Plantei intenções diante do teu olhar

Joana Vala

Plantei intenções diante do teu olhar

Plantei intenções diante do teu olhar
Foste, vieste, demoraste para chegar
Trouxeste a mesma vontade que levaste
E uma outra na mão, coisas que foste comprar…

Despi-me de pudor, quase implorei
Fode-me, mas tu, tu apenas chegas
Cansado, exausto, podia ser amante
Podia, mas não era apenas conformismo
Trabalho e muito comodismo…

Plantei intenções diante do teu olhar
E tu o prazer me continuas a negar
Que esperas tu? Onde isto nos vai levar
Se a mim, só me apetece começar a encornar…

Ainda te amo, ainda te quero
Plantei intenções diante do teu olhar
“Isso não é de mulher decente”
Mas é de uma mulher que se faz presente
Que é e quer ser diferente…
Que quer prazer, ou que meramente a venhas foder…

14/02/2021 00:05

Novo tempo de um mundo velho…

Novo tempo de um mundo velho…

nada é o que foi, e o que vem será igual
tudo irá mudar, construído sob os mesmo erros…

na reflexão das horas de clausura apenas liberdade
esse sentir que nos corrói a alma
essa fome de gente, na verdade apenas solidão
nada nos move pela alegria do outro, cobardia

a vida é a consequência do incerto
desse acaso do prazer egoísta
dessa inverdade germinada no ventre
e depois tudo é, igual, diferente…
um tempo novo, um mundo velho
levado pela avareza do homem…
que cobra sem dar…

Alberto Cuddel
08/04/2020
08:40
In: Nova poesia de um poeta velho

Rosto cinzento como a névoa de leste

Rosto cinzento como a névoa de leste

nas noites que se apartam do dia
amarrada seja a lua em escorpião
pernas imóveis e agulhas que lhe perfuram o dorso
tenacidade persistente do que é e tem de ser
porque assim é desejado no íntimo
força mobilizadora do desejo
ainda que chova copiosamente
cerrados sejam os dentes pela carne que arde…

um nó martelado nas vísceras
esse olhar roubado e distante
algemado pela doença que mói
estampada nos meandros do rosto feminino
granítica desilusão bombardeada nas pálpebras
há uma força de capricórnio que nos mantém de pé
nesse rosto cinzento como a névoa de leste
o sorriso é apenas memoria dos dias de maio
como um pólen invisível que nos faz tossir…

no rosto cansado carregas nas mãos
esse respirar das muralhas pulmonares
que em nós se faz vida
fogo que arde oxigenado pela esperança
músculo sanguinário que não pensa
mas sintomaticamente sente…

Alberto Cuddel
16/12/2019

Supérfluo

Joana Vala

Supérfluo

É o medo da espera que nunca chega
Dessa chegada sem vida na mortandade do corpo
Amontoado molecular de matéria orgânica sem desejo
Espero-me como se te esperasse eternamente
Numa paixão que te abandonou
Eu que só desejei ser amada
Ser possuída com fulgor e paixão
E não raramente usada, para um alívio mecânico e orgânico
De um corpo que já desconheço…
Nunca desejei muito
Numa esperei muito
Apenas que me amasses…
Mesmo sem qualquer romantismo…

05/09/2019

Poema XLIV

Poema XLIV

Arde onde sucumbo
na arte de morrer sozinho
crio verdades nas montanhas da ilusão
trinco poemas que nunca me satisfazem
e rimas sem sabor, que se arrastam!

(…)
Fogem-me as palavras novas e as antigas
um medo fecundo que se aborta
ao primeiro momento de prazer!

Gaivotas, essa liberdade imposta pela insaciabilidade
infinito azul que se confunde no horizonte
mãos estendidas, outras nos bolsos como ontem!

Deste lado da ponte, não há quem a atravesse
uma cobardia, uma falta de coragem,
uma infame falta de acção, uma veleidade
neste limbo onde nem o molhado já chove…

A irrealidade das coisas, tangencialmente amor,
loucura assoberbada inconsciência das almas
um cantar de melancolia, entre tronos dourados
assim prostrado, moendo os joelhos, – reclamo!

Nas ruas, representação estereotipada do ego
refutam asas e agoiros e silêncios gemidos
alvas coisas sem nexo, e bocados jurados de fé,
ainda assim invejam tudo o que poderiam ser!
( ainda que nunca tenha sido!)

