Poema do dia 30/06/2018

Poema do dia 30/06/2018

Diante de mim todas as páginas vazias, por uma certeza concreta de que amam os que nunca sentiram, amar é o ateísmo extremo de doação, numa atitude gratuita de sofrimento…

Amo porque sim, sem mais nenhuma razão
Apenas pelo acto masoquista de me dar…

A luz subitamente estilhaçou-se pelo inferior da sala, as palavras arrastaram-se sem sentido, os dois corações desconfiadamente afastam-se… as paredes oprimem os gritos surdos, e Deus? Esse que ninguém chamou e quem ninguém devidamente crê…

Diante dos dedos direitos, as linhas tortas de significados vazios, em poemas simples, rimados…

Se arte existisse escreveria romances, tragedias gregas dos meus dias, e suicídios de Shakespeare, morreria de amor todos os dias… apenas se pode morrer por amor, viver dói de mais…

Alberto Cuddel
30/06/2018

Semeador de palavras

Semeador de palavras

Semeava palavras noite escura,
Jardim desalinhado sempre dura,
As que morrem essas irão florir,
As outras, cantarão meu o sentir,
Chuva que ainda te brota do olhar,
Triste sofrer, triste dor de Amar,
Cadáveres de palavras mortas
Parto difícil na luz de novo dia,
Sonhos, novas ideias supostas,
Ditongos, palavras e nova vida!

Plantas-me em ti, sopro de saudade
Palavras dispersas cantam verdade
Quimeras e pedras, arrancadas do chão
Encontras aqui semeado no coração
Jardim ressuscitado a cada sorriso
Asas que batem na tua liberdade!

Alberto Cuddel
Poemas Com Alma – Edição de Autores – 07/2017 – ISBN – 978-989-691-938-1

Poema do dia 29/06/2018

Poema do dia 29/06/2018

Chovia, num choro imperceptível, quase inaudível, num suicídio húmido contra as janelas do quarto… de ouvido colado ao chão escutava a terra, e o mundo em silêncio…

A terra gritava por amor e cumplicidade
A crosta por verdade chorada e saudade!

Corria pelo caminho apinhado de gente
Sem nada saber ao ódio indiferente
Sorria às moças loiras sem saber
O que diziam não conseguia perceber!

A chuva envergonhada calou-se… deixou de cair e sofrer…
O sol que brilhava por detrás, aqueceu e limpou o sal que escorreu…

Nas ruas apinhadas o granito, sujo e gasto guardava em silêncio o calor do verão!…

Alberto Cuddel
29/06/2018
18:03

Amor Imortal

Amor Imortal

Não me custaria arrastar-me pela vida
Na palidez do rosto, no gélido sangue
Pelo amargo dos teus lábios, e os beijos
Com a lua iluminando-te as formas rosas
Ao chamamento, -vou, sou, pertenço
Amantes eternos, mesmo que o coração
Se imobilize nas tuas mãos, com a morte
Escondendo a nudez da tua alma, e o sangue
Deslizando na lâmina fria do ciúme,
– Pertenço-te apenas, na lucidez entorpecida
Do desejo animalmente humano,
Órfã dos pudores morais, de uma alma
Trajando o luto, da perda constante
De um amor Imortal!

Alberto Cuddel
Poemas Com Alma – Edição de Autores – 07/2017 – ISBN – 978-989-691-938-1

Poema do dia 28/06/2018

Poema do dia 28/06/2018

Abrem-se as almas de par em par
Braços abertos sempre agitar
Esperança faminta querendo acreditar
Nesta graça que sinto ao dar!

