Dividimos o que somamos

Dividimos o que somamos

há neste banco de pedra erguido
um peso de esperança e saudade
enquanto se sozinho o tempo e o rio
esse partir cristalino de humildade
gaivota que voa baixinho, rasgo de prata…

neste sonho memória do que seria
há a divisão entre a razão e a paixão
essa palavra dividida entre a poesia e o prazer
vontade e crer, erguer e partir,
lágrima que te banha o sorriso…

rasgam-se os céus ao cerrar o olhar
nos laranjas o teu perfume, a vontade de ficar
somamos o tempo, subtraímos as noites
dividimos o desejo, e esperamos
apenas mais um, mais um beijo…
e partimos dali, para uma vida diferente
dividimos o que somamos
subtraímos a dor, e amanhã…
amanhã voltamos… eu e o sonho de ti
enquanto a memória não me atraiçoa…

onde nos perdemos?

Alberto Cuddel
25/07/2021
20:10
Alma nova, poema esquecido – XVI

100(cl) sentimentos destilados na alma!

100 (cl) sentimentos destilados na alma!

Sangue da alma escorrendo no rosto,
filhos em pranto por alimento materno
conjugação imperfeita, sonho proposto
interno sentir, sofrido manifesto externo.

Irrigado querer, antídoto, inflamada alma
lágrimas nunca choradas, dor, angústias
choro lágrimas a rir, aquando choro a calma
paixão no filho do homem, escorridas hóstias.

Lágrimas caídas, dentro, oculto lado errado
águas caídas, manso adeus meu ser infeliz
enxugadas no ermo querer erro perdoado.

-quentes, silenciosas… ardentes na dor
fonte na vida gerada, num ontem – feliz
olhos marejados de lágrimas, ainda Amor.

Alberto Cuddel®
29/11/2015

Pensei escrever-te um poema, uma carta

Pensei escrever-te um poema, uma carta

Que recordasse o dia
A chegada, a partida
Das lágrimas secas
Dos motes, das veredas
Do amor, da paixão
Dos sonhos
Que nunca
Se realizarão!

Pensei escrever-te um poema, uma carta
Que te falasse do dia, da noite
Dos desejos, do trabalho
Do calor, do soalho
Do jardim, das flores
Das que floriram no teu olhar
Da vontade inconsolável de te amar!

Pensei escrever-te um poema, uma carta
De um amor que tenha vida
De sussurros, arfados arpejos
De loucas mãos e frutados desejos
De uma noite longínqua esquecida,
De corpos suados nos abraços
Dos brados perdidos nos espaços!

Pensei escrever-te um poema, uma carta
Mas porque escrever
Se não tenho o que dizer
E tu, vontade nenhuma
Para a ler!

Alberto Cuddel®
17/06/2016

Conflito…

Conflito…

Além do tempo, vive em ti o sonho
Lágrimas que caem, no eterno conflito
Entre a realidade e o querer do desejo
Leve como as pétalas no seu perfume
Na brisa esvoaçam, no vento perdem-se
Bailam como borboletas manhã primaveril
Nos verdejantes prados de flores
Tudo muda no vento, na tempestade
Até nova calmaria, nova bonança!

Alberto Cuddel®
17/07/2016

Rosto da saudade

Rosto da saudade

eu que abandonei a saudade à sua sorte
que deixei de chorar a ressaca do corpo
envolto em teias ardilosas da vida
preso a tudo, a nada, não que não sabia…

conservam-se redes, sentado em bancos de zinco
não há pesca no canal, ou peixe a morder o anzol
embarcam num estalar de dedos, sem promessas
apenas um sorriso e sexo, ou outra coisa qualquer

há na força de amar uma esperança…
ténue, que o futuro seja amanhã
independentemente da saudade ou da força
mas que seja, que seja de verdade

há frutos a cair de maduros
não há quem os apanhe
tantos morrem de fome
por esperarem serem escolhidos
e outros cobiçando o fruto errado…

há no rosto da saudade uma esperança
uma ressaca do corpo
um silêncio por quebrar
um choro calado…

