O meu Poema

O meu poema

Não, não
Não esticarei a perna para que caias,
Não gritarei alto
Não me porei no teu caminho
Quero que as minhas, apenas as minhas palavras se tornem fósseis
Que morram no papel, para que sejam encontradas…

Lês-me, lês-me
Como quem descobre o universo
Como quem ama numa palavra
Como quem mata no silêncio
Como quem chora na chegada
Lês-me, lês-me…

Em tudo o que não escrevi
Na flor que não floriu
No arco íris nascido em céu limpo
Nas marés vivas de verão
Lês-me onde nunca estive
E estive tão perto, tão dentro
Tão longe, tão certo…

Procuras encontros e amantes
Procuras amores em terras distantes
E eles ali, ao alcance da mão…

Quantas mãos estendidas
Quantos braços caídos
Quantos gritos por salvação
Quantos tios, primos, irmãos…

Quantos humanos esperam pão?

No meu poema cabe o mundo todo
No centro da minha mão…

Cabe o amor, a paixão
Um corpo despido
O fogo do tesão…
Cabe a luxúria, o ego e a traição
Cabe o sofrimento, a perda e a desilusão
Cabe a vitória, a alegria e o campeão
Cabe o correcto, a política e a sociedade,
Cabe a chegada, a partida e a saudade,
Cabe a brejeirice, o fado e a canção…

No meu poema cabe o abecedário
A vida e o coração…

No meu poema cabemos todos
Sem qualquer excepção…

Alberto Cuddel
07/12/2018
Poema a todos os que lêem e escrevem poesia… Sem rede e sem frio…

Sentei-me

Sentei-me

Sentei-me numa esquina, como quem se senta a ver o mundo passar diante dos olhos, sem dizeres manuscritos, sem chapéu estendido, sem nada pedir, apenas me sentei, cansado a ver o mundo passar ali, mesmo junto a mim, numa total indiferença, ninguém parou, ninguém olhou, ninguém perguntou, sentado no chão junto a uma esquina eu… tornei-me invisível…

Quantos de nós se tornam invisíveis, não por não repararem em nós, mas pelo facto de nos sentarmos, fora do caminho do mundo, quantos de nós gritam surdamente? Quantos de nós simplesmente deixam de caminhar na corrente, ou mesmo contra ela, e ficam olhando o mundo lá fora, pela janela, lamentando…

Sentei-me noutra esquina, do lado oposto à primeira, vi o mundo passar em sentido contrário, estiquei uma perna, alguém tropeçou, gritou um qualquer impropério, olhou-me e perguntou? Não tem mais nada que fazer? Tenho, estendi a mão e disse: – ajude-me a levantar. Deram-me a mão, outros pararam, tiraram fotos, falaram, e eu caminhei no mundo…

Sentei-me quando era invisível, até que tropeçaram em mim…

Alberto Cuddel
07/12/2018

Pelas Dez

Pelas dez…

Pelas dez espero, nesse passo apressado
Pelas dez desejo, esse louco beijo…

Que venha o tempo sem pressa
As noites vagarosas, o café, e conversa
Copos de gelo e estrelas altas
Pelas dez encontro-me nesse reflexo do tempo
Eternidade complexa condensada ali
Num abraço de peito, entre cabelos e vento…

Pelas dez
Se fossem mais esperaria
Se forem de menos as juntava
Numa ansiedade sem medida
Nessa espera que dez fazia…

Pelas dez de um ontem
Que na solidão se fizeram onze
Pelas dez de um amanhã
Onde estarei, e sempre esperarei…

Que fossem pragas rogadas
Esperanças plantadas
Certezas defumadas, perfumes
Que a eternidade seja ali
Nessa consciência de dois
Que pelas dez tudo se alcance
Tudo se espere, tudo se faça…

Pelas dez…

Alberto Cuddel
06/12/2018
Marvila, Portugal

Poema à dor do adeus.

Poema à dor do adeus.

