O suave aconchego do poema.

O suave aconchego do poema.

Caí nos braços longos do poema
como quem se entrega à verdade!

Lua dormente que sombreia as letras
rasgos de sorte e de alma,
(e transpiro, transpiro, entre o sono e sonho)
enleio de prazer as tristes lágrimas de saudade…

Inquires-me os vocábulos pelos segredos de amanhã
por entre as palavras que chovem e cascatas de reticências
(mesmo assim escondo-me, ali visível diante do olhar)
esmiúço languidamente as palavras que beijam
(sinto nas mãos vazias corpos de luz, gemes…)

(…)
Amaro nesse mar que me ofereces
Em voos picados sem rede
As palavras essas ferem-me os silêncios
Num olhar profundo da cadência das ondas
E morro
tantas vezes morro
como quem deixa de viver
respirando de novo a cada sopro do teu sentir
apenas pelo prazer de renascer…

(…)
Aconchega-me a alma o poema
espraiando-me pelas areias do tempo
sem medida, escorrem-me como desejos
envoltos em maresias…

Alberto Cuddel
21/01/2019
18:29

Peço ao tempo chuvoso um raio de sol

Peço ao tempo chuvoso um raio de sol

Peço calma e ao frio o teu abraço
Peço desculpa longínqua ao sul
Pelo calor que roubou à noite…

Declarei saudades robustas
Idealizadas em corpos crescentes
Num tempo fechado e embalado
Enclausurado nessa caixa que bate…
Que nos move e inquieta
           Que ama em surdina
Tudo é momentâneo
     Tudo é o que nos dizem as mãos…

Peço ao tempo cinza
Que se abra, que se mostre
Que se faça vivo e crente
Quente nos lábios em palavras nuas
Que longínqua seja a nossa verdade
Encerrada em nós mesmos como segredo
Degredo aflorado das nuvens negras
Essas que se abrem e se espraiam
Mostrando o sol da tua alma
Abraçando-me nesse olhar doce…
Onde já tanto choveu…
Alberto Cuddel
19/01/2019

Calor que nos abraça…

Calor que nos abraça…

Deixemos o frio do mundo lá fora
Que nos abrace o calor da alma
Esse que nos arde no peito,
Que nos crepita no corpo,
Nas mãos inquietas, nos lábios sedentos,
Na derme que escalda e chama…

Deixemos o mundo longe de nós
Sejamos vida e chama que arde
Sejamos luz, querer e vontade,
Sou-te como me és,
Vigor do fogo que nos possui…

Que nos embriague o vinho…
Percorre-me nas sílabas que calas entre um golo e o outro,
Sorve-me avidamente até ao tutano…
Bebe-me pelo poema e absorve-me nos lábios
Em declamações sucessivas e languidas no meu insanamente desejo…
Proclama na brisa perfumada o amor desejado da alma em fusão,
Flamejante olhar, rubros lábios, desejo de beijo, e beijo dado.

És, somos, incontinência avolumada do querer que se agiganta,
Vontade declarada nas vestes despojadas no chão quente e sem brilho…
Envergonhem-se as paredes dos movimentos amplos,
Das mãos que nos percorrem o espírito,
Dos gemidos afirmativos, dos implorados, dos incentivos ou negados…

Incitas-me a seduzir-te a cada momento,
O “amor” não se compadece da monotonia,
Do ciclo ordinário das horas, sucessão absoluta de deveres… Não… Não… Insinua-te em mim, seduz-me, arrebata-me, excita-me loucamente,
Devorar-te-ei, como louco, como amante insaciável do teu corpo,
Do teu prazer, do teu pecaminosamente gozo que me escorre dos lábios, Amando-te mais que ontem, mais que hoje ou amanhã…

Não fiquemos ou descansemos, abracemo-nos apenas,
Até que o desejo nos abrace, num novo e eterno querer que nos possua,
Que eu te possua, novamente, ama-me hoje, mais que ontem, novamente…
Até que novo gozo nos trespasse a alma como uma lança que nos condena… Envergonhem-se de nós o Cupido, Vénus, Afrodite, Astarte ou Ishtar…
Sejamos perfeitos na arte de cúpula…
Na nobre arte de nos amarmos, de pertencermos à oferta do prazer que nós nos atribuímos…
Sejamos amantes, companheiros, namorados, fielmente almas fundidas no desejo…
Enquanto crepita e aquece este fogo que nos consome…

