Vago sopro de renascer todos os dias…

Vago sopro de renascer todos os dias…

murmúrio inútil da ausência do declive das noites
apenas o sal dos teus lábios me ressuscita para a vida…

para glória do tempo que me resta
– renovo votos de existir, por me cingir ao acto de ser.
amo, pela plena forma de algures perder a dúvida
tenho sentido com plena lucidez e coerência justificando o movimento do corpo
sou capaz hoje, de coisas que ontem jamais o sentiria

o certo e correcto é atribuir-te a ti a plena culpa
essa que me corrói e me faz novo
abrigaste-me em ti como eu mesmo,
reconstruindo-me por dentro depois de morrer

sopro vago da presença que te fazes em mim
reconstruindo-me de novo depois de me teres destruído a cada beijo…

Alberto Cuddel
28/03/2019
19:20

Aleatoriamente gotículas de água

Aleatoriamente gotículas de água

 

Julgo procedente o pensamento humano no vislumbre da gasificação da água pelo processo milagroso da evaporação, as nuvens não serão mais que uma manifestação artística de um Deus infantil que não sabe desenhar!

De entre todos os rostos humanizados é o teu que procuro no amontoado de algodão pregado no azul celeste com que tingiram a esfera que nos sustenta a caixa torácica, esta prisão lacrada a que chamam atmosfera.

Às vezes chora, apenas para pintar de mil cores os raios quentes de fotões que a atravessam, num arco sem fim, nunca lhe toquei num princípio para daí caminhar na direcção oposta…

E fico ali, na minha insignificância de humanóide convicto, deitado sob o cheiro quente da relva, apreciando a construção artística dos desenhos infantilizados das nuvens no céu. Entre todos eles os que mais aprecio são os rebanhos de ovelhas por tosquiar que sonho quando não consigo dormir, e conto até me perder de mim mesmo!

Deus desenha no céu, ventos que nos punem, na inconsciência suicida de sujarmos a casa que nos ofereceu para nossa morada…

 

Alberto Cuddel 
28/03/2019
05:22

Poema XXVI

Poema XXVI

Sinto-me às vezes tocado, não sei porquê
prenúncio de lágrima que não se materializa em dor,
é difícil descrever o que se sente, quando o sentir é o oposto
sendo a alma real e sentindo ela a realidade
como chorar, sorrindo na alma, esta verdade que se escreve?

Ocorrem-me casos, em que choro a distância
sorrindo pelo sentir que nos aproxima
corando a proximidade, suspirando pelo longe
somos assim uma dualidade macabra
de certos e errados, de mal e de bem, que querer e não querer…
(recordo-me do monstro da realidade)
Há homens que como eu, não vêem a sorte ali ao alcance da sua mão…
(os moveis estão montados, tudo esta pronto, apenas eu, me falto ali)
E nem a consciência da realidade que me atravessa o corpo,
deixa-me seguir o meu caminho…
ó maldita dualidade, tão orgânica
Tão vil e traiçoeira… crê e vai… tanto a ser vida…

Alberto Cuddel
20/03/2019
20:05

Ensaio gasto

Ensaio gasto

Ensaio noites com palavras gastas
Rasgam-se céus e olhares, por falsos sorrisos
Já não há marinheiros intrépidos em jardins floridos
Há um monótono acorde repetitivo…

Quando pensas que a vida se renova
Cais abismalmente numa certeza sombria
A vida não se renova, repete-se gasta até à exaustão…

Os dias tem nomes,
Apenas para nós lembrar que já existiram
Já ninguém inventa novos nomes para os dias
Cobram-se apenas sentimentos velhos e gastos
Para que alguns chorem quem perderam
E outros lembrem de se esquecer…

Poeticamente repito palavras gastas
De velhos sentimentos
Que já ninguém se lembra quais são
Mas eu recordo-os… mesmo nas gastas palavras velhas…