Neste peito dilacerado pela cobardia do adeus
Ardem velas, morrem telas e sonhos
Morrem as almas, a que fica, a que parte
Viva…

Desse amor que vive sem resposta
Que dói, que mata por dentro
Corrói-me a carne, os ossos
Nessa dor que dilacera devagar…
Na porta que se fecha atras de mim
À tua frente, nesse coração que para…

Fogo que se extingue na lágrima
 Diante do nada, as mãos pendem vazias
Já não limpam o rosto, não te abraçam…

Nessa dor do adeus, morro, todos os dias
 Morro em mim, matando-me
Matando um sentir que dói, que mói
Neste gélido corpo que deixei…

Morremos, pela cobardia do ficar
Pela cobardia do partir
Pela arrogância do desistir
Criamos a dor que nos mata…
Para que outros vivam na ilusão
Que o sol não dói, a cada dia que nasce…

Alberto Cuddel
24/12/2018

Bom Natal e Prospero Ano Novo 2019

Desejo a todos os meus seguidores, leitores e amigos um Bom Natal e Prospero Ano Novo!

Poeticamente a vida em que não se morre…

Poeticamente a vida em que não se morre…

Ó gente que viva caminha
Nestas palavras inscritas no peito
Giesta, Zarco, Costeira, Bernardino, Dordio
Nunes, Pires, Rebelo, Marques,
E tu maria, mulher entre as mulheres
Eva, mulher primeira sem pudor ou pecado,
Que me advenho os Januários de restelo
O Sírio do céu e a Pixis, as joanas que sozinhas gritam
Os suicídios das letras e a dor do peito
Ó Tiago dos prazeres e frases sem sentido…

Que loucura esta de estar vivo
De amar intensamente e sem sentido
Que me arda no peito e me morra
Na despedida em manhã de nevoeiro
Ó madrasta sorte, padrasto nascimento
Desses enteados feitos nos dedos
Versos sem medos
 – Ó, onde te mora a sorte
(amor que me queima na vida)

Ó NODUA, anti depressivo de um acordar
Amo, como quero amar, nesta vida estupida
Onde apenas me vejo ao teu lado…

Selado seja o tempo em que ficamos
Não crescemos e não vivemos
Que surdos sejamos
Entre deus e o diabo…

Ingrata seiva que não dás vida, não cresces e não fecundas,
Sejam as palavra creme, balsamo e desmedida
Que seja morte, na solidão da noite,
Que seja angustia sentada no jardim
Que sejam de plástico os bancos de madeira,
Sejamos acções voando a vida inteira…

Ó vida onde poeticamente não se morre
Por amigos que não nos conheciam…

Alberto Cuddel
03/12/2018
Marvila, Portugal

Um adeus que não esperava.

Um adeus que não esperava.

Nasce-me um adeus no peito,
Em notícias incrédulas, tanto havia
– Tanto há e cá não estas…

Não fica comigo a saudade,
Nem na alma actos passados,
Fica a memória de outros tempos
E tempo que já não temos…

Por um instante despedes-te de Deus
Despedes-te de mim, das saudades que tinhas
Da tristeza que sentias…

Lágrimas que perdem sentido
Diante das palavras que me crescem
Na dor do silêncio da mente
Silêncio que me envolve na alva bruma
Pesado cansaço opressor das ideias,
Adormeço em mim, sabendo que já não vives…

Nascendo-me um adeus no peito,
Para renascer num amanhã, sabendo que não estás
Na alvorada de um novo dia, partistes para junto da tua vida…
Adeus tio…

Alberto Cuddel

Poema XIX

Poema XIX

Às vezes, em sonhos distraídos,
Que me surgem das esquinas do pensamento
Na emoção, visiono amores.

Uma vez, encontrei-me desenrolado num enredo de uma
paixão
Das que me ardem no corpo, salivando a alma
Desilusão, ó arrefecimento do ser: – Menstruação…

Os amores, ai os amores
Desses, roubando flores devagarinho, flores em jardins
públicos
Enroladas em papel de alumínio, esquecido na porta do
cemitério
Um banho tomado à pressa, uma água de colónia barata,
Uma chegada, um jantar à luz das velas, por corte de luz
E no leito, insónias: – até amanhã, hoje, dói-me a cabeça…

Ainda assim, pinto de cor-de-rosa o amor
Talvez pelo sangue no olhar, de tantas horas sem dormir…

Na concomitância dos dias
Monotonia arrastada da vivência máscula
Sonho noites, loucas noites de pesadelo…
– Hoje, estou cansada… e eu passo a noite, sem dormir
nada…

Às vezes, em sonhos distraídos,
Que me surgem das esquinas do pensamento
Na emoção, visiono amores.

