Imperfeição humana!…

Imperfeição humana!…

há nessa imperfeição humana
uma raiva incontida de ser duna
manobrada pelo vento como tendência
de ser vítima chorosa do sistema
como cana agitada pela brisa…

no caminho vistoso do campo
correm as nuvens carregadas
lágrimas caídas e choradas
de uma vida dorida e sem tempo

nessa imperfeição humana que é viver
clareiras de luz que nos habitam a alma
há esse mar de incerteza que nos acomoda
mas que nos cativa perfume de rosa…
lutam os reclusos por um beijo
conquista firmada da fertilidade
um luar, uma viagem às estrelas…
ó imperfeita capacidade humana
guerreira por um orgasmo…
entre o prazer de acordar
e um orgulho ferido…
o macho imperfeito prefere matar…

advenha-nos o deserto,
a fome do incerto e a partilha…
entre a água à mingua
e um madeiro que nos entalha os dentes…
é na carência que a imperfeição humana se esbate…
ou se unem e vencem… ou morrem matando…

Alberto Cuddel
13/07/2021
10:41
Alma nova, poema esquecido – IX

Paixão ao luar

Paixão ao luar

“Despertar o brilhante
Que vive no céu estrelado
É como uma estrela cintilante
Num coração amado”

Ana Margarida de Assis

Por entre horas desfilando em arco
Nas horas que contem a madrugada
Nascem gemidos
Beijos nas pontas dos dedos
Corpos que se enrolam na areia molhada!

Abraças o mundo, abraças-me
Sentir dormente, movimente das ondas
Estrelas reflectidas no mar do teu olhar
O rubro do rosto, iluminado pelo luar,
Salgado beijo onde deliro…

Consome do desejo de não tocar
Toda a plenitude do corpo e amar
O coração que acelera ofegante
Pela saudade de um tempo em nós distante,
Encontros sem tempo, sós
Na nossa solidão sem gente…

Noites, luar madrugador,
Areia quente, amor
Molhado, lavado
Gemido, beijado
Abraçado, movimentado
Num praia,
Que as marés do tempo
Não apagam,
Não acalmam,
O que o coração sente
Ou o corpo desejo ardente!

O sol espreita o horizonte
Iluminado teu rosto
Novo dia, que se aponte
Amar não é em mim pressuposto
É apenas a força do meu viver!

Alberto Cuddel
06/07/2016

Rebordo amordaçado do luar

Rebordo amordaçado do luar

aquilo mesmo que senti me é claro.
alheia é a alma antiga; o que me sinto
chegou hoje, de longe uma onda que morre
enrolada n’areia fina que se move, espuma-se…

não há nuvens entre mim e o céu
as estrelas brilham e adormecem
Maria imóvel baila nos pensamentos e adormece
como quem beija o penhasco, fustigado pelas águas
entre a claridade das copas, brilha a lua que esmorece…

pares e diferentes nos regemos
por uma norma própria, e ainda que dura,
será à liberdade, inconfidência clara
de tudo é que por Deus ama, e sofremos
mesmo que morramos um no outro, sentimos
porque sentir é amar plenamente,
mesmo que nada façamos, a vida condena-nos
a esta verdade estupidamente humana
que é amar apenas por isso,
por ser esse o nosso propósito…

Alberto Cuddel
17/05/2020
05:17
In: Nova poesia de um poeta velho

Luar Encoberto

Luar Encoberto

Deixo que os uivos silenciosos
Que ecoam distantes no oculto luar
Me inquietem a alma, pelo nada
Num tudo perverso que me chama
Que me arde no corpo em lua cheia
O teu cheiro que me clama em ti
Perco-me distante pela transformação
Inquieta e disforme, no pulsar do sangue
Que me acelera nas veias, pelo sonhar
Apenas o toque de tua pele
O desejo corrói-me as entranhas
Pela doce e inquieta paixão
De ainda não me ter em ti!

Sírio de Andrade®

In: Antologia Depressiva
10/10/2015

Espelho de lua em mar salgado…

Espelho de lua em mar salgado…

Na longa agulha que tece a rede dos dias
Mãos calejadas que vão calafetando a saudade
E o sal que vos branqueia o rosto…

Queimam as areias que escorrem dos dedos
Em corpos quentes que dormem ao sol
O amor espraia-se pelas margens
Os rochedos morrem no tempo…

Os filhos do vento que não esmorecem
Que retornam à lagoa em braços de mar
Salgam-se os doces que correm de terra
Sopram os banhos que descem da serra…

Ama-me… como se ama a saudade de chegar
Esse olhar que se estende no mar
Em sorrisos de criança que correm na areia
E os molúsculos e peixes que se vendem
Que se dá a vida pela vida de a ganhar…

Que o Arelho seja a vontade de chegar
A verdade do querer e quer cá ficar!

Alberto Cuddel
24/01/2018
13:28

Poema do dia 10/08/2018

Poema do dia 10/08/2018

No culminar das pétalas que se desfolham
Sem culpa, entre a indecisão e o pecado
Morrem os desejos na estrada sob o calor
Hoje, hoje já não há pressa, apenas paciência…

Nessas almas que se perdem alugando o tempo
Pagam-se marés entre dunas húmidas ao luar
Mesas frescas, palavras e amores
Aromas de café e gelados… espero a tarde!…

Existem cidades que se despem para a noite
Mulheres que nos procuram há janela
Entre laranjas e rosas, lingeries negras
Formas redondas e beijos, candeeiros perola…

Há fervorosos pensadores e filósofos de esquina
Largando frases com o mesmo cheiro das vielas
Ao desbarato pescam na noite com isco gasto…

No culminar do tempo em que se desfolham pétalas
Fica a culpa, de ver morrer no jardim mais uma flor…
Triste, cabisbaixa, já descrente no amor e na vida,
A felicidade foi-lhe arrancada pela raiz, já não crê…

Alberto Cuddel
10/08/2018
15:51

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