Semente morta!

Semente morta!

Seara queimada onde não nasce nada,
Negra tristeza na queda ao abismo,
Estatua negra, fria, assim desnudada,
Desprovida de todo o seu irrealismo!

Solidão do querer, as flores mortas,
Fechadas que estão as tristes portas,
Deambulo pelo saber de ontem perdido,
Preso na garganta o grito gemido!

Anafado corpo atirado a um canto,
Cantam demónios em gritos de pranto,
Pedras que rolam na escarpa da vida,
Corrida permanente, viagem de ida!

Terramoto abatido, conversa fiada,
Certezas de tudo, palavras de nada,
Pedras que rolam da altiva escarpa,
Cordas que quebram na fúria da arpa!

Suicídio das palavras escritas na água,
Frases de um outro mar onde desagua,
Infecção na caneta que geme de dor,
Morte a quem que sonhou ser escritor!

Arrependimento que mata a cada noite,
Uivos bradam no ar nocturno como acoite,
Fantasmas despertam do ontem passado,
Perdoado, não esquecido, agora lembrado!

À solidão gabo-te a sorte,
Perdida, esquecida,
Desistindo da morte!

Grito socorro na sala vazia,
Angustiante ninguém ouvia,
Canto escuro aninhado no nada,
Uma flor morta, vazia jarra!

A semente não germinou,
O sonho morreu, acabou!

Alberto Cuddel

Faz de mim tua viagem!

Faz de mim tua viagem!

Quero fazer-te em meu corpo viajar,
Sentir o ardor de tua pele queimando,
Dar asas à paixão, sem freios e direcção,
Fazer voar a tua fantasia, ser em ti,
Corpo que arrepia, que ferve, que geme,
Fonte dos sonhos em mim sem direcção,
Realização sem pudores dos desejos carnais,
Fazer da noite luxuriosa fonte de pecado
Dando-te todo o prazer contigo ao meu lado
Leito quente feito de doce aventura
Onde me perco na candura de teu corpo,
Entrega total neste amor ancestral
Fazendo aflorar todo nosso prazer carnal
Onde não existam regras, preceitos,
Onde o tempo não se perde, se conquista
Onde apenas só o nosso amor Exista!

Alberto Cuddel

Retalhos reinventados!

Retalhos reinventados!

Reinventamos a cada dia,
O amor, a sedução, alegria,
A Felicidade, a saudade!

O ontem?
Onde está o ontem?
Receitas passadas hoje reinventadas,
Novamente, novo a cada instante,
Uma pedra no caminho,
Uma rosa que floriu,
Um rosto por de trás de uma janela,
Uma palavra, um jardim,
Um querer, decisão, desejo,
Um roubado e doce beijo,
A Primavera, a reinvenção,
O dia, as quatro estações,
A queda da lagrima na partida,
A gélida saudade do Inverno,
A ânsia da chegada primaveril,
O fogoso calor do encontro,
Reinvenção diária,
Celebração do Amor!

Alberto Cuddel

Mar de Letras!

Mar de Letras!

Pequeno,
Fragilmente só,
Remando contra a ignorância,
Perdido na fantasia do sonho,
Histórias, contos, poemas, letras,
O infinito mundo da solidão,
Embrenhado no jardim
Florido, nas hipérboles,
Do solstício das metáforas,
Rimas, epopeias, tragedias,
Romances, amores, fantasia,
Infinito mar, a cada rede uma frase,
Cada anzol, uma rima, cada remada,
Nova descoberta, um avanço,
Livros, pensamento em forma de tinta,
Tinta em forma de palavras,
Palavras que geram imagens,
Sonhos, personagens!
Remo, perdido no saber,
Deslumbrado,
Criança que vive em mim!

Alberto Cuddel

Elo!

Elo!

Não, não és metade de mim,
Sim, és tu, o suporte do todo,
Dos meus difusos fragmentos,
Partes de uma vida moldada em ti!

Cada pedaço, cada sentimento,
Cada emoção, cada angustia,
Em ti está ligado como cimento!

Ligas-me, num único ser,
Numa única vontade,
Numa verdade, num viver!

Fragmentos soltos, perdidos,
Chorosos, desligados, sofridos,
Longe e ausente, distante,
Assim em pedaços me deixas,
Se partes, quebrando os elos,
A magia que por ti me une!

Alberto Cuddel

Amizade,

Amizade,

Estado palpável do sentir,
Corpo perfeito do amar,
Sem interesse, apenas pelo dar,
É um deixar tudo e correr,
É não esperar retorno,
É um sorriso na tristeza,
É sentir o sentir de outrem,
Amizade é amar o próximo,
É cumprir um mandamento,
É receber e dar alento,
É sofrer polo outro,
É fazer nosso um outro coração,
Amizade é o tudo que nos une!

