A vida tal como ela é…

A vida tal como ela é…

há nessa paixão de viver uma admiração pelos pássaros
esses que em liberdade se recolhem da chuva sob os ramos das arvores…
porque não voam com as penas molhadas…

mas o homem não…
arrisca a vida e a liberdade pela inconsciência do viver agora
sem o medo da chuva… e morre…

será a valia do eu quiçá mais importante
que toda a liberdade que questione o valor do nós?
a vida tal como ela é…
uma mera questão filosófica do egoísmo…

a minha deixou de valer
nada vale além das indefensáveis palavras
que teimosamente rabisco no tempo
porque opiniões, cada um tem a sua…
e o nós encolhe a cada minuto…

Alberto Cuddel
20/01/2021 15:55
In: Entre o escárnio e o bem dizer,
Venha deus e escolha XV

Vestes que despes contra a parede do tempo…

Vestes que despes contra a parede do tempo…

nas paredes amarelecidas pelo tempo
as vestes que despes de uma alma nua
estendes marcos aos olhares do mundo
condenam-te as vistas que passam
pelas molas podres e o gasto da roupa…

corres pela rua acima, em portas e janelas fechadas
rotos que espreitam por detrás das cortinas
gente com medo da rua, com medo da vida
e estendes ao mundo as línguas de trapos
a bocas imundas de palavras porcas…

estendes ao sol
as vestes que despes contra a parede do tempo
em alma lavada corada ao tempo…
e esperas… que o tempo te seque…
calcorreando o empedrado da rua…
aprisionado entre paredes gastas…

Alberto Cuddel
21/01/2021 15:10
In: Entre o escárnio e o bem dizer,
Venha deus e escolha XVI

Olhei o céu e vi um poema meu…

Olhei o céu e vi um poema meu…

olhei o céu e vi um poema meu…
escrito nos olhos e declamados nos gestos…
outras vezes encontro trechos que me não lembro de ter escrito

  • o que é pouco para me espantar,
  • mas que nem me lembro de poder ter escrito
    o que me horroriza, que me amedronta, não me lembrar de mim mesmo…

versos certos de outra mentalidade.
é como se encontrasse um retracto amarelecido,
sem dúvida meu, com uma estatura diferente,
com umas feições incógnitas, e frias
– mas indiscutivelmente meu, pavorosamente eu, mais novo e escuro…

mas vi-me ali, nas libras desenhadas no ar…
sem som, numa dança perfeita, como um ponteado de braille…
bem sei que somos muitos, que somos todos os nossos eus que fomos
e todos os outros que esquecemos e perdemos de nós…
mas o não me lembrar das palavras amedronta-me…

olhei o céu e vi, um poema meu… azul, verde, cinzento…
um poema quente e redondo por dentro..

António Alberto Teixeira de Sousa
18/06//2023
In: Poemas de nada que se perdem na calçada

Rasga-me a saudade no reflexo ti

Rasga-me a saudade no reflexo ti

Quero que me tenhas, que me possuas
Que fique em ti gravado na eternidade o meu perfume
Quero o meu sabor nos teus lábios,
O meu suor no teu corpo, quero-me em ti…

Que no teu peito me sintas, como teu
Aprisionado na alma, no coração
Apenas como teu, não fruto proibido de uma noite
Mas uma verdade absoluta do sentir
Uma noite de amor, eterna, sem dormir…

Que o sol desvirgine a madrugada
Que rasgue os lençóis negros da noite
Mas é em ti que permaneço
Mesmo depois de partir, depois do beijo
De todos os orgasmos prometidos e entregues
É em ti que permaneço,
Em ti que em teu peito me guardas,
Em ti que meu perfume consomes
Que te abraças à almofada fria e triste…

Rasga-me a saudade no reflexo ti
Até que regresse numa qualquer noite
Sem que me esperes…
Para que te conforte
No meu abraço…

Tiago Paixão
03:34 28/12/2020
a fúria da saudade

Nesses beijos prometidos, que ficaram por dar…

Nesses beijos prometidos, que ficaram por dar…
(Ou a saudade do que poderia ter sido sem ser…)

e foram dois… um quase roubo cometido aos teus lábios…
o calor da tua face, as mãos tremulas do abraço
esse desejo dos corpos à média luz
com os olhos do mundo sob nós…
como te queria, como te quero…

ali…
mesmo ali onde os nossos corpos pela primeira vez se tocaram
em que a nossa pele tremeu com o odor dos nossos corpos
onde o nosso olhar tantas vezes fez amor
desejei-te, desejo-te…

quis abraçar-te eternamente e fugirmos dali…
naquele canto escuro onde bailaram todas as emoções
onde sonhamos fazer amor, bem ali, no sofá
que se lixasse o mundo e as gentes
queríamo-nos, queremo-nos…

hoje afastam-nos as doenças do mundo
e os olhares condenatórios dos homens…
mas amanhã, amanhã não…

Tiago Paixão
16:22 06/01/2021
a fúria da saudade

Saudades ininterruptas de um amanhã,

Saudades ininterruptas de um amanhã,

talvez habite em mim esse mosto que fermenta
esse querer do que ainda não é e se realiza
essa fantasia de viajar por mares nunca d´antes navegados
essa vontade de querer estratosférico [viagem espacial]

há frutas espalhadas e roupas, e cheiros e água no chão…
há coisas e silêncios e gemidos de ontem…
há fome saciada e sede que não acaba…

há sol que se deita e tudo o que nos espanta

o movimento não pára, nada abranda, nada fica…
e vem o depois e a saudade antes de ser, e essa sede e fome de viver…

nas saudades ininterruptas de um amanhã, somos vida…

António Alberto Teixeira de Sousa
24/04//2023
In: Poemas de nada que se perdem na calçada

Saudades ininterruptas de um amanhã,
talvez habite em mim esse mosto que fermenta
esse querer do que ainda não é e se realiza
essa fantasia de viajar por mares nunca d´antes navegados
essa vontade de querer estratosférico [viagem espacial]
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