Poema XXXVI

Poema XXXVI

Rasguei os véus da aurora
Acordei para a vida
Cobri as vergonhas da noite
Desci pela avenida….

Encontrei-me
Onde a alma abandona o corpo
Abrindo os olhos cerrados
Nascendo uma e outra vez, – de novo?

Erguem-se nuvens e tempestades
Sopro, sopro…
Abandonadas num sussurro beijado
Num gemido consolado…

O dia rebenta as águas
Rasga o véu da noite
– Novo, de ontem nada
Perdão, perdão, tudo na voz da fada
Nada agora te enfada…

Desperta vive…
 A eternidade acaba amanhã…

Alberto Cuddel
14/10/2017
10:20

Poema XXXV

Poema XXXV

A vida é constituída por pequenos nadas
Borboletas azuis que esvoaçam…

Entre sonhos e realidades ensaiadas
Escondemos os medos, de tudo, de nadas…

Somos organismos carbónicos saciáveis
Palparíamos gestos onde apenas palavras dançam?

Nos pés o cheiro a maresia, pegadas levadas
Lágrimas debruando beirais chorosos
Passados que nos enleiam no amanhã…
Rasgamos o hoje, atirando para à frente
Esperança trôpega de uma felicidade
Perseguida, imposta por falsos valores…

Ainda assim… perseguimos borboletas azuis
Dessas que nos habitam o estomago…
Cada vez que o amor nos toca
Pela mão da ausência trazendo a saudade
Tempo que nunca me elucidaram os gestos
Ou meus lábios tocaram…
Vogais aberta e gemidas,
Rimas estupidamente previsíveis…

O amor estupidifica-nos…
Ainda assim perseguimos sonhos
E borboletas azuis que nos habitam…

Alberto Cuddel
12/10/2017
22:50

Poema XXXIV

Poema XXXIV

Embrenhei-me pelo sono
Sonhei o ontem e o depois
Por sonhos correntes
Gestos…. Esses? Ausentes…

Somos felizes sonhando
Mesmo que acordados?

Jamais saberei…
– Ou sequer que alguém saiba…
– Onde existe a realidade
Se nos sonhos, ou numa outra verdade?

Escorrem os dias pelas paredes
As noites pingam nos beirais
Luas que cruzam céus
E sois? Esses que martirizam a pele…
Queimando os sonhos alvos de pura ceda….

– Mesmo assim, não me amedronto
Diante todos os sonhos que ainda não sonhei…

Alberto Cuddel
11/10/2017
14:50

 

 

Poema XXXIII

Poema XXXIII

Pertenço a um tempo que há-de chegar
Que está por vir, fazer ou sonhar…

Procuro entender-me amanhã
Hoje ainda é cedo, tão cedo
O sol que ainda a este não nasceu
Arde queimando o oriente
Longe, longinquamente…

Invento frases feitas e citações que nunca li
Perdidas e remisturadas na aurora ionizada da memória
Despi-me, erguendo-me nu, sequioso de palavras
Não tenho rancor de quem sabe, de quem procura
Não tenho inveja das palavras que nunca escrevi
Do sentir que nunca experimentei, dos corpos
Por quem nunca me apaixonei…

Se soubesse, invejava, se procurasse desejava
Invento quereres de nada, e opiniões sobre tudo
Sobre um amanhã que nunca vivi, nem trabalhei
Não invejo os que trabalha e lêem…
Tão pouco os que escrevem, escrevendo tudo
Num amor em que nunca dizem nada nas mãos…

Nunca desqualifiquei qualquer magistratura
Dos escreventes dos dias inventando assuntos
Ainda assim, proclamo, eu sou…
Abnegando todos os outros eu’s
Esses que inventam e nunca viveram…
Que nunca sentiram com os dedos
Os corpos que possui…
E eu? Eu que nunca possui ninguém…
– Ainda assim ouso sonhar o amor!

Alberto Cuddel
10/10/2017
06:15

Poema XXXII

Poema XXXII

Autobiografia e psicanálise de ninguém

Virgens de Jerusalém erguei-vos
O noivo chega… Canta Salomão…
Forjei-me a ferro e fogo em cavalos de pau
Ventos de mares alados esquecido no oriente
Amores de Diniz, de Pedro, de Inês, poemas…
Viajem a Paris, incestos, em tempo de Maias
Sintra, tragédias pelo teatro de São Carlos,
Leonor pela verdura, esta estrada não é segura,
Chuva que cai, leve, levemente
Poemas que chamam por mim…
Eis que “o filho do homem” é Régio…
Oh Portalegre… Onde leccionas?