“…”
– enches mais um copo
deixas um cigarro sozinho a fumegar
ouves o tempo, passar, devagar…
o ruído do sol a nascer incomoda…

tudo é… regresso, chegada, e solta-se na ramagem a brisa
um abraço sentido, uma despedida…
e tudo está certo, porque assim tem de ser
sem mudanças, as mudanças doem…
fazem sofre, e pintas o rosto de saudade…
foges… porque na fuga vives
e ficar é morrer…

Alberto Cuddel
12/07/2020
05:21

Poética da demência assíncrona…

Quebram-me os olhos…

Quebram-me os olhos…

Como estilhaços de janela atravessada
Quebram-me a alma que olha
Pela a incúria dos que não pensam
Para além de uma porta fechada…

O amanhã é a consolidação do que aprendemos ontem
Antes que o erro se repita.

A de Alberto Sousa
15/04/2019
In: A Salinidade do Olhar

Calar-me-ia se a saudade nascesse…

Calar-me-ia se a saudade nascesse…

Sinto que não, nada existe na espontaneidade do silêncio
Tudo seria inglório, tudo seria esquecido
Gravo a ferro quente a dor entorpecida
Uma verdade escondida, que teimo em calar…
O resto? O resto é espera e angústia…

Alberto Cuddel
2.4.19
In: Dor da salinidade do olhar

Silêncio

Meu silêncio…

Inexplicável…
Uma tristeza profunda assola meu peito…
Solidão…
Pensamentos tristes, que desvanecem…
Como nuvens no ar…
De alguém que chora e jura…
Jamais tornar Amar!

Que tortura esta, que arde no meu peito com tal fulgor?
Como fui eu capaz de partilhar contigo meus credos…
Contar-te minhas alegrias…
Minhas tristezas…
Meus medos?!…
Tristeza nas grades da ilusão,
Onde meus pensamentos ponho…
E nesta prisão, vai morando meu sonho…
São fortes e densas as amarras das quais não me consigo salvar…
Vida….
Amor?…
Porque me agarras?

Por favor vem salvar-me…
Mostra-me um horizonte lindo…
Onde eu possa viver…
Deixa-me mostrar tudo o que sinto…
Deixa-me de novo nascer…
Crescer, acreditar e Viver…
Deixa-me Amar-te.

Alberto Cuddel

Março de 1992

Grito ou a dor no olhar

Grito ou a dor no olhar

Rasgam-se as palavras na partida
Nesse medo desesperado de solidão
Não é amor, ou posse, ou medo
Mas esse eco de silencio na alma
Esse vazio de sonhos, um amanhã sem futuro
Um olhar vago e sem brilho…

E foi…
Sem um beijo de despedida
Sem um até amanha minha vida…
E foi…

Pelo medo de uma outra vida
E eu, e a minha?
Quem era eu?
Se não ninguém
Na sua triste vida…

Alberto Cuddel

Sem palavras

Sem palavras

Tenho rasgado sonhos e versos de amor
Plantado lágrimas no teu sorriso
Cantado ledas certezas que não se cumprem…

Tenho caído no logro de não fazer
Nesse medo que me amarra
Nesse amor abrangente que abdico
Na imobilidade dos pés, caminho que não faço…

Sem palavras…
Sem gestos…
Sem o sorriso
Sem as lágrimas
Tenho ficado
Apenas isso
Ficado parado…

Alberto Cuddel

Numerosas eram…

Numerosas eram…

as areias do deserto
os filhos de Abraão
(os filhos dos deuses)
as gotas da chuva que caem…

palavras arremessadas
distorcida e amarrotadas
insultos-balão, de ar-água
verdades caladas e mentira ditas…

numerosas eram
as mãos que te ergueram
os nomes que se esqueceram
as lições aprendidas
e as graças que ficaram por louvar…

numerosos eram…
os beijos, que nunca foram dados
os abraços apertados
e os passos que me levam…

Alberto Cuddel

Sentei-me amanhã chorando o ontem

Sentei-me amanhã chorando o ontem

Nesse passado que nunca aconteceu
Futuro que nunca nasceu e cresceu
Choro calado lágrimas frias
Rosto gasto enterrado nas mãos
Enquanto na minha alma ainda morrias!…

