Juramento…

Juramento…
No tempo do nada,
Vi sem que te olhasse,
No tempo do tudo,
Vi sem que me apaixonasse,
Ganhei o teu tempo,
Sem que me amasse!

Depositei-me no amago da tua alma,
Entreguei-me, completo assim vivalma,
Osculei sorvendo o mel dos teus lábios,
Perscrutei o universo, li os alfarrábios,
Descobri amar em mim um outro eu,
Em mim encontrei um tu apenas meu!

Recolhi-me em mim, castrei-me, esperei,
Fiz-me em ti, sentido do celibato dado,
Nas juras gravadas, dadas, todo entreguei,
Selado, no ser, no coração, consumado!

Fielmente imune, ninfas e musas,
Rondam, revolvem as águas, naufrago?
Jamais, me deleitarei, sedutoras Nereidas,
Sedutoras irmãs de Tétis, não antes surdo,
Fechados que foram os olhos, antes mudo!

Elevo-me no sopro do sono, -olho-te
Recordando apenas em mim,
A parte de ti que em mim carrego!

Alberto Cuddel®
17/05/2016

Poema pequeno

Poema pequeno

Um poema pequeno
Como as coisas pequenas
Pode conter coisas grandes
Ou metade
E acrescentar
Ou dividir
E somar!

Num poema pequeno
De palavras pequenas
Pode caber o mundo
Um ano ou um segundo
O já ou a eternidade
Ou a perda e a saudade!

Num poema pequeno
Cabem os pequenos poemas
Todas as palavras e temas
Puritano, um tudo obsceno,
Nele pequeno explanar
Cabe o mundano
O corriqueiro
O prazer
O insano
O ligeiro
Ou o saber!

Num poema pequeno
Sem muito dizer,
Dizemos tudo
Sem nada nele escrever!

No meu poema pequeno
Não quero dizer muito,
Apenas que o amor é pleno!

Alberto Cuddel®
17/05/2016

Somatório

Somatório

Somamos desejos, sonhos, anseios
Depositamos esperanças devaneios
Entregamos o que não fomos
Damos tudo o que ainda somos

Projetamos,
Idealizamos
Realizamos
Sonhamos
Concretizamos
Amamos

Individualmente
Apenas tu
Não copia
Não espelho
Apenas tu
Único e genuíno
Carregamos-te
Não de carga supérflua
Não de bugigangas
Mas de ferramentas
De pensamentos
De perseverança
De respeito
De amor

Para que olhes o horizonte
Com o teu próprio olhar!

Obrigado filho!

Alberto Cuddel

Poema

Poema

Jamais escreverei
todos os poemas que sonhei,
Jamais sonharei
todos os poemas que escrevo,
Apenas escrevo e sonho…
Apenas sonho e escrevo…
Apenas sinto o que escrevo…
Apenas escrevo o que sinto…
Mas hoje?
As nuvens vão altas
A pena está seca…
E o mar longínquo não me escuta…

Alberto Cuddel®

Poema sem tempo…

Poema sem tempo…

Nos tempos em que me encontro
Perco-me nas rochas esbatidas pela maresia,
-ouço o mar, distante de mim, de ti
Dias infinitos nos grãos de areia sob o andar
Nuvens de algodão transportam sonhos
Sorrisos e juras de jovens risonhos
Silencio do olhar, jovial certeza –(a)mar!
Caminhos, paredes esbatidas, solidão
Horizonte onde correm lágrimas, -Saudade
-tive-te aqui, mas partiste
Há verdade que se escondem nos papéis
Nas folhas soltas que esvoaçam ao vento
Tempos passados e esquecidos na memória
-queimam-se as ideias e sonhos
Corro por ruas estreitas, procurando janelas
Portas, vidas por detrás delas – procuro-te
Jardins onde ontem fui feliz em nós, quis-me
-jura-me, ainda voltas no meu tempo
Certa certeza de que o tempo não se esgota
Que é eterno ainda num novo nascer do sol!

Alberto Cuddel
10 de abril de 2016

25 de Abril de 1974

Para que a memória não se perca!

Golpe de teatro…

Golpe de teatro…

Aperaltado, sua domingueira farpela
Seguem adiante, convicta personagem
Tragedia grega, rabula ensaiada nela
Filantropos de bolso, sim, libertinagem!

