À janela…
Havia uma rua estreita cheia de janelas fechadas, era uma vila pequena, de gente simples, destacava-se uma janela, branca, alta, com um pequeno gradeamento e um sorriso, sempre meia aberta, paredes gastas quase sem tinta a notar-se ainda um tom ocre, gasto do tempo e das intempéries, uma janela onde acorriam os pombos, os pássaros, a única companhia de Dona Felismina, uma resistente da solidão, um “bom dia”, rasgava o silêncio da rua a quem passava, sempre com uma palavra amiga, um gesto de apreço, dois dedos de conversa…
Hoje a janela não se abre, na rua estreita que subia, já não mora ninguém, não há pombos nem pássaros, apenas andorinhas sobem e descem a rua, e nos beirais chilreiam as ninhadas, na rua estreita apenas mora a Primavera, no resto do ano, ninguém.
A Dona Felismina, morreu o ano passado e na rua estreita apenas mora o silêncio, quebrado pelos passos de quem a cruza, há como nesta vila muitas ruas cheias de janelas fechadas, e outras cheias de gente sozinha…
Alberto Cuddel
10/04/2019
In: Dor da salinidade do olhar
Retrato fiel da humanidade…
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Muito obrigado meu querido amigo, isso mesmo, para infelicidade nossa…
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