Silenciosamente a dor

Silenciosamente a dor…

Todas as minhas horas são feitas
das horas do Sul, e dos sonhos
Onde todos os sonhos morrem
Aquela angústia de sonhar mais
Nos jardins onde impera o silêncio
Caído no chão em negro mármore
Esse silêncio que te queima o ser…

O teu corpo?
Recolhe-o e guarda-o
Encerra-o na dor que te acomoda
Cinzas que o vento norte espalha…

Continuará o mesmo mundo amanhã
O teu sorriso, teu tédio, apenas memória!

O que me tortura?
O silêncio das paredes, ao escutar o sonho
E um ódio que se estranha na alma
Por não estares aqui…
Mesmo ciente da tua terrena existência…

Alberto Cuddel
#DepressaoPoetica
31/01/2017

Pedaços de mim!

Pedaços de mim!

Tropecei,
Caindo, escaqueirando-me no chão,
Pedaços, soltos, grandes, pequenos,
Tropecei na ilusão da carne, prazer,
Sentindo sozinho o abandono de mim,
Deixei-me adormecer no embalo,
Das belas e maldosas palavras!

Caminhando,
Caindo, escaqueirando-me no chão,
Pedaços, soltos, grandes, pequenos,
Dos cacos, apenas o sentir,
Permanecia, sustentava,
Cacos, recolhidos um a um,
Por ti, na pura humildade,
Reordenados, remendados,
Nada formava, nada existia!

Parti-me,
Caindo, escaqueirando-me no chão,
Pedaços, soltos, grandes, pequenos,
Pedaços moídos, triturados, feitos pó,
Para de novo moldar, formar, aprender,
Educar, renascer, do pó, da cinza!

Ergui-me,
Caindo, escaqueirando-me no chão,
Pedaços, soltos, grandes, pequenos,
Reaprendi, aprendi a ver, andar,
A caminha lado a lado, a viver,
Não em mim, não por ti,
Mas através de um nós!
A dois sendo um!

Alberto Cuddel
07/07/2015

Nada vejo!

Nada vejo!

Fecho os olhos, nada vejo,
Memoria em mim de teu corpo,
Sensual, manancial de prazer,
Som de teu respirar, compassado,
Ofegantemente rouco,
Murmuro de doces palavras,
Odores perfumados que se fundem num abraço,
Mãos, dedos que desenham no ar,
Percorrem rios delirantes de desejo,
Sabores, salivas degustadas,
Despudorado erotismos que nos consome,
Revolve e envolve,
Na arte consumada do orgasmo,
De tornar uno o querer, o desejo,
De ser, ficar, estar
Um só prazer, partilhado,
Tornando una a carne,
De uma alma partilhada!

Alberto Cuddel
10/07/2015
Amor e Erotismo

Deixem que vos diga…

Deixem que vos diga…

Deixem que vos diga…
Que sem ocupação não há cansaço,
Que sem amor não há saudade,
Que sem prisão não há liberdade,
Que sem mentira não há verdade!

Deixem que vos diga…
Que vontade não é prazer,
Que fazer não é saber,
Que saber é partilhar,
Que partilhar é amar!

Deixem que vos diga…
Que para estar vivo não basta viver,
Que para acreditar não é preciso ver,
Que para correr é preciso andar,
Que para doar é preciso amar!

Deixem que vos diga…
Que vemos sem olhar,
Que ouvimos sem escutar,
Que tocamos sem sentir,
Que ficamos sem partir!

Deixem que vos diga…
Que se olharmos,
Que se escutarmos,
Que se tocarmos,
Que se sentirmos,
Podemos ficar,
E ver, sentir, ouvir,
Os pedidos de socorro,
Que quem nada tem,
Dos que não tem o que comer,
Dos que não tem onde dormir,
Dos que estão sozinhos,
Dos que clamam por carinhos!

Alberto Cuddel
13/07/2015

Conversa (descon) fiada

Conversa (descon) fiada

Revolves palavras ditas ao vento,
Retidas no tímpano ouvido adentro,
Matutadas, digeridas, meditadas,
Soltas e perdidas, assim em nadas,
Num tudo do adestrado pensar,
Que lhe dão um outro significado,
Palavras sequestradas a compensar,
O conteúdo pensado adulterado!

Conversa de parvos mal sintonizada,
Conversa falada, fiada, gritada, calada,
Diálogo de surdos ralhada na exaustão,
Por ideias banais de um qualquer cidadão!

