Em mim és…

Em mim és…

Certamente não o reflexo de mim próprio,
mas o reflexo do desejo que em ti induzo,
na certeza de te cativar toda a atenção,
plenamente consciente de que sou em ti,
fonte de desejo, sede, e alimento pleno ao teu ímpeto…
Ama-me ainda que me veja em ti…

Tiago Paixão

10/07/2017

As teorias de tudo e do nada, e sou feliz…

As teorias de tudo e do nada, e sou feliz…

…nesses passos perdidos de um destino incerto
sorrio-me quando no espelho sou belo, e belo sou olhando o mundo!

essa lamuria longínqua que me clama, (amor)… essa existência concisa
esse triunfo sonolento do orgasmo do acordar, e a vida acontece
entre um espreguiçar e um erguer, um sonho ou o viver…
perdido fico no tempo como um momento em que se não penso
[e se pensasse quem seria eu? lavrador de sonhos!]

há um excedo que acontece, esse revolver das borboletas,
um corpo que ressuscita e desce da cruz, uma alma que acorda…
rolou a porta do sepulcro, tombou, partiu-se…
o mundo abriu-se aos prazeres da carne, e eu vi-me ali,
no reflexo dos teus olhos, entre um abraço e um beijo
entre um caminho largo e um estreito…
e esperas-me no cima das escadas, ajoelhado apresentei-te o olimpo
enquanto me chovia… entres essas tuas teorias de tudo e do nada, e sou feliz… quando no espelho sou belo, e belo sou olhando o mundo! entre um grito e o outro antes de adormecermos em nós…

António Alberto Teixeira de Sousa
23/03/2023
In: Poemas de nada que se perdem na calçada

EL DESPERTAR (2003)
Pintura por Dunam

Lá fora chove

Lá fora chove…

Porque não percorrer-te o teu corpo apenas nas mãos? Desenha-lo no toque, incendiar-te… Porque não beijar-te, como se te penetrasse a alma, aspirando todo o teu desejo? La fora chove, mas aqui, agora, quero-te húmida, quente, divinamente ansiosa… Porque não livramo-nos de todas as vestes do pecado que nos amedrontam, dispamos todos os pudores, entreguemo-nos aos lábios, às línguas sedentas, as bocas ansiosas… Misturemos suores, friccionando a pele, sincronizemo-nos, um movimento… Lá fora chove, aqui não… iluminemos o desejo, possuamo-nos violentamente, como se o diluvio acontecesse… Usemos o leito, o chão, as paredes, o mundo, sejamos um, sejamos um no outro, um pelo outro, gemamos juntos, gritemos juntos, deliremos juntos no orgasmo que nos trespassa… Lá fora chove, em nossos corpos também…

Tiago Paixão

Perfeito poema imperfeito

Perfeito poema imperfeito

“amo como quem chora
porque as lágrimas lavam-me a alma
e a alma é tudo o que possuo
não o sexo nada é, que não seja a confirmação do estar vivo
e eu, eu há muito morri…”
Alberto Cuddel

eram parcas as palavras pardas que me vestiam a alma
no sossego do tempo eu desassossegado vivia
entre uma caminhada sombria e um café apinhado
olhava a porta que fechava e abria, ninguém entrava, nem eu saia
preso na concomitância do tempo do já e no depois
entre essa pressa do querer e a verdade do poder
tudo em nós é, tão naturalmente existencial
nessa apneia desejada nas águas quentes que borbulham
somos verdadeiramente nós… almas despidas do mundo…
“amo como quem chora, porque as lágrimas lavam-me a alma
e a alma é tudo o que possuo”
nada há em mim que te oferte, mesmo que eu me doe por inteiro
alma despida à sorte do mundo, enquanto o mundo ignora quem sou…
“não o sexo nada é, que não seja a confirmação do estar vivo
e eu, eu há muito morri…”
morri na entrega plena ressuscitando homem novo, ergo-me ao mundo
palavras sãs, novos desejos… versos rubros e borbulhas azuis…
fiz-me crente da verdade universal, o sangue flui, o coração bombeia…
gemem rimas orgásticas de um prazer animalesco…
a mente acordou, a máquina parou na entrada do inferno
e o céu abriu as portas ao conhecimento intrínseco da alma…
no bailado dos lábios balbuciando mentiras
rejeitamos o que queremos,
dizemos o seu oposto, amamos da boca para fora
e apostamos em gestos de braços caídos
anunciamos ao mundo bondade…
mas sorrimos na alma adulando o umbigo…

senta-te aqui comigo falemos do amanhã
toma um café, afaguemos as palavas…

António Alberto Teixeira de Sousa
16/03/2023
In: Poemas de nada que se perdem na calçada

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