Sombras purpuras

Sombras purpuras

rasgam-me os fígados essas palavras espinhosas
esse querer dissimulado, essa volúpia líquida encapotada
essa verdade estival com perfumes de primavera
enquanto o corpo se consome em fogo ardente
no feminino desse desabrochar jogam-se pétalas
quando a alma implora por gestos, por boca…

(…)
correm pelas ruas brisas quentes, as praias vazias
a vida traga-nos por dentro na solidão das horas
e mesmo assim amas-me, nesse silencio incapaz
já mais o iras verbalizar… e eu jogo nessa metáfora
arte inclusa de adivinhação do olhar…

e partimos dali, debaixo do sol, contornando as esquinas
juntos nos caminhos das sombras, olhamos o mar dos dias
beijamo-nos, apenas porque sim, pela sede do momento
corpos incandescentes em sombras purpuras, fogosos…

morreu-lhe o medo, na libertação do demónio
nessa verbalização consciente do quero, ser vento
anjo puro desobediente a “deus”, arte maior da criação
artífice da representação, olhar de soslaio a sua irmã
essa livre em fuga, mas ela é… prazer fumegante…

as árvores agitam-se levemente… uma pequena brisa…
arrefece-lhes a face… ele na sua ingenuidade balbucia:
-amo-te mulher…

ela sorri da sua conquista…
o pecado é… o pecado foi… e ela… ela é dona dele…
Domou o domador…

Alberto Cuddel
10/08/2021
15:30
Alma nova, poema esquecido – XX

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