Esgrima de argumentos, sujos no chão,
Por uma palavra ou comprido palavrão,
Conversas da treta da trampa não passa,
Até que um se cale ou aja uma desgraça!

Cabeças duras que de duras são surdas,
Burras não são mas vestem albardas,
Para no fim num abraço, ou desistência,
Acabasse a discussão e toda a abstinência!

Conversas fiadas sem terem razão,
Acabam sempre por dar discussão,
Calem-se as vozes que alto gritam,
Olhem, o céu, os outros e reflictam,
Se calados ficarem sem contrariar,
Saímos todos um pouco a ganhar!

Conversa fiada,
Não leva a nada!

Alberto Cuddel
17/07/2015

“Reflexões do dia de hoje”

Já sonhei…

Já sonhei…

já sonhei poder ler tuas palavras e conhecer-te,
olhar a tua imagem de perfil e ver-te,
ser real o que na realidade mostras ser,
seres tu, sem que te tenhas que esconder,
sonhei que a virtualidade,
era imagem da tua realidade,
já sonhei…
mas a cada dia acordo um pouco,
a cada dia, vejo o sonho de cada vida,
a cada dia, uma nova e triste saída,
uma realidade, uma ilusão, um sonho,
um viver iludido, realmente tristonho,
agora que acordei…
ondes estás realidade que sonhei?
porque tens medo de ser tu?
tudo pode ser tao diferente na amizade,
tanto podemos ajudar a realidade,
deixa cair, a tristeza, a inveja,
deixa que o mundo te veja,
como na realidade és,
deixa render-me a teus pés,
deixa cair a máscara da ilusão,
deixa poder segurar-te na mão,
deixa poder mudar, a tristeza,
a desconfiança e incerteza,
que te assola o coração,
que impede a visão,
de sonhar um novo futuro,
onde o sentir é muito mais puro,
se te deixares de esconder…
sé verdade, e volta a viver…

Alberto Cuddel
19/07/2015

Ser mãe onde se desconfia

Ser mãe onde se desconfia


Ser mãe onde se desconfia
Ser mãe é de mulher assumir a fibra
ser mãe é doação a todo o amor alheio
dar vida a partir de todo o seu seio,
saber sorrir se por dentro a dor vibra.
saber doar-se, do perigo seu filho livra
sorrir ao mundo por todo seu anseio,
largar no tempo ao assumir o receio,
pesar entre a pressão assim o equilibra!
No todo amor dedicado a um filho,
reflexo de si no espelho afortunada,
luz ardente ao olhar e doce brilho!
Ser mãe e o choro entre um sorriso!
ter preocupações amor, e não ter nada!
Ser mãe é um doce inferno no paraíso!
Ser mãe depois do Douro, São Tomé
Terras da família de Dom Nuno
Entre a Aboboreira e o Marão
Cá manda os que cá estão…
Ser mãe por terras da Vila onde há conde
Ali junto ao plano que nos traz as asas
Voam os sonhos das letras, primeiras
Terceiras e segundas, aí Régio, culpado
De poeta e já cedo se ter tornado…
Por terras da Maia abandonado
Lá chegou já bem acompanhado
De anilha no dedo e já casado
Recambiado para as terras do toureio
Para Vila Franca veio por dinheiro
Pelo trabalho que o eleva, comboios
Se fez grande, poeta, vigor de pinheiro
Papel onde realizou todos os sonhos…


Alberto Cuddel
Desafio mãe e terra mãe…

Alberto Cuddel
Enviado por Alberto Cuddel em 26/02/2021
Código do texto: T7193272

