Essa cascata de fogo que me arde na alma…
inflamam-se as palavras aprisionadas na alma
nessa legião urbana que se eleva no olhar afiado da aguia
rebentam cascatas divinas em vozes de platina cantando Salomão
ó virgens de candeia acesa velai pelo vosso senhor…
há nos desertos áridos uma voz que clama
um turbilhão de desejos em dunas veraneias, uma toalha no chão
arde-me o pecado na garganta e o segredo contido
palavras que me rasgam o estomago,
nesse acido bater de asas de uma borboleta…
será amor esta dor que me corrói?
essa asia que me queima por dentro
sedentos pecados lívidos e carnais,
deste mesquinho impuro e pecador
ávido sedento de toques marginais
rasgam-se as túnicas ali, bem ali junto ao poço,
onde se evangelizou a impia, onde o pecado foi lavado…
sempre meditei como era absurdo que as palavras fossem aprisionadas na boca
onde a realidade substancial é uma série de sensações, houvesse coisas tão belas como o beijo e fosse tão complicadamente simples sentir, e tão difícil de o verbalizar…
a vida prática sempre me pareceu a menos cómoda
nesse desejo absoluto da mãe de todos os suicídios o silencio, morte anunciada da alma. não agir foi sempre para mim a condenação violenta do sonho, não escrever
não falar, não gritar ao mundo no grasnar de uma gaivota sempre me pareceu
um sonho arruinado e injustamente condenado pelo acto suicida do silencio…
escrever é objectivar sonhos, é criar um mundo exterior para prémio, é dar voz
aos pecadores que calam os sonhos…
podia nascer lua, surfar a crista de uma onda de prata, ser desejo ardente de um abeto
curvado ao vento… mas nessa cascata de fogo que me queima por dentro, há apenas o sonho, e essa voz que é pátria, que nos faz fado, que nos serve poesia em golos pequenos
que nos condena a nossa humilde condição de homens de sonhos, que nos condena a ser poeta… essa voz que me rasga por dentro, que se faz vida…
e depois somos apenas nós, tu que me cortas a alma em pedaços na leitura e eu, que vomitei palavras… pela dor que elas me causavam…
Alberto Cuddel
25/11/2020
02:30
Poética da demência assíncrona…
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