Olha comigo o sol que se deita

Olha comigo o sol que se deita

dêmos as mãos,
olhemos o tempo que nos resta
esse que pára no abraço
esse que se faz dia no cansaço
esperemos juntos o tempo que falta…

beijemo-nos na boca
na língua e na palavra
como sempre nos beijamos
que nos abrace o sol
que nos envolva a noite
dêmos as mãos…

olha comigo o sol que se deita
marquemos encontro aqui
por acaso, mas aqui
aqui onde estou, onde estás
e dêmos as mãos
abracemos o amor que nos resta
no tempo que nos falta…

olha comigo o sol que se deita
e comigo espera que ele se erga
todos os dias, contigo, comigo
aqui onde estou, onde estás
e dêmos as mãos…

Alberto Cuddel
19/01/2020
06:05
In: Nova poesia de um poeta velho

Um vaso quebrado cheio de tudo

Um vaso quebrado cheio de tudo

a minha alma partiu-se como um vaso vazio
tão cheia de vida, uma palavra fora de tempo
um desastre anunciado, amaldiçoado humano!

barulho na queda estilhaços de versos
lanças arremessadas com selo de morte
maldito ego destrutivo, inveja do que não é…

Olham os cacos absurdamente conscientes,
Mas conscientes de si-mesmos,
não conscientes deles, da sua pequenez…

era um vaso cheio, de bondade, de alegria
hoje quebrado, apenas angústia, raiva e pouca vida…

Alberto Cuddel
23/08/2020
17:24
Poética da demência assíncrona…

Tempo

Tempo,

Nos segundos que passam
Conto minutos e horas da rua
Conto saudades verdades tuas
Conto nuvens e almas singelas

No tempo em que não durmo
Fito o tecto, e o nada
E penso, penso que me lembre 
Que o nada, pensado fora
Por outra jornada! 

Na solidão de um abraço 
Aperto o peito
Que tristemente chora
Ausência do teu recado!…

Alberto Cuddel 
30/08/2016
In: Palavras que circulam – IX

Entrevista 30/08/200 Adriana da In-finita

Hoje respondi a 10 perguntas da Adriana da In-finita, uma excelente entrevista!

Link para a entrevista

Espero

Espero

Apenas espero o momento
O certo, o errado, que estejas
Que sejas, que te entregues
Plenamente aos desejos
Assim te espero…
Completamente despido
De pudores, de segredos
Apenas eu e tu…
O mundo esse gira apenas lá fora!

Tiago Paixão

Idade da Inocência

Idade da inocência

há em mim uma criança inoportuna;
impaciência da alma, palavras fotográficas
um desassossego sempre crescente
tão diferente e sempre igual.

sempre meditei no concreto além absurdo
onde a realidade substancial é uma série gestos
de sentires fingidos dentro da realidade do querer
não é por bondade que isto acontece,
mas sim porque se torna ridícula
a verdade existencial do prazer…

no regresso às coisas nulas em que viajo
há em mim a inocência infantil da vaidade
desse abraço dado e entregue
como um beijo roubado à sombra de um cipreste
pintando sonhos de mão dada com as poucas nuvens
brancas cor de algodão que nos erguem o olhar…

baixo os olhos de protesto pesado
pelo ledo engano do tempo passado
numa face que me é própria,
talvez fosse mulher
talvez sereia se tivesse aprendido a cantar.

Alberto Cuddel
22/08/2020
16:28
Poética da demência assíncrona…

Quantos dias tem, sem anos?