Por entre nadas que tudos são, e os sonhos do mundo
Cantos negros, filhos da mãe poesia, metafisica do querer
Pedras que filosofam e poetas que são maiores que o mundo,
Orgasmos sofridos de mulher açaimada pelos homens…

Rimas decimétricas e estrofes marcadas,
Língua que desenha e tinta folhas vazias
Saudades universitárias de amores à janela
Grândolas que se alevantam, povo que ordena
Ainda assim os meninos em volta da fogueira
Cantam rimas de pobreza e outra de canela…

Sou fruto da miscelânea de tudo
Herança, torpe do nada,
Dos vivos, dos mortos, dos penantes
Dos errantes, dos que escrevem
E de todos os que calam…

Sou porque todos me fizeram
E sem eles eu? Eu seria NADA…

Alberto Cuddel
09/10/2017
15:10

Poema XXXI

Poema XXXI

Mar que me aparta a vida da morte
Cruzado por barcaças ventos de sorte
Mãos que recolhem as rosas desta vida
Pernas cansadas adiam a partida…

Rasgos e laivos de maresia
 Morrem onde me nasce a poesia…

Oh madrasta angustia que me sei
Nunca de ti soube qualquer lei,
Perdida que foi a vontade de caminhar
Ergo-me na noite antes de me deitar…

As coisas que dizem não me contentam
Nas tuas raízes que me matam por dentro…

Alberto Cuddel
09/10/2017
06:50

Poema XXX

Poema XXX

Vestem-me as palavras
Aquelas que me adormecem
Afagando a alma carente
Na simetria das noites
Em que me resvalam as estrelas…

Todas elas noites
 Todas elas manhãs
Todas elas certezas
 Que me resvalam do querer…

Adormeço,
No sonho de me manter
Acordado…
Preso no abraço que me conforta
 Alma minha que te entrego…

Alberto Cuddel
09/10/2017
1:50

Poema XXIX

Poema XXIX

Intervalei-me nos versos
Entre sonhos e desejos
Sendo eu ou metade de mim
Seja sem princípio ou fim!

Reflexões de mim próprio
Destorcidas no reflexo curvo
Sentir imaginário, escorrido na pele
Dor que transpira da alma
Letras desenhadas, na pressa da calma…

Rasgo preceitos, tabus e conceitos,
Escrevo, escrevendo sobre tudo
Neste nada que é a vida, num tempo finito
– Quem sou, o que sinto, se minto
Na verdade com que sinto, calando no silêncio
Gritos abafados na garganta
– Nunca declamados ou registados
Versos longos e curtos de palavras ocas
Lidas nos intervalos das reticências longas
Nos silêncios e tu e apenas tu compreendes…

E mesmo assim duvidas e temes
Que o teu entendimento te engane…
– Ainda que seja verdade…

Alberto Cuddel
08/10/2017
0:50

Poema XXVIII

Poema XXVIII

Escrevi o teu nome por toda a cidade,
Nas casas, nos muros, nos carros,
Na loucura de te anunciar aos céus,
Doces, ternos, loucos, pecados meus!

Gritei das torres aos ventos, pelos sinos,
Gemi sofrendo, vocábulos pequeninos,
Arrastados pelo olhar preso no luar
Passos apressados sem te encontrar!

Ardo no distante ciúme, corpo quente,
Onde mirro calado, por este amor ausente,
Arde no peito pelo crer certa vivacidade
Corro procuro-te por toda a barca cidade!

Lembrando que o amor não é doença
Mas a cura de toda nossa humanidade…

Alberto Cuddel
07/10/2017
14:15

Poema XXVII

Poema XXVII

Procuro-me nas palavras que solto,

Raramente me encontro ao espelho,

Reflexo da leitura diagonal envolto,

Poema encimado, obtuso e velho!

Triste inconstância dos dias repetidos

Tudo novo nas horas, mas tudo igual

Ainda demoras? Atraso, muito mal!

Monotonia dos corpos, ainda sofridos…

Arde-me em ciúme, a pena

– Que pena tenho eu?