Lavam o olhar nas redondezas das saias,
Ensaiam lavrado palavreado cinzento
Cortejam, teatralmente damas saídas
Olhar solitário oculto, ávido, sedento!

Farsa rebuscada, teatral e elaborada,
Tudo é farsa, tudo é bloch, tudo é brilho,
Ensaios farsantes, já tudo, depois nada!

Desfilam, escondidos nos papeis, sopros,
Engano contido, amor, falso trocadilho,
À porta espera-te a vida, e todos os outros!

Alberto Cuddel®
22/05/2016

A minha terra

A minha terra
Minha de verdade!
Essa que me viu nascer gente
Onde nasceu o sol, já quente
E adormece bem longe da cidade!

Longe está esse porto de abrigo
Rasgo da montanha sóbria
Pelo olhar virgem que inebria
Pecado, cometido por castigo!

A ti retorno em plena vida
Cada instante que me acolhe
A água límpida assim molhe
Enquanto espero a despedida
Caminho que me fazem os pés
Pelo perfume do rosmaninho
Subindo a ladeira devagarinho
Encontras nas pedras quem és!

De cima que o olhar corrompe
Do passado da história, fulgor
Faz-se há mesa vitoria, amor
Que a voz altiva nos interrompe!

Hoje tudo quase sem dono
Pelas gentes que daqui partiram
apenas os velhos, os novos fugiram
e os montes por limpar ao abandono!

Despois vem as ideias
Os sonhos dos desempregados
Aram campos abandonados
E nos campos sonhos semeias!

Pudessem ainda os avós ver
A nova vida que agora se faz
Dessa nobre vontade mordaz
Que na terra se faz nascer!

Alberto Cuddel
18/04/2021 3:02
In: Entre o escárnio e o bem dizer,
Venha deus e escolha LIV

Eram magras, comparadas com o fermento que salga a vida…

Eram magras, comparadas com o fermento que salga a vida…

magras, tuas mãos alargam-se sobre quem a vida sequestra
ainda que os braços pendam sem forças
sob o jugo do peso da discórdia
erga-se a vontade da vida, partilha do pouco
uma vontade de ser, apenas amanhã…

há na fecundação da palavra essa vontade decrescente
esse parir esdruxulo das ideias rasgadas pelo arame farpado da fuga
– já estive preso mas libertei-me
– já foi militante e solado de uma guerra ignorante onde não pensava…
tudo pelo conforto crasso de uma côdea de pão bafiento
que a morte deixava a cada dia dependurada
na maçaneta da porta que nunca era fechada…

eram magras, comparadas com o fermento que salga a vida…
essas ideias pré concebidas que que a fé não se contesta
como a fezada de uma partida de futebol sem adversário…

onde te morreram as certezas?
plantadas no pinheiral do tempo como forma memorável de uma eternidade…
e mandaram-te plantar tâmaras… e morreste… sem nunca entender o porquê…

a poesia tem exactamente essa serventia:
pensar que serve para pensar, em rigorosamente coisíssima nenhuma…
desde que rime, no ritmo certo, tudo está longe, do que já foi perto…
há ninhos de barro, e jarros de palha…
mandaram-te ir, e tu foste…
porque não conhecias o não e a sua forma de o pensar…

morreu ontem a Primavera, e os frutos cariam maduros,
não porque são livres ou pensam, mas porque assim chegou o seu tempo…
e veio o Verão, e o olhar o céu, de olhos fechados, enquanto tostam ao sol…

Alberto Cuddel
17/04/2021 3:02
In: Entre o escárnio e o bem dizer,
Venha deus e escolha LIII

