Conjecturas

Conjecturas

selamos o tempo
congeminamos teorias
inquirimos o nosso íntimo
apenas uma pergunta
uma única questão
sem qualquer resposta
sem qualquer razão
porquê?
porque continuam a florir as flores?

rebobinamos passados
procuramos, revemos
nada, sem hipótese
nem uma ínfima teoria
porquê?
continuam as ondas a chegar à praia?

que prepósitos ocultos?
que esperanças?
que ideias, que desejos?
que quebra de algo
que não descortinamos?
porquê?
a vida é um ciclo sem fim?
porque o vidro depois de quebrado não pode ser colado?

nessas conjecturas sem propósito, sem significância cabal
caminhamos parados numa terra que gira,
de um tempo que não pára nem abranda
é tudo é, como tudo será, mesmo que ninguém intervenha…

Alberto Sousa
20/05/2022
Poemas de nada que se perdem na calçada

Na mesa da sala uma orquídea

Na mesa da sala uma orquídea

na mesa da sala,
na pequena mesa da sala uma orquídea,
florida, qual Primavera,
indiferente, ao calor que se faz sentir,
do lado de fora da janela!

na mesa da sala,
repouso o olhar, cansado, distante,
parcas horas de um diurno sono,
podia dormir, como podia,
sentado na velha poltrona,
onde desenhei sonhos,
onde sonhei conquistar as palavras,
rios de poesia, marés distantes de versos,
que versejo num sonhar!

na solidão deste solitário momento,
onde me permito desligar, do físico mundo,
das constantes da vida,
da edificação da conquista,
sinto-me,
verdadeiramente sinto-me,
eu… conquisto apenas o meu eu…
imobilidade da alma,
sem viagens alucinantes do tempo
sem passado, sem presente,
sem um futuro distante e ausente,
ainda não pensado…

na mesa da sala uma orquídea,
real natureza, máximo da beleza,
onde ainda me permito descansar!

Alberto Cuddel

Verdes anos,

Verdes anos,

Corres colina abaixo
Sob um doce teto de algodão,
És pureza, subtileza juvenil
És flor, que perfuma o meu jardim!
No olhar,
Doce malicia de mulher,
Felina, matreira, segura,
Arrebatas em ti,
Corpo doce mel,
O vigor, o desejo,
Rebolando, na erva macia,
Onde deste em mim,
Origem à vida!

Alberto Cuddel
05/05/2016

Para Ti

Para Ti

O mundo, tudo de mim,
Mas de mim nem uma palavra,
Do meu silêncio nada brotava,
Nem flor, nem magia, de novo nada!
Uma certeza, um sinal, um calor,
Definitivamente amava!
Neste silêncio, amordaço-me,
Calo-me ao mundo, falo-te
apenas a doce força do abraço,
do gesto contido,
do sussurro ao ouvido!

Para ti
Um tudo delineado no sonho
Suavemente agitado nas horas
em que o sol se deita, em que o luar espreita,
nos tempos em que as alvas nuvens
correm nos céus, na suavidade da brisa
olhos que se perdem entre o cheiro da erva
e os desenhos curvilíneos o teu corpo,
sonhamos o futuro, como sonhamos
as formas das nuvens
que nos levam os pensamentos!

Alberto Cuddel®

E as flores estéreis sem sorte!

E as flores estéreis sem sorte!

nadam nenúfares na lama,
dessa morte que os chama
um sol alto, quente e indiferente
os lírios não se movem
os juncos definham

um tempo eterno que se faz deserto
indiferentes matam a sede na esplanada
há cerveja gelada, conversa fiada…
um fogo quente que lavra
na garganta de gente que não faz nada…

Alberto Cuddel
11-03-2020
11:00
In: Nova poesia de um poeta velho

Apenas uma rosa!

Apenas uma rosa!

