nasce o nosso contentamento.

Tudo de mim que ainda em ti procure
Toda a carne e alma que em nós vive
Pelo sentir que na carne sempre dure.

A dor feliz, deste ser que hoje ama
Força da decisão que em mim tive
Amor-perfeito que em Deus me chama!
Alberto Cuddel
23-01-2017

Afloramento do sentir, mãos que suportam…

Afloramento do sentir, mãos que suportam…

Cravam-se no peito sombras apunhaladas, sangue que jorra
Dor arrastada pelo corvo da alma, um voo rasante em estrada aberta
Revolvo em voltas infinitas, roucos lençóis clamando o espírito
Sono moribundo do abandono solidão profusa,
Corpo inerte no brado do teu nome, arde em desejo, crente e suicida,
Sofre, cão abandonado sem dono, por não querer suportar o conforto,
Privação de uma trela, uma jaula de porta aberta à vida…
Há uma solidão em cada garrafa vazia, entre um sono e o sonho de não acordar…

Peito sombra de um eco profundo de um não bater
Porque o que trago no peito partiu e deixou apenas o espaço ao sofrimento
E à dor constante que leva esta mente alucinada verter lágrimas em forma de insónia
Pelos lençóis de camas impuras ou cadernos com histórias loucas…
Eu já tive o teu nome à porta de entrada daquele corpo para a alma!
Eu já te tive no final de cada grito de prazer onde o orgasmo era alvorada!
Eu já te tive em cada horizonte por estrada ou céu, mas hoje fecho-me…
E em cada garrafa procuro mais argumentos e explicações para ainda acordar…

Rasgo os dias e as noites nas ruas bafejadas pela memória
Em todo lado a sangue grito pelo teu nome, loucura dos passos sem destino
Na porta fechada ao mundo crente, não há fé que habite esta alma
Apenas licor, apenas leigo, apenas ateu dessa vil estrada
A felicidade é a letargia do tempo a que chamam céu
Procuram os olhos o sal… esse que me alimenta num último trago…

A memória passou a ser um saco velho e sem fundo de pensamentos antigos
Com tinta de caneta transformada em mar de lágrimas de um tinteiro inesgotável
Entornado todos os dias e todas as noites em que estás sem corpo
E me habitas o alma num voar descontrolado a caminho de lugar nenhum…
Eu sei que um dia te tive e fui o teu amor e que isso não foi um sonho!
Hoje no pesadelo da tua ausência, coleciono garrafas e acordares de solidão…

Dueto Sírio de Andrade e João Dordio

Poema do dia 18/08/2018

Agora com declamação incluída!

O poeta e os outros poemas

Poema do dia 18/08/2018

Procurava silêncios numa sala vazia,
Apenas uma cadeira, uma porta, uma janela fechada,
E esse grito pensante do meu cérebro…
Apenas queria silêncio… e não havia…

Procurei silêncios entre a maresia,
Procurei silêncios nos teus abraços,
Procurei silêncios até onde não podia,
Procurei-me adormecido nos teus braços!

Cavalguei a noite, num Pégaso de luar
No silêncio dos cascos, o som da rua
Vinho, putas e má vida… O apito
Esse repetitivo do camião do lixo…
Do silencio nem sinal, não havia…

Procurei silencio no cima da serra
Grilos, cigarras, mochos e cadela
Que barulho fazia ela…
Adormeci…
Nos sonhos gritei pelo som…
Silenciosamente ninguém me escutava…
Eu dormia, ela apenas me estudava…

Procurava silêncios numa sala vazia,
Apenas uma cadeira, uma porta, uma janela fechada,
E esse grito pensante do meu cérebro…
Apenas queria silêncio… e não havia…
E o meu pensamento tão vazio de nada

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Corpos… apenas isso

Corpos… apenas isso

Cenário dos desejos mudos e quedos,
– Raios de lua afagam-te os cabelos.
Lábios húmidos, desejo de beijos,
Lua sonâmbula adormecida,
Ondulantes formas de mulher,
Perpetuamente dormente…
Olhar cego e recto como destino
Entre o cansaço do dia e o desejo de carne,
Tolhem o olfacto as nuvens pardas de baunilha,
Mãos que se cruzam junto ao peito
Entre o abraço dos corpos,
O calor que apenas restou!

Olhemos as horas,
E o tempo que resta,
Céus rasgados pelos raios de sol!

Alberto Cuddel
08/06/2016

A vida da história da noite simples

A vida da história da noite simples

na véspera da partida desse sol que era
– à um gemido surdo que anuncia o crepúsculo
esse abraço de fim de dia ainda a dar…

há uma história a contar da história da vida
– um surto aconchegante do amor que se renova
uma noite simples, que simples é a vida
como os barcos que aportam no porto
– e todos os que partem para a faina…

houve uma vida, dentro da vida da gente
uma vida nova a cada alvorada
uma outra que desponta a cada madrugada…
correm sonâmbulos pelas vielas os corpos cansados
os sem tecto e os sem esperança, os sem vida
os que chegam e os que partem…

há a cada esquina uma história
uma noite simples…
uma vida cansada… uma vida lembrada…

Alberto Cuddel
19/06/2020
20:34
In: Nova poesia de um poeta velho

Encontro

Encontro

Eram tantas as palavras
Soltas e perdidas nos lençóis
Esvoaçando por entre janelas abertas
Silenciadas nas paredes brancas

Estão por ai perdidas
Presas num olhar descuidado
Num raiar da aurora, num ribeiro corrente
Longe, distante, ausente

Os versos perdem-se na visão do mundo
As palavras extinguem-se na beleza do olhar
E os beijos, apenas nos mostram o doce paladar
Do sentir poético do amor
Mas até esse se perde a cada adormecer…

Alberto Cuddel
15/05/2017
17:32

Na porta do tempo

Na porta do tempo

Já esperei sentado na soleira da porta, o tempo mediano da tua chegada
Na busca dos minutos cantados e batidos pelo relógio da torre
As calças curtas e chinelos gastos procuram a tua voz
Eco, desejo juvenil que ecoa no vale, chamas-me

O tempo lavou a memória que o tempo esqueceu
Mas espero na tua porta o que o tempo levou!

(…)
Nada encontro nos silêncios escondidos das horas
Nada procuro no barulho ensurdecedor dos dias
Apenas continuo à espera, sentado à porta do tempo!

Alberto Cuddel
15/12/2016

Hoje e sempre

Porque o erotismo faz parte da vida e é a essência do Tiago Paixão.

Hoje e sempre…

Excita-me na visão do teu corpo
Excitas-me na tua excitação plena
Nos teus beijos plenos e cheios
Na loucura das mãos que te tacteiam
Que te procuram, que te encontram
Mãos que imiscuem pelas vestes
Que se adentram, que procuram calor
Uma humidade que cresce…

Um sentir de línguas que se procuram
Dedos que te procuram os lábios,
Lábios que se abrem… Que se oferecem…

No querer que desejo, no desejo que imponho
Apenas te desejo no querer e amor absoluto…Excito-te? Não mais que a mim…
Quero, assim te quero, no oferecimento
De todos os orgasmos a mim mesmo…
Pois só eles me importam, o teu louco prazer
Na dádiva que eu te posso de mim oferecer…

Queres-me?
Não mais do que eu te quero…
Não mais do que eu te desejo
Não mais do que todo que posso oferecer
Não mais do que todo o teu prazer…

Tiago Paixão

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