Poetica I

Poética I


Tenho em mim essa arte negra
De somar palavras aos versos
Reinventado coisas já feitas
Tenho o desplante de escrever
Neste despir do corpo cadavérico…
Chamo-me poeta, os outros não
Não, não, não me chamam
Apenas me lêem no silêncio
Como se me quisessem vestir a alma
De mil sois e galáxias, queriam que fosse
Meramente o que não sou, pó…
Caminho nos pensamentos errantes
Por entre lagos e lagoas de podridão
Nesses cemitérios cobertos de amor
Ilusão de amantes eternos sendo nada
Espinhos de rosa-sangue ao peito
Máquinas loucas violam a Mater terra
Rabisco palavras falsas de uma dor que sinto
Pelos seios que me alimentam, Maria…
Onde sou e existo além do pó do papel?
Não sei mais quem sou?
De onde vim para onde vou
Poeta sadino escandaloso rimar…
Somos poetas? Por sentir diferente
o que é igual? Escrever igual o que é diferente
E o sexo? Esse orgasmo obtuso da lua nova?
Morrem-me as palavras nas vestes negras
Nesse baptismo descrente da algibeira
E tu Saulo? Porque te invocam?
Que mal te fizeram os Coríntios?
Haverá justos em Sodoma?
Rasguem-se os céus de fogo eterno
Enterrem-me, velem-me
Nessa lápide mármore
Na porta de um hospício.
Abandonem-me junto às estantes
Deixem-me ser apenas vogal
Apenas ponto final…
Mas eu sou… Sou apenas poema
Meramente poeta
Falso é certo, mas verdadeiro
na mentira que professo
Sou a dor fingida
Da dor que foi sentida…

Alberto Cuddel
25/02/2021 23:35
In: Entre o escárnio e o bem dizer,
Venha deus e escolha XXXIV
Enviado por Alberto Cuddel em 27/02/2021
Código do texto: T7194268

Poética II

Poética II

Somos as minúsculas letras de um livro, que juntos nos fazemos poema!
quando chegamos, a sensação do privilégio
somos mais altos, de toda a nossa estatura
apenas porque fomos, tínhamos esse destino
tudo estava destinado a ser certo, concreto
há galáxias dentro do peito, mas as estrelas?
sempre brilharam não com hidrogénio ou hélio
mas pelo oxigénio dos teus beijos, pelo amor…

eis-me aqui confiante diante deste lago esverdeado
barco sem velas, mas de leme fixo
[não chove,]
sem lágrimas a saudade suicida-se a cada olhar
nesse abraço elevado a cada chegada, e beijas-me
[enquanto o comboio avança]
há essa incógnita que nos arranca do peito sorriso
enquanto as árvores se agitam na montanha
e as nuvens brindam o nosso encontro
os rostos beijam-se, e mãos dadas olhamos a distância…

sabes Maria, possuis em ti todas as consoantes, os sinais ortográficos…
em mim apenas as vogais, pontos de exclamações e finais…
ainda sim sei que te faço sorrir, enquanto tento contar enxames de abelhas
ou aqueles bandos de pardais inquietos…

deita-te comigo…
pelo menos hoje enquanto olhamos o céu…
olhemos juntos os amores prefeitos a abriram antes de ontem
e as tulipas… matemos a saudade… que ela morra eternamente…

nós que somos as minúsculas letras de um livro,
que juntos nos fazemos poema, também somos vida em galáxias de amor…

[que a liberdade nunca nos seja roubada,
para podermos juntos olhar o nada!]

Alberto Cuddel
27/02/2021 13:56
In: Entre o escárnio e o bem dizer,
Venha deus e escolha XXXVI

Poética III

Poética III

4º Desafio
palavras obrigatórias:
Memória, manhãs, chaminés, partida, vento, rouxinol, plenitude, cantar, velas, quebradas, noite.

Rasgam-se as vozes sem tempo que ecoam na noite
Memória das manhãs claras, vapor das chaminés
Desenhos formados nos olhos pela mente num acoite
Plenitude da imaginação empurrada pelo vento…

Nessa partida do cais rumo ao norte,
velas quebradas… apenas um casco…
E o silvo da vida morre longe, na saudade…

No parapeito da janela,
[ali no momento em que o sol se ergue]
Como que num chamamento de despertar lembrando a casa
Um rouxinol a cantar… canta… canta…

E a vida corre longe… longe de casa, longe das planícies da savana
Longe dos animais, das bestas e dos bestiais…
E acordo aqui, desterrado, entre o rio e a serra.
Perto do céu, mas longe da minha terra…

Alberto Cuddel
01/03/2021 03:20
In: Entre o escárnio e o bem dizer,
Venha deus e escolha XXXVII

