Ainda há fogo dentro

Ainda há fogo dentro

ainda há fogo dentro
desse coração que bate
ainda gelo fora, no pensamento que nos mata
ainda há quereres salgados, nesse beijo sem demora
na memória sem retorno, enquanto vivos estamos…

onde me salvas desta vida, que não sabe ser vadia
onde me és luz nesta noite sem luar
que o desejo se faça fogo nesta escarpa sem retorno
que a monotonia se faça vida num mergulho bem no fundo
que a alma se concentre noutra alma que me agarre
entre esta vida e uma outra morte, não por azar, mas por sorte
uma palavra que me ilumine, enquanto ainda há fogo dentro
enquanto nos procuramos, nesta floresta humana…

ainda há fogo dentro, ainda há fogo dentro
deste coração que bate… entre outros corações que se perdem
nesta floresta humana… devastada pelo imediato…

António Alberto Teixeira de Sousa
08/04//2023
In: Poemas de nada que se perdem na calçada

Olho e não vejo o que queria…

Olho e não vejo o que queria…

sabes quantas horas tem um dia pequeno?
ou quanto mede a saudade de quem ficou?
ou porque é mais verde a erva da montanha?

já não morremos hoje,
mas ontem não estávamos aqui…
entre as clareiras da memória
existem histórias que não vivemos
mas fazem parte de quem somos…

no bailado dos lábios balbuciando mentiras
rejeitamos o que queremos,
dizemos o seu oposto, amamos da boca para fora
e apostamos em gestos de braços caídos
anunciamos ao mundo bondade…
mas sorrimos na alma adulando o umbigo…

Alberto Sousa
08-07-2022
In: Poemas de nada que se perdem na calçada

Poema chocado…

Poema chocado…

há mansidão nesses poemas que eclodem
que mastigados fermentam no amago
depois do silêncio alguém os pare
por entrem obstetras ausentes, – chegou a hora – e nascem…

totalmente indiferentes aos obuses e metralhadoras que disparam
indiferentes aos homens que se matam e matam os outros…

agita-se o ninho… forra-se a toca… e nascem
alimentando-se dos olhares inconformados
que quem os lê, e quem sabe também os mastiga…

Alberto Sousa
07-07-2022
Poemas de nada que se perdem na calçada

Cegos sejam os poetas…

Cegos sejam os poetas…

cegos sejam os poetas aos sons da alma
na avareza insaciável do ego, palavras
perdem-se vidas nesse caminho de pedra
busca comprometida pelo julgamento alheio
nessa arte que pintas, nas estrofes que lavras
por um intrépido sorriso oculto e um tremer de lábio…

cegos sejam os poetas ao olhar do leitor
lançando nuvens de algodão em pântanos
ninguém te ouve, ninguém te escuta
e cavas fossos de interpretação na história
por deuses ortodoxos na natividade do olimpo…
e esse paraíso que te morre no submundo…

cegos sejam os poetas que constroem casas
e tento lar sem gente, vivendo na multidão
correm atras de um ponteiro que os ultrapassou
choram o tempo que lhes morreu por entre os dedos…
pancadas secas em lombos alvos sem culpa…
macho diziam…

cegos sejam os poetas aos dedos lerdos do prazer
e toda a miséria humana que os fazem perder…

vejam o mundo com novo olhar,
e cantem a beleza linguística
expondo as feridas da alma
que o mundo tenta calar…

Alberto Sousa
26-06-2022
Poemas de nada que se perdem na calçada

George Ionel

Objectivo

Qual é o objectivo de estarmos neste mundo se por vezes somos surpreendidos pelas partidas menos boas que a vida prega
Sentimos um aperto no peito, um aperto chamado saudade
Crescemos e aprendemos a valorizar aquilo que é mais importante na idade adulta o peso de sermos responsáveis por nós mesmos é sentido na pele apenas quando perdemos as pessoas que nos são queridas
A vida dá chapadas, mas ensina muita coisa boa
Imaginamos que nos sentimos sozinhos no mundo
Viver é o melhor que nos pode acontecer

George Ionel
06-06-2022

Não me peçam razões

Não me peçam razões para perceberem quem sou.
Sou um comboio que anda por aí.
A viajar por estradas desconhecidas, e caminhos apertados
Com pressa de chegar ao seu destino.
Porque tem alguém à espera do seu abraço e do seu carinho.
Sou um comboio que anda perdido no meio da escuridão.
Sou um comboio que procura novos desafios.
Mas pelo caminho não encontra gente para partilhar o que sente.