Por entre pétalas, nosso dias,
Preludio de noites esquecidas,
Momentos passados, eternizados,
Impregnados em tua pele,
Gravados no auge da loucura
Memória? Sonho presente a cada hora,
Felicidade jurada, decidida a dois,
E eu quieto, aninhado no teu peito,
Desflorada madrugada, acordados no raiar,
E assim do nada, apenas abraçar,
Memória escrita, sofrida em nós,
Rosas do nosso longo viver,
Nascidas, forjadas, no duro caule
Verde na esperança, nos espinhos da vida,
Nas verdes folhas, de onde caem secas
As daninhas, que o tempo apagou,
Até aos estames, apogeu do sentir,
Desfolhando pétalas sem fim,
Veludo da tua perfumada pele,
Frágil, carente, cuidada, amada!

Fada, que nos acolheu, aqui e ali cuidando
Podando, guiando, alguém desconfiando,
Pelos gnomos diabólicos que passando,
Infestação diabólica corrompida do passado,
Dias que agora escrevemos nas pétalas,
Que na vida vamos desfolhando,
E eu?
Apenas carinhosamente aninhado no teu peito,
Porque no fim, no fim somos, como decidimos,
Somos a felicidade que fazemos!

Alberto Cuddel
23/03/2015

Esperança desse medo de ficar

Esperança desse medo de ficar

deitou-se no horizonte o medo
asas da alma que te elevam
sem que partas a lugar algum
bosques de silêncio onde te fitam os olhos
ribeiros mansos que correm
por ente avencas que se agitam, uma sombra,
olha comigo o rio, de mão dada
olha, não digas nada, espera a foz, esse desaguar
essa vontade de ser, de estar…

nas escaleiras solitárias
essa esperança,
esse medo de ficar,
o ir, o chegar…
o não for e o não estar…
e o existir ali, mesmo ali, na tua mão
de mão dada, olhando o rio…

Alberto Cuddel
27/01/2020
03:23
In: Nova poesia de um poeta velho

Ecos lilases

Ecos lilases

Desses ecos que ressoam em paredes vazias
Perdidas as maças caídas no chão
Vestes rubras, ocas perdidas do ser
Há nesses ecos lilases ávidos de gestos
Uma real beleza que se perda na areia…

Onde nos morrem as palavras quentes?
Gritadas e gemidas em vales perfeitos e verdes
Onde nos mostram a real vida
Na bênção da loucura da mente
E morrem vazios os copos?

Ecos de um vazio conformado
Entre palavras secas e ocas de vida
Jazem os pés deitados em sentidos opostos
E camisas de noite amarelecidas na gaveta…

Há ecos lilases de um tempo que foi
Esse que não conta, esse que é apenas saudade
Do que um dia foi vida…

Alberto Cuddel

Em cada pétala, um desejo…

Em cada pétala, um desejo…

morre no beijo o desfolhar de um malmequer
pela sombra primaveril de um outro
rio vazio de ondas em caminhos descalços
e dessa lonjura que de perto se fez, rimos
rimos da arte gravada a ferros em madeira oca…

rasgam-se ecos em musgo verde
murmuram as cigarras canto triste
vida que nunca chegou
um silêncio cinzento em céu limpo
há convidados de outono que ninguém escuta

voam pétalas escritas na saudade
sob a vulgaridade do sonho
ausência de corpo
eco de voz distante, rasgos de luz
esperança esvoaçante, de uma coabitação eterna…

sejam polidos os beijos
novena orada na exaustão do desejo
pétala a pétala, até ao fim dos teus dias…

Alberto Cuddel
in: Catarse do Poeta

Caminho Florido!

Caminho Florido!

Pisamos flores, floreado caminho,
Folhas secas do ontem varridas
Arrumadas, debeladas no carinho
Sentir, viagens assim decididas!

Verdejantes prados, assim ladeado
Barreiras erguidas a não transpor
Estrada conjunta decidido amado
Passado no fim, sobrevivente Amor!

À estrada pisada, assim percorrida
Caminhando segura no teu querer
Decisão partilhada assim decidida!

