Alma rasgada pelos espinhos da vida

Alma rasgada pelos espinhos da vida

cravei a fogo em lapide inclusa
rip aqui jaz um poeta sem versos…

esperei como quem espera o tempo que basta
como se o amanhã fosse agora e já não houvesse segredos
as árvores agitavam-se adivinhando o futuro
e partiam as andorinhas… as cegonhas, ai as cegonhas
e as garças e os patos… todos partiam…
e eu? e tu… ficamos ali, indiferentes ao passado que mudou
a um presente que não existe, a um futuro perdido…

e calaram-se os versos…
teceram uma coroa com os silêncios
e coroaram-no de espinhos…
as palavras trespassavam-lhe a carne
as metáforas, queimavam-lhe a pele
e as ironias e hipérboles secavam-lhe a garganta…
pelas três da tarde, chegaram-lhe à boca um poema,
a custo declamou um verso e expirou…

a biblioteca adormeceu, rasgada ao meio
entre a dor da perda, e a certeza de viver nela tudo o que sobra…
a palavra ressuscitou o poeta…

Alberto Cuddel
11/06/2021
03:00
Alma nova, poema esquecido – III

Soletro

Soletro

soletro soluços por entre lágrimas,
– olho o mar, e a ausência deixada
jamais pesquei saudades,
ou homens com verdades
inscritas a ferro e fogo no peito,
sem medos, pudores, afeições,
tudo pela vontade e desse jeito,
(nunca ao primeiro olhar paixões)
gravei, soletrei na areia o teu nome,
lavado e levado pelas lágrimas
que soluçando soletro!

Alberto Cuddel®
23-06-2016

A nobreza das palavras livres

A nobreza das palavras livres

a realização sem a mácula da realidade é o amor
amo o poente e o amanhecer, porque não há utilidade, nem para mim, em amá-los
nessa liberdade absurda de nos confinarmos em nós mesmos
o resto é a vida que nos deixa, a chama que morre no nosso olhar,
as cores da morte da noite ou a púrpura gasta antes de a vestirmos,
a lua que vela o nosso abandono, as estrelas que estendem o seu silêncio
há uma mágoa que paira sobre a nossa hora de desengano.
assídua a mágoa estéril e amiga que nos aperta ao peito com amor.

tinha uma aversão visceral pelas palavras que se espraiam
nessa fluidez filosófica da metafisica poética e ao mesmo tempo
não tendem para o infinito os poemas?

meu destino foi outrora em vales fundos, voos altos
desertos imensos e sonhos áridos, nessa busca pelo oásis
o som de águas que nunca sentiram sangue rega o modo dos meus sonhos.
o copado das árvores nessa absorvência do sentir alheio, um sequestro negro
que esquece a vida era verde sempre nos nossos esquecimentos.

sinto perante o rebaixamento dos outros não uma dor,
mas um desconforto estético e uma irritação sinuosa.
não pelo conhecimento empírico do que sei,
mas pela ignorância de não saber o que ainda não li…
não é por bondade que isto acontece,
mas sim porque quem se torna ridículo não é só para mim que se torna ridículo,
mas para os outros também,
e irrita-me que alguém esteja sendo ridículo para os outros,
dói-me que qualquer animal da espécie humana ria à custa de outro,
quando não tem direito de o fazer
porque a ignorância não é um defeito, às vezes até uma virtude
quando ela é exercida com humildade…

não sei escrever metricamente, – não sei
isso não me faz superior ou inferior
nem ridículo, nem ignorante
apenas revela uma inadaptação a um conhecimento…

vedaste o jardim floridos dos versos, blindaste as palavras de alfazemas
na vocalização és… sempre foste poeta
há uma nobreza em quem martela a língua de artifícios gramaticais
mas não há espanto, e é o espanto que me absorve diante
no descrever vagaroso do florir de uma violeta…
amo o tempo e o tempo que ele demora, o poema…
esse florir das palavras até se tornarem semente…

Alberto Cuddel
01/11/2020
18:50
Poética da demência assíncrona…

Não há palavras novas

Não há palavras novas

Velhas são as palavras
Essas que se gastam presas nos silêncios
Entre iras emanadas pelos ventos
Florestas secas e árvores altas
Há rastos de pobreza na cidade
Egos viris engalanados de vaidade
Políticos solitários e gigolos com amizades
Não há palavras novas
Nem certezas, nem factos, nem histórias…

