Na fútil margem do desejo

Na fútil margem do desejo

Amo-te
Não como se ama apenas
Amo-te em ti
Em mim,
Quero-te
Como o rio procura o mar,
Sonho imiscuir-me em ti
Na tua feminina salinidade,
Anseio raiar do sol,
Preencher-te no calor dos corpos,
Sou, existo no querer,
Não nas articulações literárias,
Mas no gemido do prazer
Na certa força, que é em nós
Movimento de vida,
Prazer e porta de saída,
Na liberdade de te amar,
Fundindo, aromas de rosas,
Entre odores almiscarados
Corpos em abandono, extenuados!

Alberto Cuddel®
04/05/2016

Verdes anos,

Verdes anos,

Corres colina abaixo
Sob um doce teto de algodão,
És pureza, subtileza juvenil
És flor, que perfuma o meu jardim!
No olhar,
Doce malicia de mulher,
Felina, matreira, segura,
Arrebatas em ti,
Corpo doce mel,
O vigor, o desejo,
Rebolando, na erva macia,
Onde deste em mim,
Origem à vida!

Alberto Cuddel
05/05/2016

Madrugada capitular

Madrugada capitular

Sentia por antecipação
A madrugada despida
Orgulho caído do luar
Desvirginada manhã
Raio alucinadamente
Apaziguador do teu ser!

Fazes-me crer pela tua igreja,
Que te apresenta assim nua,
Despida nas doces preces,
Que ilusoriamente recrias,
Personagem descrente de ti!

Ai, madrugada oculta,
Que na luz revela-te,
Triste, dormente e fingida,
Louca e melancólica,
Vivendo apenas nos sonhos
Tresloucados amores da noite!

Alberto Cuddel®
30/03/2016

Cálice de Fel

Cálice de Fel

Não me reconheço nos teus sonhos
Asas da noite que o mar engole,
-como te atreves a sonhar-me?
Gota do nada, silêncio que te falava
Tentações vibrantes da sede incólume
Já mais, escorregarei na “Ínsula divina”
Cálice, me atentas, contra divino amor!

Vai-te de mim, má sorte, regente da noite,
Ladeias melosamente o quintal adormecido,
Dormindo, luar que me mantem enfeitiçado,
Doce perfume, gerbérias desfolhadas…
-Nada podes, absolutamente nada,
Sou entregue, livremente…

Levanta-te Afrodite, condena-me,
Antes entregue aos leões do coliseu,
Que aos prazeres enganosos da tua carne,
Vai-te de mim, sob deusa do Amor,
Nada me aprazes nesta triste saudade!

Alberto Cuddel®
30/03/2016

Soneto da madrugada!

Soneto da madrugada!

Colinas noturnas da melancolia,
Vagueiam saudosamente sós,
Arrancam do peito a homilia,
Rasantes pensamentos, coesos!

Ah, poder anunciado do ósculo,
Promessa perdida, escrita no ar,
Vontade de a ti, juntar no cenáculo,
Delirantemente, tua pele borboletar!

Do cansaço delirante candura,
Acto heróico delicada bravura,
Queda, louco seria cansado,

Dor coloreada da triste madrugada,
Arte infeliz, saudade assim sonhada
Dormente, sequiosamente amado!

Alberto Cuddel®
30/03/2016

Morte do dia,

Morte do dia,

Assim vão desfilando os minutos,
Num velório anunciado, morreu,
Mais um dia nasceu, cresceu,
E se finou, assim sem anuncio,
Sem honra de abertura de jornal,
São assaltos, assassinatos, roubos,
Impostos, corrupção, mas e o dia afinal?
Nada, nem um rodapé, assim esquecido,
Mas que dia incompreendido este,
Que morte tão desolada,
Morreu, não é lembrada,
Apenas a noite, essa sim acarinhada,
Apenas a criançada um pouco contrariada,
Por chegar a hora da cama, não acha piada!

Mas também a noite nascida,
Com tudo onde está prometida,
Irá crescer, cobrir com seu manto,
O amante mais incauto,
Cumprir promessas feitas,
Trazer lágrimas às desfeitas,
E aos primeiros raios,
Também ela morrerá,
Não já, não hoje, mas amanhã!

Alberto Cuddel
16/05/2016

Tentações

Tentações

Sussurros perdidos,
Destinos desmanchados
Noite vaga, eu vago,
Solto amedrontado,
Floresta de aves mortas
Sem chave, fechadas portas,
Obscuro peso da verdade
Caio por terra, sinceridade!

Ruas curvas, olhares dizentes
Sorrisos amarelos, doentes
Sedução, com tudo o que vem
Que vai, tudo teve, nada tem!

Sai-me ao caminho,
Segredo, segredinho,
-Vai-te, bem sabes
Não caminho sozinho…

Soleiras gastas,
Conversas fiadas,
Desfiladas, aguçadas
Testadas, nefastas…
-vai-te não me adules
Cuida do lar, dos bules…
Vai-te de mim…
Eu, sou assim…

Na solidão do caminho,
Mesmo a passo, não faço,
Nunca em mim viajo sozinho
Levo no peito, no regaço,
O que escolhi com carinho!