Poética de rua

Poética de rua

…há uma tristeza que me desabita a cada esquina
uma forma esquerda de olhar os que pedem
passos direitos em direcção ao fim, paredes frias
pairam novas de ontem embrulhadas pelo vento

rasga-me o chão essa estranha liberdade que se entranha
esse querer absoluto de ser o que nunca se foi
-e fui dali, diante do espaço sem vida, fugi, dessa estranha corrida
olhei-te nessa urgência de cegar, na incredulidade de ver
estava sem estar, onde nunca fui… a existência é um sonho
um fumo psicadélico de um filme sem fim – pesadelo consumista…

todos corriam atras do tempo que não tinham
vã esperança de ganhar tempo para fazer coisas que não queriam…
e eu? eu olhava o tempo parado, uma nuvem que passa
um carreio de formigas… e um grilo que cantava em plena cidade…
ninguém ouvia, ninguém escutava tudo corria…
e a cidade ali, alheia a tudo, definhava…

(…)
olhei a vitrine, duas mesas vazias…
entrei, pedi um café… e escrevi…
como quem escreve uma carta sem destinatário…
sem propósito e sem fim… e discutimos filosofia
nas palavras que deixaste escritas nas paredes do tempo…
sim tinhas razão… a vida começou quando morreste…

Alberto Cuddel
26/08/2021
14:00
Alma nova, poema esquecido – XXVIII

Já sonhei…

Já sonhei…

Já sonhei poder ler tuas palavras e conhecer-te,
Olhar a tua imagem de perfil e ver-te,
Ser real o que na realidade mostras ser,
Seres tu, sem que te tenhas que esconder,
Sonhei que a virtualidade,
Era imagem da tua realidade,
Já sonhei…
Mas a cada dia acordo um pouco,
A cada dia, vejo o sonho de cada vida,
A cada dia, uma nova e triste saída,
Uma realidade, uma ilusão, um sonho,
Um viver iludido, realmente tristonho,
Agora que acordei…
Ondes estás realidade que sonhei?
Porque tens medo de ser tu?
Tudo pode ser tao diferente na amizade,
Tanto podemos ajudar a realidade,
Deixa cair, a tristeza, a inveja,
Deixa que o mundo te veja,
Como na realidade és,
Deixa render-me a teus pés,
Deixa cair a mascara da ilusão,
Deixa poder segurar-te na mão,
Deixa poder mudar, a tristeza,
A desconfiança e incerteza,
Que te assola o coração,
Que impede a visão,
De sonhar um novo futuro,
Onde o sentir é muito mais puro,
Se te deixares de esconder…
Sé verdade, e volta a viver…

Alberto Cuddel
19/07/2015

Façamos amor…

Façamos amor…

A cada dia,
A cada hora…
Façamos amor…
Façamos amor, quando me envolves,
Em teias de argumentos que só tu conheces,
Em discussões sem sentido, ferindo o ouvido,

Façamos amor…
A cada saudade na despedida da manhã,
A cada olhar afastando-se ao longe,
A cada partida, a cada chegada…

Façamos amor…
A cada chamada,
A cada mensagem
A cada palavra,
A cada certeza,
A cada dúvida partilhada!..

Façamos amor…
Dormindo sozinhos libertando a alma,
Abraço distante vagueando com calma,
Na brisa da noite, nos sonhos perdidos,
No calor do encanto, desejos escondidos!…

Façamos amor…
Enquanto comemos, brindando os alimentos,
Enquanto trabalhamos, para não esquecermos,
Enquanto viajamos, para não nos perdermos!…

Façamos amor…
À noite no quarto no silencio apagado,
Olhar tacteando o teu outro lado,
Mãos que despem os tecidos do dia,
Tarefa partilhada assim cumprida,
Despidos de tudo que a alma trazia,
Abraçados no nada, assim é a vida,
O dia acaba, a noite inicia,
Façamos amor até ser dia,
Dormindo abraçados,
Assim unidos,
Corpos dormentes,
Espíritos diferentes,
Unidos no tudo,
Que o amor nos dá,
Façamos amor, hoje e sempre…
Até amanhã….

Alberto Cuddel
19/07/2015

Desavergonhada

Desavergonhada

Sem vergonha, sem pudores
Mostra-se despida a madrugada
Na alcova que se consome
Entre carne em gozo e luxuria
Acomodados a uma nova cicatriz
Lambendo cada chaga da solidão
Ligeireza consumista do cotidiano
Sentir palpável e tangível do ser humano
Realização Divina da perpetuação
Almas que se eternizam a cada aurora!

A cada ultimo verso…
A noite desavergonhadamente nasce…

Alberto Cuddel
01/07/2017
19:35

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