Poética X

Poética X

o que mostras nesse olhar?

mostras-te mulher, fértil
nessa fertilidade poética
nessa plenitude da existência
nas metáforas incompreendidas…

leio-te nos silêncios
nas quimeras sonhadas
estampadas no rosto
nas verdades ocultas por detrás do olhar…
leio-te nesse arco armado sem flecha
sem coração onde apontar
nas desilusões da alma
na carência do corpo…

leio-te sem julgamentos ou medo da morte
compreendo o sentir e a sentença aplicada…

leio-te no verde que carregas no olhar,
na falta de luz que o ainda faz brilhar
e essa tristeza ondulante como chama
de uma luz que arde, cintilante, mas frágil
soprada pela brisa de um vento sem norte…

entre a fronteira… uma tinha ténue
entre a vida e a morte, entre o amor e a sorte
entre o ódio e o azar, entre a partida e o ficar…
fica quem não ama, ama quem parte, e odeia…
odeia a sorte de não saber em que dia conhecerá
a sua alma a morte…

Alberto Cuddel
15/03/2021 15:30
In: Entre o escárnio e o bem dizer,
Venha deus e escolha XLV

Resposta ao desafio directo 1º de Ruth Collaço

Por onde me levam os meus olhos?

Por onde me levam os meus olhos?

Por onde me levam os meus olhos
quando umedecidos, espalham o brilho
iluminando caminhos, veredas, passadiços
e nas águas cristalinas de um ribeiro
se perdem na corrente, e se deixam levar…

Por onde me levam os meus olhos
Nesse infinito feminino que me queima
Nessa alma natural despida de verde
Nos sonhos levados pelo vento leste
Nuvens que algodão da infância jurada
Olhando o amanhã na perfeita solidão…

Levam-me os meus olhos, que poisam nos teus
E nos seios que te ofereço desaguam em ternura
Levam-me os meus olhos, para o tronco do teu peito
Onde lábios se deleitam, contemplados pelos teus
Por onde me levam os meus olhos, queres saber?
Por riachos de ternura cada vez que me sorris
E num rapto indelével me transportam afluente
Num fluir refrescante que me acalma este fogo….

Lavam-me os olhos nesse choro de vida
Ergam aos céus os troncos hirtos de braços abertos
Abram o peito nesse fluir de vida que te corre nos seios
Abram as pernas e abracem as margens
Corre suave a seiva que esse fogo controla…
Para onde me levam os meus olhos,
A ti que olhas o mundo…

Poema a duas mãos:
Alberto Cuddel e Ruth Collaço
um desafio directo a João Gomez photography

Escolha da imagem pelo João Alves após leitura do poema
(agora por onde te lavamos os teus olhos?)
08/02/2021 23:16
In: Entre o escárnio e o bem dizer,
Venha deus e escolha XXIV

Deixei cair o olhar

Deixei cair o olhar

Deixei cair o olhar, na volúpia da tua blusa,
Adormeci no longo azul que me cantava,
Deixei que minha mão caminhasse fogo adentro,
Que te encontrasse,

Que desenhasse mundos sem fim,
Que descobrisse em ti o universo gemido…

Deixei cair o olhar, lascivamente na tua saia,
Acordei dormente do sonho da mente,
Deixei que meu corpo se dobrasse,
Caísse por terra e te bebesse em tragos,

Que escutasse o rubor do teu rosto,
Que descobrisse em ti outra gramatica,
Outra forma de dialogo, e um universo de estrelas!

Deixei cair o olhar, sequiosamente nos teus lábios,
Suspenso na miséria e na grandeza de quem ama,
Neles alimentei a alma, na calma de me saber desejado!

Deixei em ti cair o olhar, e para mais ninguém o levantei!

Alberto Cuddel®

Doce olhar distante…

Doce olhar distante…

é a tua voz distante eco de uma saudade que nunca aconteceu
e foi semente do tempo que será
entre o sonho e o desejo, chove, crescem as ervas
amadurecem os cachos nas videiras e abrem os braços as árvores
namoram os pássaros os ninhos…

e fez-se poema nas serras o desejo de as abraçar aos céus
fez-se paixão a palavra e a confirmação do sim
corremos montes e vales,
atravessemos o mundo e os rios…

e os braços paralisados pelo desejo
que um mundo proibido, deixaram de remar
ou suspenderam no amor que livre jogou
maior que posse em fugaz tempo sonho que húmido definhou…

ergue-se a esperança em águas de Abril
no tejo correntes e douro em repouso
há novos prazeres que a carne semeia
apagam-se os fumeiros… varre-se a eira…

nesse olhar distante deposito a esperança como eco
de uma saudade que ainda não nasceu…

