“Não”- dizer, escutar e aprender a aceitar (Parte I)

De todas as palavras o “não” é talvez a das mais importantes na nossa vida, como pessoa, como processo de formação, como na afectividade e nas relações pessoais que se estabelecem.

Primeira parte “o dizer”: Se a dificuldade em dizer “não” fosse uma questão meramente racional, já a teria resolvido. No entanto, na maior parte das situações, ela está relacionada com histórias de vida, crenças erradas ou negativas, emoções, e um processo deficiente na formação, educação na infância e vai-se sedimentando ao longo da vida.
Muitas vezes, o desejo de agradar, de ser aceite está por trás desta dificuldade. A culpa, a pena e a total responsabilização pelo bem-estar do outro, podem também estar na sua base.
Quantas vezes o nosso coração e pensamento nos dizem não, mas a boca profere a palavra contrária e nos sai um Sim? A dificuldade em dizer “não” causa frustração e o desrespeito próprio, uma vez que não respeitamos os nossos limites e as nossas vontades. Paralelamente, é como uma bola de neve, sentimos que os outros não nos respeitam, porque se aproveitam da nossa boa vontade. Criamos a fantasia de que deveriam ser os outros, a perceber, a não pedir, quando na verdade compete-nos a nós impor os limites que queremos ver respeitados.
Na realidade a vida não é assim, porque somos um ser único, independente, os riscos que corremos diante de um erro, quem arcará com as consequências somos nós, então porque aceitar sempre? Onde estão nossos valores? Nossa personalidade? Onde estão nossos conceitos e nossas decisões? Porque devemos sempre agradar? Presenciamos adultos indecisos, viciados, problemáticos que concordam com tudo, que aceitam sem questionar, sem reclamar os seus direitos porque teve a criação no SIM, ao dizer Não, estaremos aptos a dizer com clareza que eu assumo aquilo que eu faço, eu faço porque desejo e quero, porque conheço os meus limites. Na maioria das vezes, fazemos o que o outro quer.
Como pode o outro saber quais os nossos limites se nós não os damos a conhecer?

Segunda parte “O escutar”: O ser humano está sempre pré disposto a agradar, a dizer sim, a receber o sim como resposta. Temos assistido a casos sequestro, de morte, simplesmente porque o rapaz não aceitou receber um não da namorada. Dentro deste quadro, onde presenciamos muitas vezes o adulto, sem querer enfrentar uma situação, mentir ou criar estratégias para não magoar. Temos como exemplo bem comum, o caso da mãe que, quando o telefone toca e ela não deseja falar, pede ao filho para dizer que ela não está. Isso ocorre porque ela não assume a verdade, agindo assim, com certeza servirá de exemplo aos filhos. Quando o filho deseja algo e não consegue, de imediato abre um berreiro, aí vem a mãe correr e faz-lhe a vontade, não dando a conhecer o significado do Não. Saber escutar um não é educar a nossa vontade própria, sabermos impor limites a nós próprios. Isso acontece na infância, mas também nas relações entre casal, entre namorados. É de fulcral importância saber receber um não, aceitar a vontade do outro, disciplinar o nosso querer e desejo, conhecer os limites para nos adaptarmos aos requisitos e vontades também dos outros. Saber dizer está num patamar de igualdade com o saber receber.

Terceira parte “aprender a aceitar”: As mulheres, com tantas funções e tarefas, com tanto “poder” nas mãos, exactamente por tantas responsabilidades, correm um sério risco de deixar de dizer os NÃOS necessários, em todas as áreas da nossa vida, apoiadas na falta de tempo, no excesso de trabalho, no cansaço, na depressão, na carência afectiva, em muitas situações, fazem com que o SIM seja sempre a resposta mais fácil, mas que muitas vezes, traz terríveis consequências. Precisam dizer NÃO seja a quem for ou ao que for. Precisam dizer NÃO à si mesmas na compulsão por comprar, por comer, a tudo os que lhe faz mal, aos namorados, filhos, maridos, amigas, colegas etc… Os homens da mesma forma devem saber dizer não, a tudo o que os prejudica, a tudo o que lhe traz prazer apenas pessoal sem partilha. Tanto homens como mulheres devem aprender a dizer Não, e a saber aceitar um Não como resposta. Impondo limites a si próprios, conhecendo os seus limites e das pessoas com que convive. Só assim é preservada a sua individualidade e independência intelectual, podendo a sim complementarem-se afectivamente.
Muito mais há a reflectir, mas ficará para um próximo artigo.
A. Alberto Sousa
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