Alberto Cuddel
19/03/2019
#osuaveaconchegodopoema

Gritos da insónia

Gritos da insónia

“a meus pés a cidade dorme
caço insónias e dores das almas viventes
e gemidos dos amantes”

percorro em passos largos o infinito
roubando ao sono o sonho,
no aprazível íntimo do princípio das estrelas
há um misto de ansiedade entre a distância e chegada
há um embandeiramento exótico nas ruas largas
dos que ousam por pés ao caminho
e há os que choram os sonhos sem sair do lugar…

o sonho castiga-me, há lágrimas no regresso ao sono
nessa mesmíssima dor de ser mortal
e dormir sob um tecto que não é meu…
quero voltar a ver as estrelas e o luar, sopro de saudade sem partir
um apenas chegar, sem voltar…
rasgam-se em pranto as almas virgens, sem que as insónias se revelem
dormem, dormem, como se a vida, não passasse por elas…
no fim da caça ao sonho,
apenas uma certeza, velei teu sono
olhei-te, olhaste-me,
enquanto a cidade dormia…

ali, sem medos, aos nossos pés, enquanto sonhávamos…

Alberto Cuddel
18/03/2019
17:00

Não fales…

Não fales…

temos adormecido demasiadas vezes sem darmos as mãos
ainda assim a lua vagueia na sua orbita
tudo é certo no que errado está
naturalmente o mundo não nos espera
nós esperamo-nos, sim esperamo-nos.

existe esta ausência de corpos dentro da distância
(talvez distância a mais, entre nas nossas janelas)
olho-te, como se te imaginasse aqui, apenas aqui diante do meu olhar…
– não fales!

olha o mundo que gira, o movimento dos lábios
esse “amo-te” repetido em silêncio
as janelas estão fechadas, castanhas, cristalinas
dormes, enquanto o verde procura as estrelas
(há nuvens no céu, mas não me incomodam)

a lua, esconde-se, torna clara esse amontoado de água
os nossos passos sonham em direcções opostas
pisando folhas, saltando canteiros, procurando abraços e beijos
a noite perde-se diante do silencio que grita
nesse movimento frenético dos sonhos
– não fales!
sonha e deseja, como se o tempo acordasse todos os dias pela primeira vez…

19/02/2019
17:30

 

Poema XXV

Poema XXV

Retenho da religião
somente o preceito central
do qual esta sujeito o preceito moral
que atenta contra o corpo e o espírito!

Amo,
Todas as tardes de Verão que se atentam no teu corpo
Condenem-me os preceitos e os bons costumes
Mas amo, quem seria se arrancasse de mim os olhos?
Se atentasse contra a natureza do corpo?
Alegra-me as tuas palavras em silêncio, a doçura dos teus lábios
Quem de mim seria impostor se o negasse publicamente e a pés juntos?
Tenho que de mim escolher a verdade, se o sonho? Ou a realidade que nego?
Sou homem por Cristo, não sou deus…

Há nisto tudo um mistério que me desvirtua e me oprime
Por Saulo amo desmesuradamente…
De nada me comove que se diga que tenho tanto de juízo como de louco
Apenas me suplanto ao comum dos mortais pelas epilepsias reveladoras
De uma mente sem traves, os homens normais limitam-se as coisas normais
Eu, loucamente vou, sem caminho traçado, apenas limitado pelos vocábulos
Inventados por loucos que como eu ousaram amar…

Tudo o que já pensei, tudo o que já fiz, tudo o que senti
Foi nada diante da revelação de que o amanhã
Pode ser a verdade do que ainda não vivi…
Nesta liberdade que me concedo a mim próprio
Permito-me amar-te definitivamente e sem segredo…
Porque se por deus nasci, por ele também vivo…
E Saulo a isso me impõe… ama…

Alberto Cuddel
17/03/2019
22:40

Poema XXIV

Poema XXIV

quando ainda me faltavam pedaços ao céu para ser azul
juntei as nuvens brancas e pinte-as de saudade…

há um mar para lá do rio
salgado pelo teu olhar
nele pesquei o tempo
resgatei o caminhar
pintando-o de sorrisos…

há um café em cada manhã
uma chávena quente que te desperta
e palavra doces mexidas com carinho
pintando de luz cada esperança…

quando ainda me faltavam pedaços ao céu para ser azul
juntei as minhas mãos às tuas e fizemos mais um pedacinho…

