Poema V

Poema V

De mãos descalças e pés nus
Sopra o vento varrendo certezas!

Crescem troncos nus espinhosos
Há calças largas sem cinto
– Percorre-me uma fome na alma
Estou cheio, repleto de dúvidas
Tenho procurado respostas onde encontro mais perguntas…

Ardem estepes ausentes e vidas que choram ausências
Neste humano amor (quem me ama, se nem mesmo eu?)

Nesta colina, que sobe, nada é certo
Cravas na parede os medos aparafusados e presos
Enjaulados gemidos presos em gargantas que se libertam…

As palmeiras morrem de pé, eu vivo entre um pé e o outro
Sem a certeza de que morri, no intervalo deste monólogo

Deixai-me, deixai-me
Deixai-me
Concedei-me um pouco do vosso silêncio
Para que eu grite…

Alberto Cuddel
25/02/2019
19:14

Poema IV

Poema IV

“o beijo da ressurreição por oposição ao nascente”

a poente espalham-se as nuvens soltas
espalhando as cores que o céu contem
aquando do parto de um nascer do dia!

há um vasto sossego no silêncio
nesses pássaros que morreram e não cantam
não há paixões na Primavera,
a morte reina no peito deste lado do Trancão…

cobardemente fico-me, como se não pudesse partir
ali, bem ali ao alcance dos dedos a felicidade
essa que aporta e desagua guiada pelo farol que ainda não sigo…

há casas brancas que olho, varandas para onde sorriu
nesse cinzento dos dias há arco-íris no teu olhar
esse que me mostras ao chagar, e eu? que não chego…

sou como alguém que procura distraidamente o que já encontrou
(como sei, como sabes que te amo? se fujo a esse cotidiano dos dias)
há uma ressurreição latente no beijo que me espera a poente,
mesmo que o dia comece quando a noite se põe….

Alberto Cuddel
24/02/2018
14:10
#osuaveaconchegodopoema

Poema III

Poema III

há uma luz que me guia
um óculo a ver o destino
uma bússola no peito
uma pena onde gravo as palavras
um pergaminho onde inscrevo a sangue
todas as promessas juradas…

sejam leves os desejos
(em ti vivo, pelo ser)
saudade que me escorre pelo corpo
luminosa seja a esperança lírica
(escuta-me, vê-me, sente-me)
que ardam as sarças em leis divinas
que se escreva em pedra o amor. que sinto
multipliquem-se os pães, que não morram os peixes…

não pesquei, não…
apenas me entreguei,
sofregamente suspiro na saudade
desse beijo que deixei por dar…

Alberto Cuddel
22/02/2019
22:25

Entrevista na rádio popular FM

https://youtu.be/_ud9dtewXS4

Poema II

Poema II

destes ecos em paredes ocas
ficam a ressoar as palavras simples
almas em timbres de vozes sussurrantes…

passos simples, ordeiramente dados rumo ao amanhã
esse que me leva a sonhar-te em mim definitivamente
sem portas ou janelas, grades que me prendam ao passado…

cai a noite em nós, cairá definitivamente
nessa certeza de a cada novo amanhecer
as nossas almas
bailarem
num beijo que desperta!

chove onde sempre nascem as flores
nas mãos vazias brotarão sorrisos
nos braços sonharemos abraços
encontrando o sol que se faz vida
no nosso peito!…

Alberto Cuddel
21/02/2019
17:16
#osuaveaconchegodopoema

Alberto Cuddel na Radio Popular FM

Estarei hoje na radio Popular FM pela 19:00 Hora de Lisboa com a Poeta Susana Pires

Links para escutar o Programa

http://www.popularfm.com/radio.html

http://www.popularfm.com/

Poema I

Poema I

Rebentam estridentes as palavras escritas
Como uma granada sem pino em percursor livre
Sem medo da condenação
Vivendo uma liberdade condicional imposta
Por regras carregadas de pudor e temor a deus

Há filosofias engalanadas de um amor supérfluo
Sem essa fisicalidade dos corpos
Que tantos chamam foder
E foder é tão sublimemente humano
Assim como fazer amor…
Mas foder é sem dúvida estar vivo…