Ó padrasto auguro das esperanças
Ó arvores partidas pelo meio
E veio a geada e o vento, o sol espreita
Nuvens cinzentas cruzam os rios
Há corações de pedra, sorrisos…
Vidas ceifadas pelo ego do homem
Numa felicidade enganadora que professo…

Sentei-me olhei distante o amanhã
Chorei a esperança sangrando
Joelhos e ferida, pés descalços
Cobertores húmidos e rasgados
Jornais com notícias atrasadas
Voam, voam, sem destino
Já sem esperança no olhar…

Sentei-me amanhã chorando o ontem
Antes que o hoje me arreganhe o peito
Antes que de desnude a alma
Que na transparência me abraces
Olhando o íntimo do teu medo!

Alberto Cuddel
23/10/2018
Marvila. Portugal

Lágrimas de sangue

Lágrimas de sangue

Rubras pétalas derramadas no sangue,
Amor mal cuidado, quase perdido,
Delírios de homem coração infame,
Orgulho ferido em solidão sentido,
Erro vergonhosamente assumido,
Corre uma lágrima sob meu rosto,
Espinho cravado coração colocado,
Sangrando atroz no meu sofrimento,
Homem que chora agora renascido,
Perdoado que fora arrependido,
Do sul e do norte renascido da sorte,
Nascido do ventre das garras da morte,
Ser sublime mulher de humilde razão,
Deusa do mundo virtuoso ser,
Lágrimas vertidas no simples perdão,
Cravadas a ferro na fénix nascida,
Falha perdoada mas nunca esquecida!
Nascidos de novo na rosa da vida,
Perfumadas noites no novo amar,
Não há ter nem ser, apenas o dar!

Alberto Cuddel

Poema do dia 10/10/2018

Poema do dia 10/10/2018

Deixei que as lágrimas te banhassem o rosto
Que me contasses o amanhã
Que me mostrasses os medos, todas as saudades
E a perda ali diante dos olhos…

Na incúria dos céus, revelei-me incerto, sem um “nós” firme, numa vida sem sonhos em dia cinzento, há palavras e medos, há vozes estranhas que procuram segredos, ideias que fervilham distantes sem um abraço, corpos em abstinência, sem um conforto, ali diante de um “nós” que nunca foi e pode ser tudo, dois caminhos, um amor sem ontem, suspenso no nada. Apagam-se os pés e o caminho que ainda não existiu, há marés, e luares que adormecem, a loba uiva e chora sob o medo da solidão, o homem definha, com o futuro na mão…

Deixaram que vivo fosse o amor e o poema
Nas mãos que seguram a caneta
Jurou abraçar-te, num conforto distante
Naquela voz tremula que o anuncia
Calou-se nesse silêncio a dor
Na esperança de um sorriso, um beijo
Na esperança de o corpo fosse poesia,
E a noite se fizesse dia por magia!

Deixei que as lágrimas te banhassem o rosto
Que me contasses o amanhã
Que me mostrasses os medos, todas as saudades
E a perda ali diante dos olhos…
Que secaram e sorriram,
Num beijo trémulo de reencontro…

Alberto Cuddel
10/10/2018
Castanheira do Ribatejo, Portugal

Lágrimas

Lágrimas

Quão numerosas foram elas
Que por ti já derramei,
Numerosas como as estrelas
A ti mulher que sempre amei!

Derramadas por desespero, ou saudade,
Derramadas de coração aberto
Derramadas sem qualquer causalidade,
Lágrimas de sangue,
Quantas? Não sei ao certo…

Ela que pela face me escorrem,
E dão brilho ao meu olhar,
Que sob os olhos escondo,
Quando choro ao te lembrar!

São meras recordações do passado,
Os sonhos para um futuro,
Um coração dilacerado,
Pelo sentimento mais puro!

Lágrimas, essas meras gotas de água,
Carregadas de sais minerais,
Que me aliviam o sentimento,
E me fazem a limpeza dos canais!

Alberto Cuddel
Poetas d’ Hoje Volume II – Grupo de Poesia da Beira Rio – 2015- DL 381645/14

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