Alberto Cuddel
#osuaveaconchegodopoema

Ensaio gasto

Ensaio gasto

Ensaio noites com palavras gastas
Rasgam-se céus e olhares, por falsos sorrisos
Já não há marinheiros intrépidos em jardins floridos
Há um monótono acorde repetitivo…

Quando pensas que a vida se renova
Cais abismalmente numa certeza sombria
A vida não se renova, repete-se gasta até à exaustão…

Os dias tem nomes,
Apenas para nós lembrar que já existiram
Já ninguém inventa novos nomes para os dias
Cobram-se apenas sentimentos velhos e gastos
Para que alguns chorem quem perderam
E outros lembrem de se esquecer…

Poeticamente repito palavras gastas
De velhos sentimentos
Que já ninguém se lembra quais são
Mas eu recordo-os… mesmo nas gastas palavras velhas…

Alberto Cuddel
19/03/2019
#osuaveaconchegodopoema

Tempos mornos, mornos tempos…

Tempos mornos, mornos tempos…

Nem frios nem quentes,
Nem iguais nem diferentes,
Nem perto nem distantes
Tempos em tudo iguais,
A uns qualquer tempos,
Um dia após o outro…

Que falta de imaginação?
Escrever sem direcção,
Viver sem paixão, sem fé
Num ou outro prepósito
Num ou outro compósito
Apenas consciente a vida é como é?

Por que ser, parecer, sem fazer?
E se eu? E se tu?
Para que se’s?
Façamos acontecer,
Quebrem a monotonia
Que nos envidraça,
Na letargia dos tempos…

Inventemos,
Sonhemos,
Façamos acontecer
Saibamos viver…

Sírio de Andrade®

Poema do dia 19/09/2018

Poema do dia 19/09/2018

… versos inscritos em prata
Oxidados pelo tempo que foi
Nesta viagem, quedas,
Um salto em movimento,
Lambendo as feridas, a um canto
Animal dócil, amestrado
Adoptado por novo dono!

Entre promessas de solidão
Pirilampos em noite fingida,
Que se rasguem todos ontens
Em vida coxa presa ao depois,
Há carros da estrada, nas duas direcções!

Castelos de areia seca que se desmoronam,
Flores que desabrocham no orvalho da manhã
O sol tímido que nasce, uma lua que se deita
Um novo dia, o renascer
De uma vida desfeita!

Um sorriso nos lábios
Um olhar o amanhã…

Alberto Cuddel
19/09/2018
Alberto Cuddel

Raiva

Raiva

Devolves cativos os gélidos sentidos,
Das cores escuras da depressão confusa,
Querer fugir, reprimir negro desejo,
Ver escapar esfumando-se por entre os dedos,
Escorrendo pela brilhante lamina as gotas da vida!
Gotejando quentes no gélido mármore,
Uma após outra, sorvendo de ti a vontade contínua,
Partir em demanda, gritando impropérios,
Contra os felizes donos dos impérios,
Cor-de-rosa pintados onde reina o amor,
Há raiva. Força contida que se espera soltar,
Num abrir do peito rasgado, pelo sofrimento!
Há dor. Quietude, aninhado num canto,
Gotas escorrem reprimindo o alto pranto!

Alberto Cuddel

Correm os dias nas marés

Correm os dias nas marés

Por entre preces erguidas
Mulheres em genuflexão
Homens dormentes implorando
Que seja apenas sentir, que seja paixão!

Ó deuses inconsoláveis das noites!

Por morna companhia a lua
Feitiço doente imposto pelo corpo
Privação colmatada pelos dedos
Pelas mãos e vocábulos quentes
Triste solidão que o mar impõe
Pegadas que se apagam nas marés!

Por entre suicídios da alma
Corpos que se arrastam nos dias
Horas obtusas de boatos funestos
E o mundo cai diante do olhar
Por ter visto e não calar
Sonhos, desejos, que não podem ser sentidos…

Demo que te habita o corpo
Nos desejos que impões
Todo teu, sem nunca o ser!

Correm os dias nas marés
Entre depressões e seduções
Por entre sinusóides da paixão…

Sírio de Andrade
10/07/2017
13:00

Poema do dia 22/06/2018

Poema do dia 22/06/2018

Crescem as palavras na escrita contínua, luas cruzam os céus sob a neblina matinal, o sol que espreita no varal, -poético quadro, rimas esquecidas, uma rosa oferecida, o despertar no teu abraço, esquecido de sonhar, (saudade)! Estrelas saltitantes teu doce olhar, o ruído do padeiro- pão quente, quente, corre, corre! Não há chuva, um nada de vento, corre, corre, pequeno almoço para dentro, o branco do tecto, que me prende na cama, o abraço desfeito pela pessoa que ama…

Manhã, apenas mais uma manhã, Igual a ontem, igual à do amanhã, já despachado a porta bateu, junta-me a mim, aqui como eu, abraço-me em ti, abraço dormente, ilusão do ser, talvez sonhado… Não vou trabalhar talvez por doente, preguiça de mim, entregue por fim, talvez dormindo por não ter acordado, sequer estar deitado, da noite? Talvez só sonhado!