Alberto Cuddel
16/03/2019
18:33

Poema XXIII

Poema XXIII

sabes quantos dias nos sobram das noites?
não que haja nesse interlúdio de coisas esquecidas
um vestígio bruxuleante de uma memória contida
mas é dolorosamente mais que isso, uma doença
que muitos chamam saudade!….

conheço dias límpidos sem sol
noites encobertas de luar
e todo o nosso tempo vasto de solidão
tu, somente tu existes em mim…
convalesço, estéril, longínquo
nessa consciência certa que é hoje
na proximidade com que nos merecemos
hoje nascemos poema, sem tempo, sem pressa
afago o frio da primeira frase
beijo-te as entranhas pela ilusão
e na realidade, somos, ali
como é bom perder tempo sem nos pensarmos
nesta vida fosca, em que os dias são a mera certeza do amanhã…
ninguém ainda escreveu em linguagem conhecida o que sinto
um tédio absoluto de uma leitura incompreensível
que tanto eco me faz na alma o teu olhar…

e há dias assim, como hoje, em que nos sobram noites…

Alberto Cuddel
15/03/2019
19:30

Poema XXII

Poema XXII

Dizem-me os teus olhos laços que hoje pensando num vulto inteiro “Amo-te”
Ainda que da saudade do meu corpo inteiro chorem…
Há barcos nascidos de proa que me adentram o mar
Há rios do degelo da Primavera que nos escorem alvos
Há o calor que me aquece o rosto
Há braços laços que me abarcam o peito
No sopro contido da alma há beijos sem fim
Há certezas e beijos em cada sim
Neste amor escondido que em mim aceito…
Dizem-me os teus olhos laços que hoje pensando num vulto inteiro “Amo-te”
Ainda que da saudade do meu corpo inteiro chorem…
Que por ventura seja uma alma contida
A mulher que escolhi para toda a minha vida
Conheço de mim o dia límpido e imóvel
Pela noite incontida onde nos habita o amor
Convalesço estéril e ignóbil
Pelo pecado malfado de um fado de desamor…
Nas mãos calejadas pelo calor
Que me percorrem o corpo quente nas noites de amor…
Dizem-me os teus olhos laços que hoje pensando num vulto inteiro “Amo-te”
Ainda que da saudade do meu corpo inteiro chorem…
Alma de sereia em liberdade Maria,
Mulher serás minha por toda a tua vida…

Alberto Cuddel
14/03/2019
21:25

Poema XXI

Poema XXI

Abracemos a vida que nos resta como infidelidade à paz

levo comigo o tédio, dessa rotatividade das marés
ciprestes correm em sentido contrário, no ranger da madeira onde me abandono
vagarosamente o tempo, que teima em não existir
ó sorte que cavo pela imobilidade da vida
estou para não perder, perco
ganhando o tempo que te dou, nesse que nos damos…

há um tédio mítico da falta de deus, mas se deus é amor
porque não habito plenamente em ti, amando-te todas as horas?

nestas horas estranhas que são o meu corpo
regurgitando memórias do espírito
é teu perfume que me abraça a alma
que despudor este que me eleva
desejando-te como minha!…
( eu que ainda não me entreguei a ti sem condições)

nesta lucidez que me corrompe, não devo pensar,
não devo pensar a acção, ou porquê da mesma…
apenas devo agir, ir, partir, pelo sentir imenso que me povoa…
(nunca estive tão lucido como nas horas de loucura que deus me concedeu sentir)
se tudo é amor, então sim, sou louco por amar…

Alberto Cuddel
13/03/2019
21:50

Dia do pai? Porquê?

Dia do Pai? Porquê?