Alberto Cuddel
19/12/2020
16:40
Poética da demência assíncrona…

Olhar…

Olhar…

olho-te nesse olhar amedrontado de um intensa vida…
olho as palavras atiradas sem ver os lábios que as proferiram…

olho a alma despida com que te entregas ao mundo
nessa praça vazia, olho com um novo olhar
como quem procura uma vida que há-de chegar
(-)há uma folha que cai, junto as milhares que jazem…
confina-se a vida pelo medo de a viver
(-)há uma morte que espreita no medo…

rasgam-se os verbos do silêncio pelos passos do indigente
segue indiferente à vida que já não corre
há espaço no mundo… há praias desertas…
há céus que não são cruzados
e há trabalho sem horário que já não sai do quarto
agarrados as raízes do local que habitam
não há tempo, sem que o tempo morra
não há quem olhe o mundo de olhar nu
olham pelo ecrã, pelos números, mas não pela janela

há um olhar que se perde,
a vida segue, indiferente ao tempo
apenas prevalece o medo de a viver
como este novo olhar levantado do chão e do medo…

Alberto Cuddel
13/11/2020
14:17
Poética da demência assíncrona…

Ilusão?

Ilusão?

Reconheço-me estupefacto
Nas águas que me escorrem pelas mãos,
Lágrimas vertidas, areias soltas nos pés,
Neblinas de ideias de homens pequenos,
E madrugadas nascidas do ventre das mães,
Escorro-me onde o vento desfaz as tempestades
Na calma dos corpos… tão belos.

Vejo os horizontes, e os desertos
O voo libertino das aves, asas aladas,
Na palma das minhas mãos escorrem sonhos
Que morrem na rebentação das marés
Por entre luares de Abril, onde navega o coração
Na paisagem gretada pelo sol dos que vivem.
Forço-me navegante no azul do teu olhar
Onde me perco na esperança de me encontrar
O meu corpo sangra, inunda os campos

Desvirginando a terra e as ilusões!

Alberto Cuddel, in “ O silêncio que a noite traz”, página 49, Orquídea Edições, 2018.

Novo Olhar

Novo Olhar

Quebrou-se em nós o vaso da virgindade
Nascem novas cores na arte do mundo
A vida em nós brotou, nascemos de novo!

Alberto Cuddel®
11/09/2016
In: Palavras que circulam – XV

Seco o sonho de chuva

Seco o sonho de chuva

– humedeceste os lábios finos
pedras soltas atiradas pelo vento
e o destino quem o soubesse?

no espaço sepultado da fome
rasga-se o desejo da sede
procura mundos e fundos
mares e marés nesse querer fecundo
maternidade que te abandona o corpo

cânticos de Salomão
– ilusão dos seres mitológicos
sereias que me embalam
que me venham as virgens de candeia
a força de Sansão, o uivo materno
esse alimento de gémeos…
multipliquem-se os peixes e a fome
voz que sacia os espíritos,
acalmem-se as águas…
que seja pedra a força e a voz
edifique-se sobre ela a poética
neste sonho seco de uma chuva mórbida
de silêncios lidos em lábios gretados
clama o deserto por lucidez
e pendem-me espadas de calcário no olhar
pela inveja mesquinha do homem novo…

Alberto Cuddel
23/05/2020
19:15
In: Nova poesia de um poeta velho

Quebram-me os olhos…

Quebram-me os olhos…

Como estilhaços de janela atravessada
Quebram-me a alma que olha
Pela a incúria dos que não pensam
Para além de uma porta fechada…

O amanhã é a consolidação do que aprendemos ontem
Antes que o erro se repita.

A de Alberto Sousa
15/04/2019
In: A Salinidade do Olhar

Um lugar surpreendido pelo olhar

Um lugar surpreendido pelo olhar

Jamais se encantariam teus olhos
Senão num sonho onde depositas a saudade,
Cai distante, por detrás do monte o olhar teu
Depois da curva de onde o amor te levou!

Jamais vi neles tristeza,
Apenas a alegria do regresso
Que trazes no abraço do teu regaço,
…Saudades da tua mãe!

Fixas o olhar no presente, outro lugar
O futuro chegará sozinho, lágrima caída
Inesperadamente.

O sol ainda se põe, nesse mesmo lugar
Escondido por detrás do olhar, lá longe
Do outro lado, do outro lado do monte…
Depois da curva de onde o amor te levou!

