A vida que desconstruímos

A vida que desconstruímos

a vida é um caminho rustico sem destino traçado
e passamos pelo moinho, cruzamos pontes e rios
e segue-nos o céu, os dias e as noites, e vamos
apenas pelo ter de ir, há quem nos empurre
em direção ao depois e ao precipício, ali, diante dos pés…

[…]
tenho sonhado muito, por entre esse arvoredo dos dias
de sonhar ninguém se cansa, porque sonhar é esquecer,
e esquecer não pesa e é um sono
sem sonhos em que estamos despertos.
em sonhos conseguimos tudo,
até fazer chover no deserto, ou rosas no teu regaço…

esse caminho que desconstruímos na travessia das dunas
nessas que se movem na noite ao sabor dos ventos
há um absurdo nesta vida real, onde sonhamos o desejo
nessa complexidade das relações humanas, na linguística
nesse querer negativo, nessa afirmação do não…
nesse jogo do prazer que é sem ser, sendo que não é…

e sonho, e sonhamos, e vivemos e acertamos
erramos, e caímos… e morremos, felizes por ter sonhado o impossível…
Sendo que ainda ontem nos amamos, ali junto ao vale
Depois do pinheiro hirto, mesmo antes da curva…
Lembras-te?… ou teríamos apenas sonhado de mão dada…

Alberto Cuddel
14/07/2021
09:15
Alma nova, poema esquecido – X

Alma rasgada pelos espinhos da vida

Alma rasgada pelos espinhos da vida

cravei a fogo em lapide inclusa
rip, aqui jaz um poeta sem versos…

esperei como quem espera o tempo que basta
como se o amanhã fosse agora e já não houvesse segredos
as árvores agitavam-se adivinhando o futuro
e partiam as andorinhas… as cegonhas, ai as cegonhas
e as garças e os patos… todos partiam…
e eu? e tu… ficamos ali, indiferentes ao passado que mudou
a um presente que não existe, a um futuro perdido…

e calaram-se os versos…
teceram uma coroa com os silêncios
e coroaram-no de espinhos…
as palavras trespassavam-lhe a carne
as metáforas, queimavam-lhe a pele
e as ironias e hipérboles secavam-lhe a garganta…
pelas três da tarde, chegaram-lhe à boca um poema,
a custo declamou um verso e expirou…

a biblioteca adormeceu, rasgada ao meio
entre a dor da perda, e a certeza de viver nela tudo o que sobra…
a palavra ressuscitou o poeta…

Alberto Cuddel
11/06/2021
03:00
Alma nova, poema esquecido – III

Pensamento

Nevoeiro entre o luar…

Nevoeiro entre o luar…

há entre mim e o mundo uma neblina
essa que impede que o mundo me veja
essa que o luar da alma oculta
e a alma brilha, ténue e cintilante, brilha
mas o mundo? o mundo apenas me vê…

a existência é a expressão intelectual da emoção,
distinta da vida, que é a expressão volitiva da emoção.
o que temos, ou ousamos, ou conseguimos,
podemos possuí-lo em sonho, e fazê-lo real
nas mãos, nos lábios, nos dedos, nos corpos
e é com esse sonho que fazemos arte,
e da arte, vida, consumando-a…

nesse nevoeiro que vos cega o olhar
sentem… suspeitam da existência
e tudo é… pleno acto de fé…
um sussurro em surdina
de tudo o que pode apenas ser
porque somos… “segredo” da arte de amar…

nevoeiro entre um luar… e um novo raiar…

António Alberto Teixeira de Sousa
24/03/2024
In: Poemas de nada que se perdem na calçada

nascem-te versos desse útero fértil

nascem-te versos desse útero fértil
por entre nuvens de algodão
em marés cristalinas de urze tenra
nesse lilás és… plenamente vida…

fazes-te fome no meu alimento
e sede no meu sangue
fazes-te palavra no meu silencio
e gemido contido no meu corpo…

