Já me perdi…

Já me perdi…

Já me perdi em desvaneios poéticos,
Num ou noutro universo,
Na estrutura rígida de um verso,
No luar de uma lagoa,
No sol quente na areia,
No mar batendo na proa,
No calor de um a lareira!…

Já me perdi…
Nas cores dançantes de um jardim,
Na firme vontade de calar um sim,
Nas trovas ridículas de escrever o amor,
No desenho colorido e vagaroso do sol por,
Na saudade sentida em noite escura,
Na dor absurda da ausência pura,
No teu corpo desejo provocado,
Despido de tudo num beijo molhado!…

Já me perdi…
Escrevendo coisas sem nexo,
Poema delirante e complexo,
Já me perdi…
Para me encontrar,
E sem delirar, saber porquê escrevo,
Que do nada assim me ergo,
Podendo aos ventos gritar,
Que apenas escrevo por amar!…

Alberto Cuddel
22/07/2015

Joana Vala – Percorro-me

Joana Vala – Percorro-me

percorro-me por caminhos já percorridos
encontros do acaso comigo mesma
doem-me os dias obtusos, esta solidão da existência
procuro-me em ti como raízes na busca de água
como segurança de uma árvore…
eu, plena, inteira, completa
viajo pelas estrelas em busca da lua
sem a consciência de ser sol…

Sei-me tempestade veraneia
Sei-me bonança consciente
Vulcão que me incendeia
Velocidade que me enlouquece…

Percorro-me nas noites em busca de mim
Para que de ti me esqueça
Antes que em mim enlouqueça…

30/08/2121
11:20

100(cl) sentimentos destilados na alma!

100 (cl) sentimentos destilados na alma!

Sangue da alma escorrendo no rosto,
filhos em pranto por alimento materno
conjugação imperfeita, sonho proposto
interno sentir, sofrido manifesto externo.

Irrigado querer, antídoto, inflamada alma
lágrimas nunca choradas, dor, angústias
choro lágrimas a rir, aquando choro a calma
paixão no filho do homem, escorridas hóstias.

Lágrimas caídas, dentro, oculto lado errado
águas caídas, manso adeus meu ser infeliz
enxugadas no ermo querer erro perdoado.

-quentes, silenciosas… ardentes na dor
fonte na vida gerada, num ontem – feliz
olhos marejados de lágrimas, ainda Amor.

Alberto Cuddel®
29/11/2015

O doce pinho hirto…

O doce pinho hirto…

já não morrem de pé como ontem…
as pedras ferem-me os pés, quelhos
neste céu verde que me cobre
apenas os pássaros, e eu… esse gritar doente
nem eles ou as águas me abafam os gritos
dou comigo sentado numa pedra, perdido neste mundo
olhando à minha volta alheio, indiferente a tudo
vejo a vida que passou por este corpo, qual borboleta
num voo irregular ziguezagueante e mudo
levantei um braço, como que a dizer, vai-te embora!
vida que me deixaste, qual sombra de mim a vegetar
o vento frio agreste me acorda e me desperta
do torpor em que caí, neste eterno arrastar
um caminho que me leva, que me traz, que me deixa
e um pinheiro que se agita, que me olha e me fita
uma ave que não identifico, asas curtas cor de ameixa
e uma mente inquieta que se ergue da pedra, fica…
olho-te ao longe na curva da estrada…
e penso… penso e não te vejo…
a estrada morreu… e o pinheiro caiu…
e eu? Onde me perdi eu…

Alberto Cuddel
24/05/2021
17:30
In: Entre o escárnio e o bem dizer,
Venha deus e escolha LXIV

A salvação profana!… ( o resgate)

A salvação profana!… ( o resgate)

Seja meu corpo insanidade no combate a tua loucura…

Resgato-te para mim das trevas, na insanidade da tristeza
Mostrar-te-ei a luz e a vida, neste voo sem retorno
Vem, vem comigo, descobre-te em mim
Ama-te, vive…
Finalmente vive…

Arranco-te definitivamente do inferno onde repousas
Voando nas núpcias da minha alma, faz-te imortal…

Encontra em mim a paz, a loucura, a paixão
A força que havias perdido, devora-me
Mas vive a luz que em ti deposito…

Não te quero demónio,
Não me quero anjo
Apenas mortais
Eu em ti
Tu em mim
E a vida que nos resta!

