Aleatoriamente versos

Aleatoriamente versos

nessa alarvidade de se fazer noite, suicida-se o dia
o vento quente do deserto curva as canas, mas não as quebra
a vida escorre pela goela como um copo de absinto gélido…
onde te perdi? nesse azul esquecido dos gestos?
nessa inconstância dos orgasmos pelo corpo empobrecido
nessa liquidificação das horas que não existem?
não há impressibilidades que me arranque do chão,
mas rasteiram-me tantas vezes contra ele…
o destino morre-me nas intenções,
nessa vontade de correr, mas chorar na dor da vontade…

(…)
fugia-me a cidade dos pés… os leitos que me chamavam
jazem hoje desfeitos e amarelecidos pela saudade…
a rua esta cheia… cheia de gente que fala, fala… mas não escuta
o “outro”, aquele que esta ali, um mero desconhecido… alguém que veio
que vai, que estará, mas depois parte pela manhã, sem um nome…

eu? eu já não tenho medo, a esperança?
via passar o dia, no passeio contrário
de óculos escuros e cabeça baixa… já não me iludo…
espera-me esse destino que faço…
sento-me, deito-me, espero que passe…

(…)
a minha vida haveria de ser só isso: a interrogação do depois…
depois do vento, depois da chuva, depois do sol
depois da morte, depois do adormecer, depois do viver
depois do casar, depois da separação, depois de escrever porque não?
mas infelizmente faço, não sei porque o faço, mas faço-o sem pensar
porque tem de ser, e assim é, uma vida sem significado da ação…

se as coisas fossem e o sol nascesse
eu esperaria o despontar da erva
o nascimento dos malmequeres
depois, depois pensava as nuvens e os sonhos
e talvez, nessa mera consequência do pensamento
pensasse a existência, e encontrasse o amor…
porque ele é, assim indefinido, apenas sentido e visto…

Alberto Cuddel
07/08/2021
20:30
Alma nova, poema esquecido – XIX

Poema do dia 01/05/2018

Poema do dia 01/05/2018

Ensaios trabalhados na elipse das palavras
Rodopiando em curvas imaginárias de um caminho recto
Na meta, apenas o sonho ilusório de ter chegado…
Como destino a felicidade perdida ao ser encontrada…
Felicidade, um caminho sem finalidade…

Percorro as páginas brancas de um passado sem memória
Pés descalços, martirizados pelas pedras e espinhos,
Pelas rampas, pelas quedas, pelas curvas…
Passo a passo, letra a letra, sem destino final…

Segredos que se contam em silêncio
Gravados n’areia sob o luar da lua cheia
Sobem e descem marés, promessas sonhadas
Sob os meus pés, nunca nas mãos realizadas!

Correm jovens nas brisas do mar do sul
As gaivotas sob as ondas pairam e escutam
O mar? – Na cadência das ondas não regressa
Parte, distante, depois de uma noite que o esqueça!

Nos ensaios que o querer me dá
Nada espero de hoje,
Nada espero de um amanhã…
Quanta memória cabe num livro?
Escondido numa estante e nunca lido?

Alberto Cuddel
01/05/2018
16:40

Não me descansam os pés cansados

Não me descansam os pés cansados

Não quero sair daqui,
Daqui de onde estou
Onde me ilumina o sol
Onde não penetra a lua
Aqui mesmo, escondido
Mortificado pelo cansaço…

Na corrida dos ribeiros
Canso o olhar em flores murchas
Em rosas de espinhos hirtos
Nos bivalves que morrem ao sol
Mare vazia, que se enche
Banhistas como lagartos estendidos…

Deixo lá atras a vida
Correndo vagarosamente passo a passo
A tristeza cansada dos sonhos
Onde nem o sexo me anima…

A vida morre todos os dias
Todos os dias a vida definha
Mas, não me descansam
Os já pés cansados…

Alberto Cuddel
15/08/2017
23:38

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