és… a energia da minha alma
conheço-te no electrocardiograma do meu pulso
e tu? que tantas vezes eu…
graça plena da oração fervorosa
reflexão da minha existência

teus dedos minhas mãos
teus pés minha vontade de caminhar
teus lábios o meu beijo
teus seios a minha entrega…

nascem-te versos desse útero fértil
por entre nuvens de algodão
e eu existo… homem, poeta…

António Alberto Teixeira de Sousa
03/12/2023
In: Poemas de nada que se perdem na calçada

Odorífico perfume…

Odorífico perfume…

nasce-te no peito o êxtase das minhas mãos
no semblante o perfume de rosas
nesse aninhar de onde te sorvo o odor
vivo como ondas e passos soltos
cânticos soltos na língua, mingua do tempo
orgasmos mar em terra santa, pecados gemidos…

morrem-me os leitos vazios na saudade
e todas as candeias que se apagam na espera
as tulipas… choram fechadas, e o cálice?
o cálice em pranto clama pelo soro da vida…

odorífico perfume o nosso, impregnado na alma e no beijo
a sim seja o amor… o querer e o desejo…
gemido nos lábios escorrente… odorífica saudade nos espera…
que nos nasçam as rosas no peito… e a verdade nos dedos…

António Alberto Teixeira de Sousa
27/11/2023
In: Poemas de nada que se perdem na calçada

Tenho saudades… das noites, das manhãs… do sempre e do nunca…

Tenho saudades… das noites, das manhãs… do sempre e do nunca…

tenho saudades de ti e de nós
da roupa esquecida no chão
do beijo interminável
do silêncio húmido dos nossos lábios

tenho saudades do sonho, da promessa
do que foi e do que teria sido
do acordar junto, do adormecer exausto
tenho saudades do que ainda nem foi…
tenho saudades dos nossos orgasmos
dos sentidos, dos gemidos em surdina
e dos que ainda apenas imaginamos…

tenho saudades de te despir a alma no beijo
o corpo nos dedos, peça a peça, a cada palavras
a cada gemido consentido…
tenho saudades de ti e de mim, de nós, de mim em ti…

Tenho saudades dos teus seios, dos beijos na nuca
De te abraçar de conchinha… de te sentir o corpo, a pele…
Tenho saudades de nós… do que fomos, do que somos e sonhamos…

Quero-te…
Loucamente quero-te…
Hoje, amanhã, ou depois…
Não importa quando, onde, como…
Mas sei que te quero…

Tiago Paixão
20:37 19/12/2020
a fúria da saudade

Prende-me a ti…

Prende-me a ti…

algema-me, tem-me ali…
diante de ti, à mercê dos teus caprichos
despe-me dos dias e da vida
despe-me o corpo, percorre-me a alma…

venda-me… toca-me, sente-me
sente o meu pulsar de desejo
a minha vontade de te ter
de te possuir por inteira
bebe-me, bebe-me longamente
sem pressas, sem mansidão
como que a saborear a memória
nessa firmeza fálica do querer que me impões…
bebe-me…

cavalga em mim noite fora
como numa corrida de longa distância…
em trote firme, mas sem que se perca o folego…
desprende-me, desvenda-me…
deixa que te possua…
porque a alma essa
já é eternamente tua…
vem-te… vem-te comigo
em mim…

Tiago Paixão
03:34 26/12/2020
a fúria da saudade

Entrelaça as mãos soltas…

Entrelaça as mãos soltas…

olhar cheio da nocturna densidade da saudade
entrelaça os dedos e contorce a alma
arqueia o desejo sob o peso aglomerado dos lençóis
seja nua a veste que te cobre o discernimento
seja pura a vontade lasciva que te percorre…

que as tuas mãos voem,
que voem em silêncio
onde eu guardo os sonhos…

sonhos que me pertencem, que te tocam, que te envolvem
quero ser eco da voz que escutas, gemido que te enlouquece
quero ser fonte do teu sorriso, quero ser origem do teu suor
quero amar-te, ser prazer, ser loucura e orgasmo solitário…

entrelaça as mãos soltas, os dedos húmidos, e deixa-me
deixa-me escutar-te, no silêncio das paredes, enquanto te olho…
mesmo que na minha pele, não sinta agora o calor da tua…
nesta louca fantasia… amo-te…

Tiago Paixão

Afúriadasaudade

Quando te escolhi,

Quando te escolhi,

Quando te escolhi,
sim EU escolhi amar-te para sempre!!!
Eu percebi no momento que há amores para se viverem na sua plenitude!!
Quando te escolhi para te amar, mergulhei no mundo só nosso,
e recebi na mesma intensidade todo o amor que te dei!!!