Mesmo que a realidade seja tão cinzenta
Os olhos inchados, dos poemas escritos
Permitem-me sonhar…
Mesmo que acorde deste pesadelo…
Para uma doce realidade…

Alberto Cuddel
In: Como Fazer Amor

Em breve o Lançamento em Portugal, em estudo a possibilidade de envio para todo mundo!

Destrocando os trocos…

Destrocando os trocos…

Que sejam vis os cobres
Que te nascem em bolso roto
Que alimentam o escroto
Em banais arquitecturas…

Ó vil orgulho narcisista da palavra
 – Rasga a crença do pecado
Alado seja o sonho sonhado
Desenhado em palavra cantada.

Ardem-me as orelhas, conversas desfiadas
Garfos partilhados a uma mesa sem escrúpulos
Que loucas sejam as noites, e os loucos perseguidos
Que mansos sejam os dias e os lençóis de linho
 – Os mares calmos que se navegam pelos luares…

Que trocados sejam os dias, do trabalho pelo descanso
Que quentes sejam as manhas nos teus braços
As tardes em tuas almofadas, e os beijos dados!

Que morra eu no teu descanso
 – Que viva eu no teu cansaço…
 – Que felizes sejamos um no outro
 – Que a vida nos agracie com a velhice…

Que trocados sejam os trocos…
  – Pelas notas dos nossos dias…

Alberto Cuddel
29/11/2018

Procura-me onde sempre estarei…

Procura-me onde sempre estarei…

Se o mundo conspira desencontros
Não me procures com os olhos
Não me procures na almofada ao teu lado
Mas na alma, nesse espaço vazio dentro de ti…

Procura-me,
Sempre que a saudade se abata
Sempre que as dúvidas se instalem
Sempre que a incerteza te consuma
Encontra-me em ti, eu sou-te
Sempre que o amor que possuo se ausente

Procura-me,
A cada dia que longe estaremos
A cada noite de solidão,
A cada vez que o trabalho nos rouba
A cada vez que o mundo nos separa
Encontra-me onde sempre estive
Na alma em que nos fundimos
Neste amor que juramos
Eu estarei agora e sempre
Ao teu lado…

Procura-me
Nas lágrimas que derramas
Nos sorrisos que guardas
Nas roupas espalhadas
Nos lençóis desfeitos
No calor deixado
Estarei em ti, e não nas coisas
Porque o meu amor, apenas te pertence…

Procura-me onde sempre estarei…
Dentro do teu coração
Alberto Cuddel
24/11/2018
https://www.facebook.com/1414850068739479/posts/2701941023363704/

Dessas outras coisas…

Dessas outras coisas…

Dessas outras coisas que me inquietam
Filosofias vazias e infecções do ego
Pandemias literárias que se alastram
 – Onde nasci eu? De Deus ou diabo?

E chove, mesmo antes do sol raiar
Nessa pontinha de terra onde hei-de morar
Corro manhãs serpenteando o atraso
Nessa pressa de chegar, de estar ao lado…
Do lado onde fico e moro, sinto-me
Pela existência terrena de ti…

Escorrem verdes, monte abaixo
Arvores hirtas que me nascem das mãos
Frases perfeitas em rimas redondas
Nesse amor absorvente que nos envolve
 – Arde-me o peito pelas borboletas da noite!

Dessas outras coisas do sonho
Reais até que sejam sempre
Entre esperanças e certezas do olhar
Mãos que se entrelaçam
Em passos certeiros
Seguimos caminhos empedrados
Caindo, erguendo, levantando
Mão na mão, olhar firme e coração…

Somos desígnio do passado
Inscrito no destino
Que nos foi traçado
Pela ironia da vida…

Agora, esse agora que projectamos
Já ali, depois do dia…

Alberto Cuddel
23/11/2018
Marvila, Portugal

Às vezes…

Às vezes…

Às vezes sem que o espere, mesmo que deva esperá-lo, o ar enrola-se na garanta na esperança do beijo, ainda que ele se demore na abstinência do tempo que separa o querer da vontade, em distâncias cabais. Às vezes toma-me esta dor física que me dói sem ti, come-me o corpo em tragos longos a falta que sinto da tua alma, desse calor que me abraça em lábios finos.

