Deste vicio que me arrebata para a loucura…
Escrever é em mim um vicio, para uns um vicio bom, para outros um comportamento psicótico e castrador da minha liberdade, escrever implica também doar-me, nas palavras e no tempo dedicado à leitura, escrever compulsivamente implica também comportamento análogo na leitura, nunca lendo apenas um livro ou um género de cada vez, chego a dar por mim a ler três ou quatro livros em simultâneo. Sei que faz confusão a muita gente a quantidade de páginas e géneros que escrevo, e se vos faz confusão a vós imaginem a mim.
Podia falar-vos de cada personagem, de cada heterónimo, quem são, de onde vêem, desde o Alberto Cuddel o mais conhecido e de carreira mais longa, ao já desaparecido Sírio de Andrade e sua paixão platónica Pyxis de Andrade, o Erotismo e sensualidade do Tiago Paixão, a maledicência e intervenção social e política do Januário Maria, a carência afectiva e física de amor e paixão sentida por Joana Vala por culpa de um marido mais focado em proporcionar uma vida financeiramente estável e todo o conforto material, passando ainda pelo Suicídio poético ou a catarse ultima do sofrimento, violência domestica pelo sentir das vitimas, sejam mulheres, homens, crianças ou idosos, seja a violência física ou psicológica, seja a dependência emocional e financeira para com o agressor, e como a vitima nos olha a nós sociedade… por ultimo eu mesmo, pensamentos, emoções, formas de estar, divagações…
Um dia irei deixar de escrever, não por falta de vontade, mas por se terem esgotado as palavras, por já ter escrito em todas as conjugações de sentimentos, por já ter sentido todos os orgasmos, por se terem esgotado todas as lágrimas, por estarem mortas as vítimas, pelo inevitável divórcio da Joana, pelo conformismo da Pyxis, pela censura as palavras de revolta do Januário… um dia calar-me-ei em pleno também a mim… quando tudo já tiver escrito, e falta-me tão pouco…
De todos os poetas que há em mim há um que deveras aprecio, que sinto como o mais verdadeiro e fiel da minha estrutura orgânica e emocional, esse poeta é aquele que nunca declamou um poema, que nunca escreveu uma palavra, esse poeta é o que se senta recostado no cadeirão da varanda, enquanto arde um cigarro e olha as letras juntas de um poema, e silenciosamente o bebe, o degusta e o sente… em silencio, o melhor de mim é o que lê, e o que vive… sem pensar a poesia… porque ela sente-se… assim sem métricas, sem regras ou balizas…
António Alberto Teixeira Sousa

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