Pyxis de Andrade
18/03/2019
17:30

O frio de um amanhã anunciado…

O frio de um amanhã anunciado…

não o digo, não o creio, mas sinto-o, mas sei-o…
amar-te-ei aqui agora, mas sei, sei que o frio chegará…

nesta loucura desmedida que o tempo nos dá
em que unimos os corpos unidos pela alma
em que na fúria do querer esquecemos a calma
em que do teu corpo absorvo a luz e maná…
somos, o que a vida nos impõe e nos concede
enquanto do amor matamos a fome e a sede…

o lume extinguir-se-á, o teu corpo não estará cá
eu na solidão sobreviverei, na companhia de ninguém
tu, tu viverás a tua vida, longe deste mundo e deste dia
somos o momento que a vida escolheu, que escolhemos,
entre a vida que fizemos, o amor? o amor é consequência
nas lagrimas que amanhã derramaremos, pelo medo que tivemos…

o frio chegará, amanhã talvez…
quando já nada existir em mim
que te recorde por fim…
nem o teu perfume
nem a cinza deste sentir…

Pyxis de Andrade
14/01/2019

Plantei intenções diante do teu olhar

Joana Vala

Plantei intenções diante do teu olhar

Plantei intenções diante do teu olhar
Foste, vieste, demoraste para chegar
Trouxeste a mesma vontade que levaste
E uma outra na mão, coisas que foste comprar…

Despi-me de pudor, quase implorei
Fode-me, mas tu, tu apenas chegas
Cansado, exausto, podia ser amante
Podia, mas não era apenas conformismo
Trabalho e muito comodismo…

Plantei intenções diante do teu olhar
E tu o prazer me continuas a negar
Que esperas tu? Onde isto nos vai levar
Se a mim, só me apetece começar a encornar…

Ainda te amo, ainda te quero
Plantei intenções diante do teu olhar
“Isso não é de mulher decente”
Mas é de uma mulher que se faz presente
Que é e quer ser diferente…
Que quer prazer, ou que meramente a venhas foder…

14/02/2021 00:05

Esta dor de já não saber quem sou…

Esta dor de já não saber quem sou…

doí-me saber que amas, mas és doente…
doí-me saber que me queres, mas eu sou…

que me importa saber que me amas, se não me deixas viver
esse ciúme, esse medo inseguro de não me deixares voar…
eu tenho vontades e quereres, tenho personalidade
porque não posso ter amigas? diz-me, se a ti escolhi…
diz-me porque não posso ter conversas privadas?
porque me segues e controlas? diz-me qual é o teu medo?
que te troque? que não te ame? se tudo o que fazes me dói…

não, disse tantas vezes não…
e tu? achas que são as tuas tolas ameaças que me impedem de te trair?
o medo de que cumpras com o teu suicídio? o medo de que me deixes?
não, nada disso, apenas quero ser eu… apenas eu, a mulher por quem te apaixonaste…

esta dor de já não saber quem sou…
porquê… se os filhos são nossos, apenas doei o ventre…
mas tu és a mãe, porquê desta dor que me corrói a alma?
és doente… esse teu ciúme, mata-me aos poucos
eu quero ser mulher, livre na minha individualidade
se estou contigo, se estou contigo, é por amor
por livre vontade, não por medo ou controlo
não por chantagem doentia, não pelos filhos
mas por querer, por me amar em ti…
não me violes mais a individualidade
a privacidade… ou amando-me
abandonar-te-ei, para que te cures pela abstinência doentia
pela solidão que te irei impor…
ama-me livremente… e amar-te-ei eternamente…

poeticamortem

@Suicídio poético
10/01/2021
07:50

A violência não é apenas física, a dor não é apenas física, a violência não é apenas máscula, não é apenas hétero… a violência nasce dos distúrbios de personalidade, na insegurança do amor próprio, da falta de reconhecimento da liberdade do outro… saibamos a cada momento reconhecer, combater, denunciar e condenar todo o tipo de violência contra a pessoa humana!

Às vezes em dias perfeitos

Às vezes em dias perfeitos

Às vezes em dias perfeitos, apenas a tua ausência
Tolhe-me o fogo que me arde nas veias,
Pergunto-me se sente o mesmo?
Ou sequer pensas na mera existência do sentir
Que em mim dói na dormência atroz de me faltares?
Sinto-me, disformemente amputado de ti,
Faltas-me, para que eu em mim exista na plenitude!
Faltas-me,
como as flores num jardim
como a lua na noite
como um veleiro sem vento
faltas-me inclusive nos sonhos
que teimosamente mantenho
mesmo que acordado
consciente da falta
do teu perfume no meu corpo!
Chegas-me, completas-me, compões-me
Fazes-me… assim és, dor da ausência
Por eu próprio não me ter,
Pergunto-me se tu também não te tens?
Ou que quer sou em ti ausência,
Ou apenas apêndice, como um qualquer adorno
Que apenas te faz mais, mais tu?
Às vezes em dias perfeitos, perco-me
Como se perdesse, como se te perdesse
Por apenas amar com o emaranhado de pensamentos…

Alberto Cuddel®

In: Tudo o que ainda não escrevi

Joana Vala

Joana Vala

Quem és tu?

Quem és tu que meu leito partilhas?
Quem és tu que despertas pela manhã?
Não te conheço, não te reconheço
Que vã esperança esta que me tolhia o olhar
Recuperar o ser que amei, que amava?
Quem és tu habitas sob o mesmo tecto
Que nada faz de concreto
Passam as horas e olho-te
Acabrunhado, acabado, velho
Com medo de tudo e de ninguém
Como se o tempo te fugisse dos pés
Com se a vida se tivesse esvaido
No último dia que entraste pela porta…

Quem és tu que não conheço
Que não sorris, que não sentes?
Quem és tu remetido ao silêncio
Que me repulsas, que te encerras
Que te fechas ao mundo?
Onde estás amor que eu sentia?
Onde está o ser que eu amava?