Caem violetas azuis
Nos dias seguintes
Não há nada a fazer
Triste sina a do crer!

A vida corre torta
Por estradas direitas
Pro muitas coisas más
E outras bem-feitas!

Ergue-se o sol, por entre as árvores caídas, não há sina, que me condene, nem vida que me defina… apenas as horas, umas depois das outras, descontando tempo para um fim!

Alberto Cuddel
22/06/2018
18:15

Poema do Dia 19/06/2018

Poema do dia 19/06/2018

Despi a alma rasgando as vestes de amor que a cobriam, por debaixo das vestes de seda apenas culpa, a desilusão que é o acto doloroso de viver… cortei as amarras da vida, vazio do fingimento de mim mesmo, eu que nunca fui, para que os outros existissem…

Cheguei a casa, rodei a chave, abri e entrei
Sentei-me no silêncio da sala, vazio de luz
Olhei o mundo, os versos, as palavras
Os livros e as obras, não me vi, lá não estava…

Nunca fui o que tenho, a casa, o carro, a vida
Nunca fui o que fiz, a chegada ou a partida
Nunca fui o que sou, a escrita, alegria fingida
Sentei-me na sala e fiquei, cheio do meu nada…

Olhei o mundo lá fora, cheio de tudo, fingido, nunca me procurei lá, onde nunca estive ou pertenci, sempre fui apenas o que quiseram que fosse… perfeito…

Hoje despi o corpo, despi o pouco amor que me cobria, as vontades do mundo, a pressa, o ter… E sentei-me na sala, na esperança que chovesse, uma gota de agua, um pouco de cloreto de sódio… mas nada… nada resta, nem amor, nem paixão, nem esperança ou gratidão… nada, apenas dor e escuridão…

Alberto Cuddel
19/06/2018
12:41

Poema do dia 14/06/2018

Poema do dia 14/06/2018

Doem-me as rochas acoitadas pelas marés… doem-me as trovoadas caídas… o sol a rasgar a noite…. dói-me o amor e o resto, dói-me ser e existir…

A noite fechou-se sobre o doloroso leito da solidão,
veio vento barulhento, tirar-me a concentração,
o ruído das paredes da sala gemendo vazias,
clamando ser cheias pelo calor da tua voz…

Assim abandono-me perdido no tempo, navegando nas restantes memórias, momento vincados, a ferro gravados, numa chuva de Março, do cantar dos pássaros, do cheiro da pele, das tremulas mãos, do despir da alma, do toque da pele, da entrega, o beijo, o abraço!

Assim entrego-me entre um trago, mantendo no palato o sabor, memória do teu quente beijo, e o acender do cigarro, círculos disformes no ar, o fumo que se dissipa, transporta-me ao passado, aos quentes Verões, aos abraços de Inverno,
aos momentos de prazer, as discussões por nada, ao fazer as pazes na cama,
à escrita compulsiva, ao grito, ao sorriso, à melancolia da solidão, à estúpida depressão…

Para agora entre um trago e um cigarro, abandonar-me sentado, na imobilidade da quietude, que me dói no silêncio forçado, que é aqui sentado, estar vazio de ti!
Onde todas as dores me consomem, pela simples existência de ser e de dar…

Alberto Cuddel
14/06/2018
18:30

Poema do dia 07/06/2018

Poema do dia 07/06/2018

Caem gotas, tempestades!
Chove no meu peito, aberto
Dolorosas gotas em sofrimento,
Do não que é sim, dito… não sentido
Perdidas palavras discutidas na consciência
Sofridas, grito da alma na desilusão,
Amor, adormecido, nas folhas razas de letras
Espalhadas pelos ventos das desconfianças,
Espelhos, vidrados, quebrados, reflexos,
Quereres, vontades, sonhos de paz,
Na guerra diária que faço indiferente..
Choro, na lembrança de hoje,
Por um amanhã diferente…
Verto, na dolorosa esperança que seja
A certa e correcta sentida razão
Na incerteza, falta de água correndo,
Na certa direcção do mar da paixão!…
 
Alberto Cuddel
07/06/2018
22:10

Poema do dia 30/05/2018

Poema do dia 30/05/2018

Nas voltas querendo fugir,
Perdido da vida que te viu partir,
Sentado esperando, na casa vazia,
O silêncio quebrado,
Pela voz inquieta,
Da palavra perdida,
Na voz do poeta!
Na noite procuro,
Na cidade vazia,
A luz de uma estrela,
Que se encontra encoberta,
Pelo gesto de um irmão,
Abandono a tristeza,
Que guardo na mão,
De braços abertos,
Querendo fechar,
Abraçando meu corpo,
Querendo Amar
Vida que foge por entre o sopro
De uma noite que está para chegar…

Alberto Cuddel
30/05/2018
06:05

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