Alberto Cuddel
16/09/2020
00:49
Poética da demência assíncrona…

Cansaço…

Cansaço…

Na terna vontade de despejar palavras,
Num horrendo cansaço que de mim se apoderou,
Volto pensando, nas palavras do passado,
Do abrupto corte de ideias,
Na imobilidade cerebral
Que me envolve o espírito…

Quero mas não tenho vontade,
Tenho vontade e não quero,
Imóvel me encontro,
Pensando em pensar,
Saber o que despejar,
De uma amálgama de ideias,
Vagas e sem sentido…

Estou,
Apenas estou…

Alberto Cuddel
20/11/2013

Palavras livres!

Palavras livres!

Como pedras arremessadas,
Num charco qualquer,
Criando ondas sincronizadas,
Como todos as podem ver!

Seguem compassadas numa absoluta perfeição,
Como que nascem, e puxão e seguem a sucessão,
Até perderem a força e o ímpeto de avançar,
E com calma na quietude voltar a ficar!

Palavras livres, soltas que animam,
Que nos confortam e mimam,
Que nos magoam, que nos ferem,
Mas que no vento se perdem!

São palavras que nada valem,
Sozinhas sem sentido,
Palavras que ditas por alguém,
Que mesmo estando perdido,
Pode dar voz e sentido,
Ao grito que no charco havia caído….

Alberto Cuddel
06/03/2015

Palavras velhas em novos poemas

Palavras velhas em novos poemas

martelo nas teclas negras as palavras velhas,
roubadas e copiadas aos poetas, os vivos…

esperar? esperar novas ideias
que tenho eu a esperar se o dia foi apenas dias
e a noite será, como tantas vezes é apenas noite
espero o que? destas letras velhas, nada de novo
mais uma conjugação de palavras
um outro sorriso na memoria, a doçura
escrever o ontem, o sonho de amanhã
amor gasto, se o novo me espera

açoito as teclas violentamente
(há sempre mais uma palavra, mais uma metáfora, um fonema)
julgo quem nunca fez, quem o fez também
despejo raivosamente palavras soltas de um texto
lembro-me de repente de condenar a violência
eu que violentamente escrevo, em quanto caminho em sonho pelo raiar do dia
a cidade acorda a cada hora, e dormem nas sarjetas
e lembro quem me espera, e choro, e sorrio
todos os poemas, todas os recados,
todas as letras, copia de uma memória hereditária

– reconheço cada tecla, cada palavra, e lembro…
todas as palavras que já te escrevi, e sorrio
há palavras que ainda não escrevo,
mas que em breve te escreverei…

Alberto Cuddel
01/04/2019
19:50

Se um dia te perguntarem:

Se um dia te perguntarem se eu escrevo, diz-lhes que sim, que já viste as minhas letras espalhadas por aí…

Alberto Cuddel

Revolta das palavras

Revolta das palavras

Palavras,
Um tudo ou nada imperfeitas,
No ontem, no hoje, projectos, sonhos,
Declamadas na exaustão, o som
Rimas, compassos, andamento
Regras redondas dos versos escritos
Acordos, confirmados ou denunciados
Que importa?
A mensagem, o teorema
Sentir absoluto e perfeito
Esse que sinto, que interiorizas?
Incoerência minha, escreve-lo?
Sem rimas, sem compasso?
Que importa o desalinho?
Apenas a palavra desafio
Onde ontem existia o vazio
Que me importa?
Que te importa?
Se a rima está torta,
Se o verso não está certo
Se é o que sinto?
Isso sim verdadeiro e concreto!

Alberto Cuddel

Palavras livres!

Palavras livres!

Como pedras arremessadas,
Num charco qualquer,
Criando ondas sincronizadas,
Como todos as podem ver!

Seguem compassadas numa absoluta perfeição,
Como que nascem, puxão, e seguem a sucessão,
Até perderem a força e o ímpeto de avançar,
E com calma na quietude voltar a ficar!

