Um dia deixarei de escrever…

Um dia deixarei de escrever…

talvez esse dia seja hoje, ou depois de amanhã
talvez aconteça assim por acaso, depois de ter fodido quem amo
depois de lhe ter ofertado um último orgasmo, como lamento…
talvez aconteça de repente enquanto durmo, assim no silêncio dos sonhos

apenas sei que a cada vento soprado, a cada gota de chuva desconto tempo
ao tempo que falta e que me foge por entre os dedos curvados…

talvez não tenha tempo para rimar um novo beijo
para te abraçar numa nova estrofe em construção
talvez tenha errado e não tenha pedido perdão
talvez não me tenha perdoado, e continue condenado…

sei que um dia deixarei de escrever, de beber da inspiração
de fermentar ideias, de destilar lagrimas, ou cultivar sorrisos
um dia deixarei de seguir a formigas, de praguejar com as moscas
um dia ficarei quedo, apenas imóvel, na espera, folha vazia…

talvez esse dia seja hoje, ou depois de amanhã…
mas entre o foi e o será, quero-te, nesta urgência do já
do agora do imediato… antes que a poesia se torne eterna…
beija-me… enquanto estou quente… depois, depois não me importa
seja terra ou cinza, não sou, não existo… não sinto…

Alberto Cuddel
16/08/2021
02:30
Alma nova, poema esquecido – XXI

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