Perfume do ser, num amado viver,
Flores caídas, apagada a duvida,
Amor partilhado, na vida, o ser!

Alberto Cuddel

Poema do dia 15/09/2018

Poema do dia 15/09/2018

Perguntei-te a ti e a outros tantos como eu,
Onde diabo nascem as rosas, as amarelas e as outras?

Nesta subtracção abstracta dos dias que faltam
Somamos saudade à distância que fica
Entre uma partida e uma chagada,
Na aproximação dos beijos que não demos!

Parti, pelos trilhos sulcados da vida e paralelos
Nesta fuga cotidiana às hastes mortas
Espinhos secos que se partem e cravam
Há pétalas perfumadas no lago verde!

Perguntei-te a ti e a outros tantos como eu,
Onde diabo nascem as rosas, as amarelas e as outras?

Nas bocas famintas e olhares contrafeitos
Choram meus olhos a despedida,
Miosótis azuis e orquídeas, há malquereres
Amores-perfeitos pelo chão que pisas!

Flori vós nas mãos estendidas
Nessas palavras de vida que me aquecem
Que me arda o peito de alegria
Onde findam as estrelas e luar!

Perguntei-te a ti e a outros tantos como eu,
Onde diabo nascem as rosas, as amarelas e as outras?

Alberto Cuddel
15/09/2018
Castanheira do Ribatejo, Portugal

Poema do dia 28/08/2018

Poema do dia 28/08/2018

Voaram gaivotas sobre o mar
Em dedos entrelaçados no monte
Abraços perdidos no tempo
Olhares que ficaram por cruzar!

Escorrem verdejantes os canteiros
em passos sincronizados,
vão florindo esperanças rosas,
amarelas, arco-íris plantado
regado nas palavras cantadas!

Na questão de uma pergunta calada
Lábios que se abrem, silêncio da resposta
Gravada a ferros na alma, nessa dor
A que chamam felicidade…

O tempo corre em sentido contrário
Como que a água voltasse a passar no moinho
Recuperando o tempo suspenso
Onde o ontem, volta a ser hoje
Florindo nova esperança para o depois…
O depois é, vai ser, todo o nosso tempo…

Alberto Cuddel
28/08/2018

Poema do dia 10/08/2018

Poema do dia 10/08/2018

No culminar das pétalas que se desfolham
Sem culpa, entre a indecisão e o pecado
Morrem os desejos na estrada sob o calor
Hoje, hoje já não há pressa, apenas paciência…

Nessas almas que se perdem alugando o tempo
Pagam-se marés entre dunas húmidas ao luar
Mesas frescas, palavras e amores
Aromas de café e gelados… espero a tarde!…

Existem cidades que se despem para a noite
Mulheres que nos procuram há janela
Entre laranjas e rosas, lingeries negras
Formas redondas e beijos, candeeiros perola…

Há fervorosos pensadores e filósofos de esquina
Largando frases com o mesmo cheiro das vielas
Ao desbarato pescam na noite com isco gasto…

No culminar do tempo em que se desfolham pétalas
Fica a culpa, de ver morrer no jardim mais uma flor…
Triste, cabisbaixa, já descrente no amor e na vida,
A felicidade foi-lhe arrancada pela raiz, já não crê…

Alberto Cuddel
10/08/2018
15:51

Poema XI

Poema XI

De onde me nascem todos os beijos
Por entre rosas de espinhos em botão
E margaridas que não abriram…

Nos perfumes doces das arábias
Trazidos por andorinhas perdidas
E viagens aladas de lençóis de linho…

No bordo da tua saia, encontro-me
No desejo absoluto de me perder
Por entre madrigais e pedras do caminho…

Ó saudade das vinhas e das idas
Das partidas e chegadas, das letras
Escritas perfumadas, nas mãos do carteiro…

Tudo tão moralmente diferente,
Rebatido aos olhares do mundo,
Eu e tu, e mais nada oculto das mãos…

Alberto Cuddel
#comofazeramor
25/04/17
19:50

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