Textos dispersos

Textos dispersos

Caem as noites em mim, as nuvens que rondam lá fora tolhem-me os sonhos, os gritos pensados e sonhados mesclam-se entre a minha solidão e a multidão que me habita, sonho o branco, a luz, no negro que me ladeia, na cadeira, na candeia que se agita na brisa que me entra pelas portas não calafetadas. O luar, a visão e memória desse ser noturno que me incendeia, povoa a mente, que me desmente, nos mitos e desejos contidos de ferocidade, ferve-me o sangue, treme-me o corpo, não no feitiço da lua, mas na imagem de teu corpo distante e longínquo no passado. Não me entristeço no pensamento de um passado, mas na ausência de pensar em mim um futuro, na incerteza de existir em mim um presente, e lá fora, bem fora de mim uma certeza, o vento sopra, sinto-o, ouço-o, vejo a sua força e atos, e incomoda-me, nem que seja pelos ramos da laranjeira que se precipitam contra a vidraça da janela do meu horrível quarto, conspurcado pela minha mera presença. A noite, onde se agitam sombras, abarca meio mundo no desespero, na doce esperança, que nada é efectivamente permanente, hoje doem-me as noites, onde ontem sorriam as palavra que ecoavam nas paredes deste leito, hoje vazio de ti. Caio no silêncio do meu sonho, amanhã, amanhã o sol ira nascer, acalento em mim essa doce esperança, hoje não, amanhã, as flores voltaram a sorrir!

Sírio de Andrade
22-05-2016

De ontem

De ontem

Lembra-me o cansaço de ontem,
Das rosas caídas no terno abraço,
Lagrimas que os outros olhos contém,
Sorte a quem possuis no teu regaço!

Lembra-me o cansaço de ontem,
Os passos dados, roubados á preguiça
As mãos caídas que te desmentem,
Sem igualdade, sem dor, sem justiça!

Lembra-me o cansaço de ontem,
Artes profanadas, vê esventradas,
Os beijos prometidos, nada sentem!

Lembra-me o cansaço de ontem,
Corro apresado pelas tuas estradas,
Sei que apenas o cansaço me mantém!

Alberto Cuddel®
22-05-2016

Condenação

Condenação

Selamos o tempo
Congeminamos teorias
Inquirimos o nosso intimo
Apenas uma pergunta
Uma única questão
Sem qualquer resposta
Sem qualquer razão
Porquê?

Rebobinamos passados
Procuramos, revemos
Nada, sem hipótese
Nem uma ínfima teoria
Porquê?
Que prepósitos ocultos?
Que esperanças?
Que ideias, que desejos?
Que quebra de algo
Que não descortinamos?
Porquê?
Que factos
Provas
Acusações
Peculato
Desrespeito
Falta de amizade
Civismo
Humanidade
Porquê?
Nada
Condenado
Sem acusação
Sem julgamento sumario
Assim está
Um poeta
Que até ontem
Era amado!

Alberto Cuddel®
23-05-2016

Foram breves e sussurrados os gemidos de amor!

Foram breves e sussurrados os gemidos de amor!

Foram breves e sussurrados os gemidos de amor
fugir ao prazer dos corpos esfarrapava-lhe a alma
habitada que fora a saudade e a dor

estava dormente
sem força e querer, escondido na penumbra da lua
encontra em ti alma nua

as noites fogem
por ruas estreitas que se penetram nos sonhos
movimentos reles prazeres medonhos

e logo acordou
roubando desejo ao corpo a seu lado
despertou da cidade, rostos esquecidos na multidão
esquecidos, roubados a sofreguidão
dos sussurrados gemidos!

Alberto Cuddel
23-05-2016

Amor

“Deixa que o teu corpo vazio
Se preencha com o perfume do meu corpo!”

Noites
vadias
insanas
saudosamente
amputadas
do orgásmico
espasmo
do amor
inconsequente
feito
em nós
habita-me
distanciadamente
no imaginário
da tua
doce presença
concilia-me
no desejo
profundo
do reencontro
almejado
no corpo
na alma
com que
nós
apenas
nós nos
amamos!

Alberto Cuddel

Silêncio

Silêncio

Cai em mim o silêncio das estrelas
a noite escorre pelas paredes do quarto
ouço-me, no profundo e vazio silêncio
correm longe as palavras

nos teus lábio cerrados –
ouço o gemido das pedras
ouço-me, contorcendo-me
grito alvoraçado da alma
um desarticulado sentido
articulando vogais desordenadas

ouço-me calado,
gemendo o silêncio
espremido a cada silaba
desfragmentação do ser
abandono da posse
nada tenho
a não ser
a certeza
que no silêncio
de mim próprio
me possuo!


Alberto Cuddel

26/05/2016

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