Tiago Paixão
13/01/2019

Nesta noite que Deus trouxe…

Nesta noite que Deus trouxe…

Deixei que te escorressem pelos pés
Estrelas fartas de cristal e silêncios
E palavra contaminadas de dúvidas
E incertezas certas que te habitam a alma…
Urrei gritos silenciosos de fel, calado
Mordendo os lábios por dentro…

Depois dos dias e das noites que estão por vir
Irás sorrir, longamente, demoradamente
Esquecendo as noites em que as estrelas te caíram aos pés…

Eu irei abraçar-te nesse sorriso, irei gritar essa alegria
Depois, depois virão novos dias, novas noites,
Meramente nossas, como Deus a nós as entregou…

Neste entretanto inglório do tempo que não passa
Entre clareira de silêncios e gritos mudos de saudade
Correm os ponteiros ao norte e contra a sorte
Numa espera triste, fria, sombria, incerta…
Nesta noite que Deus trouxe… não me deixou ficar a luz do olhar…

Alberto Cuddel
18/01/2018

Se um dia te perguntarem:

Se um dia te perguntarem se eu escrevo, diz-lhes que sim, que já viste as minhas letras espalhadas por aí…

Alberto Cuddel

Queria ter tempo para coisa nenhuma, e simplesmente para tudo…

Queria ter tempo para coisa nenhuma, e simplesmente para tudo…

Queria ter tempo
Eu? Eu mesmo?
Eu que quando nasci já havia feito dezoito anos?
Para que quero essa medida relativa
Essa coisa redonda a que chamam tempo?
Esse minuto longo em que esperamos
Que a casa de banho fique desocupada…
Ou esse minuto breve em que saboreamos um beijo?
Queria ter tempo para escrever com palavras novas
Dessas belas e indecifráveis, apenas como referência a ti…
A ti que me esperas em noites longas e ausentes
A ti que o tempo passa a correr quando estamos juntos…
Queria ter tempo para coisa nenhuma ao teu lado
E o tempo contigo é simplesmente tudo…

Eu que nunca fui criança
Que nunca tive sonhos de criança
Que nascia a ler e com herança
Que não escolhi o que tinha lido
Eu poeta, que um dia disse e gritei
HOJE, HOJE NASCI….

E mesmo assim, depois de tudo e de todo o tempo
Ele, o tempo, é curto, espaçado, ausente…

Falta-me o tempo para quase tudo
E com o pouco que tenho
Não faço quase nada…

Ainda assim, o tempo é tão pouco contigo,
E tão longo quando estou ausente…

Alberto Cuddel
17/01/2018

E agora?

E agora?

 E agora depois de lançado o 3º livro? O que escrever, o que dizer, o que vale a pena?

Talvez nada, talvez tudo, talvez um humano crescimento ou meramente a loucura!

Talvez me reinvente, talvez me faça de novo, talvez seja romance ou novela, talvez seja nada!

Sonhando os sonhos já sonhados, esperando a realidade da alvorada…

Sonhando os sonhos já sonhados, esperando a realidade da alvorada…

Deste-me a solidão noite inteira
Entre o sono e o despertar
Em lençóis de areia e dunas
Linho e estopa por bordar
Debruçada na janela sob o sol nascente
Os dedos como brisa percorrendo as formas
Aldrabando a solidão dos dedos em mão aberta
Grito do eterno desejo, esperança da chegada
Longamente esperei teu vulto
Em copos vazios de águas passadas…
Movida por dedos engenhosos…

Acendi-me nos sonhos,
Percorri-me nu nas marés
Despido de todas as certezas
Ondas, que vem, que vão
Vem, vão…

Que loucas são as noites
Por entre estrelas e pérolas
Anéis de ouro e safiras
Sonhos e desejos
E beijos, beijos,
Beijos, beijos,
Beija-me e prova-me
Em lábios dormentes
Chega, quero-te chegada…
Antes que me desperte a alvorada
Deste sonho adormecido…
Veste-me, nu, nu…
Destes sonhos já sonhados…