O amor é lindo, e é fabuloso quando o mesmo é correspondido, podia falar-vos da paixão que está também no Amor, das nuvens do céu, das águas do ribeiro, de dúzias de rosas, jantares á luz das velas, de noites ao luar, à lareira, de um amor coberto de romantismo… de um amor lindo…

Mas só é realmente lindo, quando visto nos outros, por que o Amor o verdadeiro amor, é um árduo e constante trabalho diário… que por amor se realiza…

Neste desassossego que me inquieta na proclamação absoluta de amar nos gestos sem qualquer esperança ridícula de receber, na exacta medida em que o entrego, doem-me os desejos e todos os beijos que não recebo…

Alberto Cuddel
28/06/2018
18:45

Mar de bruma

Mar de bruma

Bruma que se mostra escondendo
Ocultando um mar de pensamentos,
Penumbra refracção dos sentimentos,
Fustigada nas rochas, quebras a asas,
Perdes o sonho, a maresia, sopro
Um sopro e nada mais, a tua vida
Minha vida em tuas hábeis mãos
Calejadas pelo tempo, fustigadas
Mãos que rejeitei, na bruma deste mar
Mãos que tecem, que enaltecem
Mãos que ontem fizeram sonhar
Bruma no sentir, tolhendo, escondendo
O amargo fel do choro calado
Bruma, na felicidade de ver
Não sentir, querer saber,
Mar, azul oculto da manhã
Na bruma matutina
Que te impede de ver as noites
Iluminadas pelo doce luar!

Alberto Cuddel
Mar-À-Tona – Mar de Bruma- Poetas Poveiros- Março 2016 – ISBN 978-989-99500-5-4

Bebe da minha boca, sacia-me de beijos

Bebe da minha boca, sacia-me de beijos

Bebe da minha boca todos os desejos
O que te dizem as mãos, a pele
Treme-te o ventre na abstinência
Nessa louca e apresada urgência
Que a loucura e o amor nos habite!

Sejamos um no outro o tesão de sermos
Fuga dos dias em loucura das noites
Bebamos um no outro luxuoso licores
Prazer e orgasmos dados, entregues sem tempo…

Juntemos as almas nuas aos corpos despidos, leitos desfeitos em pleno dia, possui-me no olhar, nas palavras caladas que entrego nos gesto, gemamos juntos… Gritemos prazeres…

Abandonemos as almas cansadas, deixemos que os corpos se amem… Mais e mais, até que os corpos caiam lado a lado… Inundados por seivas e odores… Respiramos amor, sexo, paixão…

Deixa-me que te beije, que te veja dormir… Para de novo te despertar, para de novo te amar!…

Tiago Paixão
27/06/2018
19:43

Poema do dia 27/06/2018

Poema do dia 27/06/2018

Na vã consciência do desassossego que me povoa, nada além de uma igreja vazia de Deus, apenas silêncio e uma consciência formatada na infância…

Nas quedas e recaídas,
Que me confundem,
Que como as sombras,
São, sem terem sido,
Que pela luz existem,

Se confundem e distorcem,
Que não olhando ao espelho,
Apenas vivem na ilusão,
Da realidade projetada!

Necessária ambiguidade,
De fechar o olhos e ver,
Tapar os ouvidos e ouvir,
Uma alternativa realidade,
Que de nós projetamos,
De nós próprios…

Finjo uma inquietude que me inquieta, entre as escadas que sobem direitas, pelas clareiras de cada dia, esvoaçam borboletas em estômagos vazios, um frio que te percorre o ventre, desejos de um amor suado, entre lençóis de linho, e um peso do passado…

Alberto Cuddel
27/06/2018
11:23

Amar-me-ás?

Amar-me-ás?

Duvido nas certezas reticentes,
– Que me dizem os gestos?
Amas-me?
Onde mora ausência distante…
Sentir proclamado que sentes
Dias distantes ausentes…
Braços caídos carentes…
Pernas dobradas na espera…
Joelhos ao chão em prece…
Uma oração, um desejo…
Onde te mora o beijo…

Fico reticente,
O que te dizem os gestos…

Alberto Cuddel
Poesia com Reticencias (…) – Pastelaria Studios, 2017 ISBN – 978-989-99956-8-0

Poema do dia 26/06/2018

Poema do dia 26/06/2018

Nas asas do tempo a vida que passa
O mundo lá baixo em tão sem graça
Nobre saudade em boa verdade
Dessa nossa outra nova liberdade!