Quantos dias tem, sem anos?

e as noites em que adormecemos sob o céu do norte
rasgam-se os véus da neblina
serras trespassadas pelos vales
e esse tempo tão nosso chamado saudade…

quantos dias, terão sem anos
esse tempo sem memória
guerras em tempos de paz
lutas corpo a corpo
florestas despidas de verde
corpos nus cinzentos e negros
segregados de uma sociedade una e indefinida…

toda opinião é uma tese,
e o mundo, à falta de verdades,
está cheio de opiniões,
e o tempo não importa
apenas as inverdades do ego…
e convenço-me que “comi”,
sendo que apenas adormeci
“ era tão bom, não foi?”
nem sempre se conciliam as duas.
nem sempre assim era na realização
umas certezas, outras desejo
outras ainda imaginação de macho
e fazem-se teorias de esquina
e sempre assim deveria ser….

quantos dias tem, sem anos?
filosofias, teorias de ti…
e dizem e falam,
cochicham baixinho
não era aquele que foi
sem nunca o ter sido
jura ser verdade?

e adormecem sob o luar prata dos céus do sul
antes que amanheça em nós a verdade…
as palavras assassinam a alma, sem tempo para verdade…

Alberto Cuddel
21/08/2020
19:30
Poética da demência assíncrona…

Testamento

Testamento

parede cheia de livros
estante vazia
as palavras gemiam
ninguém as lia…

rasgado o papel, paredes arranhadas
portas fechadas, janelas abertas
nuvens inquietas, e cartas cheias de sonhos.

(…)
no leito os lençóis de menina
com almofadas de menina
colcha de menina
bonecas de menina
o pijama? não existe
apenas a lingerie de mulher,
na consciência de que o diabo já lhe habita o corpo,
para gloria e descoberta do seu prazer…

depois de tudo testamental herança
(de Eva a consciência, de que o homem é mero servo a um propósito maior…)

assim é por herança recebido o poder divino de ser mulher!

Alberto Cuddel
20/08/2020
15:53

Poética da demência assíncrona…

Entre o Sono e o Acordar

Entre um sono e o acordar

A sedução do dia
Cansaço da noite
Paixões do corpo
Desejos da alma
Vida tão aqui ao lado
Segues desamparado
O rumo incerto da horas
Contando minutos para o despertar…

Alberto Cuddel
In: Palavras que circulam – XI
12/09/2016

Reencontro

Reencontro

às vezes, emigro sem destino
nesta floresta negra
onde o êxodo da alma me consome…
este mar da memória e de meu exílio.

às vezes eu volto para o inicial mundo
esse confuso desejo de existência
do qual decidi desaparecer.

às vezes ainda choro por causa da raiva e das tempestades,
choro da confusa criança que me pede colo por dentro
choro com o sangue de velhas feridas
que brotam
em alguma noite de carência e frio de carícias.

e sem destino encontro-me da solidão que os troncos me oferecem,
entre os musgos e o húmus…
como semente que brota as primeiras chuvas…

Alberto Cuddel
16/08/2020
18:23

Poética da demência assíncrona…

Por entre os dedos Amor…

Por entre os dedos Amor…

No espaço, longo ou breve traço,
Decalcado, livre ou carregado no regaço,
Desenho-te, vezes sem conta nas nuvens que passam
Sob o alto da minha testa, fervilhante imaginação
Dispo-te no azul celeste,
Orquestra de andorinhas em movimento,
Perco o tino, juízo, sonho acordado,
Vivo memória, ontem, hoje passado
Amanhã, hoje ainda, sei-me por ti desejado,
Corro apresado, nas minha dúvidas
Os raios da aurora, desvirginam madrugadas,
No calor do desejo, escolho-te, entre muitas, entre todas
Na certeza que me acerca, desmente e concreta
Meus lábios sangram, gretados pela sede que os condena
Essa sede que me mata, que tanto me eleva
Sede dos teus beijos, do licor dos teus desejos
No palco da felicidade, sonho-te no reflexo
Das mãos que seguram a água,
Que volátil, como o sonho, o Amor,
Constantemente me escorrem por entre os dedos
Esperando que os teus dedos, as tuas mãos
Os firmem, a cada dia de novo!