Quem és tu que apenas existes
Sobrevives dia após dia
No confinamento da tua alma…
Quem és tu que não me falas
Além do subterfugio das respostas obvias…
Deixa-me entrar na tua capsula
E resgatar-te para a vida…

24-03-2020
02:05

Joana Vala

Joana Vala

Mais uma noite me abraça
Na solidão do meu leito
Um chegar que não chega
Um abraço perdido
Uma promessa de beijo
Um sentir não sentido
Um corpo despido
Uma alma que chora…
Longas são as noites
Que passo sem dormir
Longas são as madrugadas
E passam as horas e os sonhos
Morrem-me as lágrimas
E o que sinto…
A cada uma das badaladas…

Porque espero?
Se de ti nada…
Tão pouco um corpo frio
Ou um boa noite embriagado…
De ti? Nada, nem corpo
Nem alma…

01-02-2020

Por três vezes…

Por três vezes…

Sobem-me aos lábios dúvidas estranhas
Saudades escorrem regidas por Neptuno
Incertas, ventosas e negras montanhas,
Semblante carregado, duro e taciturno
Noites distantes, ausentes e suplicantes
(…)
Caem sob os telhados gotas brilhantes
Sentires alheios, sonhos e passos perdidos
Segue o reinado, súbditos vacilantes
E por três vezes me negas os beijos
Triste e caído, dormentes desejos…
(…)
Ontem, apenas ontem, esqueceste
Por três vezes negaste, disseste não
O sonho do hoje perdeu-se no tempo
Sucedem-se nuvens e as lágrimas caladas
Pranto gritado na alma, preso entre dentes
Cerrado nas gengivas fechadas…
(…)
Por três vezes, disseste não
À terceira vez…
– eu, aceitei-o!

Alberto Cuddel
14/12/2016

Rasgados os céus e os caminhos descalços…

Rasgados os céus e os caminhos descalços…

“Ó vergonha escondida pelo sentir
Homem fugaz se eleva diante dos outros
Mas tristemente arrasta na alma
A perversidade de um desejo”
Sírio de Andrade

bandeiras desfraldadas em mastros hirtos
espinhos cravados nos pés, caminho de pó
há uma assassina da alma à solta
despe-se de negro, palavras mansas
ama, se ama, ama o conforto que possui
e ele? Morre a cada hora apenas um pouco
como se o amor o matasse por dentro…

Morreu a cada entardecer
Ave-marias rasgavam-lhe o silêncio
A morte advém-lhe da alma
Essa que o matou a cada ausência…

Onde estavas?
De onde o esqueceste?
O tempo, passa, passa…
( o tempo, apagou-o)
– ele, ele esqueceu-se de quem era, e de ti dependia…

Alberto Cuddel
12/06/2020
02:50
In: Nova poesia de um poeta velho
(tributo póstumo à vida e obra de Sírio de Andrade)

Rosto cinzento como a névoa de leste

Rosto cinzento como a névoa de leste

nas noites que se apartam do dia
amarrada seja a lua em escorpião
pernas imóveis e agulhas que lhe perfuram o dorso
tenacidade persistente do que é e tem de ser
porque assim é desejado no íntimo
força mobilizadora do desejo
ainda que chova copiosamente
cerrados sejam os dentes pela carne que arde…

um nó martelado nas vísceras
esse olhar roubado e distante
algemado pela doença que mói
estampada nos meandros do rosto feminino
granítica desilusão bombardeada nas pálpebras
há uma força de capricórnio que nos mantém de pé
nesse rosto cinzento como a névoa de leste
o sorriso é apenas memoria dos dias de maio
como um pólen invisível que nos faz tossir…

no rosto cansado carregas nas mãos
esse respirar das muralhas pulmonares
que em nós se faz vida
fogo que arde oxigenado pela esperança
músculo sanguinário que não pensa
mas sintomaticamente sente…

Alberto Cuddel
16/12/2019

Raiva contida de um amor invertido

Raiva contida de um amor invertido

tantos nobres ideais caídos entre o estrume,
desse fertilizante mórbido que chamas de “amor”
ego embriagado de macho, derrotas da virilidade
febre que te nasce nas mãos por não se erguer…

há no amor invertido sentido do sonho
nesse que um dia desejei e hoje amaldiçoo
quebrassem-me as pernas a caminho do inferno
apenas bendigo o amor que me nasceu do ventre…
esse que hoje comigo carrego
trazendo no rosto a herança e a dor da memória!

dói-me a alma, por me ter deixado aprisionar na teia
dói-me a alma além do corpo, destas mazelas que carrego
hoje? hoje livre dói-me ter medo de amar,
por ter conhecido o amor invertido, doente
de quem um dia julguei poder ter sido amada…

#poeticamortem
@Suicídio poético
23/10/2019

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