Amo, amo como nunca amei
Pacientemente…

Nessa translúcida metáfora
que é engalanar o orgasmo poético
sentido pelo abraço literário…
Foder é a arte suprema do gemido
Onde a masturbação poética do fonema
arranca-nos aplausos da alma…

Literalmente poeta, filósofo da conjugação sexual
Lambendo rimas e métricas,
Até que no êxtase da alma nos falte o ar…

Quanta filosofia vã essa a de que o amor é…
Quando o amor se faz, também nas mãos…

Alberto Cuddel
20/02/2019
13:55
#osuaveaconchegodopoema

Calo o que penso escrevendo…

Calo o que penso escrevendo…

Nestas frases caladas que me inundam a alma, onde grito em silêncio esse amor que me explode no peito. São recados velados à alma de quem me lê, sei que me lês como ninguém, este eu poeta que paira nas nuvens desenhando futuros secretos ao comum dos mortais!…
Rasgam-se os céus que se abriram aos sonhos, nessa hora afoita em que se passeia a alma por entre gástricos desejos de uma fome que me povoa…
Seja essa fome corpo ou uma inglória filosofia de partilha a que hoje chamam o românticos e saudosistas de amor, se assim é, então amo, amo com toda a minha alma pelo simples facto de sim, de amar, e o amor não se explica, apenas faz-se, livremente sem imposições!
Amo como quem perscruta o horizonte pelo farol em dia de nevoeiro, amo como quem olha as estrelas procurando o norte, amo por ser o amor o combustível para a vida, e todos os beijos a ignição do querer…
Amo apenas por isso, porque amar é estar vivo e o seu contrário a morte!
Assim sou, pela consciência que vivo amo, e amado existo…

Alberto Cuddel
08/02/2019
21:13

Sobre Poeta Tiago Paixão

Sobre Poeta Tiago Paixão

Há quem se questione do porquê da existência do Tiago Paixão, Tiago Paixão não existe como apenas poemas eróticos, como sedução, como uma exultação do sexo, Tiago Paixão existe para despertar consciências, para se falar no seio dos casais e relações do que normalmente não se fala, e muitas vezes fica apenas subentendido e mal explicado, para falar da necessidade de sexo na relação, não fazer amor, mas sexo. Para falar do conhecimento da intimidade tao necessária à realização dos dois como casal, para estreitar laços e despertar consciências. Quem assim não o entenda não lê na íntegra os poemas lá postados. Um flagrante exemplo disso é o poema:
“Amo e desejo-te também no corpo…

Escandalizo-me nos conceitos bárbaros
Nesses preceitos distorcidos de beleza
Amo-te assim como és, não mudes por mim
Amo os teus seios descaídos que amamentaram
Neles me perco no desejo de os ter nas mãos
Nos lábios, de os ter contra o peito…
Amo-te e desejo-te assim, mesmo com estrias”

Em que é abordado o tema das mudanças da idade e do corpo, mesmo assim o desejo permanece. Ou no poema:

“Bebe de mim a poesia…

Sorve de mim o prazer de ler
Declama em teus lábios traços largos
Ditongos que rodopiam na língua
Sorve os sinónimos e adjectivos
De tudo o que “falo” e escrevo
Ensaia em mim o prazer de beber”

Em que é abordado metaforicamente o tema do sexo oral.
Ou ainda em:
“Rótulos…

Despudoradamente
Toco-me, como se me percorresses
Nos beijos, nos lábios, nos dedos
Sem vergonha da solidão que me consola
Que me consome…”

Onde é abordado o tema tabu da masturbação feminina. Ou em tantos outros temas abordados, como no envio e troca de mensagens de cariz sexual entre o casal com vista á manutenção da chama da paixão tao necessária ao relacionamento.

Ainda assim várias vezes sofro denúncias, não ponho em causa as motivações, ou o real interesse em fazê-lo, sei que depois de lerem este texto irão olhar para os poemas de uma perspectiva totalmente diferente. Apenas quero que percebam o que está por detrás desta página, que vai muito além do SEXO!

