Dádiva oculta!

Dádiva oculta!

resguardo-te dos espinhos,
que a minha plenitude contém,
dolorosa ocultação em mim,
ferozes desejos carnais,
ânsias, pecados mortais,
em parte, ofereço,
em parte, oculto,
sem ser tudo,
sou um nada,
no nada que posso
de mim entregar…
sombra, na sedução nocturna
em que me movo,
oculto,
margem das ocas palavras,
recebes-me como um todo,
entregas-te a um desígnio
desconheces a violência,
a complexidade do que quero,
não conheço o que não quero,
quero tudo, sem poder ter nada!…

Sírio de Andrade
In: Antologia depressiva (2013)

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