Alberto Cuddel
19/05/2017
00:04

No Olhar…

No olhar…

Presa na retina, levou consigo a maresia,
Nos lábios a brisa e o sabor salgado a mar,
Despe-se em si o luar, nas cores da poesia,
Nas velas, os sonhos, nobre o acto de amar!

Espelha-se no azul mar preso no teu olhar,
Nas ondulações errantes do amor iluminado,
Nudez do Teu pensamento, sentir sagrado,
Rubescidas em vagas de mar atrevido, Amar!

Vasto vaso, casco sublime anseio querido,
Gestos insinuantes abraçam, porto atrevido,
Teu corpo que frisas nas ondas do receio!

Olhar vago gravado na saudade, na fé e ardor,
A Deus peço, confesso com todo meu amor,
No teu olhar, o meu mar, ondas em devaneio!

Alberto Cuddel
23/05/2017

De onde vivi, para onde olho?

De onde vivi, para onde olho?

Caem-me as névoas nos olhos olhando o fim da rua
                Que noite cai tão escura em avenidas largas
                                        Janelas estreitas de vidros partidos…

Olham-me com olhos tristes os olhos que me fitam
              Nunca conheci outro alguém que me olhasse assim
                                        Longamente, demoradamente, diferente dos teus…

Esse olhar de mãe que me condena quando parto pelo mundo
Olhos que choram a felicidade do encontro na palavra perfeita
Olhas que amam, que brilham na chegada…

As névoas desse mar interior nas vivências em poemas de mel e limão
Não há como fazer amor na pele da palavra, no sereno florir das coisas
São livros cheios de sentir que me iluminam os dias, e me dão brilho ao olhar…
E olho ao longe, sentires alheios aos meus, em rimas perfeitas de palavras cheias…

Eu que tantas vezes me dei, que tantas vezes me esvaziei
              Apenas olho, com olhos de ver, as coisas e as almas
                                   Que em mim passeiam crentes que são gente que vive…

E vivo… tantas vezes morto, por não saber de mim…
                        Sabendo sempre onde pertenço…
                                    E pertenço-te, desde sempre sem o saber…

Alberto Cuddel
11/01/2019

Poema do dia 20/08/2018

Poema do dia 20/06/2018

Neste olhar o poço do fundo, ainda que seja um fundo sem poço, caímos apenas para no erguemos, ou fingirmos que tal acontece… depois vestimos o nosso melhor sorriso e saímos à rua…

Deixamos que a vida nos erga, de onde não queremos sair,
Deixamos que ou outros nos puxem da borda de onde queremos cair,
Deixamos que nos elevem nos ventos apenas pelo prazer se fingir,
Deixamos que a vida nos morra nas mãos pelo prazer de o sentir!

Neste voar de gaivota com fome, numa busca desértica pelo dizer, não vejo frases perfeitas, tão pouco um amor a condizer… tenho sede quero beber, mas a água esta longe sem ninguém para a trazer…

Neste voar, a cada beijo teu
Resta-me sonhar, sonho que é meu
Por entre frestas de porta fechadas
Não há que me escute, frases sentadas…

Longe morrem os dias, e quem os caminhou, pela estrada da vida, cansado se sentou… as noites, essas quentes e transpiradas, fazem-se de ilusões, tudos e essencialmente quase nadas…

Alberto Cuddel
20/06/2018
12:00

Pelo teu olhar!

Pelo teu olhar!

Trago no peito o raiar de cada dia,
Trago no olhar alegria da tua vida!

És espelho do que sou,
Alma do profundo sentir,
Decisão tecida no dourado querer,
Entrelaçado de gestos perdidos no tempo,
Queres inamovíveis do teu sempre viver,
Carinhos, vontades sempre a repetir,
No cuidar, na dadiva da efémera flor,
Repito a cada dia, a aurora prometida,
Novo nascimento, nova conquista,
Nos caminhos que percorremos,
Guiados pelo eterno luar,
Do mistério carnal,
Que no une sem palavras,
Na demanda empreendida,
A cada dia, cada noite,
Pelo sempre caminho da nossa vida!

Exercício este de conquista,
Ver-me a mim pelo teu olhar,
Louco, altruísta e irrealista,
Por ti sentir a vontade de me Amar!

Alberto Cuddel

Louca fuga,

Louca fuga,

Num momento,
Naquele momento,
Em que nosso olhar se cruza,
Neste longínquo mar,
Tocando na lua,
Que ilumina o teu olhar!

Alberto Cuddel

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