António Alberto Sousa é o autor legítimo das páginas:
Alberto Cuddel
Sírio e Pyxis de Andrade
Januário Maria
Joana Vala
Suicídio poético
Para além de outras

Muito Obrigado

António Alberto Sousa

Não fales…

Não fales…

temos adormecido demasiadas vezes sem darmos as mãos
ainda assim a lua vagueia na sua orbita
tudo é certo no que errado está
naturalmente o mundo não nos espera
nós esperamo-nos, sim esperamo-nos.

existe esta ausência de corpos dentro da distância
(talvez distância a mais, entre nas nossas janelas)
olho-te, como se te imaginasse aqui, apenas aqui diante do meu olhar…
– não fales!

olha o mundo que gira, o movimento dos lábios
esse “amo-te” repetido em silêncio
as janelas estão fechadas, castanhas, cristalinas
dormes, enquanto o verde procura as estrelas
(há nuvens no céu, mas não me incomodam)

a lua, esconde-se, torna clara esse amontoado de água
os nossos passos sonham em direcções opostas
pisando folhas, saltando canteiros, procurando abraços e beijos
a noite perde-se diante do silêncio que grita
nesse movimento frenético dos sonhos
– não fales!
sonha e deseja, como se o tempo acordasse todos os dias pela primeira vez…

Alberto Cuddel
19/02/2019
17:30

Perdi

Perdi

Perdi as folhas e os escritos, perdi o poema que escrevi à pouco, perdi a vontade de rescrever, perdi as nuvens que não chegaram e os sonhos que ainda não sonhei, perdi o sono que não encontrei e perdi a certeza de que sonhei. De entre todas as loucuras do mundo apenas a minha é sã, nesta liberdade condicional que me atribuíram sem julgamento, julgo escrever sem fundamento o que a alma vomita, porque sentir eu sinto, e viver nisso minto, não sei se vivo ou se morto, sei que eu sou, mesmo que não esteja, embriaga-me seriamente saber que me amas, ainda que eu te ame sem reciprocidade, amamo-nos, ainda sem nos somarmos, antes de nos dividirmos, na impossibilidade física de nos multiplicarmos…
Que venha o sono, ou a loucura de o dormir!

Alberto Cuddel
Neste fingimento que é escrever coisas!
08/02/2019

O calor da tarde ou o aconchego do depois

O calor da tarde ou o aconchego do depois

“Crepita por detrás o madeiro
Vinho que se faz vida
Mulher, mãe de João
Dorme, em sonhos de anjo que anuncia…”

Queima no peito a inócua vida
“Mater” santa, natural fonte
Se de amor morro, por dele sei…

Doutos e ilustres fazedores
Que rimados sejam vossos versos
Meus singelos, sejam universos
Pelo sentir da alma lida
Em tardes longas que não findam!

Loucas sejam as vãs palavras
Que de amor morram todas as questões
Em coração oradas em solicitas orações
Pelos trechos de livros que lavras…

Crepita por detrás o madeiro
Neste tempo que se faz frio
Sejam longas as tardes
Nesse corpo que ainda arrepio.

Vinho que se faz vida
Em copo partilhado nos lábios
Oremos em segredos nossos
Esta vida sempre em partida!

Mulher, mãe de João
Em ti doei minha vida
Seja pecado em meu coração
Toda vez que parto em saída!

Dorme, em sonhos de anjo que anuncia…
Que a vida se gerou no teu ventre
Que seja de fel o que ele renuncia
Para que o amor possa seguir em frente…

Queima no peito a inócua vida
“Mater” santa, natural fonte
Se de amor morro, por dele sei…

Oh tardes longas, aconchegai-me no calor do vosso seio…

Alberto Cuddel
17/02/2019
14:20

Sinto, e ao senti-lo inundou-me uma enorme esperança…

Sinto, e ao senti-lo inundou-me uma enorme esperança…

Esperar, que tenho eu à espera?
Porque faço esperar quem me espera?
Fumei um cigarro, olhei o fumo subir, à luz ampla e larga do tempo
Desse tempo literário que se imobiliza, como suspenso
– Porque suspendemos o amor, deixando em suspenso quem nos ama?
Lembro-me depreende de ontem, desse tempo em que não fiz nada
Limitei-me a estar sentando, olhando os olhares frios e vagos de quem espera
Depois vi o raiar do tempo na rua, escorrendo pela cidade
Como que afastando os carros em hora de ponta, caminhando em direcção oposta
Sinto, e ao senti-lo inundou-me uma enorme esperança…
Uma lágrima escorreu-me no rosto, senti o aconchego do poema
Abracei-o, como quem abraça uma despedida…