Alberto Cuddel®
16/05/2016

Poema a uma mãe…

Poema a uma mãe…

Havia um porto
Tosto
Onde antes me atracava

Medo do mundo
Queda
No teu abraço me aninhava

Regaço por tantos chorado
Perda
Vida às vezes esquecida

O sol põe-se sem que o espere
Com tudo abraçar, a viver
Um Amo-te que ficou por dizer!
( mãe apenas tu…)

Alberto Cuddel®

Encontremo-nos…

Encontremo-nos…

Num qualquer sítio
Longe, perto, ao luar
Em qualquer lugar,
Num qualquer jardim,
Numa tarde sem fim
Sob abóbada celeste
A norte, sul ou leste!

Encontremo-nos
Matemos a fome
Que nos consome
Juntemo-nos…
Hoje, amanhã
Ou até depois
Fiquemos assim
Apenas os dois!

Alberto Cuddel
16/05/2016

Juramento…

Juramento…
No tempo do nada,
Vi sem que te olhasse,
No tempo do tudo,
Vi sem que me apaixonasse,
Ganhei o teu tempo,
Sem que me amasse!

Depositei-me no amago da tua alma,
Entreguei-me, completo assim vivalma,
Osculei sorvendo o mel dos teus lábios,
Perscrutei o universo, li os alfarrábios,
Descobri amar em mim um outro eu,
Em mim encontrei um tu apenas meu!

Recolhi-me em mim, castrei-me, esperei,
Fiz-me em ti, sentido do celibato dado,
Nas juras gravadas, dadas, todo entreguei,
Selado, no ser, no coração, consumado!

Fielmente imune, ninfas e musas,
Rondam, revolvem as águas, naufrago?
Jamais, me deleitarei, sedutoras Nereidas,
Sedutoras irmãs de Tétis, não antes surdo,
Fechados que foram os olhos, antes mudo!

Elevo-me no sopro do sono, -olho-te
Recordando apenas em mim,
A parte de ti que em mim carrego!

Alberto Cuddel®
17/05/2016

Poema pequeno

Poema pequeno

Um poema pequeno
Como as coisas pequenas
Pode conter coisas grandes
Ou metade
E acrescentar
Ou dividir
E somar!

Num poema pequeno
De palavras pequenas
Pode caber o mundo
Um ano ou um segundo
O já ou a eternidade
Ou a perda e a saudade!

Num poema pequeno
Cabem os pequenos poemas
Todas as palavras e temas
Puritano, um tudo obsceno,
Nele pequeno explanar
Cabe o mundano
O corriqueiro
O prazer
O insano
O ligeiro
Ou o saber!

Num poema pequeno
Sem muito dizer,
Dizemos tudo
Sem nada nele escrever!

No meu poema pequeno
Não quero dizer muito,
Apenas que o amor é pleno!

Alberto Cuddel®
17/05/2016

Somatório

Somatório

Somamos desejos, sonhos, anseios
Depositamos esperanças devaneios
Entregamos o que não fomos
Damos tudo o que ainda somos

Projetamos,
Idealizamos
Realizamos
Sonhamos
Concretizamos
Amamos

Individualmente
Apenas tu
Não copia
Não espelho
Apenas tu
Único e genuíno
Carregamos-te
Não de carga supérflua
Não de bugigangas
Mas de ferramentas
De pensamentos
De perseverança
De respeito
De amor

Para que olhes o horizonte
Com o teu próprio olhar!

Obrigado filho!

Alberto Cuddel

Poema

Poema

Jamais escreverei
todos os poemas que sonhei,
Jamais sonharei
todos os poemas que escrevo,
Apenas escrevo e sonho…
Apenas sonho e escrevo…
Apenas sinto o que escrevo…
Apenas escrevo o que sinto…
Mas hoje?
As nuvens vão altas
A pena está seca…
E o mar longínquo não me escuta…

Alberto Cuddel®

Poema sem tempo…

Poema sem tempo…

Nos tempos em que me encontro
Perco-me nas rochas esbatidas pela maresia,
-ouço o mar, distante de mim, de ti
Dias infinitos nos grãos de areia sob o andar
Nuvens de algodão transportam sonhos
Sorrisos e juras de jovens risonhos
Silencio do olhar, jovial certeza –(a)mar!
Caminhos, paredes esbatidas, solidão
Horizonte onde correm lágrimas, -Saudade
-tive-te aqui, mas partiste
Há verdade que se escondem nos papéis
Nas folhas soltas que esvoaçam ao vento
Tempos passados e esquecidos na memória
-queimam-se as ideias e sonhos
Corro por ruas estreitas, procurando janelas
Portas, vidas por detrás delas – procuro-te
Jardins onde ontem fui feliz em nós, quis-me
-jura-me, ainda voltas no meu tempo
Certa certeza de que o tempo não se esgota
Que é eterno ainda num novo nascer do sol!

Alberto Cuddel
10 de abril de 2016

Golpe de teatro…

Golpe de teatro…

Aperaltado, sua domingueira farpela
Seguem adiante, convicta personagem
Tragedia grega, rabula ensaiada nela
Filantropos de bolso, sim, libertinagem!

Lavam o olhar nas redondezas das saias,
Ensaiam lavrado palavreado cinzento
Cortejam, teatralmente damas saídas
Olhar solitário oculto, ávido, sedento!

Farsa rebuscada, teatral e elaborada,
Tudo é farsa, tudo é bloch, tudo é brilho,
Ensaios farsantes, já tudo, depois nada!

Desfilam, escondidos nos papeis, sopros,
Engano contido, amor, falso trocadilho,
À porta espera-te a vida, e todos os outros!

Alberto Cuddel®
22/05/2016

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