Essa insegurança crua da existência humana
“não trago o sol nem a lua na algibeira.
não quero conquistar mundos porque dormi mal,
nem almoçar a terra por causa do estômago.”*
tão pouco erguer-me por aí com as dores nas costas…
os pinheiros altos dormem ali sob as nuvens
as galinhas ainda hoje beberão de pé…
sob a terra quente debaixo dos pés
o ruido metálico da imaginação dos homens
pouca terra, pouca terra, e o mar cruzado por cargueiros…
nesse capitalismo feroz da existência humana
nesse ter que impera sobre a nossa realidade do ser
onde te mora esse desejo de caminhar a par?
se a na tua prepotência exiges apenas chegar…
há em mim esse desejo absurdamente romântico de fazer existir o teu sonho
onde as flores são apenas flores e as arvores de fruto apenas arvores
e delas nos alimentamos,
essa ideia que perseguimos
de uma cabana e um sonho de amor…
e sob a lua e as estrelas fodemos, como profecia mater do sonho do homem
um amor na mão e uma cabana sob as cabeças
e existimos ali…
realidade que não tem desejos nem esperanças,
mas músculos e a maneira certa e pessoal de os usar,
e tudo é por nós possível… e o amor faz-se, faz-nos…
porque na impossibilidade cósmica de o ver, limitamo-nos a sentir a sua existência
em tudo o que foi divinamente criado…
essa insegurança crua da existência humana
torna-se palpável, sofrível, no calor dos teus seios
e ficamos ali, tão perfeitamente reais, olhando as estrelas…
Alberto Sousa
04/08/2022
In: Poemas de nada que se perdem na calçada
*Alberto Caeiro

Comentários Recentes