“ quando em mim teu corpo se confirmou
arte pura do desejo humano de prazer
fiz-me certeza, tesão, fiz-me, amor, paixão
e fomos beijo, seios, e fomos vestes no chão ”

Escolhi amar-te, não só pelo que significas,
como pelo ser humano que és!
Transformas todos os dias, tristezas em gargalhadas,
manhãs em raios de sol, dias em arco-íris!!

“e somos o que fomos, coleção de orgasmos
e revolução dos corpos e coleção de abraços,
e somos riso, gargalhadas, ajuda e penetração,
e somos luar e rasgamos a noite, e jorrámos luz
e fomos terça-feira, e sexta e sábado…
e somos vida e esperança após a morte!”

Meu amor… escolhi-te???
Sim! Mas o amor acontece…
e quem decidiu em ficar fomos nós,
plenos de paixão e cumplicidade, desejo e tesão!!
Passaram anos e cá andamos…,
quando te escolhi o meu futuro sorriu comigo…!!!

“quando nos escolhemos, somos no que nos transformamos
amigos, amantes, namorados e militantes
seguidores fiéis da alma que sorri, ombro que ampara
corpo que suporta e repara… coito em que nos acolhemos, 
e amamo-nos de novo, e deitamo-nos de novo,

e fodemos de novo, gememos de novo,
e vamos e vimo-nos de novo… e crescemos e morremos
e renascemos, e amamos de novo… e sorrimos…”

Quando te escolhi…

Cris.V & “Tiago Paixão”

Queira-me a alma vestir-se de ti…

Queira-me a alma vestir-se de ti…

“Que em nós arda essa chama que nos acolhe”

que seja uma, ou duas, três vezes
que seja a loucura do orgasmo a vestir-nos
no teu corpo faço-me homem a cada gozo
a cada vez que todo lhe sou prazer devoto…

“deixa-me ferver na tua carne, misturar meu corpo no teu
sente-me… que os nossos movimentos se unam
que o nosso suor escora, falemos um pouco
sincronizemos a alma e o desejo, elevemos a libido
procuremos no nosso amago um uníssono gemido…”

paremos e amemo-nos apenas no olhar,
deixemos que as paredes e a água nos abrace
bebamos das taças que nos ofertam
e sejamos homem e mulher, e uma só carne
um só prazer, amemo-nos de novo…

depois, depois amamo-nos
uma e outra vez…
antes que os corpos se cubram
diante da vergonha dos homens…

e vamos, e fomos e amamo-nos de novo…
bebe de mim todo o prazer… que eu te levarei…
ao céu do amor que nos condena…

se amar é pecar, então assumo, sou um grande pecador…

Tiago Paixão
27/07/2023

afúriadapaixão

“Que em nós arda essa chama que nos acolhe”

que seja uma, ou duas, três vezes
que seja a loucura do orgasmo a vestir-nos
no teu corpo faço-me homem a cada gozo
a cada vez que todo lhe sou prazer devoto…

