Poesia oculta
pudesse eu fechar-me em mim próprio
construindo paredes perfeitas,
pedras finamente cortadas, empilhadas
que afastasse de mim a luz e o mundo!
pudesse eu ser apenas verso
apenas rima e poesia, enclausurado
nas frias e secas palavras despidas
engavetado no mofo de fechadas gavetas!
pudesse eu ser segredo oculto da branca beleza
em folhas negras escritas a branco,
em folhas brancas escritas a negro,
tinta seca, palavras arrastadas e nunca lidas!
pudesse eu…
mas arrasto-me pela devassidão dos olhares
pela interpretação de humanos ávidos e sedentos
eles que vasculham as letras, os espaços, os silêncios
procuram-me a essência, o âmago, procuram-me
esperam encontrar-me a alma, a calma,
a devassidão prazerosa da vida, a fórmula do amor,
o mapa da felicidade, ou apenas ler-me,
compreender-me no acto altruísta que de mim
dou-me ao escrever-me nos seus pensamentos!
sem nunca me entregar…
pudesse eu ficar fechado numa gaveta,
poder até podia, mas seria eu apenas e só
e a falta da doce luz de ser poesia!
Alberto Cuddel

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