Alberto Cuddel

Noite, e copo de vinho!

Noite, e copo de vinho!

Rodopiava encorpado no frutado sabor,
Licor da solta libido, medicina da solidão,
Solução aquosa fermentada em amor,
No cristalino vaso, lua por companhia!
Solidão preenchida no adamascado gole,
Sons do oriente, luar crescente, ausente,
Solidão em mim, lembrança, quente corpo,
O leito vazio, um quarto sombrio,
O silêncio gritante cidade vazia,
Partida, o copo por companhia,
Busco no nada, na longínqua lua,
Meu olhar com o teu cruzar,
Completando, o vazio que em mim deixaste,
Apenas o vinho, o gato, o perfume de teu ser,
Nos lençóis, húmidos, quentes, amarotados,
E minha alma, cansada, dormente, exausta,
Feliz por um momento,
Uma noite,
Mais uma noite!

Alberto Cuddel

Sacrifício!

Sacrifício!

Era noite, mais uma noite escura,
Uma estrela, apenas uma brilhava,
Nada, ninguém, sem versos de cura,
Sem rimas, significado que lhe dava!
Apenas mais um poema, desses sem nada,
Sem motivo, palavras, apenas me foi pedido,
Assim do nada, sem pensar, desfilam flores,
Cores, cinzentos, meu pensamento,
Linearmente corre tons prateados,
No lunar branco reflectido, nas águas
Desesperante solidão das respostas
Não, ninguém, mas falava? Não,
Respondia de surdina, embrenhado
Na conclusão açucarada de uma partilha,
De um explícito e físico acto de ser
Humano condenado à expectante
Santidade almejada, do amor dedicado
Ao divino corpo devoto de metade de mim,
Assim erguido no altar, oferecendo-me,
Eu em toda plenitude da minha rastejante
Humilde e ténue entrega a ti, em sacrifício,
Por prova, não de fé, não de entrega,
Mas num narcisista orgulho, de me por ti,
Me tornar NADA!

Alberto Cuddel

Desconcertante…

Desconcertante…

Arrepiantemente soltas, ideias dispares,
Soltas no leito da lenta noite fingida,
Antagónicos siameses gémeos pares,
Entre o querer rubro desejo lua tingida!
Fogo ardente do nórdico gélido vento,
Queima ardendo no peito por dentro,
Novo outro alguém perdido no tempo,
Dançam morcegos no silencio da noite,
Perdem-se estrelas cruzando o firmamento,
Luzes que cintilam no horizonte,
As mesmas que lá estavam ontem,
Negro vestido caído no chão,
Esquecido na fuga apresada,
Do contorcido corpo para fora da cama,
Lençóis perfumados no teu suor,
Quarto apagado, selado, esquecido,
Pobre sentido assim desprovido,
Das velas queimadas agora fumegantes,
Perdido nos passos do baile de sombras,
Fantasmas dançantes perdidos no nada,
Seduzidos nos versos da palavra queimada,
Horizonte em fuga das chamas solares,
Queimando a noite, o ontem perdido,
Fumegante orvalho, despontado da brisa,
Uma tulipa morta, uma rosa perdida,
Um acordar dorido, no corpo sentido!
E a noite? Onde te perdi?

Alberto Cuddel

Obrigado Mãe,

Obrigado Mãe,

Por no teu amor me permitiste nascer!
Obrigado Mãe,
Por em tua bondade me teres feito crescer!
Obrigado Mãe,
Por no teu sacrifício me teres suportado!
Obrigado Mãe,
Por na tua vivência me teres educado!
Obrigado Mãe,
Principalmente por me teres Amado!

Alberto Cuddel

Mãe

Mãe

Sacrossanto ventre que me gerou,
Sol da Primavera no início da vida,
Fluidos do teu seio a mim alimentou,
Regaço seguro sem dormir noite e dia!

Mãos que me secam as fartas lágrimas,
Porto seguro para onde sempre corria,
Heroína de entrega e sofrimento,
Desde o nosso humilde nascimento!

Minha mãe, mulher primeira em mim,
Primeira paixão, meu primeiro amor,
Perfume de teu corpo gravado assim!

Voz que me embala, acalma e acolhe,
Colo milagroso de poderes curativos,
Mulher, mãe, em ti todo amor dos filhos!

Alberto Cuddel

Um minuto,

Um minuto,

No silêncio da sala vazia,
Uma pancada fria e seca,
Uma culatra puxada atrás,
Um minuto a mais queria,
Na solidão da biblioteca,
Um minuto a mais terás!

