Ferro e fogo
há nesse ferro e fogo queimado
um rasgo de lucidez húmida
entre um passo e uma corrida
uma brisa no rosto, uma negritude que se estende…
adiei o inadiável no tempo que passa
entre voos rasantes e velas cheias
viagens feitas sentado na memória dos sonhos
dormi no teu leito, ainda sem que me acordasses…
olhar marejado na saudade salgada das asas
sonhos gravados a ferro num astrolábio
realidades quentes com fogo nos dedos
no gelo dos pés? – não vou… nunca fui…
agitas bandeiras ideológicas de uma forca
essa condenação humana que nos transporta
e o barqueiro, esse cobrador de pecados
vende putas e ilusões a caminho do inferno…
talvez olhe apenas o mar
- ali distante no sopé da serra
a praia é a mera ilusão do satélite,
nesse ciclo lunar, entre uma nova e a cheia…
pescas ilusões, pregando a peixes que não te escutam
chupando moluscos frescos
e ouvindo as cigarras…
a ferro e fogo
não vivemos o dia
e morre-nos nos dedos a noite…
Alberto Sousa
23/07/2022
08:00
In: Poemas de nada que se perdem na calçada

Boa noite, Alberto, “não vivemos o dia”, intenso e reflexivo! Muito bom. Afetuoso abraço.
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