George Ionel
20-02-2022

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Conheci este autor hoje, e a sua força a sua vontade mostrou-me a capacidade humana de superação!

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Portugal…

Para recordar um poema de 2016

Portugal…

Apetecia-me bater-te…
Como tens a audácia de ser campeão?
Como és capaz disso,
De ser o melhor e o pior do teu povo?

Todos abraçamos e todos vibramos
És o melhor de entre todos
E o teu povo, tão mesquinho
Todo sorrisos porque ganhaste
Se tivesse perdido nisso sim serias grande
Mas na boca do povo serias merda…

Portugal?
Porque não são sóbrias as tuas gentes
Porque não são construtores do futuro
Porque se conformam com a mesquinhez
Porque não mudam o amanhã
Porque não se mudam pelo amanhã?
Tanto corruptas são as suas acções…

Portugal
És enorme para um povo tão pequeno
Ele que não se ama, que gosta de sofrer
Que se recusa a escolher, que não quer participar
Que não arrisca mudar, que não olha o seu irmão…
Se o meu vizinho rouba, eu também quero roubar
Ele é esperto eu serei a dobrar…

Portugal
Olha as mães que choram
As filhas com nódoas negras
As crianças sem pais
Os pais sem filhos
Os pensionistas na miséria
Os políticos que roubam
Os bancos que faliram
E a saúde doente…
Olha os que estudam sem ensino
Os que ensinam sem vontade
Os trabalhadores sem igualdade

Portugal?
Onde estão os teus avós?
Que nos onde guiar?
Onde nos mora a honra e os valores
Onde está essa virtude
De cuidar da coisa pública?

Portugal
Deixa-me abraçar-te
Ainda que chorar
Ainda que possa doer
Tenho esperança
Que no amanhã
Em Portugal
Eu possa saber
Que o povo
Já sabe viver…

E Portugal
Parabéns
Pelo menos hoje
És campeão
De entre os primeiros…

Alberto Cuddel

10/06/2016

O mundo era…

O mundo era…

o mundo era…
e depois? não voltou a ser o mesmo…

depois da Primavera que chegou sem aviso
ruas desertas e ervas nascidas
chegou depois de nós todos e não lhe fizemos falta
chilreiam os pássaros soltos
ninhos armados onde podem
palhas que voam e estradas vazias…

e o mundo era… e continuou…
mesmo sem a gente de ontem…

Alberto Cuddel
04/04/2020
20:25
In: Nova poesia de um poeta velho

Desbloqueia-me…

Desbloqueia-me…

faça-se em mim a tua vontade, o teu querer…

desbloqueia-me todos os bloqueios
desinibe-me, conserta-me a alma
recolhe-me nos teus braços e ama-me!

ardem no leito as febres estivais
recolhe-se do mundo a luz do desejo
resgata-me de esse querer suburbano
faz-me desaguar nos teus seios
faz-me pai de todos os teus filhos

que todo o meu corpo migre para ti
nesta alma louca que voa nas tuas asas
e saberás o que é “foder” na poesia,
sentir os orgasmos de todas as noites
de todas as auroras, todas as manhas!
nunca mais o meu amor,
morrerás longe dos meus braços,
tal como nenhuma das minhas mortes
será em vão…

desbloqueia-me a esperança do sentir
desse êxtase eterno do amanhã
que se anuncie em mim o teu desejo
que o mundo conspire em segredo
fantasias do sonho caladas por medo
e se faça em nós segundo a nossa vontade…

e que todo o mundo lá fora se foda…

desbloqueia-me…

Tiago Paixão
07/06/2022

Essa infelicidade de ser feliz

Essa infelicidade de ser feliz

“Esse ter uma flor ali ao pé da mão e não a colher
Para que não viole a beleza da planta indefesa…”

há no espírito concreto de ser uma impossibilidade do ter
esse desejo tão pecaminosamente humano
essa vontade férrea de ser vento,
de ser ribeiro serpenteando as pedras,
de estar parado e ainda assim ter tempo,
e procuramos esse desejo férreo nas cátedras,
e sentamo-nos na beira da estrada com uma arma ao lado
choramos a má sorte, o desejo que morre entre a vida e a morte
escrevemos longas despedidas num perdão pessoal em papel pardo
de olhar lavado e rosto molhado
erguemos a mão aos céus…

tínhamos tudo, temos tudo, e mesmo assim não somos absolutamente nada…
e nessa infelicidade de sermos felizes arrastamo-nos pela vida
entre copos de uma qualquer bebida
matando-nos aos poucos, na busca do esquecimento…

procuro nos rostos a simpatia da minha confirmação
uma fé que perdi, um rumo que esqueci
vivendo já sonhos que nunca sonhei
por a vida em mim ser já um duríssimo pesadelo insuportável…

essa infelicidade de ser feliz
para que não tenhas pena de quem já viveu…

Alberto Sousa
02-06-2022
Poemas de nada que se perdem na calçada

Conjecturas

Conjecturas

selamos o tempo
congeminamos teorias
inquirimos o nosso íntimo
apenas uma pergunta
uma única questão
sem qualquer resposta
sem qualquer razão
porquê?
porque continuam a florir as flores?

