No tempo dela…

No tempo dela…

Se a morte viesse hoje
Viria no tempo dela
Há um tempo certo!…

Como as flores que morrem em jarras velhas e campas rasas nas primeiras semanas de Novembro, porque esse é seu tempo…

Ela virá, é certo, como certo é o meu corpo morto no peso que carrego nesta alma dorida, a vida é o meu último inferno, o derradeiro sacrifício para a libertação plena…

Há quem tenha medo, quem se arrepie sob os gritos da coruja em pleno cemitério, com esse ruido das sombras das cruzes e das estrelas de David, eu não, esse silêncio natural do repouso, abraça-me a alma como um colo materno…

Se a morte viesse hoje
Viria no tempo dela
Há um tempo certo!…

Uma virtude nessa quietude que me alimenta, que me dá paz, viver é um tormento que me corrói as entranhas, a voz do ser humano fere-me como ferros em brasa pela goela abaixo, e eles o que sabem eles do sofrimento do nascimento, deste inferno e é viver, e contentam-se com pseudo-amor, com suportes orgasmos fingidos, com inflamações do ego confirmadas por ignorantes…

Se a morte viesse hoje
Viria no tempo dela
Há um tempo certo!…
E esse tempo é hoje…

Sírio de Andrade
28/11/2018
21:30

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