E os dias? Os que não fazemos, apenas existem
Nos dias que não fazemos,
Nas saudades inventadas no corpo
Nesse afastamento temporário
Obrigatório até doer em nós o peito…
Às vezes para me entreter – porque nada mais me entretém que a proximidade de ti, ou este querer absoluto das coisas fúteis que calamos no olhar e abraçamos como se não existisse amanhã – apenas escrevo inutilidades da alma e saudades, nestas futilidades cabem todos os dejectos da sociedade, até o esquecido que dorme no vão de escada do número 3 da rua de trás… Mesmo que nestes minutos que me asfixiam na tua ausência, tenhas voado do meu pensamento, pelas artes da sinapses da memória selectiva que me condena, entre frases e versos já escritos por vários mortos antes de mim, fazes me falta, nestes dias que não fazemos e não cumprimos.
Nos dias que não fazemos,
Nas saudades inventadas no corpo
Nesse afastamento temporário
Obrigatório até doer em nós o peito…
Invento sonhos que nunca sonhei, em dias que nunca dormi, poemas que nunca escrevi, mesmo que sinta em mim que o fiz, que o quis, nesta poética macabra de pensar o nada e o tudo, o tempo que foi e o mundo, uma ausência temporária, uma outra imposta, neste tempo que avança sem retrocesso, neste novelo que desenrolamos! Passeamos pela tarde de mão dada, em jardins que nunca floriram, embalados pela brisa do fim do Verão, sem nunca lá termos estado, beijei-te, como quem beija intensamente e sem pecado, ali, diante de todos, de nós e do mundo, fomos sonho, e carne, e sentir, e desejo, fomos tudo… E os dias? Os que não fazemos, apenas existem, esperamos o depois de amanhã, ou um futuro que chegue, ou um sonho, um poema, ou apenas um acordar juntos com o sol batendo no rosto!
Nos dias que não fazemos,
Nas saudades inventadas no corpo
Nesse afastamento temporário
Obrigatório até doer em nós o peito…
Alberto Cuddel
12/11/2018
Marvila, Portugal
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