rebobinamos passados
procuramos, revemos
nada, sem hipótese
nem uma ínfima teoria
porquê?
continuam as ondas a chegar à praia?

que prepósitos ocultos?
que esperanças?
que ideias, que desejos?
que quebra de algo
que não descortinamos?
porquê?
a vida é um ciclo sem fim?
porque o vidro depois de quebrado não pode ser colado?

nessas conjecturas sem propósito, sem significância cabal
caminhamos parados numa terra que gira,
de um tempo que não pára nem abranda
é tudo é, como tudo será, mesmo que ninguém intervenha…

Alberto Sousa
20/05/2022
Poemas de nada que se perdem na calçada

Esperança…

Esperança…

nessa esperança que espera, ante o tempo que passa
os dias que desconta do sonho por cumprir
e os passos dados em calçada gasta… há essa virtude…
esperança…

não há muito que mais faça, além de uma inglória espera conformada
aparte isso… passa o tempo que corre, com pressa de um depois
mesmo que o depois apenas seja a morte do sonho
num fim anunciado que não foi aceite no tempo que me restava…

e morre a esperança sem se cumprir…

Alberto Sousa
01/05/2022
Poemas de nada que se perdem na calçada

Tristemente parti!

Tristemente parti!

parti como tantos outros loucos mortais,
procurando vida, sorte em outros locais,
dor que carrego em meu peito, saber-te,
tristemente só, como perdida, levar-te,
desejo, que te deixei prometido na partida,
nessa louca, dolorosa, chorosa despedida,
vida, não era vida, sobrevivíamos,
o pouco que tínhamos, dividíamos,
doí, mas melhores dias virão,
agora com trabalho, ganho tostão,
para que amanhã, as lágrimas, sequem,
se transformem em sorrisos, e além,
teus olhos encontrem os meus,
nossos lábios toquem os céus,
e te possa trazer comigo!

não fiques triste,
seca as lágrimas,
amanhã regressarei,
não, não aí ficarei,
mas irei trazer-te comigo!

Alberto Cuddel
18/08/2015

Muito Obrigado!

Muito obrigado a todos os que ao longo destes anos me seguiram nesta aventura da escrita, depois de milhares de poemas escritos e partilhados aqui no blog e nas mais variadas redes sociais dou por terminada esta aventura… durante estes anos fui surpreendido por muitas mensagens que me foram deixando, por muitas partilhas e por muitas amizades que se foram criando. Agora fica aqui registada essa memória, esses poemas e escritos, para que não se percam.

Um enorme bem haja a cada um de vós… Não é um Adeus pois os poetas não morrem mas sim um até sempre.

António Alberto Teixeira de Sousa

Desumanizado…

Desumanizado…

desflori os lírios e aprisionei as borboletas
a vida é uma bicicleta sem corrente
uma clareira de uma floresta abatida
um rio seco de pedras polidas na espera da enxurrada…

depois um tempo sem história, sem crença e sem memória
um tempo sem sentir, inerte, tosco, e sem suprir…
as calçadas apenas caminhadas sem destino
apenas a chegada a um lugar vazio, talvez porque sim
o contrário será exactamente o mesmo, porque não?

perde-se essa vontade de vida, uma eutanásia da alma
o corpo vive pela massa carbónica…, mas as ideias?
essas morreram, perderam o sentido, a existência do caminho…
já não são, já não eram, e ficam-se por ali
essa virtude defeituosa chamada desejo…

Alberto Sousa
Poemas de nada que se perdem na calçada

11/12/2021

Sedução da Noite,

Sedução da Noite,

Não se fiquem pelas promessas da noite,
Assumam por inteiro o dia em vossas vidas,
Na noite cegamos pela paixão da parca luz,
No dia assumimos a visão global do todo,
Do bem e do mal, desejo e contradição,
A cima de tudo o dia é já decisão!..

Alberto Cuddel
30/08/2015

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