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Desejo de beijo…

Desejo de beijo…

arde-me no corpo a saudade da alma
e quero, como um macho pode querer a sua fêmea…
quero o teu beijo, o teu desejo, a tua paixão
o teu querer, a tua sede e o teu tesão…

queima-me a alma por dentro no afastamento terreno
em que mundo, em que horizonte, em que tempo
quero-te como se loucamente se pode querer
sem rubores, despida de verbos e de pudores
quero possuir-te nos lábios, na boca
quero sentir o teu orgasmo na língua
quero o teu corpo sob o meu, o teu movimento
sentir-me todo em ti, em longas estocadas
amplo movimento do quadril…

e ainda assim o beijo… esse ficar, esse diálogo do olhar
o movimento das mãos, o contorno das curvas
o movimento das retas, nas esquinas e círculos da noite
essa fúria da alma, esse sentir que nos acalma
essa fúria que nos emana dos poros… e os orgasmos…
gritos gemidos de um amor consumista
que jamais estará feito, possuído, consumido…

e fica… a sede, a fome esse desejo de beijo…

Tiago Paixão
21/07/2023

afúriadapaixão

Olhei o céu e vi um poema meu…

Olhei o céu e vi um poema meu…

olhei o céu e vi um poema meu…
escrito nos olhos e declamados nos gestos…
outras vezes encontro trechos que me não lembro de ter escrito

  • o que é pouco para me espantar,
  • mas que nem me lembro de poder ter escrito
    o que me horroriza, que me amedronta, não me lembrar de mim mesmo…

versos certos de outra mentalidade.
é como se encontrasse um retracto amarelecido,
sem dúvida meu, com uma estatura diferente,
com umas feições incógnitas, e frias
– mas indiscutivelmente meu, pavorosamente eu, mais novo e escuro…

mas vi-me ali, nas libras desenhadas no ar…
sem som, numa dança perfeita, como um ponteado de braille…
bem sei que somos muitos, que somos todos os nossos eus que fomos
e todos os outros que esquecemos e perdemos de nós…
mas o não me lembrar das palavras amedronta-me…

olhei o céu e vi, um poema meu… azul, verde, cinzento…
um poema quente e redondo por dentro..

António Alberto Teixeira de Sousa
18/06//2023
In: Poemas de nada que se perdem na calçada

Rasga-me a saudade no reflexo ti

Rasga-me a saudade no reflexo ti

Quero que me tenhas, que me possuas
Que fique em ti gravado na eternidade o meu perfume
Quero o meu sabor nos teus lábios,
O meu suor no teu corpo, quero-me em ti…

Que no teu peito me sintas, como teu
Aprisionado na alma, no coração
Apenas como teu, não fruto proibido de uma noite
Mas uma verdade absoluta do sentir
Uma noite de amor, eterna, sem dormir…

Que o sol desvirgine a madrugada
Que rasgue os lençóis negros da noite
Mas é em ti que permaneço
Mesmo depois de partir, depois do beijo
De todos os orgasmos prometidos e entregues
É em ti que permaneço,
Em ti que em teu peito me guardas,
Em ti que meu perfume consomes
Que te abraças à almofada fria e triste…

Rasga-me a saudade no reflexo ti
Até que regresse numa qualquer noite
Sem que me esperes…
Para que te conforte
No meu abraço…

Tiago Paixão
03:34 28/12/2020
a fúria da saudade

Nesses beijos prometidos, que ficaram por dar…

Nesses beijos prometidos, que ficaram por dar…
(Ou a saudade do que poderia ter sido sem ser…)

e foram dois… um quase roubo cometido aos teus lábios…
o calor da tua face, as mãos tremulas do abraço
esse desejo dos corpos à média luz
com os olhos do mundo sob nós…
como te queria, como te quero…

ali…
mesmo ali onde os nossos corpos pela primeira vez se tocaram
em que a nossa pele tremeu com o odor dos nossos corpos
onde o nosso olhar tantas vezes fez amor
desejei-te, desejo-te…

quis abraçar-te eternamente e fugirmos dali…
naquele canto escuro onde bailaram todas as emoções
onde sonhamos fazer amor, bem ali, no sofá
que se lixasse o mundo e as gentes
queríamo-nos, queremo-nos…

hoje afastam-nos as doenças do mundo
e os olhares condenatórios dos homens…
mas amanhã, amanhã não…

Tiago Paixão
16:22 06/01/2021
a fúria da saudade

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