Alberto Cuddel®

07/08/2016

O tempo da conversa…

O tempo da conversa…
há nessa lareira acesa o peso da nostalgia
conversas de ecos do tempo que foi
– morde-me a memória os tornozelos
o cheiro dos restos da poda ainda húmidos
o fumo branco… e palavras desfiadas
a voz doce, e doce a sopa de castanhas…

(…)
desce a neblina na serra, há cartas ainda não escritas
e foi o tempo em que era, hoje apenas lembrança…

desfilam novas palavras no horizonte,
escadas e escaleiras, presas por um cambito
um equilíbrio ténue, ali diante do que lembro…

(…)
cachos que se secos pendem do tecto
e o fumeiro que pinga…
e a conversa vai, a conversa vem
anuncia-se mais uma neta,
um sorriso, uma esperança de nova vida…

(…)
e pôs-se o sol antes de recordar
acordou menina…
apalpando a vida reconheceu pelos dedos a pele mimosa
do acreditar nesta fé que é esperança
inunda a paz o seu corpo…

o futuro é o que foi,
edificado na memória do ontem
e tudo é certo
e nada se repete
apenas eterno enquanto lembrado…
Alberto Cuddel
14/08/2020
16:48

Poética da demência assíncrona…

Poesia na gaveta

Poesia na gaveta

Poemas guardados
São nados mortos poéticos
São versos abandonados
Sentimentos secos, esqueléticos

Poesia é vida, livre, sentida
Poesia é emoção, quando lida
Escondida, é apenas desabafo
Sem voz, um sussurro, um bafo!

Poesia de gaveta, é um eu escondido
Um sentir ausente assim reprimido,
Palavras ocultas da luz, não são escritas
Desenhadas, pensadas, circunscritas!

Permite-me ser poeta, sentindo
Lendo, sentindo o teu viver
Permite-me conhecer-te coexistindo
Na tua sensitiva forma de ver!

Deixa que as palavras voem
Que o pó de dissipe,
Que os versos vivam…

Alberto Cuddel®
In: tudo o que ainda não escrevi 66

Viagem pelo pensamento bígamo da consciência…

Viagem pelo pensamento bígamo da consciência…

eu procurei primeiro o pensamento,
li, reli, apreciei a textura das letras
eu quis, depois, a imortalidade…
esse tempo sem tempo onde nada se esquece…

um como o outro só deram ao meu ser
a sombra fria dos seus vultos negros
como se o caixão que envolve as folhas
forre amarado pela tinta das letras
encimado por laços de vírgulas…

na noite eterna longe dos meus braços…
eu procurei depois o amor e a vida
para ver se ali, diante dos abraços prometidos
esqueceria a dor deste social afastamento animal…

do pensamento e da ciência firme
da certeza da morte, essa eternidade do esquecimento
nova salvação na promessa da alma, o amor.
mas o amor, esse sentir de quem guardou a alma inteira,
e não podia haver amor para mim, eu já o consumia ávido…

depois na acção cega e violenta, onde eu
afogasse de vez toda a consciência
da vida, quis lançar meu frio ser em mares visigodos
nessa herança régia de quem luta pela independência da sobrevivência
sem amarras declaradas a ideias formatadas,
nesse tudo que sou e do seu oposto…
mora em mim um bígamo pensamento
entre o prazer e a dor de me dar
entre a saudade e a vontade de debitar
palavras e letras
versos e estrofes,
poemas e textos onde pairam as nuvens
espreitando o sol por de trás do luar…
ergam-se as lendas celtas das ruínas dos mouros castelos…
que meus versos sejam quadros dependurados numa floresta cinzenta
árvores de betão que ontem arderam
lidas por mascarados sem rosto com medo da morte…

Alberto Cuddel
13/08/2020
17:17

Poética da demência assíncrona…

Novo Olhar

Novo Olhar

Quebrou-se em nós o vaso da virgindade
Nascem novas cores na arte do mundo
A vida em nós brotou, nascemos de novo!

Alberto Cuddel®
11/09/2016
In: Palavras que circulam – XV

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