Palavras livres, soltas que animam,
Que nos confortam e mimam,
Que nos magoam, que nos ferem,
Mas que no vento se perdem!

São palavras que nada valem,
Sozinhas sem sentido,
Palavras que ditas por alguém,
Que mesmo estando perdido,
Pode dar voz e sentido,
Ao grito que no charco havia caído…

Alberto Cuddel

18:22 28/05/2013

 

Embalo das palavras!

Embalo das palavras!

Nas imaginarias palavras que escrevo,
Onde te deixas embalar no longo sonho,
Nas noites de amor, na parca solidão,
Na saudade, na tristeza, na louca paixão,
No abandono dos sem-abrigo,
Na fome encoberta nos lares alheios,
Nas chagas do pés do pobre mendigo,
Nos tristes olhos de lagrimas cheios,
São as preces a Deus de joelhos no chão,
Orações de louvor, pelo sim ou pelo não,
São as noites de loucura navegando em ti,
Nos mares de lençóis amarotados deixados ali,
Na erva molhada sobe os pés descalços,
O cheiro das flores, as pedras e percalços,
O cheiro do mar, areia molhada,
O silencio das palavras sem dizer nada,
O olhar de ternura que tudo diz,
A candura do avô olhando o petiz!

E ficas assim, lendo e relendo palavras,
Que pela mão do poeta nascem,
Queles com prazer e te fazem sonhar,
Que te levam no sonho de não só estar!

Adormeces no embalo do verdadeiro fingir,
Fingindo sentir o que na realidade sente,
Escrevendo sozinho para um mar de gente!

Alberto Cuddel

Talvez as palavras não sejam mais que o sonho

Talvez as palavras não sejam mais que o sonho

Talvez as palavras não sejam mais que o sonho
O amor mais que um desejo arquitectado
Um propósito para que se cumpra um no outro
Mero despesismo energético no pleno prazer!

Na escuta plena do sonho encontramos rimas
Espaços vazios que rimam no silêncio
Mãos que desenham sozinhas, corpos ausentes
Almas despidas, desejos e sentires diferentes!

Que seja o poema o sonho, a ilusão pintada
Jardins despidos, passos largos em direcção a nada…
A vontade que me inunda a garganta de um café
E sigo a pé, estrada fora sonhando as palavras
Umas sempre verdades, outras apenas inventadas…

Talvez as palavras não sejam mais que o sonho

Alberto Cuddel
Palavras de Cristal Volume V – Modocromia – 2018 – ISBN – 978-989-99949-9-7

Palavras e versos

Foi pelas palavras que escrevi, pelo grito mudo que ecoa na sala vazia… Até que o grito se cale… Pintado nas paredes transparentes da cidade… Onde mora a loucura da consciência, de que a vida já não me pertence…

Alberto Cuddel
11/06/2018
23:30

A voz e as palavras caladas

A voz e as palavras caladas

Lábios que se roçam
Línguas que se digladiam
Silencio dos sons

Crença das horas
Solidão de quatro mãos
Vácuo preenchido sem razão

Palavras esgrimidas nas pernas
Aperto, soltura, movimento
A mansa certeza de que não adormeces

Solta-se a voz, diálogo de olhares
E as palavras caladas
Presas em gargantas secas…

Alberto Cuddel
Sou conto, sou poema – Autor Publica – 2017 – ISBN 978-989-691-667-1

Poema do dia 27/01/2018

Poema do dia 27/01/2018

De todas as palavras que engulo
Também as que silencio e calo
Depois as outras as cantadas
As que são e foram criadas por Deus…
E todas as outras sujas e ditas sem pensar…

Palavras há de Amor, ódio, de paixão
De céu, de mar, de terra e de chão,
Palavras de mentira, de verdade
De partida, de chegada, de saudade…

Há palavras e palavras…
Espaços vazios e frios
Há silêncios que dizem nada
E nadas que estão cheios de palavras…

Nas palavras escritas
Há as não lidas
As transparentes
As que ninguém vê
As que ninguém lê
As que imaginam
As que fingem ser…

No fim de tudo,
Pensas que sabes
E nada sabes
Do tudo que pensas…

Alberto Cuddel
27/01/2018
10:05

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