Alberto Cuddel
15/01/2019

Nesse abraço…

Nesse abraço…

Nesse abraço cabe tudo
O calor, o medo, o amor
A segurança, a confiança e o perdão
Nesse abraço cabe o mundo
Cabe o meu coração e o teu…

Nesse abraço cabe o mar
O céu, a terra, o meu e o teu
Cabe a vida, o ontem, o hoje
Cabe até o amanhã sonhado…

Nesse abraço, cabemos nós
Na convicção que entre os nossos braços
Vivemos… mesmo que nada mais importe
É nos meus braços que te quero
Que te encontro, que te espero
Como quem segura o tempo
Que tantas vezes se perdeu
Por entre os dedos abertos…

Nesse abraço com que te quero abraçar…

Alberto Cuddel
12/01/2018

De onde vivi, para onde olho?

De onde vivi, para onde olho?

Caem-me as névoas nos olhos olhando o fim da rua
                Que noite cai tão escura em avenidas largas
                                        Janelas estreitas de vidros partidos…

Olham-me com olhos tristes os olhos que me fitam
              Nunca conheci outro alguém que me olhasse assim
                                        Longamente, demoradamente, diferente dos teus…

Esse olhar de mãe que me condena quando parto pelo mundo
Olhos que choram a felicidade do encontro na palavra perfeita
Olhas que amam, que brilham na chegada…

As névoas desse mar interior nas vivências em poemas de mel e limão
Não há como fazer amor na pele da palavra, no sereno florir das coisas
São livros cheios de sentir que me iluminam os dias, e me dão brilho ao olhar…
E olho ao longe, sentires alheios aos meus, em rimas perfeitas de palavras cheias…

Eu que tantas vezes me dei, que tantas vezes me esvaziei
              Apenas olho, com olhos de ver, as coisas e as almas
                                   Que em mim passeiam crentes que são gente que vive…

E vivo… tantas vezes morto, por não saber de mim…
                        Sabendo sempre onde pertenço…
                                    E pertenço-te, desde sempre sem o saber…

Alberto Cuddel
11/01/2019

Que tempo é este?

Que tempo é este?

Que tempo é este em que acordas do sono?
Em que voas acordado em sonhos negros
No trespasse gelado nas águas da alma?
Morrerias se voltasses, se acordasses do sono…
Queria voltar a ser criança, apenas criança
Sem o saber de hoje, sem o falso amor dos grandes
Apenas queria ser pequeno, com pequenos sonhos…

Os significados dos dias em mares salgados do olhar
Só comparavelmente ao abraço do teu sorriso
Esse que me lanças no cruzamento das mãos
Sob lençóis quentes e húmidos, entre beijos de licor
Nesse tempo quero ser quem sou, ainda que seja
Tudo o que perdi, corremos atrás do tempo que já não temos…
Mas que juramos conquistar a cada minuto…

Que tempo este sem dias de memória, sem história
Na espera pelo tempo que tudo traga e tudo faça
E sabes, tudo depende do sim ao tempo
Enquanto ainda digo não, ainda digo espera-me…

E mesmo assim sonho o tempo todo
Com o tempo, que será apenas nosso
Sem pressa que a noite chegue, que o dia acorde
Que a saudade morra, sim, não quero ser criança
Quero ser quem sou e quem me fazes ser…

Alberto Cuddel
11/01/2019

Sonhos ou realidades verdes…

Sonhos ou realidades verdes…

E gritei…
Gritei pois então, e acordei
Acordei como quem nasce
Desse pesadelo que é a realidade
Criada ou inventada por “Deus”…

Nada me diz, nem nada me apraz
Que as espigas cresçam hirtas aos céus
Que as nuvens baixem aos ilhéus
Que andem ou corram atrás
De sonhos verdes em verdes prados…

Compreendi que os sonhos são os pesadelos dos gestos
E nada mais é infinito que um desejo impossível
Que nada há de real ou verosímil
Na confluência do desejo másculo
Numa satisfação ilusória a passageira
Arrepiando-me a espinha quando acordo…

E choro na delicadeza supra humana
De ficar sem partir, sabendo onde haveria de ir
Nesse destino que me espera chegar,
Sonho realidades verdes, a cada novo olhar
Iluminando a alma, com o perfume de me veres chegar…
Sofro pelo que sou, não pelo que devia ser
Isso, isso é apenas o resto do tudo que será
Nesse chão que se desapega dos pés
Em realidades de gestos, nos medos do depois
Verdes lágrimas fartas, pendem do olhar
Não por tristeza, mas por saber que vou chegar
Acordando do sonho para verdes realidades
Ali, bem ali, ao alcance de uma mão, um braço,
Um corpo, um abraço… de um lar…