Hoje não vos trago o conceito histórico ou conceitos sociológicos ou antropológicos, hoje além do dia do pai a Igreja católica celebra São José. Bem sei que muitos dos ramos do cristianismo não aceitam o conceito de adoração dos santos, mas isso não me importa, irei centrar a minha intervenção na analogia e no exemplo.
Pergunta? Historicamente José foi pai?
Duas são a forma de responder:
– Não, não foi… Jesus é filho de Deus.
– Sim foi, pois foi José que criou e amou jesus!
Cada vez mais concordo com a segunda, porquê? Agora falarei apenas para vocês homens de barba rija, valentões, machistas, os do “eu sou homem”, “eu é que mando”, sabiam que segundo a lei portuguesa “VOCES MACHOS” só estão autorizados a ser pais a partir das 10 semanas de gestação? Até lá a portadora da maternidade tem a liberdade exclusiva para abortar?
Ser pai, não é dar um espermatozóide viável, dificilmente o filho terá o vosso tipo de sangue, ser pai é amar, e amar é educar, dar condições e sabedoria, mesmo que os “filhos” cheguem ao vosso convívio em idade adulta, amareis os teus filhos, porque mesmo que pareçam contra vós, a maioria das vezes apenas defendem a mãe.
Ser pai não é apenas dar, é saber recusar, é saber o momento para deixar de ser pai e ser apenas amigo, é saber deixar de ser amigo para ser lei… ser pai, muito mais do que qualquer outra coisa é edificar o mundo depois de ter morrido…
Orgulho-me por ser pai, e não apenas de um…

António Alberto Sousa

Poema XX

Poema XX

e de repente… de repente nasço, nasce o dia!
talvez tudo tivesse outra explicação qualquer
mas de repente falo, como, leio, escrevo
penso e vomito ideias…
de repente vejo, desejo, quero
de repente sinto, amo, possuo
de repente partilho, vivo…

de repente há guerras, revoltas e revoluções
e outras formas de morte,
de repente há ciúme e queixume
de repente não estou só…

de repente paro
tomo um café, olho tremulamente a vida
estou só, apenas trago comigo os ecos
esses do discurso humano onde nos apontam o futuro
irrita-me esse conceito de felicidade imposta por todos aos homens livres
de repente há uma angústia que me abraça numa prisão sem grades
tudo isto assim de repente, do nada…
depois de ter parado
na consciencialização da sensibilidade do sofrimento
de repente aconteces
de repente tu
e tudo volta a fazer sentido…

Alberto Cuddel
12/03/2019
20:40

Poema XIX

Poema XIX

“a maioria da gente é outra gente”
Oscar Wilde

a cada busca nova de uma coisa qualquer
é uma vida gasta por coisa nenhuma,
cada coisa que foi nossa, ainda que por um acaso
só nossa foi pelo sim, nunca pelo não…
mesmo que essa coisa se torne nós
eternizada no tempo que dura um beijo
seremos gente, gente com nome, gente capaz
gente que se ama, gente que faz…

há gente que hostiliza as amantes, os amantes
mas não são eles anjos da felicidade que outros abandonam?

ás vezes a verdade é pesada,
mesmo que me sente á cabeceira de uma cama vazia
que não fale aos peixes, mas ao “nada” que se me depara diante dos olhos
haverá gente que me atropela, que me interpela, que me condena…
apenas porque “a maioria da gente é outra gente”
numa consciência fétida do que é o amor
e o amor é, apenas é ali, sem muito a explicar
o amor vive em dois, num olhar, ou num orgasmo partilhado…
se somos amantes? não sei, nunca o saberei, sei que sinto a tua falta
porque tu e eu somos gente, e a maioria de nós mesmos…

Alberto Cuddel
11/03/2019
20:50

Poema XVIII

Poema XVIII

já não tenho medo do amanhã
nem mesmo do depois que virá
não tenho medo dos pássaros, nem das lágrimas
não tenho medo… o medo, matei-o!

não tenho medo
dos pássaros que deixam o ninho
das mães que abandonam
do caminho, do que sinto…
tenho apenas receio da razão
essa que dói em pensamento…

não tenho medo do espelho
nem do olhar enviesado
não tenho medo do que está feito
nem do que já foi sonhado…

não tenho medo, porque o medo
matei-o…

Alberto Cuddel
10/03/2019
18:10

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