Essa insanidade que é morrer vivo…

Essa insanidade que é morrer vivo…

procuras o apogeu do nirvana no silêncio que cultivas
calas em ti esse turbilhão das palavras e ficas
ali na solidão acompanhada de um albatroz que plana
ao teu lado, como se na vida tudo fosse…
e ficas parado no movimento que te leva.

sopro de vento que se anuncia, silvo e a brisa no rosto
copa das árvores, abrigo, bando de asas fechadas
ardes por dentro ferrando os lábios, essa vontade de grito
e calas… tantas vezes calas o que dentro te revolta
até esse insuportável gemido de dor que te trespassa a espinha
mas aguentas, tu aguantas… enquanto isso ficas
na esperança da paz, enquanto no teu íntimo
geres uma guerra silenciosa que te levará…

há em nós essa insanidade de ir morrendo vivo
na esperança de ressurreição, de reencarnação longe
de um acordar em outro tempo, outro mundo
não tenho hoje memória, deste sonho?
quem sou de mim, de quanto quis ser eu.
nada de nada surge como memória do tempo que não foi vivido
podia nevar hoje, não deixaria de ser Primavera
por ser esse o tempo dela, podia ser Verão
mas nem os vivos lhe escaparão…

vivo o esforço inútil de adormecer, como se isso me aliviasse a dor
essa consciência de me saber, tempo em que me dou em penhor
roubando a vida, o que a morte reclama, dia após dia…
noite após noite…
essa insanidade de me saber a morrer ainda vivo…

Alberto Cuddel
22/11/2020
10:30
Poética da demência assíncrona…

4 thoughts on “Essa insanidade que é morrer vivo…

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