Alberto Cuddel
08/01/2019

Mentalidadezinhas…

Ontem partilhei este poema que abaixo partilho no Facebook, em jeito de provocação mediática foi trocada a imagem de referencia ao poema na original via-se um homem de meia idade à meia luz debruçado sobre a secretaria, agora usei a que aqui ilustra o poema. num determinado grupos nas duas vezes que publiquei o poema, não tive, repito,(um grupo com 14.000 seguidores) NÃO TIVE QUALQUER REAÇÃO, ontem tive 31 “Likes” e 8 comentários, dois dos quais transcrevo no final, de pessoas que nunca me comentaram.

Desinspirado

Adormeci no silêncio que me grita na alma,
busco palavras novas, ainda não escritas,
para um novo poema imaginado ontem,
nas águas turvas de um ribeiro seco,
sem qualquer inspiração!

A musa que amanhã me dará de beber,
hoje distante, ausente,
nada me lembra,
nada me sente!

Quedo-me quieto,
esperando como quem espera um autocarro que passou,
mesmo antes de ter chegado, olhar distante e vago.
Não há dor em mim que me molde,
tão pouco que solde ditongos ausentes de palavras diferentes
e estranhas arrancadas as entranhas, de uma triste alma muda!

Mesmo assim a desavergonhada da secretária
arqueia de pernas abertas sob o peso do meu corpo…

Alberto Cuddel
16/01/2016

comentários:

Senhora X,

Gostava de saber o q tem isto a ver com poesia. Não falo do poema é evidente. Além de q esta foto não dignifica a imagem da mulher. Mas que falta de ética. E de um extremo mau gosto. Este grupo deveria ter moderadores q n permitissem este tipo de postagens. Incrível.

Senhora Y

Não gosto da imagem, lamento. O poema está bem escrito, mas a imagem… a mulher é muito mais do que um objecto sexual para satisfazer nossos desejos, se me faço entender.

Gostava da vossa opinião!

 

Desta mudança que se faz tarde…

Desta mudança que se faz tarde…

Correm os dias como regatos inverneiros
Correm as horas como carneiros com fome
Longe do calor do peito o tempo morre
Desta mudança que de faz tarde, choras…

 (onde te mora essa vontade?)
“Não me venhas, nunca mais venhas, imperdoavelmente”
Mudam-se os dias sem vontade,
Mudam-se as vontades com as noites…
 – Pecas, pecados de sonhos, morrendo e matando a vida…

Desse tempo que arregaço e consumo
 Nas voltas danadas do mundo
  Morro sem um sim
   Nascendo por fim de mim
A vontade férrea de mudar, o que já não é igual
Que me morram no peito e nas pernas
As malformadas vontades de voltar…

Desta mudança que se faz tarde,
Cedo compreendo o que me falta mudar…
Mudando tudo, fico por mudar, EU!…

Alberto Cuddel
05/01/2019

Escondo-me

Escondo-me

Escondo-me intrépido por detrás do teu rosto,
Por detrás da imagem refletida do teu rosto,
Olho-te nos olhos, como estranho,
Desconheço o que pensas, apesar de eu
Eu, que me olho, que me vejo, ser o tu
Que me olha, que me lê, que me escuta,
Escondo-me por detrás das linhas da escrita,
Nas vírgulas fora de sitio, no assentos
Nos adjetivos, que adjetivam o que sinto
Sem realmente, querer sentir o que mostro
Não mostro o que realmente sinto,
Pois eu sim, finjo escondido,
O que escondido tenho em mim,
Os ocultos desejos traídos,
Reprimidos neste anafado corpo onde sonho
Explorar prazeres sem tempo, sem pudores
Sem repressões ou reclusões,
Onde me podes olhar nos olhos
E leres-me em ti, na transmissão
Despudorada do físico sentir,
Mesmo no sonho por ti sonhado
Escondo-me por detrás do reflexo
Do teu rosto no espelho!….

Sírio de Andrade®

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