Vejo, vejo por detrás dos teus olhos uma lágrima
Vejo a solidão que te entrego, como quem deixa uma criança
Sentada pela primeira vez num banco da escola…

Vejo uma luz ampla, quente, uma alegria no rosto
Não amanhã, não já, mas depois…
Sinto a chegada…
Sinto, e ao senti-la inundou-me uma enorme esperança…
Essa que me faz viver, com a certeza que o depois
Ai o depois… o depois será sem dúvida melhor que o antes…

Alberto Cuddel
12/02/2019
23:18
#osuaveaconchegodopoema

Apenas vontade… (de amar)

Apenas vontade… (de amar)

Deixemo-nos de uma poética vã
Dessa volúpia da imaginação erótica
Tudo tem nome, gesto, desejo…
Sejamos vontade e prazer…

Beijemo-nos, nesses beijos de fome
Deixa que os nossos corpos se encontrem
Que se rocem, que se esfreguem ainda vestidos…
Deixa que as minhas mãos te despojem,
Que as roupas caiam no chão ou atiradas pelo ar…
Quero sentir-te os seios, não te importes com o corpo
Quero tê-los na mão, sentir os teus mamilos crescerem
Enquanto ainda a minha boca come a tua….

Que a minha mão se esgueire, que te desça pelo ventre quente
Que se aloje entre as tuas pernas, que te sinta quente, húmida, salgada…
Que te massaje, que te masturbe levemente, que te sinta…

Dispo-te, como quem descasca uma fruta madura
Sentindo já nos lábios a tua doçura
Quero-te assim, nua… completamente nua…
Quero provar-te, saborear-te o corpo
Beijar-te toda a pele, mordiscar levemente
Que sintas o calor da minha língua….
Quero permanecer ali… bem ali, quente,
Com a boca entre as tuas coxas….

Quero-te minha, plenamente minha,
Quero-te loucamente excitada
Quero-te mulher, quero o teu prazer…

Sejamos tudo o que quisermos,
Como e quando quisermos
Sejamos essa volúpia declarada
Essa luxuria do movimento…
Sejamos êxtase, gemido, orgasmo
Sejamos sexo, posse e prazer
Sejamos voz, abraço, beijo
Sejamos amor, paixão e desejo…
Sejamos tudo, o que o amor de nós fizer…

Tiago Paixão
11/02/2018
19:40

Nas escolhas convertidas…

Nas escolhas convertidas…

Recrutam-me para um exército que não sinto
Numa língua pátria que não escolhi…

I would write in English if I was born in Britain,
J’écrirais en français si j’étais né en France
Nas nasci com esta herança póstuma da poética
Numa guerra inglória entre soldados do mesmo batalhão…
Ó legado que me saiu em sorte?…
Escrever em vida por uma morte…

Converti-me nas escolhas que não fiz
Transpiração e dissertação das armas do sentir
Matamo-nos sem complemento
Neste atropelo infiel à pátria de Pessoa…

Já repararam como o antigamente é tão diferente do hoje em dia?
O antigamente é sempre baço, acastanhado, apenas apontamentos…
Rejeitamos o assim-assim, o mau, apenas a dor e o bom resiste…
À memória selectiva dum catano…

Querem-me fazer crer, que o português já não o é…
Mas alguma vez o foi?
Onde me mora Camões? Eça, Almada, Diniz, Mello, Régio,
Espanca, Andrade, Verde, Garrett, Quental ou o Nobre?
Fragmentos de uma memória, eu que tantas vezes os uso…
Apropriando-me das suas hábeis conjugações metafóricas…

Serei eu poeta, serei luso? Ou apenas uso o exército que me recrutou?
Aceitando as escolhas que me fizeram crer que fiz?

Alberto Cuddel
02/02/2019
19:00

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