Corre o amor sentado em bancos de jardim, nas mãos dadas, nos beijos salgados, escorrem as tardes nas palavras, em verdes musgos, papoilas e lírios… nesses perfumes juvenis incitada paixão, entrelaçadas as pernas em passos pequenos, sem destino nenhum caminhado ao lado…

Voam as ideias e os sonhos, os mesmos que foram nossos, escritos em palavras simples, uma casa com jardim, pequeno, simples, com orquídeas e jasmim, e todos os poemas nascidos em vasos, enquanto me olhas sentada, sorrindo…

Desassossego contínuo que me inquieta, na métrica perdida e incompleta, são as palavras extensões do pensamento, ou o mero desenvolvimento rumo a um desconhecido incerto, por onde me leva a ideia é sonho de o pensar…

Nas asas do tempo a vida que passa
O mundo lá baixo em tão sem graça
Nobre saudade em boa verdade
Dessa nossa outra nova liberdade
No sonho que juntos sonhamos
Cadeiras de baloiço, jardim, voamos…

Alberto Cuddel
26/06/2018
17:39

Reticentemente

Reticentemente

Com muitas reticencias escrevo,
Não por não ter o que dizer,
Mas por não saber faze-lo,
Como pronunciar o teu viver,
Sentir, querer, chorar, sofrer?

Concisamente abstenho-me
Das reticências dos dias
Nas decisões, decido-me
Onde estão as coisas que fazias?

Versos faustosos sem dúvidas
Declamando perdões e dívidas
Sentires sentidos sem noção
Versos feitos sem qualquer paixão!

Arde-me o peito, o olhar
Os pensamentos negros
Os brancos, sem cor
Apenas o rimar,
Em versos brancos,
Sem cor ou transparência,
Sem virtude ou ciência!

Alberto Cuddel
Poesia com Reticencias (…) – Pastelaria Studios, 2017 ISBN – 978-989-99956-8-0

Preparando o nada!

Preparando o nada!

Na correria de tudo ter preparado,
Listas de coisas, acções, afazeres,
Para que nada fora esquecido
Do tudo escrito que foi lembrado,
Confiante na falsa segurança,
Do alto imponente do meu porte,
Revisto cada item, um a um,
Certificação constante, nada esquecido…
Sim, agora estou devidamente preparado,
Tudo está devidamente dobrado,
Colocado no devido lugar,
Por ordem de importância só para começar,
Uma após outra cada uma bem arrumada,
A lista? Onde está a lista, volto a conferir,
Sim, tudo está feito…
Agora sim, estou pronto, preparado…
Para o nada… Que o ontem me deu…
Para o tudo que o amanhã trará,
Preparado para ser feliz!

Alberto Cuddel

Poema do dia 25/06/2018

Poema do dia 25/06/2018

Havia no alto da torre uma cruz, uma cruz que olhava todos os dias, lembrando a paixão e o sofrimento e o penoso caminho que percorro…

Tenho rasgado o pano das noites
Pensamentos em mares distantes
Caiando dias na triste solidão
Sem ninguém que me dê uma mão!

Na calçada ingreme, uma palavra, um gesto, uma voz, o sofrimento das pedras, morre ali, num simples sorriso… não estás só… estou contigo, até que alguém a calou…

Alberto Cuddel
25/06/2018

Aqui vivo

Aqui vivo

Nos passeios,
Crescem bancos de jardim
Vozes de um outro ontem,
Vidas sem fim
Sino que mede o tempo,
Antigo, novo
Hoje mede também o meu,
Nosso, acolhimento
Entre o rio e a serra,
Terras de Ataíde
Conde da Castanheira,
Dos romanos castelinhos,
O cheiro da sardinha, São João
Convento por terra, destruído,
Palácio, convertido,
Aficionado taurino
Esta é a terra,
Mais que um lugar,
Uma casa onde deitar
Um lugar a repousar
É gente,
É vida a borbulhar…
Castanheira do Ribatejo
Entre a serra e o tejo…

Alberto Cuddel
Oh! Minha terra, onde eu nasci…- MP edições- 2017 – ISBN 978-989-691-590-2

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