Poeta sem rima, perdido na cena

De um poema que nunca será meu…

Fogem-me as palavras diferentes

As que nunca li ou senti no corpo

Fantasio mundos e leitos despidos

Corpos entregues e chorosos, solidão…

Percorrem-me nas veias, tintas e flores

Artes, fios, pinceis, telas, metais e cores…

Pinto no papel em letras redondas

Vogais abertas e consoantes hirtas

Loucas noites em que me perco

Na ilusão plena de te pertencer…
Eu não sou mais que um mero poema!

Alberto Cuddel

07/10/2017

03:25

Poema XXVI

Poema XXVI

Nasce a rosa franzina
Onde deito o pé direito
Estrada íngreme e ladina
Nada de ontem tenha feito!

Despeito que fora verdadeiro
A virtude dita, escrita e lida
Entre uma madrugada apetecida
Seja eu, para ti apenas inteiro…

(que nunca me faltem os poemas)
Sentires errantes, palavras, teoremas
Que sejam lidos, sentidos, por ti
Que sejam o que escrevi, fingi, senti…

Entrega na alma, o teu sentir
Que seja desejo
Entrega na leitura, o teu querer
Que seja beijo
Entrega na alma, o teu amor
Que seja paixão…

Onde vivo, não há mundo
Tão pouco ilusão certa
Onde moro não há distância
Tao pouco alma aberta
Onde vivo apenas paixão
Lida e sentida no coração…

Alberto Cuddel
06/11/2017
11:25

Poema do dia 20/11/2017

Poema do dia 20/11/2017

Um abrir de asas, um partir…
corre a água em direcção ao mar,
dormente ser cativo, doce mar,
olhar infinito, nuvens, tempestades,
azul, céu estrelado, tuas vontades!

Na liberdade do querer, asas e fugir,
sonho, – sonhei contigo os sonhos,
gravo em mim o tempo, nos olhos,
escuto as palavras que dançam,
ecoam, desenham, e descansam,
no ontem, que amanhã virão,
outros olhos, seres que as lerão!

Folhas soltas na corrente de charcos,
calco as folhas caídas, secas
podres adubam, vida nova,
formas curvas, amareladas
retorcido significado,
corre o rio, apressado
que o tempo esse, assim amaldiçoado
que gastei em mim,
esse acabou, está esgotado!

Alberto Cuddel
20/11/2017
13:00

Poema XXV

Poema XXV

Poesia na ponta dos dedos
Outra apenas nos sonhos
Distante em segredo, lua
Sonho, corpo de mulher, nua….

Vã poesia que me nasce
Vocábulos arrancados
Ferros quentes, fechados dentes
Versos que calo, silêncios
Vales amarelecidos pelo tempo
Estrofes de contratempos
Asquerosos ditongos negros
Presos na garganta do homem
Escritos em paginas brancas…

Queimam-me o peito palavras
-De um amor proscrito
Nunca dito, nunca contado
Apenas calado, nos sonhos
Nas artes ensaiadas no silencio
Na escuridão do quarto
Tacteando corpo num, longe do olhar…

Viagem por nundos longínquos
Quantas vezes dormindo ao meu lado…

Busco o que tenho
Procurando o que nunca tive…

Alberto Cuddel
05/10/2017
15:52

Poema XXIV

Poema XXIV

Noc, Noc,
Não venhas cedo
Porque cedo é a vida
Tens tempo fica…

Noc, Noc,
Que pressa fugida
O sol vai alto
A tarde a meio
Tens tempo, e o meu finda…

Noc, Noc,
E tudo para a meio
Sem fim, sem despedida…

Alberto Cuddel
04/10/2017
18:42

Poema XXIII

Poema XXIII

Palavras que me cortam o vento
Passos secos correm em direcções opostas
Vírgulas separaram tardes e manhãs
Lua que me expulsa os girassóis…

Rochas que se arrastam no leito
Correntes descendentes de lama
Chuvas de Agosto… onde vais?

Encantamento de rimas que desaguam
Asas trespassam os montes secos
Rosas que nunca floriram
Tulipas que nunca cheiraram teu rosto!

Saudade nunca vivida no gosto da língua
Dedos que nunca te provaram as carnes…

Escorregadia calçada dos dias,
Circulando entre sombras e buracos
Caindo a cada ausência… no pranto…

Alberto Cuddel
04/10/2017
11:30

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