Às vezes, diante da banalidade de outras coisas tão necessárias e tão supérfluas, abandono-te, absorvido pelos problemas do dia-a-dia, e deixo-te à espera, como se esperasses a eternidade da chegada, mesmo que nesse espaço eu não cruze a porta da felicidade. E eu, militante do teu ser, perco-me em mim e nos problemas do mundo, quase esquecendo quem sou, homem, eterna criança que deambula em busca da solução de problemas imaginários, e tão reais a vida corrente.

Às vezes caio em mim, na minha condição de homem incapaz de resolver o mundo, incapaz de te resolver, de te ser e de te estar, e depois, sem que o espere, beijo-te, e o mundo acaba ali, diante de nós, como se tudo morresse nesse encontro ao dobrar a esquina do quarto, esse com vista para o céu, onde as estrelas forram a nossa vontade de viver, sempre, sem tempo ou futuro, apenas agora, e agora é todo o nosso sempre.

Às vezes adormeço na falta de descanso, e sonho-nos, antes de acordar, outras acordo bem antes de nos sonhar, e sei-te aqui, deitada ao meu lado…

Alberto Cuddel
22/11/2018
Marvila, Portugal

Relógio, o congelador do tempo

Relógio, o congelador do tempo

Contamos o tempo mediano
Entre uma chegada, uma partida
O tempo que falta, um fim do ano
O tempo antes da despedida!

Esse milagre da chegada da madrugada
Bebendo silêncios por entre os lábios
Na chuva que teima em cair do céu
Que milagre é a noite em que és amada?

Damos o tempo que não temos
Pelo tempo que recebemos
Roubando à noite o dia, esperança,
Dando ao dia, a noite, confiança!

No tempo que eternizamos,
Congelamos olhares, abraços
Entre os ponteiros do relógio
Correm distâncias sem pressa,
Memórias gravadas no sempre
Entre as estrelas que nos espreitam…

E fico, e parto, levo-te comigo
Deixando-me livre, solto
Em ti, na escolha própria
Que de mim faço…
Congelando o tempo mediano
Entre um ficar e um partir
Sinto, saudade do sentir!

Alberto Cuddel
20/11/2018
Marvila, Portugal

Não me venham…

Não me venham…

Não me venham
Com palmadas nas costas
Com mesinhas e choradinhos
Com palavras e lágrimas de crocodilo
Não me venham…

Não me venham
Com queixas e ciúmes
Com egos feridos e queixumes
Não me falem de moral e bons costumes
Não me venham…

Não me venham
Pedir trabalho
Dinheiro emprestado
Aumento de salário
Com mais impostos
Com mais descontos
Não me venham…

Não me venham
Criticar porque sim
Dizer mal porque “nim”
Façam acontecer
Façam, não fiquem pelo dizer
Façam as ideias nascer
Ter corpo e asas…
Não te queixes da falta de sorte
Quando nunca tens jogado…

Não me venham
Dizer a mim ninguém me lê
Quando tu não lês ninguém
Não me venham dizer
Que só publicam os conhecidos
Mas um dia ninguém os conhecia
Procura a tua sorte
Faz-te acontecer
Aprende que só a cair
Vais saber como é correr…

Januário Maria

Nesses sonhos do desejo, em noites despidas

Nesses sonhos do desejo, em noites despidas

Desejo-te no desejo de seres desejada,
Livre, sempre livre e escolhido em liberdade,
Asas aladas que te trazem, que nos elevam
E esse prazer de ser e estar, ainda assim
Fiel na devoção da entrega nas cores
Bombeadas pelo corpo que ama em pleno!

Parto e chego a cada hora, nos sorrisos e lágrimas
E ondas curvas e quentes em clareiras tropicais, altas
Bebendo prazeres licorosos e salgados, castanhos, verdes,
Olhar deslumbrado em céu azul, ciúmes da terra que pisas!

Palavras doces deixadas pelos teus lábios
Quentes, que me enchem e derretem, devagar
Bem devagarinho, nos lençóis em que me embrulho
Em sonhos solitários, na esperança de calor
Movimento circular do tecto, em lâmpadas foscas
Esta vontade de estar que nos dói e mói por dentro!

E nas noites que vem, que vão, sabendo-te ai
Desejada, cobiçada, povoando sonhos
Outros sonhos, outras vontades, sonho meu
Exclusivamente meu, nessa liberdade que tens…

Em noites despidas, nesses sonhos do desejo
Queremos, queres, quero, e de nós sonhamos o depois
Esse amanhã eterno até depois…

Alberto Cuddel
19/11/2018
Marvila, Portugal

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