Movimento perfeito,
De um ponteiro recto,
Um minuto, que fazer,
Pensamento esvoaçante,
Vontade de pensar querer,
Correr veloz ao passado,
Ao feito inconfessado,
Desliza ao sonho futuro,
Sentimento gélido e duro,
Ao quente e doce amar,
À ideia a concretizar,
Folhas soltas da memória,
Apresentadas como vitoria,
As imagens rodam reais,
Locais e coisas banais,
O teu olhar, o teu beijar,
O toque do teu desejo,
Quietude do teu escutar,
Em minhas mãos te vejo,
Perdida na saudade,
Desta louca ansiedade,
De um minuto restar!

Uma pancada fria e seca,
Uma culatra puxada atrás,
E o ponteiro avança!
E tudo de novo recomeça,
Um minuto, outra conversa!

Alberto Cuddel

Exausto,

Exausto,

Deito-me exausto, sento-me, levanto-me,
Gritando silêncios de dor em alto pranto,
Visão distorcida uma sórdida humanidade,
Esquecida fora uma inócua e forte vontade,
De cuidar dos meus dos vizinhos humanos,
Vida em mim ideias, uns seres mundanos,
Sociedade corrupta, sem espirito, sem união,
Moral, humanidade, solidariedade, religião,
A morte espreita a cada esquina, a cada porta,
Podre sociedade esta que assim se comporta,
Sem dar a mão a seu irmão que morre no mar,
Não há preocupações ou poder indignar-se,
Seguem a triste vidinha sempre assobiar,
Dos outros irmãos, sempre outro vai cuidar!

Até ao dia em que serás tu,
Sim um dia tu
Tu também vais precisar,
De uma mão, uma palavra, um pão,
Da força, da vontade de um teu irmão,
Ai recordarás, todas as vezes que disseste não,
Para meu irmão não tenho tempo para cuidar!

Será tarde, ainda há tempo, vê, escuta,
Faz, ama, ajuda, muda a tua conduta,
Podes não mudar o mundo, não ficara aquém,
Na tua acção mudarás também a vida de alguém!

Alberto Cuddel

Lágrimas de sangue

Lágrimas de sangue

Rubras pétalas derramadas no sangue,
Amor mal cuidado, quase perdido,
Delírios de homem coração infame,
Orgulho ferido em solidão sentido,
Erro vergonhosamente assumido,
Corre uma lágrima sob meu rosto,
Espinho cravado coração colocado,
Sangrando atroz no meu sofrimento,
Homem que chora agora renascido,
Perdoado que fora arrependido,
Do sul e do norte renascido da sorte,
Nascido do ventre das garras da morte,
Ser sublime mulher de humilde razão,
Deusa do mundo virtuoso ser,
Lágrimas vertidas no simples perdão,
Cravadas a ferro na fénix nascida,
Falha perdoada mas nunca esquecida!
Nascidos de novo na rosa da vida,
Perfumadas noites no novo amar,
Não há ter nem ser, apenas o dar!

Alberto Cuddel

Um tédio de pensamento

Um tédio de pensamento

No tédio das palavras que não galopam
Apertadas pelo chicote da imaginação
Picadas pelas esporas do pensamento
Espero puras substâncias que dopam
Momentos de puro êxtase e excitação
No já agora, ou dentro de um momento!

Mordaz querer nas longas noites escuras
Cinzento luar, lobos que se silenciam,
Sono ausente nos trabalhos forçados
Ruas vazios, calçadas negras e puras,
Candeeiros apagados que não reflectiam,
Cães vadios que ficam apenas deitados!

Raiva aparente na distante vontade,
Pensamento que voa em plena cidade,
Voltas perdidas sem conta aparente,
Longos passeios no quarto ausente,
Insónia forçada no meio de gente,
Distante, cansada, de cama decente,
Tempo perdido pensando em rimas,
Acordado pensando nas últimas,
Palavras que debito sem um sentido
Sentado no nada maltratado juízo,
Martelado ruido de longínquo gizo,
Telefones prementes anafado ruido,
Silencio da noite assim poluído,
Correndo ao leito assim repousar,
Fazer este pensamento assim acabar!

Noites longas, escuras sem fim
Ficar acordado obrigado assim
Trabalho distante, na ignorância da noite
Por ti que dormes ignorando o acoite
No descanso no dia onde não dormia
Pelo ruido que em casa o vizinho fazia
Deitado na cama em dias de sol
Dormir na solidão do gélido lençol,
Que por ti clama na saudade do calor,
No terno feitiço que separa o amor!

Alberto Cuddel (26/04/2015)

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